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sexta-feira, 30 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO

As leis e as boas maneiras

No dia 20, do corrente mês, o Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, afirmou que a “União Europeia reagiu com celeridade ao aumento repentino dos produtos alimentares. Estamos a ser confrontados com um problema com múltiplas causas e numerosas consequências. Por conseguinte, temos de agir em várias frentes.”
Deste modo, foi proposta, para ser discutida no Conselho Europeu da UE, a realizar no próximo mês de Junho, uma estratégia contra o aumento dos preços dos alimentos, passando pelo aumento da produção de cereais e das quotas de leite.
A aposta no desenvolvimento de biocombustíveis da segunda geração, a partir de fontes não usadas na alimentação humana, fazem parte deste leque de propostas, não se esquecendo de referir o “esforço no sentido de lutar contra os efeitos dos aumentos dos preços dos alimentos junto das populações mais pobres.”
Neste sentido, inclui-se a necessidade de haver uma resposta internacional mais coordenada à crise alimentar, designadamente no contexto da ONU e do G8.
Durão Barroso salientou, ainda, a “prossecução de uma política comercial aberta, que ofereça aos países mais pobres do mundo um acesso preferencial ao mercado da UE.”
Ao ouvir esta notícia e as medidas nela enunciadas, parecia escutar um coro de anjos celestiais, se é que é possível ouvi-los, pelo que o meu cepticismo é grande.
As palavras do Presidente da Comissão Europeia traduzem um conjunto importante de intenções, só que de boas intenções está o mundo farto e o inferno cheio.
Por outro lado, os dirigentes políticos parecem estar a perder o sentido do dever e do bem comum quando são eleitos ou nomeados para cargos institucionais e aquilo que deveria ser uma obrigação acrescida no desempenho dessas funções raramente se manifesta nos cargos que ocupam. A ilusão é uma arte e a mentira uma necessidade.
Não sei o que vai na cabeça do Dr. Durão Barroso, muito menos qual o poder real que ele possui para influenciar e mobilizar os seus colegas para o cumprimento das obrigações que todos têm, neste caso, perante os cidadãos europeus.
Não vejo políticos nem estadistas com dimensão suficiente para assumirem pactos firmes e sérios com as pessoas e a sociedade, condição que qualquer actividade pública exige, enquanto sentido de dever e obrigação de quem dirige a coisa pública.
Se algum mérito existe nas afirmações do Presidente da Comissão Europeia é o de reconhecer, implícita e explicitamente, que o mundo tem sido muito mal tratado pelos dirigentes políticos e a continuarem a fazer o que (não) têm feito até aqui as perspectivas de desenvolvimento integral são muito sombrias e o futuro inquietante.
Concorde-se ou não com o posicionamento político da Dr.ª Manuela Ferreira Leite, em entrevista dada ao jornal “Expresso”, do dia 17 de Maio de 2008, fez uma afirmação que dá que pensar, se a ela se quiser dar crédito: “ Se alguma coisa quero dar à democracia é fazer a experiência de ver o que acontece se falarmos verdade.”
Sempre a verdade como questão essencial da vida e da maneira como a queremos viver. Será o suficiente? É provável que não. Contudo, se o paradigma de fazer política e dirigir passasse mais pela boa maneira como agimos e não só pelas leis que fazemos tudo seria diferente, para melhor. A lei, sem boas maneiras, corrompe, embrutece-nos, convida ao facilitismo e à excepção, atrás de excepção. Veja-se o que aconteceu com o Primeiro-ministro, José Sócrates, e o(s) célebre cigarro(s) que fumou no avião, durante a sua recente viagem à Venezuela. As boas maneiras fazem parte da nossa identidade pessoal. As leis não. Comecei por falar do Dr. Durão Barroso. Termino, desejando-lhe que encontre, em si mesmo, as boas maneiras para não fazer promessas em vão e que, o mês de Junho, na UE, seja, finalmente, o início de um tempo de autêntica mudança.

Vítor Amorim

quarta-feira, 28 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


O Petróleo e as preocupações do Presidente

“Resta-me, pois, concluir que neste tipo de negócio [petróleo], para não falar de outros, a realidade está sempre a ser ultrapassada por decisões enigmáticas e por interesses obscuros, onde prevalece especulação e a corrupção sem rosto, sem pátria e sem fronteiras.”
Escrevi estas palavras há precisamente dois meses, ou seja no dia 27 de Março de 2008, neste blogue. Quando fiz esta afirmação, não tinha nenhuma bola de cristal ao pé de mim, nem eu possuo qualquer dom de adivinhação. Passados dois meses, os dados que já eram conhecidos na altura, já davam indicações suficientes neste sentido, mas a postura dos responsáveis políticos foi o silêncio, talvez para ver se a subida parava e não alarmar os consumidores. Infelizmente nem os preços pararam de subir nem as preocupações deixaram de aumentar. Mais recentemente, começou-se a ouvir a palavra especulação na boca de alguns economistas e especialistas petrolíferos. Finalmente, ontem, dia 27 de Maio, foi a vez do próprio Presidente da República, Professor Cavaco Silva, afirmar, durante um encontro com o rei e a rainha da Noruega, no Palácio de Belém, que: “A subida dos preços dos combustíveis deve-se ao funcionamento do mercado e com certeza a uma dose de especulação”, para logo acrescentar: “Portugal não controla o preço do petróleo, pelo que não é fácil encontrar respostas para a subida de preços que preocupa os portugueses.” Também neste dia o presidente francês falou numa possível baixa do IVA na UE e o Primeiro-Ministro português referiu-se que os recursos são “escassos” para apoiar a classe média portuguesa.
Sobre as declarações do Presidente da República, convém lembrar que o preço do petróleo, entre outros bens e matérias-primas, sempre esteve condicionado, em regra, à lei da oferta e da procura, pelo que não há nada de novo aqui. O que há de novo e de muito preocupante, é a especulação, como ele reconheceu, e que ninguém sabe como lhe pôr um fim.
Até porque para lhe pôr um fim, era necessário saber quem são os especuladores e, depois, encontrar formas de eles acabarem com o que estão a fazer.
Ora bem, como ninguém sabe quem eles são [os especuladores], as regras vão continuar a ser ditadas por estes “ilustres desconhecidos”, perante a impotência das democracias e dos países civilizados. Isto é um dado adquirido e não vale a pena ter esperanças ou ilusões que não vai ser assim. Quem é que deixou chegar isto a este ponto? Esta é a pergunta que ainda não ouvi ninguém fazer, mas gostava de ouvir a sua resposta. Sei, no entanto, que quem deixou chegar isto a esta situação de caos foi alguém que não cumpriu as obrigações e deveres que tinha perante a sociedade e a economia mundial e deixou, por isso mesmo, o mundo entrar numa espiral de loucura autêntica. Aqui, já deve ser mais fácil encontrar os responsáveis e, se necessário, puni-los.
Relativamente à constatação do Professor Cavaco Silva que “não é fácil encontrar respostas para a subida de preços”, creio que a resposta já foi dada no que escrevi, até aqui. Perguntarão os leitores, não há solução para isto? Sinceramente, não sei! Se na base de especulação estiverem interesses geopolíticos que tenham por objectivo asfixiar, senão mesmo derrubar as democracias ocidentais, o jogo que tem que ser feito ainda vai ser mais difícil e não vai ser um só país a fazê-lo. Tempo e paciência, coisas que praticamente já não existem, vão ser necessários. Como sempre, em Portugal tudo é “escasso”, desde a disciplina, à ética e ao dever de já terem feito de Portugal um país mais próspero e justo. Só não se é escasso em promessas eleitorais, assim como os portugueses são mais que generosos em acreditar nelas, sem procurarem ter uma intervenção mais activa e crítica, perante quem as tem feito, ao longo destes anos de democracia.

Vítor Amorim

terça-feira, 27 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Vaticano critica a falta de vontade política na crise alimentar

O director dos serviços de informação do Vaticano, padre Federico Lombardi, lamentou “a falta de vontade política” para resolver a crise alimentar mundial, numa reflexão sobre o “vertiginoso” aumento dos preços dos cereais.
O Padre Federico Lombardi fez estas declarações no programa do Centro Televisivo do Vaticano, “Octava Dies”, no início do mês de Maio, considerando que o espectro da fome, devido ao aumento dos alimentos, deve “interpelar as consciências, pois não se deve à falta de capacidade do homem produzir alimentos.”
Este responsável do Vaticano, lembrou, no referido programa televisivo, que no ano de 2000 “a maior cimeira de Chefes de Estado da história proclamou, solenemente, a Declaração do Milénio da ONU, onde enunciava os oito mais urgentes objectivos, a atingir até ao ano do ano 2015, para o bem da humanidade, sem que, até agora, se tenha feito algo de concreto para o seu cumprimento e aplicação, apesar de se terem passado quase oito anos sobre a sua assinatura.”
Recordo que, no passado dia 17 de Abril, tive ocasião de escrever, aqui, um texto: “ONU: que objectivos para o ano 2015?”, através do qual deixava explícita a facilidade como a comunidade internacional assume, só através das palavras, compromissos de acção e a dificuldade que tem em concretizá-los, em actos concretos.
Infelizmente, tem sido esta a regra que impera nos grandes centros de decisão mundial - e a ONU, através, deste exemplo, e não só, é um deles –, em que não só vão adiando o que é inadiável como se deixam que situações gravíssimas, quer sejam políticas, humanitárias ou ambientais, se agravem ainda mais, perante a indiferença e a passividade dos responsáveis políticos.
Vindo de um responsável da Santa Sé, esta análise crítica ganha uma dimensão maior e realça que entre as boas intenções proclamadas e os actos (não) praticados grande e determinante é a diferença. Vivemos, pois, num mundo de promessas não assumidas e permanentes de mentiras, para justificar o seu não cumprimento.
Este porta-voz do Vaticano sublinhou, ainda, que o número de pessoas desnutridas e com fome está a crescer novamente, numa crise que não parece passageira, para logo acrescentar “o que falta no mundo não é comida ou capacidade para produzi-la, mas vontade para resolver o problema mais grave que aflige a humanidade.”
Citando estudos de especialistas, o padre Federico Lombardi menciona três causas para este fenómeno: “ a distorção no mercado, provocada por subsídios à agricultura dos países ricos; a nova produção de biocombustíveis; o maior consumo de carnes em grandes países como a China e a Índia, de forma que boa parte da produção agrícola já não se destina directamente aos cereais para a alimentação humana, mas animal.”
Apesar de já não ser a primeira vez que o Vaticano toma posição sobre a mais recente crise alimentar mundial, estas afirmações do seu porta-voz reforçam a atenção e a preocupação com que a Igreja Católica acompanha o evoluir desta crise.
Como já tive ocasião de referir, precisamos, urgentemente, de uma nova ordem mundial, mais justa e equilibrada e, para isso, a vontade do homem é o fundamental.
A manter-se tudo na mesma, acabará por ser a fome, a miséria e o desespero que acabarão por criá-la, da forma mais dolorosa, inclusive para os próprios que nada fazem, neste momento, para que ela surja.

Vítor Amorim

segunda-feira, 26 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Globalização para todos ou benefícios só para alguns?

Desde que começou a ser conhecida, de uma maneira mais generalizada, pelo cidadão comum, a crise da falta de alimentos, bem como dos seus brutais aumentos, e a consequente maior dificuldade dos mais pobres ao acesso à comida básica, para o seu dia-a-dia, alguma coisa se tem escrito, no “Pela Positiva”, tendo, tanto quanto é possível, a preocupação da informação, mas, sobretudo, de procurar dar referências que levem os leitores a pensar e a reflectir nas causas que estão subjacentes a tudo o que diz respeito ao homem e à sociedade, em geral.
As expressões “cidadania exigente”, “especuladores sem rosto”, “regulamentação da economia internacional”, entre outras, têm sido repetidas, aqui, com alguma frequência, na medida em que elas estão intimamente ligadas a este fenómeno planetário e há que perceber e aceitar que existe um outro mundo para além de nós próprios, mesmo que o queiramos ignorar, mas que condiciona, decisivamente, a vida e o futuro de cada cidadão, esteja ele onde estiver.
Obviamente, haverá sempre quem desvalorize ou procure ignorar estes acontecimentos, fazendo deles um problema dos outros. Quem assim procede ou finge viver na ilusão ou já se conformou com a vida que tem, abdicando do seu direito e dever de cidadania responsável, exigente e crítica, quando for caso disso, tanto para seu benefício, legítimo, como da restante comunidade humana.
Desde o aumento do preço do petróleo (com o muito de especulativo que contém no seu valor), passando pela desvalorização do dólar americano, pelo aumento da procura de alimentos pelas economias emergentes, pelos anos de más colheitas (caso da Austrália, Canadá, e EUA), pela ocupação dos terrenos para a produção de biocombustíveis (parcialmente, já classificada pela ONU como “crime contra a Humanidade”), pelos baixos stocks mundiais de cereais, pelas alterações climáticas (com um aumento da desertificação de grandes regiões na África e Austrália), de tudo se tem falado, e com razão, pois trata-se de um situação multifacetada nas suas origens.
Uma coisa, porém, sabemos: a fome, enquanto realidade conjuntural, sempre existiu e muito se tem feito para a combater. Agora, a fome, enquanto realidade global, não é obra do acaso, mas sim uma criação, involuntária ou propositada, do Homem. E é isto que faz toda a diferença, para não ficarmos indiferentes ou calados.
Deixei para último lugar a questão da especulação, tantas vezes aqui referida. Desta autêntica praga, a Comissária Europeia da Agricultura, Marianne Fischer Boel, disse ao “Diário Económico”, no dia 29 de Abril, do corrente ano: “Não se deve subestimar a importância que a especulação tem para fazer mexer os preços.”
Já na edição do jornal “Expresso”, do passado dia 3 de Maio, Fernando Madrinha, colunista e Director de revista “Courrier Internacional”, escreve:”... será responsável pela grande percentagem dos aumentos: a acção dos especuladores, que jogam não com a falta de produtos, mas com a perspectiva, ou a simples hipótese de eles viram a faltar. Na economia de mercado globalizada, as malfeitorias desses especuladores (…) é incontrolável enquanto não houver regulação mundial de cuja necessidade todos falam, mas com que, de facto, só se preocupam as primeiras vítimas, isto é, os pobres e fracos. Daí a margem que resta para combater os especuladores dentro de cada país deve ser usada até ao limite, sob pena de se tornarem eles os verdadeiros governantes [do mundo].”
Não que estas afirmações nos sirvam de consolo algum. Antes indicam que o caminho que temos que continuar a trilhar tem que ter como prioridades a seriedade e a isenção, ainda que não profissionais da comunicação social e não imunes ao erro, que, a acontecer, será sempre involuntário.
Vítor Amorim

domingo, 25 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


As Olimpíadas de Pequim e a chama aprisionada

O ideal olímpico, retomado em finais do século XIX pelo aristocrata francês Pierre de Coubertin (1863-1937) como um momento de promoção da paz, contra a guerra, nunca se conseguiu sobrepor aos inúmeros interesses e conflitos que sempre existiram, de forma mais ou menos latente, na Comunidade Internacional. As Olimpíadas de Munique, em 1972, com o atentado dos palestinianos contra a delegação israelita; as Olimpíadas de Moscovo, em 1980, com o boicote liderado pelos EUA e as Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, com o boicote liderado pela URSS, são apenas os exemplos mais paradigmáticos do que acabámos de referir.
Infelizmente, também os Jogos da XXIX Olimpíada da Era Moderna, a realizar entre 8 e 24 de Agosto de 2008, em Pequim, há muito que estão envoltos em polémicas, começando pelas críticas feitas pela maioria da Comunidade Internacional às autoridades chinesas pelo seu desrespeito pelos direitos humanos no país, passando pela questão, ainda não resolvida, do Tibete.
Os ideais de construir um mundo melhor e pacífico através do desporto são, cada vez mais, votados ao fracasso e só os interesses políticos e económicos parecem contar.
A chama olímpica, um dos símbolos da paz e da amizade autênticas que deveria envolver todos os jogos, tornou-se, este ano, prisioneira das próprias contradições que os responsáveis políticos teimam em não querer resolver.
Acesa, no passado dia 24 de Março, na tradicional cerimónia que acontece na cidade da Grécia Antiga, Olímpia, berço dos primeiros jogos da antiguidade, no ano de 776 a.C., o seu percurso, pelos vários continentes, foi tudo menos pacífico.
Fosse em Londres, Paris, São Francisco, Tanzânia ou Nova Deli, a chama olímpica transformou-se mais num fardo pesado de transportar do que num anúncio de alegria e apelo à paz, em nome das novas Olimpíadas de Pequim.
Foi triste e lamentável ver a tocha olímpica envolvida por dezenas de seguranças a “protegerem-na” ou a fazer percursos secretos ou alterados à última hora, para evitar manifestações, como que se andasse na clandestinidade e a fugir da própria realidade do mundo, onde ela deveria brilhar livremente.
De facto, esta realidade existe, pelo menos desde 1950, e chama-se Tibete e, como todas as questões mal resolvidas na vida ou no mundo, ela [Tibete] será sempre uma pedra no sapato do regime chinês, que não podendo ou não querendo tirar a pedra do sapato que quis calçar, opta por tratar mal e reprimir quem fez, por bem, o sapato.
Desde que a chama olímpica foi acesa, as manifestações em Lassa (capital do Tibete) aumentaram de intensidade, bem assim como a repressão das autoridades chinesas sobre os tibetanos. Inicialmente, a China começou por acusar o actual Dalai-Lama (Oceano, de Sabedoria, em tibetano), Tenzin Gyatso, líder espiritual tibetano, exilado na Índia desde 1959, de estar por detrás dos incidentes em Lassa, o que este sempre desmentiu, afirmando que “Quer o governo chinês reconheça ou não, há um problema, e o problema é que uma nação ancestral está, hoje, a enfrentar graves perigos.”
Vários chefes de Estado têm pressionado a China a dialogar com os tibetanos e a respeitar a liberdade e os direitos humanos, dos quais se destaca o presidente francês Nicolas Sarkozy. Gordon Brown e Angela Merkel já disseram que irão receber o Dalai Lama e não estarão presentes na cerimónia de abertura das olimpíadas.
A China, que diz de si mesmo ser “um país e dois sistemas”, pode, se quiser, resolver a questão tibetana, bem como ajudar, ainda, na resolução de outros conflitos mundiais, casos do Darfur ou de Myanmar, sem a necessidade de ter que escalar o Monte Evereste para tal.

Vítor Amorim

sexta-feira, 23 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Petróleo: e você, já sabe porque é que aumenta?

A 27 de Março de 2008, escrevi um texto com o título “Ética nos Negócios”, no qual abordava alguns aspectos relacionadas com o preço do “ouro negro” e as constantes subidas nos mercados mundiais. Na altura, o seu preço andava à volta dos 103,0 dólares o barril. Passado perto de dois meses, o seu preço não parou de subir. Ontem, dia 22 de Maio, o preço do chamado petróleo Brent atingiu os 133,10 dólares e em Nova Iorque os 135,04 dólares o barril. A nível nacional e internacional, já ninguém se entende sobre as causas reais destas subidas. Esta ignorância é gravíssima e não augura nada de bom.
Basta ver algumas das televisões de referência internacional e é um nunca mais acabar de ouvir especialistas em produtos petrolíferos a dizerem que estes preços não se justificam, mas também a não saberem dizer nada do porquê deles estarem tão altos. Existem visões diferentes para os valores a que deveria estar, neste momento, o petróleo, que oscilam entre os 90,0 e os 75,0 dólares o barril, mas não se sai disto.
Sabe-se que, para um preço do petróleo de 120,0 dólares o barril, o seu custo é assim distribuído: 30,0 dólares para custos de produção, à saída do poço; 20,0 dólares para custos de exploração; 10,0 dólares para custos de transporte e 60,0 dólares para o efeito da desvalorização do dólar, seguros, por riscos políticos ou outras instabilidades, em alguns países do globo, e, finalmente, a especulação. É nesta última fatia, dos restantes cinquenta por cento do preço, que ninguém sabe o que se passa.
Fica-nos, porém, a certeza que vivemos numa ordem mundial, em que as autoridades, muitas delas democrática e legitimamente eleitas, no essencial, pouco ou nada controlam, pelo que são os especuladores e a economia subterrânea que vão ditando as leis da economia mundial, condicionando, deste modo, o desenvolvimento dos países e dos seus cidadãos. Isto é preocupante e não adianta ter ilusões sobre as suas consequências no futuro, se tudo isto continuar assim.
Não se pode deixar que, em nome da livre concorrência dos mercados, esta comece a ser cada vez mais uma ficção e um castigo, sem transparência. Já não estão em causa as teorias económicas que cada um possa defender para a sociedade, mas o modo de viver desta. Nos EUA, ontem, dia 22, o Senado americano pediu explicações às principais companhias petrolíferas americanas, para que estas justificassem como é que um produto que, na sua origem, está cada vez mais caro, permite, mesmo assim, que estas tenham lucros cada vez maiores, dado que esta combinação não bate certo e vai contra as regras básicas da economia. Conclusões não existiram, sinal de que anda muita coisa escondida. Sabemos que existem questões geopolíticas profundas no meio de tudo isto e não é de admirar que alguns países produtores de petróleo, que de democracia nada têm ou deixam muito a desejar, (excepção para a Noruega), estejam a fazer um garrote económico à Europa e aos EUA, para que o mundo fique com um Ocidente fragilizado.
Em Portugal as coisas são ainda piores: temos uma economia fraca. Entre o ano de 2000 e de 2008, em média, em Portugal, a gasolina aumentou 100% e na Europa 52% e no gasóleo, o aumento foi de 61%, em Portugal, e na Europa 31%. Ninguém sabe dizer do porquê destes aumentos, ou seja, o regulador, no país, pouco pode fazer, só por si.
Em Portugal, convém dizê-lo, a concorrência é frágil. Existem só duas refinarias (Sines e Matosinhos), ambas da Galp, que refinam o petróleo de todas as marcas à venda no país, o que já condiciona, em muito, o mercado livre. A juntar a isto, temos uma carga fiscal elevada e ineficiência na distribuição. Em Espanha existem nove refinarias e um ISP e IVA mais baixos. Nem as regras da oferta e procura justificam tudo, bem assim como o aumento do consumo na China (mais 14% só nos primeiros três meses, deste ano) e na India. Só na irracionalidade humana se pode encontrar uma resposta capaz.
Vítor Amorim

quinta-feira, 22 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


O amor, o sofrimento e a liberdade

No Domingo passado, estive na casa de um casal amigo, desde há longa data, a passar um bocado da tarde.
Durante a conversa, falei-lhes, no “Pela Positiva” e da partilha que tenho procurado fazer neste blogue, através, naturalmente, da expressão das minhas experiências, do meu sentir o mundo e o outro, das minhas afinidades, passando pelas alegrias e desilusões e acabando na esperança e na certeza de que vale a pena ser fiel ao amor pelos outros, mesmo quando tal parece não transparecer.
Bem sei que nem sempre consegui fazer ou dizer o que queria. Já aconteceram momentos em que, depois de enviar um texto, tive vontade de o ter volta, para fazer correcções ou modificações e tenho a certeza de que, enquanto tiver o privilégio desta partilha, novas situações idênticas surgirão, o que não é nenhum drama.
Voltemos, de novo, ao casal amigo. Logo que a novidade foi dada, de imediato, ligaram o computador e começámos, em conjunto, a pesquisar alguns textos que têm sido publicados, ao longo destes tempos, no blogue, e não necessariamente, como deve ser, os que tenho enviado. A notícia foi dada e o registo foi feito.
Deixámos o computador e a conversa continuou a desenrolar-se, sem tema algum em particular, até que, a dado passo da mesma, a Elsa diz-me a mim e à minha esposa que perdeu a fé em Deus. A Elsa tem 48 anos, é casada pela Igreja, tem dois filhos crescidos, baptizados e crismados, pelo que a minha tentação em querer perceber tudo, num repente, era enorme, como tal, aliás, fosse possível.
Ainda não há dois anos, a mãe da Elsa faleceu de cancro e os últimos meses foram de um sofrimento enorme, onde os próprios tratamentos paliativos já de pouco valiam. Sei o que foi a dor e o desgaste para toda aquela família.
Naquela tarde, a Elsa, num misto de interrogação a si mesma, de pergunta aos presentes e de conclusão, dizia: “Se Deus é omnipotente, pode tudo. Se pode tudo, porque não evita o sofrimento? Se não o evita, é sinal de que ou não é omnipotente ou não é bom!”
Perante um drama, ainda recente, destes, o que fazer? O que dizer?
Sermões? Contra argumentar? Creio que não. O amor e a compreensão expressam-se de muitas maneiras e o silêncio, sentido e vivido, por vezes, é a melhor mensagem e ajuda que podemos partilhar com quem sofreu e ainda está a sofrer.
É muito provável que a Elsa vá ler este texto, texto que ela sabia que ía ser escrito, após pedido meu para tal, a fim de que o seu sofrimento e as suas dúvidas fossem um pouquinho mais longe, neste caso via blogosfera, e, sem o saber, até pudesse ajudar pessoas em situações semelhantes. Mas como é que uma pessoa que precisa de ajuda pode ajudar outros? Sinceramente, não sei. Sei, isso sim, que o ser humano, enquanto mistério que é, vai sempre para além daquilo que julga ir. “Ressalta, aqui, – como diz D. José Policarpo – a beleza da liberdade, a importância da cultura envolvente em que nascemos e crescemos, as pessoas que encontrámos e com quem convivemos.”
Sofre-se quando se ama e a Elsa tem, e teve, tudo isto nela: o sofrimento, o amor gratuito e o ideal da generosidade, que se reforçaram, ainda mais, num momento particularmente difícil da sua vida e da sua família.
Recorrendo, de novo, a D. José Policarpo: “Também na perspectiva cristã, o sofrimento não vale por ser dor, mas porque exprime o amor generoso e gratuito” e “Toda a vida vivida com ideal traz, mais tarde ou mais cedo, a experiência da exigência e do sofrimento”. Fazer deste sofrimento partida para o renovar da esperança é o que falta, à Elsa, já que não pode, de modo algum, deixar que aquilo que foi, e é, uma expressão de amor e generosidade se transforme num tirano ou opressor da sua própria liberdade, para continuar a amar, sempre. Os desafios da vida, afinal, nunca acabarão.
Vítor Amorim

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Figuras bíblicas: Miguel (I)


Ao contrário do que é habitual nas sociedades do Ocidente, escolher um nome para uma criança na cultura e religião judaica não é uma tarefa fácil. O nome da pessoa não é uma mera etiqueta ou uma identificação apenas física, mas expressão da essência e da alma do seu portador, ou seja, o nome deve combinar com a alma da pessoa que o recebe. Existe mesmo como que um período de inspiração divina para os pais fazerem a escolha do nome que realmente pertence à criança e a marcará, enquanto pessoa, para toda a vida.
Após esta breve introdução, escolhi em falar do nome hebraico Miguel – cujo nome me diz muito – procurando que se compreenda o seu significado, a partir da Sagrada Escritura e da Tradição da Igreja.
Para todos quantos acreditam no Deus uno e trinitário, Senhor e Criador de todas as coisas que existem e vivem no Universo, terá que aceitar que os anjos – os chamados seres celestiais – também foram criados por Deus.
Tal como os homens crentes, também os anjos amavam e serviam o Senhor Deus, não como criados ou escravos, mas sim como seres perfeitos e livres.
Não é por acaso que a figura dos anjos aparece nos grandiosos anúncios da Boa Nova que Deus sempre quis comunicar ao Homem, em todos os tempos e lugares. Só um ser livre pode transmitir a alegria!
O anúncio da Encarnação do Verbo pelo anjo Gabriel a Maria (Lc 1, 26-35) é uma das graças e um dos muitos exemplos do papel destes seres espirituais na História da Salvação e, é bom não o esquecer, na história pessoal de cada um de nós. Quem não se lembra do seu Anjo da Guarda?
Tudo seria perfeito se, a dado momento, não tivesse surgido um anjo, de nome Lúcifer, que não aceitando a missão que lhe estava destinada, enquanto ser celestial criado por Deus, decidiu revoltar-se e desafiar o seu próprio Criador.
Porque o terá feito? Há quem diga que Lúcifer não compreendia que, por vezes, é necessário amar sem entender, ou seja, amar, acima de todas as coisas, o próprio Deus e reconhecer que o bem supremo deste amor visa a Sua glória, através da infinita e absoluta bondade eterna do Pai para com todos os homens, para que estes também sejam glorificados.
Estamos, pois, diante de um ser angélico – Lúcifer – que duvidou deste mistério, e não confiando no seu Criador o seu amor por Deus e pelos homens, deixou de ser submisso e incondicional.
O que Lúcifer questionava era como Deus podia ignorar a inferioridade do Homem face a Ele mesmo e aos próprios anjos, pelo que não entendia como Deus permitia que eles – os anjos – servissem o homem, um ser inferior a Deus e a eles próprios.
Amanhã, continuaremos o desenvolver este assunto.

Vítor Amorim

domingo, 18 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Novas Oportunidades com receitas antigas!

O semanário "Expresso", deste fim-de-semana, revela que o programa do Governo, “Novas Oportunidades”, emprega trabalhadores precários, com "falsos recibos verdes", e denuncia que há formadores que não recebem o salário desde Dezembro de 2007.
Relativamente aos cerca de 1300 formadores a recibo verde, a própria Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, declarou que "só agora há condições para acabar com esta situação, que foi herdada do passado". Sempre o passado como desculpa!
Quanto aos salários em atraso, Maria de Lurdes Rodrigues revelou que os problemas verificados com o atraso no pagamento dos vencimentos de alguns formadores do programa “Novas Oportunidades” foram originados pela "transição" dos financiamentos para esta actividade governamental.
Nos últimos meses, tenho trabalhado com os ministros do Trabalho e das Finanças para encontrar um solução que permita transformar os recibos verdes em contratos individuais de trabalho", revelou a ministra, acrescentando que "está pronto o diploma".
Perante esta notícia, e outras, que vão dando conta da ineficácia do Estado perante os seus concidadãos, confesso que, por vezes, já não sei o que me espanta ou o que me encanta.
Arranjar desculpas ou justificações para tudo, mesmo para o que não é desculpável, está cada vez mais na moda e já não há pudor nenhum em fazê-lo, sempre que necessário, por parte de qualquer responsável ou dirigente político do país.
Brinca-se com a dignidade e o respeito das pessoas, e sabem que o podem fazer, pois a dificuldade em arranjar um emprego e as situações de precariedade fragiliza-as, obrigando-as, quantas vezes, a terem que calar a revolta que lhes vais na alma.
Por isso, podem-se dar ao luxo de andarem a negociar, durante meses, com um qualquer ministro ou ministério à espera que uma determinada verba ou diploma estejam prontos.
Mesmo que tudo isto possa ser verdade, há que ter responsabilidade e vergonha na cara, para, em situações de excepção, criar normas transitórias, também de excepção, na medida em que, nestes casos, não existem atrasos aceitáveis, muito menos por parte do Estado.
Já bastam os maus exemplos que vêm de algumas empresas privadas.
Contudo, são estes os exemplos que os governantes deste país vão dando aos seus concidadãos, de uma forma fria, insensível e prepotente e a quem, ao mesmo tempo, tudo exigem, a tempo e horas, possam ou não fazê-lo.
O Estado, melhor o Governo, seja ele qual for, deve ser uma pessoa de bem e o primeiro a cumprir as suas obrigações perante os seus concidadãos, para assim ter autoridade moral em exigir-lhes que estes cumpram os seus deveres.
Infelizmente, os anos vão passando e parece que, no essencial, nada muda e o que me preocupa é se alguém, a nível dos próprios órgãos do Estado, não terá já chegado à conclusão que, efectivamente, não vale a pena mudar nada, pois, em caso de dúvida, aplica-se a máxima “quem pode manda” ou, então, diz-se “se não estiver bem, mude-se.”

Vítor Amorim

sábado, 17 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


As doenças do homem e os males do mundo!

Ontem, dia 16, tive que ir com uma pessoa de família, que sofre de diabetes tipo I, hereditário, a uma consulta de controle num médico endocrinologista (especialista em doenças de diabetes, obesidade, alterações hormonais…). Durante a consulta, tive a possibilidade de conversar com o clínico sobre uma notícia publicada, no jornal “Diário de Notícias”, no dia 15, com o título “Esperança média de vida vai baixar devido à diabetes”.
Durante o desenvolvimento desta notícia, podia-se ler que “A diabetes, actualmente a quarta principal causa de morte, na maioria dos países desenvolvidos, deverá conduzir, segundo previsões da Organização Mundial de Saúde (OMS), a uma redução da esperança média de vida, já na próxima década, fenómeno que ocorrerá, pela primeira vez, em 200 anos.”
Não conhecendo ainda a notícia, o médico acabou por me dizer que todos os estudos apontam, infelizmente, nesse sentido e que no seu consultório é cada vez mais frequente aparecerem crianças em situações pré-diabéticas ou mesmo já com diabetes tipo II (não insulino-dependentes), uma realidade impensável ainda não há muitos anos.
Acrescentou que é nos meios urbanos que a obesidade infantil é mais frequente. No entanto, as zonas rurais também começam a mostrar um cenário semelhante. As estatísticas dizem que, a nível nacional, 31,5% das crianças e adolescentes entre os 9 e os 16 anos são obesas ou sofrem de excesso de peso. E daqui sobressai uma conclusão: é preciso agir depressa e bem. Caso contrário, a já ameaçada esperança média de vida destes miúdos vai ser ainda mais curta, já que criança obesa representa um adolescente e um adulto doente.
A informação que foi disponibilizada, até agora, – continuou o doutor – talvez não tenha resultado numa sensibilização eficaz da população, em geral, para este problema, que parece passar despercebido aos pais e ao Estado, com consequências nefastas, a longo prazo. Ainda deu tempo para eu escutar que a alimentação incorrecta (muito calórica e com gorduras) e a escassa prática de actividade física estão na base desta situação, não só nos adultos, mas, particularmente, na população infantil e adolescente.
Saí do consultório a pensar em que raio de mundo vivemos, onde as contradições surgem de todo o lado, quase em avalanche diária, e ninguém parece ser capaz de as atenuar, pelo menos. De um lado, temos os países pobres, com as suas populações a morrerem, diariamente, aos milhares, por falta de alimentos básicos, como sejam, por exemplo, o arroz ou o milho. No lado oposto, temos os países desenvolvidos, onde, à custa da fartura alimentar existente, os seus habitantes, a começar pelas crianças, estão a ter hábitos alimentares que lhes podem trazer graves problemas de saúde, com a consequente morte precoce como muito possível.
Se é inquestionável que nada disto faz sentido, não deixa de ser ao mesmo tempo um reflexo cruel da sociedade e do mundo que estamos e insistimos em criar.
Vivemos num mundo em que se fazem demasiados relatórios, diagnósticos, estudos e previsões e muito poucas obras concretas e não me admiro nada que esta situação se vá alastrando, silenciosamente, se as famílias e o Estado não assumirem, por inteiro, as suas responsabilidades. Ainda por cima, e isto é que me custa ainda mais, muitas das correcções destas situações patológicas são simples de fazer e estão ao alcance dos hábitos de cada um, enquanto o evitar morrer por falta de comida não resulta da vontade de quem morre, mas da vontade daqueles que, vivendo nos reinos do consumo e da abundância, muito deixam a desejar no que fazem, para que uns não morram por não terem comida e outros não se tornem doentes por a terem em excesso.

Vítor Amorim

quinta-feira, 15 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Entre a fome, a cana e o peixe, o que decidir?

O presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, defendeu, recentemente, a extinção da Organização Para a Agricultura e Alimentação – FAO – das Nações Unidas, classificando esta Organização Internacional como um “desperdício de dinheiro”, sustentando que a actual crise alimentar mundial prova o “fracasso” desta Agência da ONU.
Num discurso transmitido pela televisão e rádio públicas do Senegal, o presidente Wade referiu-se à FAO como “um buraco sem fundo”, que gasta “a maioria do seu dinheiro no seu próprio funcionamento e com poucas operações eficazes no terreno.
A subida do preço dos bens essenciais a nível mundial “é, em larga medida, um fracasso seu”, afirmou durante o seu discurso.
Com quase 82 anos, Abdoulaye Wade foi eleito Presidente do Senegal no ano 2000 e reeleito, no ano de 2007, para um segundo e último mandato.
Sendo muito considerado no seio da Comunidade Internacional, internamente a oposição acusa-o de abuso de poder e de não respeitar os direitos humanos.
Já há vários anos, Wade defendeu que a sede da FAO passa-se da cidade Roma para um país africano, não só pelo simbolismo que isso representava, mas pelo incremento que daria ao desenvolvimento agrícola em África.
O Senegal é um país muito dependente das importações de géneros alimentares e Abdoulaye Wade propõe uma política internacional que aposte em tornar mais auto-suficientes os países mais pobres de África e não a manutenção de uma política de “caridade”, como lhe chamou, que já está desactualizada e os torna ainda mais frágeis.
O Presidente senegalês sugere que esta tarefa continue a ser atribuída à ONU, mas através do Fundo Internacional Para o Desenvolvimento Agrícola, tendo como prioridades “o investimento inovador da agricultura”, em África, através do financiamento ou apoio aos camponeses, para compra de sementes, fertilizantes e o desenvolvimento de técnicas de irrigação.
Independentemente de outras considerações, que sempre podem ser feitas, as palavras do Presidente Abdoulaye Wade não deixam de colocar algumas questões importantes, comentadas, desde há muito, na cena internacional, nomeadamente os avultados gastos que algumas organizações internacionais fazem para a sua própria existência.
Acontece, frequentemente, que do dinheiro atribuído para determinadas missões humanitárias, a maior fatia deste vai para gastos em ordenados, viagens, apoio logístico e administrativo, pelo que a verba que fica disponível, para o fim em causa, por vezes, não chega a 50%, da ajuda inicialmente disponibilizada.
A questão relativa a tornar a agricultura africana numa agricultura de ”auto-suficiência”, faz-me recordar o velho provérbio chinês que diz “se vires um pobre com fome não lhe dês um peixe, mas ensina-o a pescar.”
No entanto, é muito discutível que a Europa tenha, por regra, este comportamento, e, não raras vezes, é acusada, ao que parece com razão, de proteccionismo, em desfavor dos produtos agrícolas africanos, acusação, aliás, reafirmada na Cimeira EU-África, realizada em Lisboa, em Dezembro de 2007.
Vivemos num mundo complexo, em que os interesses de uns nem sempre tem como objectivo, infelizmente, o bem comum. Contudo, estar consciente que estes conflitos existem é a melhor forma que se pode ter para melhor os compreender e ajudar na sua resolução.

Vítor Amorim

quarta-feira, 14 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO



Irena Sendler: uma nova estrela na constelação da esperança!

"Peço a todas as pessoas de boa vontade que tenham amor, tolerância e paz, não apenas em tempo de guerra, mas também em tempo de paz"
Irena Sendler


Estou a escrever este texto, não só em memória de uma mulher extraordinária, falecida no dia 12 de Maio de 2008, aos 98 anos, e a quem tantos devem a vida, mas também para expressar a certeza de que há tanta gente boa no mundo e só Deus sabe o tamanho da sua bondade. Começo por falar de Irena Sendler, retendo-me na frase inicial deste texto. Quase que parece um paradoxo, esta sua afirmação, quando, na verdade, não o é. De facto, é nos períodos de paz que se preparam as guerras e é nos períodos de guerras que se procura a paz, pelo que o paradoxo está nos comportamentos daqueles que assim agem para que tal aconteça. O mundo é cenário real de todos estes exemplos.
Mesmo o cidadão anónimo tem tendência a deixar escapar, no seu dia-a-dia, oportunidades de tolerância, reconciliação, diálogo e de paz para com os outros e só em situações de desespero, drama ou catástrofe é que o tal passo, que podia ser dado em “tempos de paz”, acontece.
Na realidade, não somos assim, mas fazemos como se o fôssemos e é esta parte que conta e a que mais dói na alma, pois os sentimentos de vingança são passageiros e nada trazem de bom, enquanto o bem que se faz é um consolo para toda a vida.
Irena Sendler nasceu na Polónia, em 15 de Fevereiro de 1910. Como ela própria veio a dizer mais tarde, foi “educada na ideia de que é preciso salvar qualquer pessoa, sem ter em conta a sua religião ou notoriedade".
Quando a Alemanha invadiu a Polónia (1939) Irena era enfermeira no Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia, onde cuidava das refeições comunitárias. A partir da criação do Gueto de Varsóvia (Outubro de 1940), Irena teve como principal objectivo da sua vida o procurar salvar e dar as melhores condições de vida aos judeus que viviam em condições sub-humanas no Gueto, através de remédios, medicamentos ou roupas que ela própria transportava, sem o conhecimento das tropas alemãs.
O Gueto de Varsóvia tinha 4 km2 de extensão e viviam lá cerca de 500 000 judeus. Com o decorrer da guerra, Irena começou a verificar as deportações, em massa, que eram feitas para os campos de concentração para exterminar todos os judeus. A partir daqui, com a colaboração de colegas e da própria resistência polaca, Irena durante cerca de dois anos e meio conseguiu ludibriar os nazis e fazer sair do Gueto adolescentes, crianças e bebés – através de ambulâncias, cestos de lixo, caixas, sacos… – e enviá-los para o seio de famílias católicas, orfanatos, conventos ou fábricas.
Quando o Gueto foi destruído, pelos próprios alemães (Maio de 1943), Irena Sendler tinha salvo mais de 2500 crianças e jovens. Em Outubro de 1943, veio a ser presa pela Gestapo, sendo torturada (partiram-lhe os ossos dos pés e das pernas) e condenada à morte. A sentença não foi cumprida porque a resistência polaca conseguiu a cumplicidade de um soldado alemão que a deixou fugir.
Praticamente, desconhecida na Polónia, devido ao obscurantismo comunista, em 1965 foi considerada “Justo entre as Nações”, por Israel. Em 1979, encontrou-se com João Paulo II, a quem entregou uma estampa de Jesus Cristo, que tinha com ela na prisão, e que dizia: “Jesus, em Vós confio”. Em 2007, foi proposta para o prémio Nobel da Paz. Num mundo em que as notícias de esperança parecem cada vez menos frequentes, sabe bem (mesmo na morte) falar destes heróis, de carne e osso, porque estas lições, de vida autêntica, nunca se esquecem e os seus exemplos contagiam os que já não querem ou não têm forças para acreditar que é possível fazer melhor, sempre!

Vítor Amorim

terça-feira, 13 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Os intermináveis (re)encontros da fé

Há 41 anos, estava, pela primeira vez, na Cova da Iria. Tinha iniciado a minha adolescência não há muito tempo e a vontade em querer ir lá com os meus pais não era nenhuma. Preferia ficar na terra a brincar com os meus colegas. Mas ordens são ordens e lá tive que ir. Precisamente no ano que se celebrava o cinquentenário das aparições da Virgem Maria aos pastorinhos. Creio que só lá é que soube que o Papa Paulo VI iria estar presente nas cerimónias do dia 13 de Maio, do já longínquo ano de 1967. A experiência não foi boa: passei fome, frio e andei grande parte do tempo todo molhado, devido à chuva que caía incessantemente. Quando o carro preto, que transportava Paulo VI, passou a poucos metros de mim o meu entusiasmo foi nulo. Queria comer e mudar de roupa e tal não era possível. Foi como se tudo me tivesse passado ao lado ou, melhor, fui eu que passei ao lado de tudo.
Sentia que nada daquilo era para mim; não entendia porque estava ali. Em coisas de transcendência, na minha adolescência, as minhas relações eram com Deus e Jesus, pelo que algum contacto com a Senhora de Fátima não fazia sentido.
Mas o tempo, como medida de duração, transversal a toda a história humana, entrelaçado com o próprio ”tempo” de Deus, iria encarregar-se de me proporcionar uma outra perspectiva para o futuro, mas não naquele 13 de Maio de 1967.
Um futuro vivido, enquanto experiência humana, por uma intensidade sentida da fé pessoal, capaz de se sobrepor à dimensão cultural de uma época ou de uma família e de me dar a oportunidade de escolher e optar livre e conscientemente. Sem o saber, rejeitava, sem renegar, a fé por transmissão cultural ou por hábito tradicional, agarrando com todas as minhas energias a opção e a relação, feitas livre e conscientemente, por Aquele que eu entendia e me escutava, porque só Ele falava a linguagem própria da compreensão e das necessidades do adolescente que eu era.
Voltei para casa e Fátima ficou de lado, durante muitos anos. A minha fé, o meu acreditar, que me dava segurança e fortaleza e que brotava de uma relação pessoal e de reconhecimento, mesmo com a noção do profundo mistério que tudo isto envolvia, estava centrada em Jesus Cristo e no Deus Pai. O mistério de Deus fascinava-me.
Não era porque eu tivesse decidido alguma coisa, já que não se decide (compreendi-o, mais tarde) ter ou não ter fé. Antes pelo contrário: era a fé que me tinha tido a mim, enquanto acontecimento pessoal e de envolvimento na busca do saber e do entender, procurando afastar ou eliminar tudo o que fosse especulação no meu sentir e viver.
Ainda hoje me pergunto porque é que em Fátima, há 41 anos, não senti mais do que o vazio e a decepção e um tempo de solidão sem sentido.
Não sei responder, e, humildemente, acho que nunca saberei a resposta. Não se pode ir para além da própria natureza das coisas e o mistério insondável faz parte do percurso de toda esta construção e crescimento para que o acreditar e o confiar aconteçam.
Voltei à Cova da Iria, já depois de casado e com o natural conhecimento histórico dos seus principais acontecimentos. De novo, mas agora ali, a manifestação do acontecimento e da relação com o mistério ressoaram em mim e deram lugar a sentimentos de beleza, e a uma liberdade que fala e convida a fazer caminho, para uma nova descoberta daquilo que há-de ser sempre mistério e desafio interpelante.
A solidão, sentida a 13 de Maio 1967, tinha-se tornado num momento de (re)encontro com a “Senhora mais brilhante que o sol”, sem mágoas ou pieguices.
Abriu-se um novo horizonte, já que, por cada (re)encontro que se tem na vida, nada pode ficar na mesma e outro logo está à espera. De outro modo, para que serviria acreditar e confiar se fosse para ficar expectante ou conformado com o que já se tem?

Vítor Amorim

segunda-feira, 12 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Myanmar: a tragédia e a falta de liberdade

Não existem boas nem más ditaduras, mas, simplesmente, apenas ditaduras.
E, como em qualquer ditadura, as liberdades, os direitos e garantias dos seus cidadãos não só não são garantidos como estes ainda estão sujeitos a todas as arbitrariedades próprias das ditaduras: perseguições, torturas, eliminação de adversários políticos, falta de expressão e pluralismo político e tudo o mais que se queira imaginar.
Vem isto a propósito do ciclone Nargis que, entre o passado dia 2 e 3, do corrente mês de Maio, devastou, com vento superiores a 200 quilómetros por hora, algumas áreas da Myanmar (antiga Birmânia), fazendo um número ainda não calculado de mortos, desaparecidos e desalojados.
Num primeiro balanço, as autoridades ditatoriais de Myanmar começaram por se referir a 10 mil mortos e três mil desaparecidos. Decorrida mais de uma semana, os números de vítimas não param de aumentar e, segundo dados da própria Junta Militar, que governa Myanmar desde 1962, no Domingo, dia 11, as vítimas passaram para 28.458 mortos e 33.416 desaparecidos.
Contudo, fontes ocidentais calculam que o número de mortos ultrapasse s 100.000, para além de 1,5 milhões de pessoas estarem desalojadas.
Seja como for, nada disto pode ser confirmado por fontes independentes, já que os militares têm colocado grandes obstáculos à entrada da ajuda internacional, nomeadamente à ONU e à Cruz Vermelha Internacional, apesar das fortes pressões das organizações de ajuda humanitária. Numa altura em que tanto se tem falado do problema da falta de alimentos no mundo custa a entender como existem regimes que rejeitam a ajuda alimentar, medicamentosa, água potável e de reconstrução aos seus cidadãos, vítimas desta catástrofe natural. Fazem-no em nome de quê?
Os militares invocam os interesses supremos da nação, a unidade e a independência, supostamente ameaçadas pelos conflitos que têm surgido entre os vários grupos étnicos que compõem a população do país, para se manterem no poder há 46 anos.
Em 1990, houve eleições, ganhas pelo partido de Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da Paz, no ano de 1991, mas os seus resultados não foram reconhecidos pelos militares.
Entretanto, Aung San Suu Kyi passou quase 12 anos, destes últimos 18 anos, em prisão domiciliária.
Em Setembro e Outubro do ano passado, milhares de monges budistas (cerca de 90% de birmaneses são budistas) fizeram inúmeros protestos contra a falta de liberdade no país, do que resultaram mortos e prisões indeterminadas.
A Igreja Católica tem no país catorze dioceses, com um total de 635 mil fiéis e, no geral, os cristãos têm limitações severas de culto.
No passado sábado, dia 10, houve um referendo, para já só nas zonas não afectadas pelo ciclone, sobre a Constituição do país, que prevê eleições no ano de 2010, as primeiras a realizarem-se depois das de 1990.
Nestes últimos dias, têm surgido sinais de alguma abertura, por parte da Junta Militar, à entrada de alguma ajuda internacional, mas, mesmo assim, com muitas reticências, já que, autorizando a ajuda, esta só pode ser distribuída pelos militares birmaneses e nunca pelos funcionários ou voluntários dos organismos internacionais de auxílio.
Como em qualquer ditadura, a crueldade e a perversidade fazem parte da sua essência e esta não foge à regra. É próprio dos fracos, quando se querem fazer fortes!
Será que alguma vez a Comunidade Internacional vai julgar os seus responsáveis pelos crimes que têm cometido e continuarão, decerto, a cometer ou, mais tarde ou mais cedo, estes serão protegidos, como outros o são, para conveniência de alguém?
Vítor Amorim

sábado, 10 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Impostos: uma receita de enganos?

Na edição do passado Domingo, dia 4 de Maio de 2008, o “Jornal de Notícias” dava título a uma notícia com a seguinte frase: “Seis mil gerentes dizem ganhar apenas o salário mínimo nacional!”
Estes dados foram recolhidos por um Departamento do Ministério do Trabalho – Gabinete de Estratégia e Planeamento - e referem-se ao ano de 2006.
Nesse ano, o valor do salário mínimo nacional era de 385,90 euros, valor bruto, o qual ainda estava sujeito ao desconto de 11,5% para a Segurança Social, o que se traduzia no salário líquido mensal de 343,45 euros!
Portanto, 343,45 euros era quanto estes gerentes e directores de empresas levavam, no final de mês, para casa!
Na mesma notícia, podem-se ler ainda outros valores salariais mensais de gerentes e directores, designadamente nas áreas da restauração e hotelaria, todos eles com valores igualmente baixos para o cargo que ocupam.
Focando-me apenas nos gerentes e directores de empresas que declararam ter recebido os 343,45 euros mensais, a primeira ilação a tirar é que estes ganhavam, pelo menos nessa altura, o mesmo que qualquer um dos seus funcionários, partindo do princípio que também pagavam a estes só o valor do ordenado mínimo nacional! Confuso, não?
Mesmo tendo em conta os graves problemas porque têm passado algumas das empresas portuguesas, sobretudo as chamadas microempresas, convenhamos que custa muito a entender e a aceitar que os valores declarados correspondam à realidade.
Num país em que a fuga ao fisco e à Segurança Social se tornou, por parte dos empresários, uma regra e um hábito, não é da admirar que se esteja perante uma fraude fiscal, daqueles para quem pagar impostos continua a ser coisa de tontos ou palermas.
Sabemos que esta realidade, nestes últimos anos, se tem alterado muito, devido à luta contra a evasão e fraude fiscal, sem que isso signifique, contudo, que o sistema fiscal se tenha tornado mais eficaz na luta contra a desigualdade de fortuna, de que são exemplo os salários dos gestores e directores pagos, como é o caso, pelo salário mínimo nacional.
Sei que as políticas relacionadas com questões de fiscalidade e impostos de um país são difíceis de aplicar, eficazmente, sobretudo quando se quer combater as fugas das grandes fortunas, que arranjam sempre formas de transferir os seus capitais para onde quiserem, designadamente para o estrangeiro ou paraísos fiscais
O desenvolvimento de um país também se mede pela forma como a carga fiscal é distribuída pelos seus cidadãos e como as receitas da mesma são, depois, redistribuídas, através das diversas rubricas de despesas, e, aqui, ainda se está longe do satisfatório.
Talvez estes seis mil gerentes e directores achem que não há mais nada a fazer pelo desenvolvimento do seu país e dos seus cidadãos pelo que pagar impostos já não faz sentido algum. Agora, que parecem ser mesmo ingénuos, lá isso parecem.
Sem entrar em demagogias, espero que as autoridades portuguesas esclareçam, cabalmente, o que se passa com esta notícia, pelo menos, em nome daqueles que pagam, na íntegra, os seus impostos – normalmente, os trabalhadores por conta de outrem.
No entanto, é mais que provável andarem por aí outros gerentes, directores, empresários e empresas (mas estes sem a aparente ingenuidade dos primeiros) que já usufruindo de ordenados avultados ou lucros fabulosos, que até declaram às finanças, ainda conseguem ter rendimentos superiores, ao que ganham legalmente, através dos rendimentos não declarados. Vai uma aposta? Estes comportamentos são uma das causas das desigualdades sociais e da falta de desenvolvimento de qualquer país.
Afinal, a “economia subterrânea” existe mesmo e para alguma coisa é, ou não será?
Vítor Amorim

quinta-feira, 8 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Perseguidos em nome de Jesus Cristo!


Chegou-me, hoje, alguma informação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, “organização dependente da Santa Sé, tendo por objectivo apoiar projectos de cunho pastoral em países onde a Igreja Católica está em dificuldades”, a qual dá conta da “perseguição aberta” que os cristãos, estão a sofrer em vários países mundo.
Neste momento particular, de confusão e de desorientação mundial, desejo lembrar, fraternalmente, nestas breves linhas, aqueles nossos irmãos que, para viverem a fé em Cristo Jesus, são perseguidos e torturados. (cf.: 2 Tm 3,12).
Recordo os cristãos que vivem no Iraque, onde são vítimas de perseguições, ofensas, atentados, por parte de sunitas e xiitas, para que abandonem os seus lares e o país.
Ainda no passado dia 13 de Março foi encontrado sem vida o corpo do Arcebispo caldeu Paulos Furaj Rahho, depois de ter sido raptado e assassinado.
O mesmo Arcebispo que, no início de Janeiro, deste ano, escrevia que a sua diocese estava mergulhada “na dor e na agonia”.
Lembro, também, os cristãos do Líbano, vítimas da violência extremista, que lhes tem destruído o pouco que possuíam e que são obrigados a abandonarem, igualmente, os seus lares e a sua terra.
E como era possível esquecer os cristãos da Terra Santa, vítimas de perseguições de grupos extremistas, tanto do lado muçulmano como judeu?
Estes cristãos praticamente não têm nada para comer e arranjar trabalho é uma tarefa quase impossível. Deste modo, são obrigados a deixar a terra onde Jesus nasceu, pelo que o risco de deixar de haver cristãos na Palestina é bastante elevado.
Alguém imagina o que seria a Terra Santa sem cristãos?
A estes países, muitos outros se podem juntar na perseguição, prisão e tortura aos cristãos, casos da Coreia do Norte, do Irão, da China ou da Arábia Saudita, entre tantos outros que poderiam ser também referidos neste espaço.
Bem sei que, em alguns casos, a delicadeza das situações e a discrição exigem um diálogo paciente e sereno, por parte das autoridades religiosas cristãs com as autoridades dos países em que as perseguições são frequentes, para que estas acabem, tão rápido quanto possível, e possa dar-se início a uma abertura religiosa. Decerto, um caminho longo e difícil de percorrer e não isento de riscos e retrocessos.
Por isso, recordo as palavras, recentes, do Papa Bento XVI: “Mais uma vez asseguro que a Terra Santa, o Iraque, e o Líbano estão presentes na oração e na acção da Sé Apostólica e de toda a Igreja.”
A “Além-Mar”, de 20 Fevereiro de 2008, publica um ranking feito pela organização internacional evangélica “Portas Abertas”, sobre a situação mundial dos cristãos perseguidos.
De igual modo, a A.I.S. tem todo um conjunto de informações sobre a liberdade religiosa no mundo, que podem ser adquiridas ou consultadas, através do seu site.
Num mundo que parece estar cada vez mais confundido com ele próprio e onde a esmagadora maioria dos seus cidadãos já têm dificuldade em entendê-lo, não esqueçamos estes nossos irmãos perseguidos em nome de Jesus Cristo, através da nossa oração e da nossa solidariedade.

Vítor Amorim

quarta-feira, 7 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Os avisos, as crises e as vontades!

“Pela maneira como estamos, como a comunidade internacional está a olhar para o mundo, não iremos longe.”
Estas palavras, melhor, este aviso interpelativo, pelo seu significado e pela realidade que contém em si mesmo, exige uma reflexão séria e profunda por parte de todos aqueles que estão preocupados, sincera e convictamente, com as várias crises que se vão alastrando, paulatinamente, pelo mundo, sobretudo a partir da queda do Muro de Berlim (1989).
Quem as proferiu foi o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o português, Engenheiro António Guterres, no passado dia 4 de Maio, durante uma visita que fez ao Fundão e a Donas, terra natal da sua mãe e onde viveu parte da sua infância.
Trata-se, pois, de uma afirmação demonstrativa de todo um conjunto de problemas que persistem ou se agravam, ainda que com outros contornos, no mundo e que não é proferida por uma pessoa que esteja alheada das grandes questões internacionais. Bem pelo contrário.
Por muito que custe, é preferível, e mais positivo, encarar a realidade, no imediato, do que escamoteá-la, para mais tarde. Partindo deste pressuposto, o que Comissário para os Refugiados da ONU diz é que estão em confronto, pelo menos, duas perspectivas de ver o mesmo mundo e as múltiplas questões a ele inerentes.
Em linguagem do dia-a-dia, dir-se-ia que uns são os pessimistas e os outros são os optimistas, quando, afinal, o importante é saber quais são, de todos, os que melhor buscam a verdade e a razão das coisas, bem como as consequentes soluções e aplicações práticas, já que esta busca não é privilégio de nenhum tipo exclusivo de pessoas.
Já agora, e os chamados optimistas que me desculpem, existem estudos de perfis psicológicos que demonstram que um optimismo exagerado pode ser, tendencialmente, paralisante, para quem tem que tomar decisões e dar soluções, em tempo útil.
Como em tudo na vida, o mais provável é dizer que “é no meio que está a virtude”, tendo em conta as circunstâncias e os contextos em que se está inserido.
Da minha parte, confesso, bem gostaria de falar de coisas mais agradáveis, que também as há, mas, por agora, resta-me a quase certeza que alguém fará isso por mim e a esperança, sentida, que ainda é possível por o mundo a sorrir!
Utopia? Sinceramente, não creio! Não terá o próprio Evangelho nascido da simbiose de uma realidade profundamente humana e humanizante, cujo centro é Jesus Cristo, com a utopia cristã pelo Reino de Deus?
Responsável por esta Organização da ONU, desde Junho de 2005, conta com mais de seis mil funcionários (espero que a maior fatia da verba desta Instituição não se destine a pagar os ordenados destes). Está presente em 115 países, pelo que António Guterres sabe do que fala e porque fala. É um humanista, por excelência.
Preocupado, igualmente, com as consequências da subida dos alimentos, o Comissário da ONU para os Refugiados não deixou de se referir a toda “uma série de ameaças que já se concretizaram ou estão como uma espada sobre as nossas cabeças e que nos devem levar a pensar como é possível olhar para o mundo de outra maneira.” Tudo isto a par de conflitos “no Afeganistão, Iraque, Palestina, Sudão e, esperemos, que não no Líbano.”
Optimismos ou pessimismos à parte, o importante é saber que, em cada problema que surge, aparece uma nova oportunidade para o resolver. Deste modo, a possibilidade de evitar a sua repetição, no futuro, nunca se tornou tão real e exequível. Queiramos nós! Tudo depende, afinal, da vontade de cada um!


Vítor Amorim

terça-feira, 6 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO

Preço do arroz pode criar conflitos sociais na Ásia

«O recente aumento dos preços do arroz vai atingir duramente os países da Ásia. Os mais afectados são os mais pobres, incluindo os pobres urbanos», declarou Fukushiro Nukaga, Ministro das Finanças, do Governo japonês, durante a 41º Assembleia-Geral do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD), a decorrer em Madrid, até à próxima terça-feira, dia 6.
«Isto terá um impacto negativo nas condições de vida e de alimentação das populações. Esta situação pode levar a conflitos sociais», acrescentou. Segundo o Ministro das Finanças japonês, é necessário «adoptar medidas para satisfazer, imediatamente, as necessidades dos mais pobres»
Haruhiko Kuroda presidente do BAD, referiu, em Madrid que “O aumento do preço dos alimentos ameaça minar os esforços da Ásia para combater a pobreza", alertando que a "época dos alimentos baratos, quiçá, chegou ao fim", sublinhando que o preço do arroz triplicou nos últimos quatro meses, algo que, em sua opinião, "não se pode explicar pela leia da oferta e da procura", acrescentando que montante da ajuda "dependerá dos pedidos dos países em causa".
O próprio BAD estima que o aumento dos preços dos bens alimentares afectará mil milhões de pessoas, só na Ásia.
Rajat Nag, director-geral do BAD, afirmou, na sexta-feira, dia 2, também em Madrid, que das pessoas afectadas na Ásia cerca de 600 milhões sobrevivem com menos de um dólar por dia e os 400 milhões que estão acima deste limiar também são muito vulneráveis.
O preço do arroz tailandês, um dos mais utilizados na Ásia, é actualmente de cerca de mil dólares (648 euros) a tonelada, o triplo do que era há um ano, quando se realizou a anterior Assembleia-Geral do Banco Asiático de Desenvolvimento, no Japão.
A nível global, os preços dos alimentos quase duplicaram, em três anos, originando distúrbios vários e protestos, um pouco por todo o mundo, e restrições às exportações no Brasil, Vietname, Índia e Egipto.
O Ministro das Finanças do Japão, alertou que as restrições às exportações aumentam os preços, enquanto os subsídios para ajudar os pobres a lidar com a questão poderão ser um fardo pesado para os orçamentos nacionais e «não são sustentáveis, a prazo».
Os subsídios alimentares no Bangladesh, um dos países mais pobres da Ásia, deverão duplicar no corrente ano fiscal e atingir 1,5 mil milhões de dólares (973 milhões de euros). A 29 de Abril, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, anunciou a criação de uma célula de crise para lidar com a questão da subida do preço dos alimentos e os consequentes problemas de fome.
Entre outras causas da crise, a ONU refere a falta de investimentos no sector agrícola, os subsídios que pervertem o comércio, os subsídios aos biocombustíveis, as más condições climatéricas e a degradação do meio ambiente.
Com sede em Manila, Filipinas, o BAD é uma instituição financeira multilateral, criada em 1967, para reduzir a pobreza e melhorar a qualidade de vida nos países mais pobres da Ásia e Pacífico, através do financiamento de projectos em condições vantajosas, assistência técnica e difusão do conhecimento. O BAD conta actualmente com 67 países membros, dos quais 48 da região Ásia-Pacífico, como Timor-Leste, e 19 não regionais, tendo os Estados Unidos e o Japão como principais accionistas.
Portugal é membro do BAD, desde o ano de 2002.

Vítor Amorim

segunda-feira, 5 de maio de 2008

PONTES DE ENCONTRO


QUE PASSADO PARA O FUTURO DE PORTUGAL?


“Num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar-se”


Esta frase que escolhi para o início deste texto faz parte do discurso do Presidente da República, na 34ª Sessão Comemorativa do 25 de Abril, realizada na Assembleia da República, no passado dia 25 de Abril de 2008.
Nesse dia, tive oportunidade de escrever neste blogue uma breve reflexão sobre “O 25 de Abril e o futuro”. Acabava o meu texto da seguinte forma: ”Falar, nos dias de hoje, do 25 de Abril de 1974, é pensar e falar na capacidade que temos em regenerar o que tem que ser regenerado; aperfeiçoar o que tem que ser aperfeiçoado; na vontade em resolvermos as dificuldades e problemas que nos surgem e na qualidade de vida e de democracia que podemos prometer e cumprir, de forma competente, perante todos os cidadãos. Se assim não for, o 25 de Abril de 1974 será sempre passado sem sentido e um memorial de recordações e nostalgias que jamais poderão fazer parte do futuro.”
Perante isto, não posso estar mais de acordo com a frase do Presidente da República, já que um projecto de país e de uma sociedade jamais se esgotam no tempo. O futuro é, pois, o horizonte mais próximo, num projecto de um país, que, por via disso, nunca está acabado e cujas responsabilidades para as tarefas da sua contínua renovação e execução são transmitidas de geração em geração, ininterruptamente.
Neste seu discurso, Aníbal Cavaco Silva deu a conhecer um estudo, encomendado à Universidade Católica Portuguesa, “sobre as atitudes e comportamentos políticos dos jovens em Portugal”.
O estudo revela um “alheamento da juventude, que não pode deixar de nos preocupar a todos, a começar pelos agentes políticos. A começar por vós, Senhores Deputados. Se os jovens não se interessam pela política é porque a política não é capaz de motivar o interesse dos jovens. (…) Em todo o caso, o nível de informação dos jovens relativamente à política é de tal forma baixo que ultrapassa os limites daquilo que é natural e salutar numa democracia amadurecida.” Já gora, será só na vida política?
Compreendo as palavras do P.R. e os alertas que faz, em vista ao futuro e ao destino de Portugal. Contudo, não posso deixar de colocar algumas questões que o passado nos tem ensinado e das quais os políticos se parecem esquecer: É ou não é verdade que existe em Portugal uma falta grave de cultura de cidadania? É ou não é verdade que os partidos políticos são mais vendedores de ilusões do que cumpridores de promessas? É ou não é verdade que falar verdade custa a perca de muitos votos? É ou não é verdade que os Deputados, não prestam contas a ninguém do que fazem no Parlamento? É ou não é verdade que se tem dado a ideia que aprender e ensinar não exige disciplina e sacrifícios? É ou não é verdade que as pessoas querem é entretimento, começando no futebol e acabando nas telenovelas? É ou não é verdade que se tem desvalorizado a componente de memorização dos jovens? É ou não é verdade que o espaço familiar é cada vez mais ocupado pelo computador, a Internet ou as Play Stantion, em vez do diálogo familiar? É ou não é verdade que se vendem cada vez mais as chamadas revistas cor-de-rosa e sensacionalistas e decresce a venda da chamada “informação séria”? É ou não é verdade que temos uma democracia formal e conjuntural?
Estas questões são comuns a outros países, pelo que bem pior do que a baixa informação, política, dos jovens, e não só destes, tem sido a falta de qualidade e a mediocridade dos que têm gerido os destinos deste povo e deste país, ao longo das várias décadas de democracia. É difícil não fazer recriminações, como pediu o P.R., pois estas, agora, nada resolvem e o futuro não espera, e é este que conta! Até quando?

Vítor Amorim

terça-feira, 29 de abril de 2008

PONTES DE ENCONTRO


Cereais: de novo, para ajudar a entender!

Por mais de uma vez tenho abordado algumas questões relativas ao aumento dos cereais, em todo o mundo, com a consequente escassez destes bens alimentares na dieta básica de milhões de pessoas, o que tem provocado reacções de todo o género, que vão das manifestações públicas, em todos os continentes – algumas até bem violentas -, até a declarações de preocupação, proferidas por vários responsáveis políticos e religiosos, designadamente ao nível da Organização das Nações Unidas, independentemente da ineficácia que vem demonstrando, desde há vários anos, no seu funcionamento.
São factos indesmentíveis, ainda que, relativamente à causa, ou causas, que estão na origem destes aumentos, continuam a não aparecer respostas claras, explícitas e objectivas. Esta falta, persistente, de esclarecimentos rigorosos não deixa de ter uma leitura, a meu ver, negativa, pois começa a sobressair a ideia de que as explicações surgem em função dos interesses políticos ou ideológicos de quem diz que os dá.
Ainda, ontem, dia 28 de Abril, ouvi dois economistas portugueses a falarem deste assunto e os argumentos ou as razões de ambos não foram nada coincidentes.
Estaremos perante uma situação cujas explicações surgem em função de se gostar e defender, ou não, uma qualquer teoria económica?
Se assim for, tenho dificuldade em compreender porque é que as Nações Unidas promovem, a partir de hoje, dia 29, uma reunião na cidade de Berna, na Suíça, para discutir a crise alimentar mundial, tendo o seu mandatário a esta reunião, Jean Ziegler, referido que o direito à alimentação é “um direito fundamental para todos os que têm fome no mundo”.
Para este alto funcionário da ONU, o papel dos biocombustíveis, na crise alimentar, tem sido determinante nos aumentos dos cereais e a grande causa da fome no mundo, acusando a indústria dos biocombustíveis de estar por trás da súbita escalada do preço dos cereais.
Jean Ziegler ainda se pronunciou sobre a especulação, que calcula ser responsável em trinta por cento no aumento do preço dos produtos alimentares, estando, segundo disse, por trás das recentes interdições à exportação de arroz, em grandes países produtores, como é o caso do Brasil.
Esta iniciativa da ONU foi, entretanto, noticiada pela Rádio Vaticano.
Quanto à Comissão Europeia, deixou, ontem, um alerta sobre a crise alimentar. Nas suas previsões de Outubro de 2007, esperava uma subida de dez por cento, no preço da comida para o ano de 2008. Agora, diz que o aumento será de trinta e nove por cento, por causa da especulação, segundo notícia do “Diário Económico”, de hoje.
Voltando a ontem, dia 28, o economista João César das Neves escreveu um artigo de opinião, no jornal “Diário de Notícias”, com o título “O Fantasma da Fome Global”, no qual, reconhecendo que “A subida mundial dos preços alimentares é um tema dramático”, parece, depois, entrar em considerações onde “ A atenção mediática” centrada “em alguns efeitos pontuais”, o “Nervosismo internacional, maus anos agrícolas e instabilidade sociopolítica local hão-de passar.”
Falando da “famigerada especulação”, João César das Neves refere que “só de vez em quando surge para ficar com culpas.”
Afinal no que ficamos? Será que está tudo bem ou a caminhar para isso, não passando todas estas as notícias, destes últimos dias, de um alarmismo injustificado e perigoso?

Vítor Amorim