domingo, 29 de abril de 2007

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 21



A VINHATEIRA
E O CERTOMA

Caríssima/o:

Hoje queria trazer aqui para a minha beira dois Amigos daqueles tempos das viagens das bicicletas. E que bicicletas!? À minha, perdida e achada, lhe caía ora um ora o outro pedal, quando não os dois. Mas um desses especiais, que seria um dos maiores calmeirões, quando aprendeu a andar de bicicleta, e depois continuou a ir para Aveiro, com um saco se sarapilheira no lugar do selim! Este era o Manuel Rito [Estanqueiro] que com o primo Diamantino nos entusiasmava para turismo a pedalar. Lá íamos os três a caminho da Bairrada, durante as férias grandes. Bem, o resto, para não enveredar pelas lendas, o melhor é seguir o conselho do Camões: “ É melhor experimentá-lo que julgá-lo; mas julgue-o quem não puder experimentá-lo!”

«Que mais poderia querer a capital da Região dos Vinhos da Bairrada do que ter o nome da sua capital intimamente relacionado com uma famosa vinhateira do passado? Porém, um passado tão remoto que não conseguimos descortinar o tempo em que viveu a famosa Ana Dias. Mas temos lenda, e lenda tão interessante como a que dá o nome a boa parte do Rio Cértima. O pior, nestas coisas, é que aparece alguém a querer dar cabo da lenda com etimologias e outros dados. Mas vamos lá às lendas.
Ana Dias, naqueles recuados tempos, era nome tão respeitado como o de Baco. Possivelmente, até mais. Porque Ana Dias se apresentava à estrada de Coimbra com os seus maravilhosos vinhos obrigando a parar ali quem fosse ou viesse à cidade dos doutores. Quantos ali não sentiram o estímulo dos bairradinos para abrir um livro de leis ou um corpo na mesa da autópsia? Também, valha a verdade, também acreditamos que a Ana Dias ou qualquer dos seus vizinhos também faria ou fariam rodar leitões no espeto porque não se deve beber sem lastro nem se deve comer sem o apoio de um pichel dos de Ana Dias.. Ah, o que nunca conseguimos descobrir é como se chamava o povoado antes dele se identificar com sua personalidade, inapelavelmente, mais importante! E que importa?
Aqui há uns tempos, numa revista bairradina, o escritor Idalécio Cação levantava a questão de nunca se falar no marido nem nos possíveis filhos de Ana Dias. Era só ela e a sua produção de vinhos. Nem nos sobrou retrato seu que, a avaliar pela fama, até devia ter circulado em moeda! Mas não, só a sua fama de fazer parar os viajantes, consolar-lhes os sentidos com as suas produções e ficá-los a ver dobrar a curva da estrada, mal equilibrados nas suas cavalgaduras.
E Manuel Rodrigues Lapa, o ilustre filólogo, que nos teria podido dizer de Ana Dias? Não que a tivesse conhecido, mas por via do topónimo da sua terra...
Quanto ao rio, o leitor deve ter estranhado o nome – Certoma. Toda a gente conhece o Rio Cértima, agora Certoma. Já lá vamos. Pois o Cértima é um subafluente do Rio Vouga, nasce na serra do Buçaco, um pouco abaixo da Cruz Alta, a 380 metros de altura. Galga 43 quilómetros, na direcção Sul-Norte, atravessando quatro concelhos, atravessando a Pateira de Fermentelos. Ora o nome do rio é Cértima, mas até Avelãs de Caminho é designado como Certoma. E porquê?
Um belo dia nas imediações de Anadia, a Rainha Santa, que ia peregrinar a Santiago de Compostela, sentiu sede. Logo alguns dos seus acompanhantes dirigiram-se ao rio e encheram uma vasilha. Houve até um que provou a água e achou-a imprópria. Mesmo assim levou à soberana, tendo o cuidado de a prevenir. Ao primeiro golo Isabel de Aragão sentiu-se incomodada e comentou:
- Que sabor esquisito, esta água é de certo má...
E de “certo má” a certomá e certoma foi um salto de passarinho. Ficou o Rio Certoma, mas, a partir de determinada altura toda a gente passou a dizer Cértima como alternativa a Certoma. Mas há quem arranje as tais etimologias...»
[Viale Moutinho, pg. 28]

Não sei se nessa altura chegámos a Anadia (Amoreira da Gândara, isso sim!), mas como é a capital da Bairrada fica aqui muito bem, como uma meta que só mais tarde atingiremos.
E certamente que o Diamantino não me levará a mal se dedicar esta pequena e tão mal-amanhada estória ao Manuel Rito; ele bem a merecia, quanto mais não fosse pela sua sonora gargalhada!
Manuel

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Colónia Agrícola da Gafanha


HOMENAGEM AO COLONO
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Há mais de meio século, a Mata da Gafanha foi aproveitada para nela se construir uma aldeia. O Estado construiu casas de estilo próprio, preparou terrenos para a agricultura, construiu canais de rega, preparou técnicos e atraiu colonos para explorarem a terra. Famílias vieram de diversos cantos do País e por cá se fixaram, com maiores ou menores dificuldades. Muitos dos seus herdeiros aqui vivem ainda na Colónia Agrícola da Gafanha. Agricultores, poucos ou nenhuns, nos nossos dias. Muitas casas e terras foram abandonadas, mas os mais corajosos nunca abandonaram estas paragens.
Há dias, ao passar pelo centro da Colónia Agrícola, junto à igreja de Nossa Senhora dos Campos, na rotunda que lá existe, vi este monumento singelo ao Colono, para homenagear quantos teimaram em construir o que foi possível naquelas areias que outrora foram dunas do oceano.
Eles bem seguravam as areias, mas elas esvaíam-se por entre os dedos. Não queriam nada com as pessoas. Queriam voltar ao chão onde há séculos dormiam, com saudades do mar.

Portugueses em missões internacionais


JORGE SAMPAIO
NA ALIANÇA DAS CIVILIZAÇÕES
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O ex-presidente Jorge Sampaio vai ocupar mais um cargo na ONU. Depois da missão de integrar a luta contra a tuberculose, que ainda ocupa, foi agora chamado para a Aliança de Civilizações. Nesta missão, Jorge Sampaio vai promover valores que possam diminuir tensões entre sociedades e culturas, contribuindo, deste modo, para a paz.
É curioso verificar como, neste País de tanta gente derrotista, alguns portugueses são investidos em cargos de grande responsabilidade mundial.
Antes de Jorge Sampaio, Durão Barroso havia sido eleito para o cargo de Presidente da Comissão Europeia e António Guterres foi escolhido para Alto-Comissário da ONU para os Refugiados.
Afinal, os portugueses também têm capacidade para tarefas que ultrapassam as fronteiras desta Nação à beira-mar plantada.

NOVIDADES A CAMINHO

"NOVIDADES":
Jornal católico pode ser reactivado em breve
O título "Novidades", propriedade da Igreja Católica, poderá brevemente ser reactivado. A notícia foi avançada por João Aguiar, Presidente do Conselho de Gerência da Renascença, que falava no âmbito do terceiro e último dia das Jornadas Teológicas de Braga, organizadas pela revista "Cenáculo" e pela Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional de Braga, em cujas instalações decorreu a iniciativa, subordinada ao tema "Religião: marca de sucesso?".
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quinta-feira, 26 de abril de 2007

Ares da Primavera

Foto enviada pelo Manuel Olívio, da cidade invicta

PRIMAVERA MENOS FRIA, PRECISA-SE

Já era tempo de a Primavera se instalar de vez perto de nós. As flores, bonitas, desta fotografia que o colaborador Manuel Olívio me enviou lá vão dizendo que os tempos primaveris estiveram na base delas. Mas que o frio ainda não deixou, também é verdade. Podemos concluir que os genes destas flores são bem mais fortes do que a Primavera, que ainda não quis dar uma ajuda.

Um artigo de D. António Marcelino

SELVA DESENCORAJANTE
PARA UM VIVER NORMAL
O rumo que está a levar uma sociedade que prescinde dos valores que humanizam as relações pessoais e dão credibilidade à vida em sociedade não pode deixar de preocupar quem está atento e quer viver com paz, alegria e esperança. Já não falta quem chame a tudo isto uma selva, onde o que de bom e de belo da natureza ainda resta, coexiste com o matagal selvagem que cresce descontroladamente, com a ameaça de tudo sufocar. A selva disfarça bem. Nela há de tudo: animais e plantas raras, feras e pássaros de raça, lagos apaixonantes e pântanos perigosos. Uma sociedade difícil para quem raciocina, fácil para quem especula. Difícil para quem procura o bem comum, cada vez mais fácil para quem pensa apenas nos seus interesses. Fechada para gente com princípios, aberta para extravagâncias e corrupção. Até já é fácil matar com o apoio das leis e o dinheiro do erário público. Continua muito difícil para se responder a situações de pobreza extrema e de vergonhosa incultura. Há nesta sociedade campos de vida que se tornaram desertos áridos, por via de incêndios programados. Campos a descoberto, semeados de venenosas e variadas cicutas, que dão para usar e exportar. Ainda outros, que julgamos baldios abandonados, mas que apenas esperam vez para receber novas culturas de morte. Aqui e além, espaços longos armadilhados por onde uns têm de caminhar temerosos e outros passeiam, com um à vontade desconcertante. Restam, é certo, pequenos jardins, cuidados com amor e zelo e oásis de alguma esperança, que podem, de um momento para o outro, dar lugar a construções vistosas de mero interesse pessoal, a aumentar a riqueza de quem já tem muito, e guarda, por detrás de muros altos, os paraísos do seu deleite e dos convívios reservados aos amigos. O que nos chega todos os dias deixa-nos perplexos sobre a segurança do presente e a esperança do futuro. A nossa sociedade, com os poderes que a governam, sempre preocupada em afinar com a Europa progressista, está perdendo a alma e transforma-se num espaço sem vida e sem interesse. Corre veloz atrás das novidades que surgem, nascidas do engenho de quem tem vocação de incendiário e coração vazio de princípios éticos. Os propósitos inconfessáveis ou, por um tempo, muito bem disfarçados, são gato roubado que não escondeu o rabo e facilmente dá sentido de si. Pelo caminho arrastam ingénuos que só tarde se sentem ludibriados. Haja em vista a recente campanha do referendo e a lei que se seguiu, com a falta de memória de quem não consegue agora engolir o que disse e prometeu, restando-lhe o caminho de se impor por via da força ou com base na lógica de maiorias sem suco. Há tanto para fazer, se quisermos. Convicções com base são mais decisivas que emoções passageiras. É sempre tempo para o mostrar.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

25 de Abril

AINDA HÁ TANTO QUE FAZER
PARA SERMOS DIGNOS DE ABRIL
Somos uns eternos insatisfeitos. Está-nos na massa do sangue. E até será bom, se isso for um ponto de partida para ir mais longe, no campo da valorização pessoal e colectiva, seguindo caminhos de respeito pelos outros, pela democracia, pela liberdade, pelo progresso sustentável e pelos valores que enformam a nossa cultura. Nesse pressuposto, o 25 de Abril, que veio abrir caminhos à democracia, à descolonização e ao desenvolvimento, foi uma ocasião única para acertarmos o passo com a Europa e com o mundo, connosco próprios e com as diversas culturas, a quem tínhamos fechado as portas, ao abrigo da máxima de Salazar que defendia o “orgulhosamente sós”. Nem tudo, porém, foi um mar de rosas. Houve progressos, notórios e indiscutíveis, mas muito há ainda por fazer, em todos os campos. Se é verdade que há mais democracia, também é verdade que aí deixamos muito a desejar, quando se sente que a voz do povo nem sempre é ouvida com a devida atenção. Há frequentemente uns tantos que, julgando-se iluminados, querem pensar por todos nós e decidir a seu bel-prazer, tomando decisões que estão a leste dos reais interesses do povo. Aproveitam-se das circunstâncias que os puseram no poder e daí partem para tentarem criar uma sociedade à sua maneira. Foi sempre assim desde o 25 de Abril de 1974. A descolonização deixou traumas que podiam ser evitados. Diz-se que foi a descolonização possível. Não sei se foi. Só sei que ainda hoje há muitos portugueses que sofrem na pele e na alma o facto de terem perdido tudo quanto construíram nas ex-colónias, sem que o Estado português tenha feito seja o que for, de relevante, para minimizar o sofrimento dos que fugiram de terras que julgavam suas também. Quanto ao desenvolvimento, não posso negar o óbvio. Portugal é outro. Já não somos o povo do pé-descalço, do analfabetismo, do atraso a todos os níveis. Um povo fechado ao mundo, temeroso de lutar pela sua dignidade e pelo seu progresso. O Portugal rico era de uns tantos e a maioria comia o pão-que-o-diabo-amassou. Acontece que, mais de 30 anos de democracia e de desenvolvimento deixaram que 20 por cento da população portuguesa continuasse no limiar da pobreza, a passar fome e a não ter capacidade para sair desse fosso. O 25 de Abril, que hoje se celebra por muitos, enquanto outros tantos, ou mais, dele se alhearão, deve ser um momento de reflexão para todos. Para que saibamos descobrir razões e caminhos que coloquem os portugueses, todos os portugueses, na senda do progresso, sempre no respeito pela democracia, pela liberdade e pela dignidade humana. Fernando Martins