quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Com eleições à vista

CRISTÃOS têm de dar sinais de esperança Em documento publicado hoje, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) diz, a propósito das próximas eleições legislativas de 20 de Fevereiro, que é preciso propor a esperança e abrir a porta a um futuro melhor, enquanto afirma, parafraseando os Bispos Portugueses, que ao assunto já dedicaram um documento oportuno, que “empenhar-se na construção da comunidade nacional é, para os cristãos, uma forma de exprimirem a sua fidelidade cristã”. A CNJP sublinha que as eleições legislativas são um momento particularmente importante da vida democrática, ao mesmo tempo que recorda, uma vez mais, os nossos Bispos, quando frisaram que o próximo acto eleitoral “não pode limitar-se a resolver uma crise política, mas deve enfrentar, com serenidade e lucidez, os problemas de fundo do país, apresentando para eles soluções credíveis e viáveis, a serem escolhidas pelo voto dos portugueses”. Refere depois, no seu comunicado, que os cristãos têm a obrigação de anunciar a esperança. “O momento que vivemos precisa das vozes da esperança, precisa dos gestos que se pautam pelo fazer bem, precisa de corações que acarinhem sonhos de dias melhores e que os partilhem com os demais, precisa de muito investimento nas pessoas e de muita dedicação ao bem comum, precisa da cooperação como principal trampolim para a melhoria da nossa vida colectiva, precisa de cada uma e de cada um. Não há cidadãos dispensáveis, dentro e fora dos partidos políticos, quando se trata de criar uma comunidade nacional solidária, desenvolvida, apta a enfrentar com esperança os tão incertos dias que se avizinham”, lembra a CNJP. Depois de recordar o pessimismo que parece ter invadido a nossa sociedade, salienta que ainda “encontramos pessoas disponíveis, interessadas em melhorar as condições de vida dos cidadãos, o modo de gerir as suas empresas e de aplicar os seus rendimentos, de aperfeiçoar as relações de trabalho e as relações interpessoais. Em todos os ambientes encontramos pessoas construtoras”.Por isso, adianta a CNJP, “Precisamos, é certo, de criar dispositivos de valorização e de incentivo público a todos e cada um dos portugueses e portuguesas que assim agem. Dispositivos que podem ser muito diversos, mas que se deveriam nortear pela partilha do que de mais positivo se faz e se alcança, pela valorização do trabalho perseverante que tantos desenvolvem em prol de uma sociedade mais justa e fraterna, pela comunicação da esperança que tantos desencadeiam em tantos rostos angustiados e esquecidos”. F.M.

D. ANTÓNIO MARCELINO: Bispo de Aveiro há 17 anos

D. António Marcelino é Bispo de Aveiro há 17 anos, pois assumiu essa tarefa eclesial no dia 20 de Janeiro de 1988. Antes, desde 1 de Fevereiro de 1981, foi Bispo Coadjutor. E desde sempre, assumiu as terras aveirenses como seu campo de acção, com um entusiasmo fora do comum, procurando levar a todos a Boa Nova que alimenta a sua fé. D. António é, antes de tudo, um homem que vive a fé no dia-a-dia, em todos os meios e em todas as circunstâncias, sem rodeios nem complexos, entre crentes e não crentes, entre gente simples e letrada, na contemplação dos que a vivem com simplicidade ou no leito da dor. E quem o ouve com frequência pode testemunhar como ele se comove com a fé e o amor a Jesus Cristo dos que sofrem. O Bispo de Aveiro, que veio na senda de outros grandes Bispos, nomeadamente, D. João Evangelista de Lima Vidal, D. Domingos da Apresentação Fernandes e D. Manuel de Almeida Trindade, soube dar ao seu múnus pastoral um dinamismo que os tempos de hoje exigem, calcorreando a Diocese, cujos caminhos, por mais estreitos, conhece como ninguém, estimulando novas formas de evangelização e propondo vivências cristãs mais convincentes. Atento às inquietações das famílias, dos homens e mulheres, das crianças e jovens diocesanos, D. António aponta pistas de verdade e de compromisso, denuncia injustiças, prega o bem, bate-se pela liberdade e pela democracia, intervém e leva a intervir em favor de causas e de valores. Inquieta a sociedade quando fala e quando escreve, estando permanentemente ao lado dos desprotegidos da sorte, dos mais pobres dos pobres, dos sem vez e sem voz na sociedade. Com uma disponibilidade sem limites, no seu gabinete de trabalho, no telefone, no telemóvel, na rua, nas igrejas, na comunicação social, em colóquios e conferências, em retiros e mesas redondas, em visitas pastorais e encontros sociais, em assembleias e semanas de estudo, o Bispo de Aveiro nunca mostra cansaço a quem o procura e escuta. Falando como vive, sempre a correr, tem-se dado à Diocese de Aveiro e ao seu povo, sem limites, com toda a sua capacidade e ardor apostólico, recebendo, por isso, a estima de toda a gente. Fernando Martins Posted by Hello

quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

EUGÉNIO DE ANDRADE FAZ HOJE ANOS

Eugénio de Andrade faz hoje 82 anos, quase todos eles alimentados pela poesia que tanto tem enriquecido a nossa literatura e até a literatura universal. Considerado por muitos como o maior poeta do amor do século XX, ofereceu ao lirismo de todos os tempos obras ímpares como, entre muitas outras, As Palavras Interditas, Até Amanhã, Mar de Setembro, Escrita da Terra e Outros Epitáfios, Ofício da Paciência e O Sal da Língua. O poeta, porém, também passou, e bem, pela prosa, em Os Afluentes do Silêncio, Rosto Precário e À Sombra da Memória, e pela literatura para crianças, com História da Égua Branca e Aquela Nuvem e Outras. Ao recordá-lo aqui, desejamos tão-só que os nossos visitantes o leiam. F.M. Um poema de Eugénio de Andrade ARCO-DA-ALIANÇA O verde da luz tímida das tílias, o amarelo solar do matinal cantar dos galos, o azul feliz das uvas de Corinto, o roxo friorento das primeiras violetas, o vermelho glorioso do grito dos falcões: de norte a sul era o arco-íris que rompia na manhã molhada, era o inverno que se ia embora, o velho e sonolento inverno que partia: da janela avistam-se as últimas barcas - De O Sal da Língua Posted by Hello

CASA DO GAIATO: foi feita justiça

Um inquérito feito pela Segurança Social à Obra do Padre Américo, sem terem sido ouvidos os seus responsáveis, apontou algumas anomalias na forma como estavam a ser tratadas as crianças nas diversas casas da instituição, também conhecida por Casa do Gaiato. Depois de muito burburinho, com os protestos de quem conhece bem a OBRA, que há 60 anos acolhe crianças abandonadas ou em risco, sem qualquer subsídio do Estado, ontem foi feita justiça. O ministro da Segurança Social, Fernando Negrão, foi visitar a casa-mãe da Obra do Padre Américo, fundamentalmente para "repor a Casa do Gaiato no seu devido sítio, o sítio da dignidade das crianças, o sítio de muitos anos de apoio às crianças mais desfavorecidas deste país", conforme noticiou o PÚBLICO de hoje. O ministro considerou a Obra da Rua (outra designação da instituição) como "das melhores instituições deste país a fazer este trabalho", tendo referido que as questões relacionadas com a estrutura interna, nomeadamente ligadas à administração, à organização e aos espaços e instalações, estão ultrapassadas, graças ao trabalho feito por pessoas da Casa do Gaiato e da Segurança Social. Fernando Negrão afirmou ainda, segundo o PÚBLICO, que em Portugal "temos instituições que funcionam exemplarmente, temos outras com problemas e outras que poderão vir a ter que fechar por não terem o mínimo de condições de funcionamento". E garantiu mesmo que, "todos os dias, os inspectores da Segurança Social estão a fazer o seu trabalho de fiscalização, em nome do bem-estar das crianças". F.M. Posted by Hello

Efemérides aveirenses

19 de Janeiro 1941 – Ao regressar a Aveiro, depois de restabelecido de um gravíssimo e nefando atentado, de que foi alvo em Lisboa e que o opôs às portas da morte, o saudoso arcebispo D. João Evangelista de Lima Vidal teve o acolhimento de uma invulgar manifestação pública de simpatia. 1970 – A Mesa Directora da Fraternidade da Ordem Terceira de S. Francisco de Assis, de Aveiro, após séria reflexão sobre o modo como se vinha fazendo nos últimos anos a procissão das Cinzas, decidiu suspender a realização deste acto litúrgico. Fonte: Calendário Histórico de Aveiro

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

POBREZA QUE MATA

Um relatório das Nações Unidas, ontem divulgado, denuncia que um sexto da população mundial, mais de mil milhões de pessoas, vive na miséria absoluta. Gente que não tem água nem alimentação adequada, e muito menos cuidados básicos de saúde. Seis milhões de crianças morrem, por ano, antes dos cinco anos de idade, com fome, e mais de 800 milhões de pessoas deitam-se, à noite, sem comer seja o que for. A lista das carências humanas, ao nível da alimentação, da saúde, da habitação e da educação, seria interminável, para escândalo de tanta gente que vive na abundância. Quando tantos têm tudo, exibindo sinais exteriores de riqueza por todo o lado, há um milhão de pessoas que tem menos de um dólar por dia para sobreviver, enquanto mais de 2,7 mil milhões tentam viver com menos de dois dólares diários. Para combater a pobreza endémica, os técnicos das Nações Unidas, através daquele relatório, sugerem que os Governos dos países ricos devem abrir os seus mercados às exportações de produtos agrícolas dos países em desenvolvimento e comprometer-se a abolir, até 2010, os impostos sobre estes produtos. As nações ricas têm de estudar a hipótese de duplicar as suas ajudas aos países mais pobres, ao mesmo tempo que têm de disponibilizar 150 mil milhões de euros, por ano, até 2015, para projectos de desenvolvimento e de ajuda aos que mais precisam. Por outro lado, os habitantes dos países pobres devem ter a oportunidade de trabalhar, ainda que temporariamente, nos países desenvolvidos. Entretanto, os Governos devem reconhecer que os pobres também são gente e não apenas beneficiários do desenvolvimento. Quando falamos da pobreza no mundo, não podemos ignorar que Portugal também faz parte desse mundo. Aqui também há mais de um milhão de pessoas que passam fome e um número indeterminado que está no limiar na pobreza. A maioria das vezes com a nossa indiferença. Um dia, Madre Teresa respondeu a quem lhe perguntou como é que se podia erradicar a fome do mundo: "repartindo o teu pão pelo primeiro pobre que encontrares no caminho." Aqui está uma boa receita, para começar. F.M. Posted by Hello

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos

De hoje até 25 próximo, vai decorrer em todo o mundo a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, este ano subordinada ao tema "Cristo único fundamento da Igreja". Cristãos das diversas denominações vão ter uma preciosa oportunidade de orar para que todos se amem e testemunhem, no dia-a-dia, que Jesus Cristo é, de facto, o único Salvador. O diálogo ecuménico precisa, realmente, de gestos significativos, como recomendou o Santo Padre, que frisou a urgência de se "implorar de Deus o dom da plena unidade de todos os discípulos de Cristo". Mas se é verdade que o caminho da plena unidade tem de contar com a oração, também é correcto pensar que os cristãos podem ensaiar a aproximação organizando e participando em iniciativas conjuntas, salutar forma de mostrar vivências fraternas, nomeadamente, na resposta à pobreza ofensiva da dignidade humana, na defesa de valores perenes que o cristianismo nos ofereceu, em especial a justiça, a verdade, a paz, a liberdade e o amor. Durante esta Semana, por todo o mundo cristão, não hão-de faltar celebrações, com promessas de que vamos ser mais irmãos e de que no dia-a-dia todos saberão mostrar isso mesmo, tanto em gestos simples como em realizações concretas levadas à prática de mãos dadas. Aliás, isso mesmo vai acontecendo, como o provam os testemunhos da Comunidade Ecuménica de Taizé, onde monges de várias Igrejas cristãs conseguem rezar e viver juntos, tal como foi visto e sentido no recente Encontro de Lisboa, que contou com a participação de mais de 40 mil jovens da Europa. Um outro bom testemunho de unidade e de solidariedade mundial está no esforço de ajudar as vítimas do maremoto que massacrou o sudeste asiático. É premente, porém, fazer-se mais, tanto nas respostas aos grandes problemas das comunidades como na defesa de causas comuns, sem proselitismos nem demagogias, mas convictos de que assim estaremos a caminhar em trajectos convergentes, cujo fulcro único é Jesus Cristo. A celebração mundial deste tempo de oração começou na Igreja Episcopal [anglicana], nos EUA, em 1908, por iniciativa do Reverendo Padre Paul Wattson. Actualmente, a Semana de Oração é celebrada por milhões de cristãos no mundo e o decreto sobre o ecumenismo, saído do Vaticano II e promulgado em 1964, considerou a oração como a "alma" do movimento ecuménico. Contudo, não podemos ficar somente pelas celebrações, sendo imperioso aproveitar oportunidades como esta para educar as comunidades cristãs, no caminho da reconciliação, planeando acções ecuménicas durante todo o ano. Mas isso implica a necessidade de todos nos envolvermos nelas, cada um à sua medida. O contributo de cada um é fundamental. A nossa indiferença e falta de oração torna-nos cúmplices da separação escandalosa que há séculos alimentamos. E nunca como hoje o "vede como eles se amam", do evangelho, se mostra tão urgente. Fernando Martins Posted by Hello

No fim do dia

No fim do dia, cá estarei para duas curtas reflexões: Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e Pobreza no Mundo. E algo mais que seja boa notícia. Fernando Martins

segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Um poema de MIGUEL TORGA

Êxtase Terra, minha medida! Com que ternura te encontro Sempre inteira nos sentidos, Sempre redonda nos olhos, Sempre segura nos pés, Sempre a cheirar a fermento! Terra amada! Em qualquer sítio e momento, Enrugada ou descampada, Nunca te desconheci! Berço do meu sofrimento, Cabes em mim, e eu em ti! Monforte do Alentejo, 28 de Dezembro de 1968 In Diário XI

MIGUEL TORGA morreu há dez anos

Miguel Torga morreu há dez anos, precisamente no dia 17 de Janeiro de 1995. No dia seguinte, foi sepultado em campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta, sua terra natal. O autor de "A Criação do Mundo", dos "Contos da Montanha", do "Senhor Ventura", das peças de teatro "Mar" e "Terra Firme", do "Diário" e de tantas outras obras, marcadas todas elas por um sentido poético raro e pela dureza da montanha agreste que viu nascer Torga e que ele tanto amou e cantou, enriqueceu a literatura portuguesa e universal como poucos. Eterno indigitado ao Prémio Nobel da Literatura, nunca o recebeu, porém, por lhe faltar, decerto, o lóbi de grupos e de correntes literárias e políticas a que sempre foi avesso. Neste dia em que os seus admiradores lembram a sua morte, mas também a sua extensa e riquíssima obra, que se estendeu da poesia ao romance, passando pelo conto, pelo teatro e pelo ensaio, mas ainda pelas memórias que tão expressivamente registou sob a forma de diário, vale a pena ler ou reler "MIGUEL TORGA - FOTOBIOGRAFIA", obra organizada por sua filha Clara Rocha, com prefácio de Manuel Alegre. E se é justo sublinhar o texto com que Manuel Alegre homenageou Miguel Torga, por tão rico ele ser, e que tem por título "O rosto de Viriato", outros há, não menos singulares, nesta FOTOBIOGRAFIA, sob a forma de depoimentos. São eles de António Almeida Santos, António Arnaut, Claire Cayron, Jorge Amado, Mário Soares e Sophia Mello Breyner Andresen. "MIGUEL TORGA - FOTOBIOGRAFIA" é um livro obviamente cheio de fotos que retratam a vida do poeta, bem enquadradas por textos de sua lavra e por legendas que nos ensinam os caminhos que ele percorreu e que nos ajudam a compreendê-lo melhor. "O espírito de Torga não é só o que está nos textos, não é só o verbo que se fez obra, como corpo, como terra, como língua, como pátria. Quando o poeta morreu, quando o seu caixão baixava à cova no cemitério de S. Martinho / Agarez, eu disse que era um pedaço de Portugal que estava a ser enterrado. Talvez o que procuro sempre que volto a Torga seja este pedaço de Portugal ressuscitado, esse espírito de fidelidade à raiz, esse modo inconfundível de ser do mundo sem trair o berço e de ser tanto mais universal quanto mais coerentemente e profundamente português." Assim fechou Manuel Alegre o texto "O rosto de Viriato", com que abriu a FOTOBIOGRAFIA do poeta. E assim, também, nos abriu a porta a um livro que deve ser lido pelos portugueses que amam os poetas lusos. Fernando Martins Posted by Hello