quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Dia de Reis





O Dia de Reis, da tradição cristã, celebra-se no dia 6 de Janeiro. É também conhecido como Festa da Epifania, que na Igreja Católica tem lugar no próximo domingo. O Cortejo dos Reis, tradicional entre nós, este ano foi cancelado por razões compreensíveis, mas o seu espírito jamais será esquecido por quem tantas vezes o vivenciou. 
Como é por demais sabido, esta festa está associada ao nascimento de Jesus na humilde gruta de Belém, onde os pastores o adoraram como o Salvador anunciado pelos profetas. Depois, uns Reis ou Magos, também procuraram o Menino a quem ofereceram ouro, incenso e mirra, como é sabido pelos cristãos.
A história desta festa está viva no espírito das nossas gentes das Gafanhas e de outras terras. E é de tal modo expressiva que congrega muita gente que aprecia os autos apresentados durante o cortejo, ao ritmo de cânticos natalícios. No final, há a cerimónia do beijar do Menino, na Igreja Matriz, e o leilão dos presentes. 
Permitam-me que esclareça  o pormenor do  leilão dos presentes. Realmente, esta foi a forma de a comunidade paroquial conseguir algum dinheiro para as múltiplas despesas a que não pode escapar, por não ter rendimentos próprios, ao contrário do que alguns possam pensar. Por isso, os que desejarem contribuir poderão  fazê-lo entregando os seus donativos no cartório paroquial. 

NOTA: Fotos do  cortejo do ano passado.

Um trocadilho para pensar


"Muito me reprovo e o aprovo tanto quanto outrora aprovei o que hoje reprovo"

Agostinho da Silva (1906-1994)

Em Escrita na Pedra do PÚBLICO de hoje

O fascínio da ria


Nem o frio nos rouba o fascínio da nossa Ria.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Natal e Ano Novo - Evocações

 

Rabanadas 

Lá se foram dois dos mais bonitos e vividos dias do ano. Natal e Ano Novo, ambos a fechar o ano, já passaram à história. Esperados ansiosamente e vividos com azáfama à medida de cada um, sempre cheios de tradições, conciliadores e festivos, desta feita suportámos inquietações. Uns respeitando as normas da pandemia e outros, mais afoitos ou irresponsáveis, pondo o pé na argola armados em espertos.
Ficaram aqueles dias  como registo de ameaças reais e possíveis, mas  logo retomámos a vida a sonhar com os horizontes arejados e saudáveis. Outros Natais e Anos Novos hão de vir para serem gozados em pleno.
Olhando para trás, a minha  memória levantou o pano do palco da nossa presença no mundo. Os brinquedos à medida das posses dos pais, os doces mais apetecidos do que os atuais, feitos a granel, ou, melhor dizendo, com outros sabores, os convívios sem televisões e a monotonia das rádios de então, sobrava tempo para as histórias, lendas e adivinhas, regadas, sobriamente, com um cálice de Vinho do Porto, mais para os adultos, que à malta juvenil até provocava tosse. 
Recordo, com que saudade, o chá de folhas de laranjeira que a minha saudosa mãe fazia, para desenjoar da doçaria da época, ainda sem bolo rei. Eram rabanadas, filhós,  bilharacos,  aletria ou arroz doce, mais uma espécie de pão de ló que não faltava nos dias de festa na então aldeia da Gafanha da Nazaré da minha meninice. 
Outros tempos, outras vidas, outros ares, outras formas de conviver há uns 80 anos. Daqui a uns tempos como será?

Fernando Martins

Dia lindo!

 

Hoje está um dia lindo! Um sol luminoso, sem vento e com frio suportável, veio confortar-nos um pouco de uma passagem do ano para esquecer. Caminhei ao sabor e saber de quem se preocupa pela minha saúde, olhei o céu límpido pintado aqui e ali por nuvens decorativas e pude desfrutar de um ambiente muito agradável. 
Boa semana para todos.

domingo, 3 de janeiro de 2021

A Epifania à procura de novas linguagens

Crónica de Bento Domingues
do PÚBLICO


"As celebrações da Epifania precisam de linguagens em criação permanente porque só a beleza redime."


1. Desde Março até ao final de 2020, vivemos, de modos diversos, uma longa noite. Repetia-se a frase pouco alentadora: “ainda não vemos nenhuma luz ao fundo do túnel.”
A investigação científica é um processo. Como é evidente, o cientista não pode prever, à partida, os resultados do seu caminho. Agora, a vacina contra a covid-19 existe e já começou a ser distribuída. É a epifania da conjugação feliz da ciência, da técnica e da ética política, ao serviço de todos. O Papa Francisco pede que a vacina seja para todos e, em primeiro lugar, para os mais vulneráveis.
É verdade que o final de 2020 e o início de 2021 ainda não podem ser celebrados com euforia, porque a vacina vai levar algum tempo a ser generalizada e testada a sua eficácia. Importa manter os cintos apertados até ao fim da viagem para reduzir o perigo de algum imprevisto.
As resistências ao acesso universal à vacina podem surgir por várias sem-razões. A política que aposta em manter e aumentar as grandes desigualdades entre países, e no interior de cada país, não pode aceitar que os seres humanos sejam todos irmãos, com os mesmos direitos e deveres. Acaba de ser traduzida, para português, a nova obra de Thomas Piketty na qual faz a história social, económica e ideológica da desigualdade [1]. Não estamos condenados a sofrer a intoxicação legitimadora do crescimento das desigualdades criminosas.

sábado, 2 de janeiro de 2021

2021 será melhor

Depois do rescaldo da passagem do ano sem festas, que o tempo e as circunstâncias  não estavam  para isso, já vamos no dia 2 de janeiro com a melancolia a empalidecer no horizonte conforme se recomendava. Só a vida do dia a dia nos deixará sentir o chão incerto que nos conduzirá ao futuro, apesar do otimismo que teimamos em alimentar. Atirando para o lado, por momentos, as inquietações de todo o mundo, queremos crer que o amanhã será melhor. E é nessa perspetiva que nos colocamos. 
Durante estes dias sentimos a presença possível dos familiares mais próximos que, através dos contactos  usuais, quiseram saber como estávamos e como nos sentíamos, já que a presença de todos à volta da mesa estava desta vez limitada. Outros natais e outros anos novos hão de acontecer para uma felicidade mais participada, na linha de tradições com décadas que nos irmanavam na hora de olhar o Menino e nos desejos de mais um ano de paz e de fraternidade nascer, pois temos a obrigação de o construir no dia a dia do ano 2021. 
Bom ano para todos os nossos familiares e amigos.

Lita e Fernando 

A infância de Jesus

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


Longe de mim querer minimamente ferir o fascínio da magia divina das narrativas do Natal, mas é natural que a pessoas se perguntem como foi a infância de Jesus, em que data nasceu e onde, quem eram os reis magos, se houve a matança dos inocentes, se Jesus menino foi levado para o Egipto...
É a essas muitas perguntas que vou tentar responder, inspirando-me em parte no exegeta Ariel Álvarez Valdés: Cuál es el origen del diablo? Para descobrir o sentido autêntico e profundo das celebrações natalícias.


1. O Natal é a maior festa do cristianismo? Embora seja a mais popular, e compreende-se — a luz, o calor humano da família e da amizade, a evocação do milagre do nascimento de uma criança... —, o Natal não é a festa maior. A festa central da fé cristã é a Páscoa, que celebra a vida, o anúncio da boa nova do Reino de Deus, a paixão e morte de Jesus e a sua ressurreição: na morte, Jesus não morreu para o nada, na morte encontrou a plenitude da vida em Deus, que é Pai-Mãe. Este é o núcleo da mensagem cristã, como proclamou São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé.”
E é à luz da Páscoa que se compreendem as narrativas do Natal. De facto, no início, os cristãos não se interessaram pelo seu nascimento, pois o essencial era a vida, a morte e a ressurreição.

2. Como apareceu a festa do Natal? Hoje, nenhum historiador sério nega que Jesus existiu realmente. Quando, por volta do séculos III-IV já havia comunidades cristãs espalhadas pelo Império Romano, houve a ideia de transformar a festa pagã do Dies Natalis Solis Invicti (Natal do Sol Invicto), associada ao solstício do Inverno, quando os dias começam a aumentar e com eles a luz solar, na festa do nascimento do Sol dos cristãos, d'Aquele que é o verdadeiro Sol invencível, a Luz verdadeira. A Missa do galo está associada a esta luz, o galo canta, anunciando a aurora.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

O brilho da Estrela que nos guia

Reflexão de Georgino Rocha 
para a Festa da Epifania do Senhor



A festa da Epifania do Senhor realça figuras que dão rosto singular à realeza: Os magos, Herodes e o Menino. Mateus pretende destacar traços comuns a quem se dispõe a percorrer um itinerário de iniciação cristã, a ser discípulo missionário. Vamos, ainda que brevemente, deter-nos no que pode ser para nós, hoje, uma epifania existencial do Senhor Jesus. Mt 2, 1-12. 
Herodes fica perturbado ao ouvir a notícia do nascimento do Rei dos Judeus. E com ele os habitantes da cidade de Jerusalém. Sobressalto é o mínimo que pode experimentar e a origem da força emocional da acção que vai empreender: Disfarça secretamente o móbil da sua vontade – o de evitar veleidades, matando o potencial candidato a rei – declarando querer ir adorá-lo. E a mim que me causa sobressaltos? 
Os Santos Inocentes, observa «Vers Dimanche», da rede mundial do Apostolado da Oração, fazem parte da Epifania e convidam-nos a não desviar o olhar do trágico da humanidade. Hoje, acontece no Oriente próximo, na África Central e do Magrebe e em tantos outros países que não vislumbram uma nova estrela para a vida atormentada e, por vezes, completamente desfeita. 
Os magos, como tantos procuradores do sentido para a vida seriam hoje esta multidão de “peregrinos” que no seu deambular ainda têm forças para sonhar, pôr-se a caminho, correr riscos, aguentar enganos, reanimar-se até alcançar o bem desejado. Afirmam assim o valor da esperança confiante que a tudo se aventura e suporta. 

Ruy Belo para começar o ano



O PORTUGAL FUTURO 

0 Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
Portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a Espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal futuro

Ruy Belo