sexta-feira, 29 de abril de 2005

Um artigo de António Rego, na Ecclesia

:: A Fé em tempo real
Os factos atropelaram-se em amálgama, como mole de gente sobressaltada num espaço estreito. Parece que tudo se tornou massa informe e movediça na direcção das portas de emergência ou das angustiantes saídas duma explosão. Os acontecimentos prolongados dos últimos tempos deram-nos bem a ideia de alguma convulsão de episódios que, passados nos media, envolveram todo o planeta no celebrativo, no entusiástico, na dor, na perplexidade, na controvérsia, na festa.Claro que nos referimos a uma ocorrência em dois actos: a partida e a chegada do sucessor de Pedro. E a serena continuidade da Igreja, a afirmação incontestada de um projecto lançado por Jesus e mantido incólume nos sobressaltos da história e da fragilidade humana. Tudo isso viveu a Igreja sem excessivas teorizações. Apenas como acto da sua história milenar, rasgando fronteiras de continentes e países pelo directo e continuado da morte e do ressurgimento do Papa como pai espiritual da cristandade, bispo de Roma, referência essencial da Fé no mundo de hoje. A Fé em tempo real.
Não se tratou – como pretenderam alguns - de uma encenação monumental do Vaticano na celebração da partida e da chegada do sucessor de Pedro. Nem se pode dizer que a Igreja manipulou os acontecimentos, as notícias, a “liturgia mediática” que se desencadeou de forma empolgante na sua versão panegírica ou crítica. Os media tomaram conta de tudo e tornaram impossível o silêncio ou o controlo apologético de acontecimentos tão significativos como a morte de um Papa de grande exposição mediática e a eleição de outro que, além de antítese do mediatismo, como que trazia uma asa ferida por preconceitos e lugares comuns dos menos informados. Não lhe foi concedido o “estado de graça” que sempre se oferece aos governantes, ainda que obviamente medíocres. Mas o pouco tempo de presença de Bento XVI como homem inteligente, firme, humilde e disponível para o diálogo, começa a revelar que muitos dos críticos que dele falavam, não sabiam, na verdade, o que diziam. Muitas observações e análises não passaram de um estrondoso acto de ignorância disparado do alto púlpito dos media falados ou escritos. Mas não faltaram vozes de lucidez e discernimento que, sem juízos primários, expuseram com isenção, a percentagem justa do divino e do humano que envolve este acontecimento. Talvez, mais que tudo, falou a imagem, sem comentários, do recôndito mistério da fé que perpassa uma liturgia solene e sóbria. Com a simplicidade silenciosa com que Deus atravessa a história.

"A Voz do Silêncio"

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"A Voz do Silêncio", uma exposição do Projecto BlogAveiro, está patente ao público entre 22 de Abril a 5 de Maio na Sala de Exposições Inês de Castro, no Instituto Português da Juventude de Coimbra. A exposição, da autoria de Isabel Henriques, apresenta fotos em torno de um livro, uma praia e as chamas que devoram estórias contadas, muitas outras por contar:"Vidas são estórias,Estórias são livros,Livros são páginas cheias de vidas.O fim do livro é a morte.Nesse dia,Queimam-se as páginas de um livro cheio,Porque a estória acabou...", refere a autora na apresentação do seu trabalho.
"A Voz do Silêncio" pode ser visitada, aos dias úteis, das 09h às 18h, e aos sábados, das 10h às 19h. O IPJ de Coimbra situa-se na Rua Pedro Monteiro, n.º 73.
A exposição conta com o apoio do ISCIA - Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, da FEDRAVE - Fundação para o Estudo e Desenvolvimento da Região de Aveiro, da Delegação de Coimbra do Instituto Português da Juventude, e dos Parceiros Jornal da Bairrada, On Line News, Notícias de Aveiro, Rádio Terra Nova e Solidariedade Online.
(Para saber mais sobre outras exposições, clique BlogAveiro)

DIA DA MÃE: 1 de Maio

Todas as crianças devem ser desejadas
Celebra-se no próximo domingo, 1 de Maio, o DIA DA MÃE, razão suficiente para que todos manifestemos às mães, vivas ou que já nos deixaram, a nossa gratidão pelo dom da vida. E se alguma vez não fomos tão correctos para com elas, como seria nossa obrigação, nunca será tarde para lhe mostrarmos o nosso amor. A APFN (Associação Portuguesa das Famílias Numerosas) está sempre atenta a tudo quanto diz respeito às famílias e no comunicado que me enviou sublinha, com pertinência, que ser mãe é, antes de mais, um acto de coragem, num país que: "Tarda em compreender a importância da parentalidade, alheio a tantos avisos sérios tanto a nível interno como a nível externo; Apregoa a igualdade, mas distingue entre "filhos desejados" e "filhos não desejados", quando, na presente situação demográfica, todas as crianças devem ser profundamente ansiadas, conforme a Comissão Europeia recentemente alertou ao classificar as crianças e jovens como "recurso escasso"; Apregoa a tolerância, mas recusa reconhecer o elementar direito a nascer aos "filhos não desejados"; Apregoa o Estado social, mas propõe negar o direito à vida dos nasciturnos por "razões económicas e sociais" da sua família; Apregoa a necessidade de um choque tecnológico para o relançamento económico, mas nega a evidência da natureza da vida intra-uterina mostrada em simples ecografias; Muitos afirmam que o aborto é um problema de consciência, mas aprova uma lei de liberalização do aborto obrigando dezenas de deputados a votarem contra a sua própria consciência." E mais adiante, lembra que, "Porque ninguém é Mãe sem haver um Pai, a APFN apela a todos os Pais para serem testemunhos permanentes do amor de onde nasceram os seus filhos, indispensável ao seu são desenvolvimento, e a que todas as crianças têm direito, conforme Declaração Universal dos Direitos da Criança, subscrita por quase todos os países do mundo, entre os quais Portugal". No Dia da Mãe, "a APFN renova o seu compromisso, a todas as famílias com filhos, e em particular às Mães, peças centrais da família, que continuará a bater-se por terem direito à protecção que lhes é devida pelo Estado, conforme art. 67 da Constituição e recomendação da Comissão Europeia, recebendo o mesmo apoio e atenção que são dados na esmagadora maioria dos países europeus".

quinta-feira, 28 de abril de 2005

Um artigo de D. António Marcelino

Papa Bento XVI Alegria serena, sem dúvidas nem perplexidades
Foi este o meu sentir quando ouvi o nome do novo Papa. Já tenho idade para não me deixar impressionar pelas muitas e desvairadas apreciações, vindas de todos os quadrantes da opinião pública, livre ou comandada. Quando vemos pessoas, que se dizem agnósticas, a opinar sobre quem e como devia ser o Papa e a mostrarem-se desiludidas com a eleição, estamos perante um contra-senso, que se respeita, mas não se entende. Nostalgia, apreço pela acção da Igreja, vocação teológica frustrada, recalcamentos? Tudo é possível. Se são pessoas da Igreja, presas a ideias feitas, a sentirem-se decepcionadas ou frustradas porque o seu candidato era outro, pergunto-me sobre que critérios assentava a sua profecia e assenta agora a razão da sua dor e frustração. Não se vê por aí muito de evangélico e de eclesial. A Igreja não começou ontem. A sua história, mesmo com erros pelo caminho, comporta sempre, nos êxitos e nos fracassos, grandes lições para os seus membros e até para a humanidade. A história recente, para quem não recorda dela senão o que, no momento, foi apoio à frustração e à tristeza, diz bem claro como são falíveis os juízos precipitados dos que querem que tudo esteja do seu lado. Mas qual lado? Estão aí João XXIII a mostrar que, quando se vêem apenas as aparências, se corre sempre o risco de estar fora da lógica de Deus, que conhece os corações e lê no seu mais profundo. Critérios de sabor meramente humano não servem para apreciar situações que vão além do tempo e de nós próprios, ainda que tingidas de zelo apostólico. É de supor que os eleitores, mais de cem, pessoas adultas e sérias, comprometidas, a tempo inteiro, com a Igreja e a sua missão, tinham mais elementos em mãos para apreciar, julgar e votar, do que os que estavam fora, cheios de opiniões e desejos. Ninguém, no caso da eleição do Papa, se quiser sintonizar com um projecto que não controla, estará dispensado de aferir o seu parecer na tentativa de perscrutar os planos de Deus em cada circunstância e em cada tempo. Estou certo que vamos ter muitas surpresas. Tenho para mim que Bento XVI foi o homem certo para este momento da vida da Igreja. Pela sua reconhecida entrega ao essencial, testemunho de simplicidade, poder de escuta e capacidade de acolhimento, cultura teológica e histórica que ultrapassa o comum, abertura realista à sociedade, sensibilidade, e mais do que isso, em relação aos movimentos do tempo que corre, conhecimento profundo da Igreja universal e da realidade romana, serenidade impressionante e ponderada, fé inquebrantável, vivenciada e lúcida para dizer como Paulo "eu sei em Quem acredito". A campanha anti-Ratzinguer encarregou-se de lhe enxovalhar o rosto e nome. E continuam a fazer-se profecias catastróficas. Ele sabe isso. Admiro-lhe a coragem, que se explica pela força da sua fé e entrega ao projecto de Deus. Mil razões humanas podiam justificar a não aceitação, dado que esta é livremente expressa. Alguns ficariam contentes. Não faltaram conselheiros a dizer a João Paulo II no fim de vida, que abandonasse a cruz. Mas, onde entra Deus, só fé tem sentido. Uns ainda o não compreenderam, outros serão incapazes de o compreender.

Marinha da Troncalhada

Marinha da Troncalhada em dia de visitas A tradição do sal não pode morrer
A Marinha da Troncalhada, um Ecomuseu que aposta em preservar o fabrico do sal, está sempre à espera de quem goste de saber como se processava uma faina ancestral, entre nós, com primeira referência na longa data de 959, quando a condessa Mumadona registou, num testamento, as suas marinhas de sal que possuía nesta região. Desde essa altura, pelo menos, sempre os povos destas terras fabricaram sal, com a água salgada que entrava por terra dentro e com o sol do Verão e o vento que nunca deixou de prestar uma boa ajuda. Infelizmente, muitas das boas tradições artesanais vão morrendo, por força da industrialização que vai dominando todos os sectores da vida. Mas a Marinha da Troncalhada, graças ao município de Aveiro, teima em resistir para mostrar, às gentes mais novas e a quantos nos visitam, como é que marnotos e moços, num labor custoso sob sol ardente, extraíam das águas da Ria, do mesmo sabor das águas do mar, porque dele vêm, o precioso sal que uma tradicional cozinha não dispensa. A Marinha da Troncalhada fica mesmo à porta da cidade, quem sai para as praias. Na rotunda, vira-se à direita, segue-se pela estrada marginal ao canal, em direcção à zona das antigas pirâmides, e logo se vê. É a primeira marinha à esquerda. Se gosta de recordar o que se vai perdendo ou se quer mostrar aos netos uma tradição que sempre marcou as nossas terras ribeirinhas, não deixe de passar pela Marinha da Troncalhada. Ela gosta que a visitem. Fernando Martins

Quem é que me explica?

-- Condenados por pedofilia nos Açores A comunicação social noticiou hoje que nos Açores houve 14 condenações por pedofilia. Sete dos 18 arguidos foram punidos com pena de prisão, seis com pena suspensa e um com multa. Os casos foram descobertos, investigados e o tribunal julgou e aplicou as respectivas penas. Tudo se processou com alguma rapidez e sem grandes alaridos. Ora acontece que o caso de pedofilia da Casa Pia começou antes, as investigações decorreram dentro da normalidade e quando se esperava que o assunto fosse resolvido de imediato, aí está com um atraso injustificável para o comum do cidadão. O mais natural é pensar-se que o problema não se resolve, porque temos, infelizmente, uma justiça que não é igual para todos. Quando os arguidos são pessoas de alto nível social, com capacidade para contratarem bons e caros advogados, tudo anda e desanda, com requerimentos e mais requerimentos, mais isto e mais aquilo, e nada se decide, apesar de tudo estar dentro da legalidade processual, como se vem sublinhando. Que fique claro que não estou a pugnar pela prisão de inocentes e que até gostaria que estes eventuais crimes não passassem de um sonho. Mas o que acho é que já era tempo de se resolver o assunto. E o mais curioso é que não temos neste país quem ponha cobro a este estado de coisas, o que me leva a dizer que, em Portugal, há uma justiça para poderosos e outra para gente sem poderes e sem dinheiro. Estarei enganado? Quem é que me explica o porquê de tudo isto? Fernando Martins

Um artigo de Sarsfield Cabral, no Diário de Notícias

-- Tropelias
As empresas devem à Segurança Social 3,2 mil milhões de euros. A maioria delas não paga impostos porque não declara lucros, mas - milagre! - continua a funcionar ano após ano. Como escreve António Perez Metelo no DN de terça-feira, muitas dessas empresas "só sobrevivem mediante toda a espécie de tropelias fiscais e de abusos nas contribuições retidas aos seus trabalhadores". E algumas ainda têm a lata de reclamar contra o alegado dumping social dos asiáticos, nota o António por outras palavras.
Esperemos que o Governo concretize o anunciado reforço da vigilância das autoridades sobre os faltosos fiscais e parafiscais (na luta contra a fuga aos impostos notam- -se alguns avanços encorajadores). É um imperativo jurídico e moral, mas também económico com empresas dessas o País não progride. Mas o Estado tem um ponto fraco: também ele recorre a tropelias. Paga tarde e a más horas, o que não incentiva propriamente ao cumprimento das regras pelos privados. Há câmaras que chegam a pagar a 30 meses ou mais, disse ao DN do dia 18 Rui Viana (Presidente da AICCOPN, uma associação de empreiteiros), acrescentando que muitos municípios "fizeram obras a mais e não têm como as pagar". Há eleições em Outubro... O Estado central não é mais virtuoso. Cerca de mil licenciados, no desemprego, esperam desde Outubro que o Estado lhes pague as prometidas bolsas para custear cursos de reconversão profissional que estão a frequentar. A dívida dos hospitais públicos aos laboratórios bateu novo recorde em 2004. Etc, etc.
A prioridade das prioridades na tão falada reforma do Estado deveria ser apresentar-se este de cara lavada, como pessoa de bem. É condição indispensável para o Estado poder exigir que pessoas e empresas se deixem de tropelias à custa do contribuinte cumpridor.