domingo, 27 de maio de 2007

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


BABEL E PENTECOSTES:
A FAVOR DE UM MUNDO MESTIÇO




No Génesis, primeiro livro da Bíblia, narra-se o mito de Babel. Os homens disseram: "Vamos construir uma cidade e uma torre, cujo cimo atinja os céus. Assim havemos de tornar-nos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a superfície da Terra." O Senhor, porém, disse: "Vamos descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros." E o Senhor dispersou-os por toda a superfície da Terra.
Babel deriva do verbo balal, que significa "misturar", "confundir", e, por assonância, remete para Babilónia.
É um mito de uma actualidade dramática. Note-se que em capítulos anteriores do Génesis se fala do plano de Deus que quer que a humanidade cresça e se multiplique em "povos que se dispersaram por países e línguas, por famílias e nações". Assim, o que está em causa não é a dispersão pela Terra nem a variedade das línguas. O mito da Torre de Babel põe a nu e denuncia o imperialismo dominador de um povo sobre todos os outros, na incapacidade do descentramento de si para colocar-se no lugar do outro e, no respeito pela alteridade insuprimível, entrar em diálogo.
Ironia das ironias, o mito alude à Babilónia, no actual Iraque, onde um novo imperialismo quer impor um desígnio de dominação.
Noutro livro da Bíblia, Actos dos Apóstolos, narra-se, em contraponto, a descida do Espírito Santo, no dia do Pentecostes. "De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa. Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem."
Ao ouvir o ruído, a multidão acorreu e todos ficaram estupefactos, "pois cada um os ouvia falar na sua própria língua". Atónitos e maravilhados, diziam: "Esses que estão a falar não são todos galileus? Que se passa então, para que cada um de nós os oiça falar na nossa língua materna? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus!"
No Pentecostes, restabelece-se a unidade desfeita com Babel. Trata-se, porém, da unidade na diferença e da diferença na unidade. A arrogância imperial de Babel anula a diferença. O amor do Pentecostes une diferenças, sem uniformizar.
Na actual situação do mundo globalizado, mas em que a globalização tem sido sobretudo tecnológica e económico-financeira no quadro do neoliberalismo, é urgência maior pensar uma governança mundial, para que o império da força da lei ponha limites ao império da lei da força do mais forte, e, neste contexto, pensar também o multiculturalismo no horizonte da mestiçagem.
Afinal, todos somos mestiços. Se não há raças puras - algures houve cruzamentos -, a mestiçagem torna-se inegável, sobretudo no campo de uma sociedade nómada multicultural, de tal modo que a questão é a da identidade no quadro de pertenças múltiplas. Como salvaguardar, no contexto de identidades inevitavelmente compósitas, o equilíbrio tensional entre a universalidade e a singularidade, sem rupturas nem esquizofrenias, sem rigidez nem fixismo, sem trair as origens nem enregelar nelas?
Como escreveu João Maria André, a mestiçagem "não se pode confundir com qualquer tipo de hibridismo amorfo, sincretismo difuso ou relativismo total." Ela não é "mera justaposição de formas e figuras diferentes" nem "um labirinto axiológico" ou "mescla pura e simples de expressões culturais de diversas origens e proveniências". Mestiço é "um tecido, o que supõe criação, assimilação, elaboração a partir de fios ou materiais diferentes", mas um tecido nunca "plenamente conseguido", pois "está sempre em movimento".
A cultura da paz supõe a sinfonia das nações em contraponto, aberta à Transcendência e, assim, sempre incompleta.

sábado, 26 de maio de 2007

Ares da Primavera


MATA DA GAFANHA: UM OCEANO DE PAZ
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Penso que nem muitos gafanhões têm o costume de passear pela Mata da Gafanha. Atravessam-na por aqui e por ali, rumo a Ílhavo ou às várias Gafanhas que existem e são irmãs da Gafanha da Nazaré, mas ficam-se por aí. Para apreciar esta mata, com mais de cem anos e nada e criada sobre dunas de um mar que já por ali andou, há muitos séculos, é preciso deixar as estradas que a cortam em várias direcções e cirandar por entre pinheiros. Mas é necessário cuidado, porque o amante da natureza pode perder-se.
O que posso garantir aos meus amigos é que na mata se respira uma paz impressionante. Nem carros a acelerar, nem gente aos berros, nem músicas altíssimas. Apenas a serenidade de um oceano que ainda se ouve ao longe, quem sabe se não é o mesmo onde se semearam pinheiros há um século. O mesmo que talvez sonhe com o Atlântico que o chama, ora de mansinho, ora mais irritado, quem sabe se não é assim de protesto por só plantarem, a seu lado, árvores de cimento.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Um artigo de João Carlos Espada, no EXPRESSO


A PROPÓSITO
DE FÁTIMA


Em Fátima, no fim-de-semana passado, terão estado cerca de meio milhão de pessoas. Numa intervenção radiofónica, José Miguel Júdice comentou o fenómeno com a sua habitual perspicácia. Observou a intensa manifestação de fé, que contraria os cíclicos prognósticos sobre o declínio da religião. E chamou a atenção para que essa manifestação, ao contrário de outras noutros países, foi profundamente pacífica, inclusiva e não política. Acrescentou que a igreja católica tem em Portugal uma vastíssima acção social de apoio aos desfavorecidos que devia ser mais acarinhada pelos poderes públicos.
Seria desejável que estas palavras sensatas pudessem contribuir para atenuar o preconceito anticatólico, ainda tão forte entre nós.
Um elemento importante deste preconceito continua a residir no argumento de que o catolicismo se opõe à democracia. Mas os factos também não corroboram essa tese. Os estudiosos da transição à democracia reconhecem hoje que o 25 de Abril português esteve na origem da chamada “terceira vaga de democratização mundial” — uma tese inicialmente proposta por Samuel Huntington.
Entre 1974 e 1989, observou Huntington, mais de trinta países, na Europa, Ásia e América Latina, transitaram de regimes mais ou menos autoritários para regimes mais ou menos democráticos. Dois dos três primeiros países a democratizarem-se (Portugal e Espanha) são maioritariamente católicos. A seguir, o movimento de democratização atingiu seis países da América do Sul e três da América Central, todos eles dominantemente católicos. As Filipinas foram o primeiro país asiático a reunir-se à ‘terceira vaga’. E a Polónia e a Hungria católicas foram os primeiros países do Leste europeu a ensaiar a democratização. Como observou Samuel Huntington, “três quartos dos países que transitaram à democracia entre 1974 e 1989 eram dominantemente católicos”.
Mas seria ainda um equívoco reconhecer apenas esses contributos mais recentes da religião cristã para a liberdade. Muito antes de Voltaire ter escrito sobre a tolerância, John Milton e John Locke fundaram o dever da tolerância na moral cristã. Lord Acton, o célebre católico liberal inglês do século XIX, argumentou persuasivamente que S. Tomás de Aquino lançara os fundamentos da atitude liberal. E o católico Alexis de Tocqueville observou, em páginas veementes, que a democracia na América não podia ser compreendida sem o contributo da fé cristã para alicerçar o ideal das limitações constitucionais ao poder político e do direito natural dos indivíduos “à vida, liberdade e busca da felicidade”.

Um poema de António Patrício

DE QUE ME RIO?
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De que me rio eu?... Eu rio horas e horas só para me esquecer, para me não sentir. Eu rio a olhar o mar, as noites e as auroras; passo a vida febril inquietantemente a rir.
Eu rio porque tenho medo, um terror vago de me sentir a sós e de me interrogar; rio pra não ouvir a voz do mar pressago nem a das coisas mudas a chorar.
Rio pra não ouvir a voz que grita dentro de mim o mistério de tudo o que me cerca e a dor de não saber porque vivo assim.
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NOTA: Há pouco, no programa "Entre Nós", da RTP2, ouvi que o poeta António Patrício estava a cair no esquecimento. Aqui fica a sugestão para que o leiam.

Ares da Primavera


MOLICEIROS AOS PÉS DA ANTIGA CAPITANIA
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Há dias, na cidade, vi este quadro bem concebido. Barcos moliceiros, com as suas típicas decorações, ao sabor e saber populares, estavam postados aos pés da antiga capitania e actual sede da Assembleia Municipal de Aveiro. Do lado direito, o Fórum, uma boa sala de visitas da capital do distrito. Quem passa não pode deixar de admirar este quadro, para turista ver. Turistas somos nós todos os que passeamos, por aqui perto ou mais longe.
Os barcos da nossa Ria ficariam melhor a navegar, com gente de trabalho e de passeio. Mas os tempos são outros e não se compadecem com tarefas que não sustentam o povo. No entanto, foi muito boa a aposta de preservar o nosso passado, nele se incluindo a beleza dos nossso moliceiros.
Quando por lá passar, não deixe de os fotografar. Eles gostam muito que os levem como boa recordação.

Bandeira Azul

Praia da Barra


PRAIAS DE ÍLHAVO E AVEIRO
CONTEMPLADAS
COM A BANDEIRA AZUL

As praias de Ílhavo (Barra e Costa Nova) e Aveiro (S. Jacinto) foram contempladas, mais uma vez, com a atribuição da Bandeira Azul. Isto significa que os veraneantes podem usufruir, descansados, dos benefícios das nossas praias. Assim tenham hipóteses de gozar férias nestes recantos paradisíacos do litoral português.
É certo que este galardão não é dado por acaso. Ano após ano, os nossos autarcas esmeram-se na arte de bem servir quantos aqui vivem e quantos nos visitam, sobretudo na época balnear.
Há dias fui à Barra, como é meu costume, e pude apreciar a azáfama com que ali se trabalhava, para que tudo fique afinado na hora própria de receber os nossos convidados. É bom sentir que alguém olha com atenção para as nossas riquezas naturais, preparando-as para acolher quem chega com vontade de gozar férias.
Sejam bem-vindos!

ÍLHAVO: Actividades para jovens



UMA BOA OPORTUNIDADE
PARA OCUPAR BEM O TEMPO



A Câmara Municipal de Ílhavo volta a promover mais uma edição do Programa Municipal de Ocupação de Tempos Livres (PMOTL). Este programa destina-se a jovens dos 16 aos 30 anos e decorrerá durante os meses de Julho e Agosto. Os interessados deverão inscrever-se até 15 de Junho.

INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES

Fórum Municipal da Juventude
ÍLHAVO Tel 234 321 079
GAFANHA DA NAZARÉ Tel 234 183 773
VALE DE ÍLHAVO Tel 234 326 826

Biblioteca Municipal de Ílhavo

PÓLO GAFANHA DA ENCARNAÇÃO Tel 234 086 668
PÓLO DA GAFANHA DO CARMO Tel 234 398 009

Câmara Municipal de Ílhavo
Tel 234 329 602
www.cm-ilhavo.pt geral@cm-ilhavo.pt

NOTA: Ver Ficha de inscrição e Normas em CMI