terça-feira, 25 de novembro de 2008

“Moinhos do Distrito de Aveiro”

Marca da nossa memória colectiva
“Moinhos do Distrito de Aveiro” é um livro de Armando Carvalho Ferreira, que vai ser lançado na Universidade de Aveiro, na Sala dos Actos Académicos (Edifício da Reitoria), no dia 13 de Dezembro, pelas 16 horas. Com este trabalho, o autor, um apaixonado pelo tema, pretende mostrar o trabalho de recolha e investigação que fez durante dois anos. Ainda apresenta o património molinológico da nossa região, "a grande maioria dele desconhecido ou esquecido, contribuindo assim para a sua valorização como marca da nossa memória colectiva", lê-se no convite de divulgação do evento.

Carlos Duarte apresenta fotografias

(Clicar nas fotos para ampliar)
"O MEU OLHAR"
“O meu olhar” é uma exposição de fotografia de Carlos Duarte. Vai ser inaugurada em 29 de Novembro, na Biblioteca Municipal, com o apoio do Rotary Club de Ílhavo. São fotografias retratando temas diversos como a Ria, Costa Nova, os canais de Aveiro ou as procissões, mas com a matriz própria de quem vê estas imagens para além do real, o que para o comum dos observadores não será fácil de captar num primeiro registo. Esta mostra é feita em parceria com o Rotary Club de Ílhavo e a receita reverte para a campanha que os rotários estão a levar a efeito para apoiar a Obra da Criança. Do seu currículo, destaca-se a colaboração que tem prestado a diversos eventos, tendo sido, pelo seu labor, distinguido pela associação Os Ílhavos com o “Leme da Reportagem”. Carlos Duarte expôs, pela primeira vez, em Ílhavo, na Junta de Freguesia, em 2005. Em 2006, na Gafanha da Nazaré, e em 2007 na Biblioteca Municipal, apresentando o livro “40 anos de fotografia”, cuja edição se esgotou.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Para minha mãe

Pequeno poema 

Quando eu nasci, 
ficou tudo como estava. 
Nem homens cortaram veias, 
nem o Sol escureceu, 
nem houve Estrelas a mais...
Somente, 
esquecida das dores, 
a minha Mãe sorriu 
e agradeceu. 

 Quando eu nasci, 
não houve nada de novo 
senão eu. 
As nuvens não se espantaram, 
não enlouqueceu ninguém... 

Pra que o dia fosse enorme, 
Bastava toda a ternura 
que olhava 
nos olhos de minha Mãe. 

Sebastião da Gama

NOTA: Quando hoje acordei lembrei-me deste poema de Sebastião da Gama. Tenho boas razões para isso. Setenta anos de vida, bem vividos, justificam esta pequena imodéstia.
FM

domingo, 23 de novembro de 2008

XANANA ditador?

Xanana, o herói timorense, anda nas bocas do mundo, acusado de ditador. O filho querido do povo Lorosae, que sofreu nas masmorras a tirania dos que não queriam Timor livre e independente, “já não goza da admiração de outrora”, no dizer do EXPRESSO.
Durante anos, mesmo depois da independência da ex-colónia portuguesa, era escutado com respeito e seguido com devoção. Presentemente, e depois de uma nebulosa eleição que o levou ao poder, como primeiro-ministro, não falta quem o acuse de estar ilegitimamente no cargo, chegando-se ao ponto de dizer que está conotado com atitudes autoritárias. Estará, assim, a cair em desgraça.
Sempre vi em Xanana um herói simples, com capacidade de se dar a causas justas, como a da libertação do seu povo. Até admirava o seu estilo, que chegou a ser parodiado em programa televisivo.
Vi, algumas vezes, como humanamente acalmou o povo revoltado e resolveu conflitos entre militares, governantes e a população. Mas também registei, embora à distância, as eleições pouco claras e as manobras pouco democráticas que o levaram à chefia do Governo. Então tive pena do Xanana.
Para mim, os heróis raramente têm uma segunda oportunidade. De repente, quando menos se espera, passam a ser olhados com desconfiança. Não me espanta nada que isso venha realmente a acontecer. Teria sido bem melhor para a história de Timor e para o próprio Xanana que ele tivesse ficado simplesmente numa situação de reserva da nação.
Xanana, sem cargos políticos na sociedade timorense, seria muito mais útil ao seu povo do que na chefia do Governo. O futuro o dirá. Mas, pelo que é possível perceber, o Xanana, mártir da independência, estará a ser destruído, com a sua própria colaboração.

Fernando Martins

Mais vale ser ex-ministro que ministro

Há muito se diz que é melhor ser ex-ministro que ministro. O caso de Dias Loureiro, que saiu sem fortuna quando deixou o Governo e que logo a seguir enriqueceu, é paradigmático. E julgava eu, ma minha boa-fé, que não era assim. Não terá acontecido com muitos, mas é um caso dos que se serviram dos relacionamentos de ministro para subir na vida dos negócios, aparentemente com uma facilidade incrível. Uns contactos, umas viagens, mais uns amigos daqui e dali, e está bem feita a cama onde pode dormir descansado o resto da vida. Ele e a família. Não tenho nada contra o ex-ministro Dias Loureiro, que sempre me pareceu um homem digno, sendo certo que, até prova em contrário, temos de o respeitar. Porém, depois da entrevista na RTP, já há quem o desminta, sobre a história dos contactos que manteve no BdP, por causa do BPN. A justiça dirá. Vem isto a propósito de me habituar há muito à ideia de que cargos políticos são, para os vocacionados para isso, para servir a comunidade, como missão e contributo para o bem comum. Para servir, que não para ser servido. Mas, afinal, parece que não é bem assim. Daí o vigor com que muitos políticos se agarram aos “tachos”, como lapas à rocha dura. Para eles, a vida, fora disso, nem terá sentido. Continuo a ter dificuldades em aceitar estes comportamentos, embora admita que possa estar enganado. Eu sei que o poder, pelos vistos, é aliciante. Há quem goste de estar na crista da onda, quem goste de ocupar cargos de chefia, quem goste de mandar e de impor as suas razões, e, ainda, quem goste de ficar na história, de preferência com busto ou estátua na praça pública. Eu gostaria mais de ver políticos que cumprissem, com dignidade, os cargos para os quais foram eleitos, regressando às suas ocupações anteriores com toda a naturalidade deste mundo. E se gostassem de se dar à comunidade, haveria sempre um qualquer campo de intervenção tão importante como os cargos políticos. Não há por aí tantas instituições à espera de voluntários? É claro que nem todos os políticos terão na manga a preocupação de enriquecer depois de regressarem a uma vida profissional normal. Nem todos enriquecem à custa dos cargos que desempenharam, mas começa a notar-se, infelizmente, que há uma certa vantagem em ser ex-ministro. Não será a maioria, mas, pelos vistos, há quem se aproveite.
Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 104

A PROVA DE PASSAGEM DA 1.ª PARA A 2.ª CLASSE Caríssima/o: Pelo que se vê, estamos a chegar ao final do ano, mas antes ainda temos de esfolar o rabo, que é como quem diz: temos de passar por uma prova bem difícil. E que prova era essa? Apenas e só a prova de passagem de classe, levada ao extremo da seriedade e da ansiedade! Começava pelos treinos: papel almaço e com umas palavras impressas sobre as quais sobressaía e se sobrepunha um escudo de Portugal! Aí, nessa primeira página, rabiscávamos o nosso nome a tinta... e não podia ter emendas nem borrões. Preparativos minuciosos, qual motor de fórmula um, para verificar e afinar o aparo, se não abanava, se a tinta não caía... E o lápis bem aguçado... E as mãos limpas para não deixarem marcas no papel... À prova assistia a nossa Professora e uma outra que muitas vezes nos era desconhecida, vinha de escola próxima... Procuravam cativar-nos e sorriam e que fizéssemos tudo com cuidado que ia correr tudo bem e todos passávamos... Começávamos pela cópia: do livro de leitura, à sorte. A seguir uma redacção que também não trazia grandes surpresas: as duas ou três frases que se escreviam já nos não eram desconhecidas. Agora era a vez da aritmética: um problema de uma operação, com a respectiva indicação e uma resposta completa e também uma conta que podia ser de somar, subtrair, multiplicar ou dividir, com toda a tabuada até nove. Claro, a multiplicação e a divisão era só por um algarismo... Havia também a representação de uma fracção por meio de um desenho-gráfico e a escrita de um número romano até XX... Está quase, que só falta o desenho na última metade da quarta página (pois em cima tínhamos feito a fracção e escrito o tal romano...): o vaso fica mais bonito com uma flor! Terminada a prova escrita, íamos para o recreio esperar que nos chamassem para mostrarmos a nossa arte na leitura. Muitas vezes, só à tarde é que aparecia pregado à porta o papel onde se lia que todos os que fizeram a prova de passagem tinham transitado para a 2.ª classe...
Manuel

sábado, 22 de novembro de 2008

Voluntários Hospitalares

Quando passo por um hospital, quase sempre registo a presença dos voluntários hospitalares. Homens e mulheres que se dão ao apoio a quem está a sofrer, física e psicologicamente. Ontem mais uma vez confirmei o bem que eles fazem. Atentos a quem chega, frequentemente pressentem quem precisa de ajuda. A partir daí, não mais deixam de estar com a pessoa. “Eu sei que não é fácil vir a estas casas, mas temos de ter esperança que tudo se vai resolver; há ali café, chá e bolachas que oferecemos a quem quiser”, disse um, enquanto, com o seu sorriso, dava algum ânimo a quem estava. Tanto quanto posso imaginar, são pessoas reformadas e, por isso, disponíveis. Porém, não se vão meter em casa à espera que o tempo passe, nem se acomodam num qualquer café… ou banco de jardim. Dão-se aos outros generosamente. É certo que não é voluntário hospitalar quem quer. Reconheço que é preciso ter vocação para lidar com doentes, mas também sei que em reuniões vão recebendo formação específica. Hoje, mais do que nunca, estas tarefas delicadas exigem conhecimentos e preparação, sob pena de se cometerem falhas que podem provocar efeitos contrários aos desejados. E depois, os voluntários hospitalares têm de assumir os seus compromissos, cumprindo, escrupulosamente, os horários que subscrevem. Por tudo isto, e pelo que diariamente fazem nos hospitais, junto dos doentes, mais admiro os voluntários que no dia-a-dia estão próximos dos que sofrem. FM

A INFAUSTA DOUTRINA DO PECADO ORIGINAL

A impressão geral que me ficava da religião nos tempos da catequese não era luminosa. Pelo contrário, tudo aquilo transmitia um mundo bastante tenebroso, a ideia de um Deus castigador e de nós sujeitos a um destino de submissão trágica. Os primeiros pais tinham pecado, Deus andava irado com a gente e Jesus sofria na cruz para ver se nos libertava. A alegria era um roubo e a palavra Evangelho, que quer dizer "notícia boa", não pousava sobre nós nem nos aquecia. O que infectava o cristianismo era a doutrina infausta do pecado original. Escreveu o célebre historiador católico Jean Delumeau: "Não é exagerado afirmar que o debate sobre o pecado original, com os seus subprodutos - problemas da graça, do servo ou livre arbítrio, da predestinação -, se converteu (no período central do nosso estudo, isto é, do século XV ao século XVII) numa das principais preocupações da civilização ocidental, acabando por afectar toda a gente, desde os teólogos aos mais modestos aldeões. Chegou a afectar inclusivamente os índios americanos, que eram baptizados à pressa para que, ao morrerem, não se encontrassem com os seus antepassados no inferno. É muito difícil, hoje, compreender o lugar tão importante que o pecado original ocupou nos espíritos e em todos os níveis sociais. É um facto que o pecado original e as suas consequências ocuparam nos inícios da modernidade europeia o centro da cena mundial, sem dúvida muito atribulado." No entanto, a doutrina do pecado original, no sentido estrito de um pecado transmitido e herdado, não se encontra na Bíblia. Jesus nunca se referiu a um pecado original. Na sua base, encontra-se fundamentalmente Santo Agostinho, a partir de um passo célebre da Carta de São Paulo aos Romanos, capítulo 5, versículo 12. Mas ele seguiu a tradução latina: Adão, "no qual" todos pecaram, quando o original grego diz: "porque" todos pecaram. Ora, uma coisa é dizer que todos são pecadores e outra afirmar que todos pecaram em Adão, como a árvore fica infectada na raiz, de tal modo que todos nascem em pecado do qual só o baptismo os pode libertar. Santo Agostinho deixava cair no inferno, mesmo que menos terrível, as crianças sem baptismo. Durante séculos, houve mães tragicamente abaladas, porque os filhos morreram sem baptismo. A Santo Agostinho serviu esta doutrina sobretudo para, convertido do maniqueísmo ao cristianismo, "explicar" o mal no mundo, que não podia vir do Deus criador bom. De facto, baseou-se numa exegese errada. E quem não sabe hoje que o que diz respeito a Adão e Eva e à queda é da ordem do mito? Adão e Eva não são personagens históricas. Depois, se eles ainda não sabiam, como diz o texto do Génesis, do bem e do mal, como podiam pecar? O que o texto diz é outra coisa, e fundamental: o que caracteriza o Homem frente ao animal é a liberdade. O Homem já não é um animal como os outros: tem auto-consciência, sabe de si como único - a nudez metafísica - e que é mortal. Mas os estragos desta doutrina infausta foram e são incalculáveis, sobretudo a partir do acrescento de Santo Anselmo e a sua doutrina da retribuição: os primeiros pais cometeram uma ofensa contra Deus infinito e, assim, era necessária uma reparação infinita para uma dívida infinita que só o Deus-homem Jesus podia pagar na cruz. Ficou então a ideia de um Deus por vezes monstruoso, que precisou da morte do Filho para reconciliar-se com a Humanidade. Mas como era isso compatível com o Deus amor? Porque o pecado se transmitia pelo acto sexual, a sexualidade, o corpo e a mulher ficaram envenenados, numa situação dramática: era preciso continuar a gerar filhos - no limite, a actividade sexual só se legitimava para a procriação -, mas eles eram gerados em pecado e a mulher trazia o pecado dentro dela. Porque é que o primeiro acto humano da História havia de ser o pecado? Hoje, com a teoria da evolução, a contradição torna-se maior. E, afinal, o que São Paulo diz no passo célebre da Carta aos Romanos é uma mensagem de esperança: todos os seres humanos pecam, o pecado do Homem é grande, mas o amor de Deus é maior. Infinito. Anselmo Borges

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O significado de vestir a camisola da selecção

Face ao escandaloso comportamento dos jogadores da selecção portuguesa de Futebol, no jogo com o Brasil, o seleccionador nacional, Carlos Queiroz disse: "Todos têm e já tiveram oportunidade de mostrar empenhamento e atitude. Isto tem de servir de lição, de aprendizagem. Nós podemos tentar estimular e tentar chamar a atenção daquilo que é importante fazer. Depois compete, no momento certo, fazer e se não acontecer teremos naturalmente de tomar decisões para aquilo que é o significado de vestir a camisola da selecção."
Mesmo percebendo muito pouco de futebol, permito-me acrescentar que, no mínimo, os nossos multimilionários jogadores foram passear até ao Brasil. Que a triste figura que fizeram lhes sirva de lição, são os meus votos.

PISTAS PARA O EXAME FINAL

Ao cair da tarde, em terras da Judeia, um pastor separa as ovelhas dos cabritos. Acção simples, mas cheia de simbolismo, que Jesus aproveita para transmitir uma mensagem sublime e interpelante. A linguagem que usa é fruto da cultura bucólica e campestre. A forma literária pertence a um género especial – a apocalíptica. A realidade envolvida na narrativa faz parte da vida humana, dos modos de relacionamento entre as pessoas, do uso dos bens, da capacidade de ver as “coisas” em profundidade e extensão. Faz assim um “esboço” do Reino que se torna presente e desenvolve, quando aquela realidade é vivida no amor e na justiça, na verdade e na liberdade, na solidariedade e na paz. Por cada pessoa e por toda a humanidade. Como Ele vive, anuncia e deixa em forma de testamento. Ser fiel à herança de Jesus constitui a alegria cristã mais profunda, revigora a esperança mais consistente e intensifica a dedicação mais generosa àqueles que Deus ama e quer ver felizes. Supõe o nosso envolvimento afectivo e inteligente, completo e integral. Brota da certeza que Jesus está connosco e nos abre caminhos acessíveis cada vez mais concretos. A prova de fidelidade faz-se na vida, nos critérios e comportamentos assumidos. Um dia, ao fazer o nosso “exame final”, Deus não pergunta pelo modelo do carro, pela grandeza da casa, pela marca da roupa, pela conta do ordenado, pela categoria profissional, pela quantidade de amigos, pela cor da pele, pela religião, pela frequência do culto ou prática devocional. Não. Se chegar a fazer tais perguntas é por causa de outros assuntos mais importantes. Ele prefere seguir outra pista para nos ajudar e vai-nos segredando: Que fizeste com os teus bens? A quantas pessoas serviste com o carro e a quantas acolheste em casa? O ordenado era fruto de trabalho honesto ou vendeste a consciência e deixaste-te corromper? A categoria profissional foi merecida pela competência e honradez ou resultado de suborno e falcatruas? Quantas pessoas te consideravam amigo sincero? Como tratavas os vizinhos? Fazias discriminação de alguém apenas pela cor da pele ou preconceito de raça? Viveste a fé como um compromisso de amor, uma âncora de esperança, um farol de horizontes novos? Dando respostas positivas, o estilo de vida da humanidade, sobretudo dos cristãos-discípulos do meu Filho Jesus, configurará o rosto social da realidade nova que vos proponho no meu Reino. Será um rosto belo e atraente. Será uma realidade inclusiva e envolvente. Para bem e felicidade de todas as criaturas e de toda a criação. Georgino Rocha

Obamomania

Com a vitória de Obama nas eleições presidenciais dos EUA, uma onda de euforia se espalhou pelo mundo. Uma vitória inédita num país que se proclama como o mais democrático do mundo deu para alimentar a esperança da construção de uma nova ordem social. Uma nova ordem social assente no diálogo, na democracia, na paz e na justiça. Desde a eleição e até hoje têm-se multiplicado esses sinais de esperança, mesmo de certeza de que essa nova ordem social será uma realidade a curto prazo. Nem passa pela cabeça de ninguém admitir o contrário. Obama, para muitos, já ganhou o céu, ocupando um lugar especial no coração de cada cidadão do mundo. Contudo, estou convencido de que o paraíso não está a chegar, sobretudo à medida dos sonhos de muitos. Bem gostaríamos que assim fosse, mas não vale a pena acreditar em utopias, embora os ideais ocupem os nossos quotidianos. A realidade vai ser bastante diferente, quando as suas propostas se confrontarem com o dia-a-dia do seu país e dos demais países da terra, até onde chegam os interesses dos EUA. Admitindo que os sonhos fazem parte da vida de todos os seres humanos, temos de assentar os pés na terra em momentos como este. Quando Obama decidir, seja o que for, logo depois de tomar posse da principal cadeira da Casa Branca, é certo e sabido que de imediato brotam os descontentamentos, um pouco por todo o lado. FM

O ILHAVENSE FAZ ANOS

O ILHAVENSE completou hoje 87 anos de vida. Mesmo a caminho do seu centenário (já não falta muito), não podemos dizer que se trata de um jornal velho. E não é velho porque continua na luta constante pela defesa do seu lema, isto é, por ÍLHAVO e pelas suas gentes, tal como desde o nascimento. E se soubermos que não é fácil, nos dias que correm, alimentar princípios de justiça e de verdade, quando cada um se arroga o direito de admitir a sua justiça e a sua verdade como únicas e indiscutíveis, então mais facilmente compreendemos as dificuldades que têm de enfrentar, no dia-a-dia, os responsáveis por um órgão de comunicação social como este.
Ao seu director e meu bom amigo, José Manuel Torrão Sacramento, e a quantos fazem O ILHAVENSE dirijo os meus parabéns, na certeza de que não lhes há-de faltar coragem para prosseguirem na caminhada, para bem de todos os ílhavos, neles incluindo os ilhavenses e os gafanhões.
Fernando Martins

Crónica de um Professor...

Furo
Em tempos não muito remotos, na década de 80 do século passado, ocorreu um episódio insólito, em que foi protagonista um Mercedes amarelo. Este, partindo da Invicta Cidade, levava um grupo de professores para uma Escola do interior, neste país rural. Uma pequena avaria, um furo no pneu da frente, fez atrasar a viagem, que prosseguia, rumo a terras da Lixa. Dizia um colega com ar jocoso, quando se aproximava do baixo em que ficava a Escola: - Estamos a chegar à Cova... Sim, rumava esse grupo docente para a pequena vilinha rural de Vila Cova da Lixa, ali mesmo ao lado de Amarante. Também integrava esse grupo, a teacher, que aproveitava o percurso para uma amena conversa com os demais companheiros de viagem. Enquanto se procedia à reparação do furo, na estação de serviço local, na Escolinha, várias turmas de alunos pulavam de contentes, anunciando, a altos brados, aquela “prenda” inesperada, que aqueles professores lhes haviam oferecido: - Temos furo, temos furo... Era uma alegria, quando faltava um professor e se anteviam uns instantes de brincadeira, acrescidos! Sem pretender fazer a apologia das faltas dos professores, apraz-me aqui tecer algumas considerações, sobre a tão amaldiçoada aula de substituição. Qual será, à luz duma pedagogia dos valores, dos afectos do são desenvolvimento, a vantagem de aprisionar a energia incontrolável de crianças, alunos, no interior de uma sala de aula, numa actividade de mero entretenimento? Que lucrarão as crianças em permanecer, trancadas, entre quatro paredes, na ausência do professor da disciplina, supervisionadas por um outro qualquer docente, totalmente alheio às matérias e à empatia estabelecida pelo colega? A palavra “furo”, outrora sinónimo de feriado, intervalo inesperado entre duas aulas, perdeu, hoje, a polissemia e restringiu-se apenas ao conceito de “perfuração”! Se não existissem os pneus dos carros a arcar com esta responsabilidade... dos furos..., seria considerada um arcaísmo!Em contrapartida, surgiram novos vocábulos, para suprir as falhas existentes no léxico: professor substituto, aula de substituição, bloco de 90 minutos, meio bloco... etc; serão os neologismos criados pela força inovadora da língua! Esta é um processo dinâmico... Com 20 minutos de atraso, lá foram professores e alunos aproveitar o que restava da aula de 55 minutos. Não houve protestos, não houve birras. Todos, ordeiramente, acompanharam os professores; estes, alheios à falta que lhes fora atribuída, apenas pensaram em cumprir o seu dever, apesar do percalço que lhes tinha acontecido. Apesar do inesperado acréscimo de tempo de brincadeira, nenhum aluno sentiu que a aula ia ser um castigo! In illo tempore! No século passado!
Mª Donzília Almeida

Trabalho Infantil




A Renascença noticia que "Há crianças em Portugal que trabalham 12 horas por dia. O trabalho infantil é uma realidade e a Confederação Nacional de Acção contra o Trabalho Infantil alerta para o seu aumento, por causa da crise e do aumento do desemprego."
Há muitos anos que se fala deste problema, mas a verdade é que as crianças continuam a ser obrigadas a ser adultos, à força, em idade de brincar.


Nota: Ilustração da Rede Global

Efeméride aveirense

1880 - 20 de Novembro
Numa reunião de prelados do Continente, efectuada em Lisboa na presença do ministro da Justiça, foi resolvida a extinção da Diocese de Aveiro pelos arcebispos de Mitilene e de Braga e bispo de Lamego. Votaram pela sua conservação o arccebispo de Évora e o bispo de Bragança e abstiveram-se de votar os bispos de Coimbra e do Porto.
In "Calendário Histórico de Aveiro"