quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Obra da Providência - Subsídios para a sua história


No próximo dia 1 de março, pelas 21 horas, no salão nobre da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, vai ser apresentado o livro “Obra da Providência — Subsídios para a sua história”, da minha autoria. Convidam-se todos os amigos desta instituição, uma das mais antigas da nossa terra, a participar neste evento.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

A Princesa Joana nasceu neste dia

6 de fevereiro

Ícone de Santa Joana

Celebra-se hoje, 6 de fevereiro, o nascimento da Princesa Joana, que veio a ser a  padroeira da Cidade e Diocese de Aveiro. O povo canonizou-a pelas suas singulares virtudes, bem emolduradas por gestos de grande humildade. Eu sei que não faltam registos da sua vida plena em prol dos desfavorecidos, que seriam inúmeros no século XV, com a laguna aveirense, de águas estagnadas, a semear doenças por estas bandas. A Princesa não fugiu da sua "pequena Lisboa", porque era corajosa e seguidora do Senhor da vida. 
Seria interessante  continuarmos a falar da nossa Padroeira, sobretudo aos mais jovens, para que a sua memória perdure no tempo, aproveitando as datas marcantes da sua estada entre nós. É o que faço hoje.
Neste dia, socorro-me do livro "Aveiro, suas gentes, terras e costumes", que mais não é do que uma seleção de textos de D. João Evangelista de Lima Vidal, organizada pelo Padre João Gonçalves Gaspar e publicada em 1967, com edição da Junta Distrital de Aveiro. Nele, D. João Evangelista, primeiro bispo da restaurada Diocese de Aveiro,  diz assim: 

"Não há dúvida de que S. Francisco de Assis teria alma para renunciar, não apenas a um lugar de mercador ou de caixeiro na casa paterna, mas a uma realeza, a uma coroa, a um ceptro, a todas as grandezas e vaidades do mundo; objectivamente, não fez um sacrifício tão grande como Santa Joana que, por amor de Deus e para poder dizer ao mundo que não, renunciou a um trono e, em vez de ser uma rainha, foi uma serva! 
Todos os escritores de Santa Joana são unânimes em dizer que a escolha de Aveiro não teve outro propósito senão recolher-se a prófuga dos Paços Reais de Lisboa ao mosteiro mais pobre que se conhecia por esse tempo na Pátria. O seu túmulo é grandioso, é certo; mas lá dentro, daquelas cinzas humilhadas pela pobreza voluntária, pela penitência, pelos sacrifícios, sai cá para fora, através de todos aqueles mármores, de todos aqueles mosaicos, de todo aquele esplendor tumular, o grito desconcertante da alma da Santa:  Não! 
O nosso mandato no mundo é fazermo-nos semelhantes a Cristo; não a Cristo com arminhos ao ombro, não a Cristo sentado em leito das voluptuosidades  isso não é Cristo  mas a Cristo pregado na cruz. E tudo o que seja uma traição a este mandato, um esquecimento desta missão, que oiçam a voz que clamam daqui, do fundo deste sepulcro, as cinzas da Santa:  Não!" 

Fernando Martins 

Notas: 

1. A Princesa Joana, filha de D. Afonso V e de D. Isabel, nasceu a 6 de fevereiro de 1452, tendo sido batizada oito dias depois. Nessa altura, foi declarada herdeira do trono. Faleceu em Aveiro, em 12 de Maio de 1490, cerca das duas horas da madrugada, e a sua morte causou grande consternação. A notícia espalhou-se tão rapidamente, diz o Calendário Histórico de Aveiro, que, momentos depois, a igreja de Jesus estava apinhada de fiéis. 

2. Em 4 de Abril de 1693, a Princesa Joana foi beatificada e em 1711, no dia 23 de Outubro, os seus restos mortais foram transladados para o túmulo de mármores polícromos, que pode ser apreciado no Museu de Aveiro.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Notas do meu diário: A lareira acesa



Nestes dias de frio, o que me salva é a fogueira que me aquece e me obriga a sair da comodidade do sofá. Quando a fogueira esmorece e corre o risco de se apagar, salto apressado para acudir à salamandra que se quer viva e desafiante. E faço isto vezes sem conta. Senta e levanta, olhos no livro e no lume, corre à garagem para carregar mais uns cavacos, abre lentamente a entrada do ar para a fogueira atiçar, volta a sentar por uns minutos... e assim vou vivendo ao sabor e às ordens do fogo. 
Neste vaivém, veio à minha memória uma estória lida um dia destes no livro de Umberto Eco, “Aos Ombros de Gigantes”, que me ocupa as horas vagas, com entradas pela noite, quando predomina o silêncio cá por casa. A estória a que me refiro, que desejo contar pela lição que oferece, é assim: 
Umberto Eco diz que comprou nos anos 70, uma casa de campo com lareira, “uma bela lareira”, tinham os seus filhos dez e 12 anos, compra essa que se traduziu numa experiência relacionada com o fogo, com a lenha que arde, com a chama, sendo para eles “um fenómeno absolutamente novo”. 
O famoso escritor, filósofo e medievalista, relata que, “quando a lareira estava acesa, eles já não procuravam o televisor. A chama era mais bela e variada do que qualquer programa, contava histórias infinitas, renovava-se a cada instante, não seguia esquemas fixos, como o programa televisivo”.
Umberto Eco tinha  razão. 

Fernando Martins

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Almeida Garrett nasceu neste dia de 1799

Efeméride: 4 de fevereiro de 1799


João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu neste dia do ano 1799. foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, par do reino, ministro e secretário de estado honorário português. Evoco-o hoje pelos seus méritos conhecidos de todos quantos se interessam pela literatura. E do muito que escreveu, transcrevo um texto que todos os ílhavos conhecem, ou deviam conhecer. 
Aqui fica a minha homenagem.

E os ílhavos saíram vencedores...

(...)
«Ora os homens do Norte estavam disputando com os homens do Sul: a questão fora interrompida com a nossa chegada à proa do barco. Mas um dos ílhavos – bela e poética figura de homem –, voltando-se para nós, disse naquele seu tom acentuado: “Pois aqui está quem há-de decidir: vejam nos senhores. Eles, por agarrar um toiro, cuidam que são mais que ninguém, que não há quem lhes chegue. E os senhores, a serem cá de Lisboa, hão-de dizer que sim. Mas nós...”
– “Nenhum de nós é de Lisboa: só este senhor que aqui vem agora.”
Era o C. da T. que chegava.
– “Este conheço eu; este é dos nossos!” bradou um homem de forcado, assim que o viu: “Isto é um fidalgo como se quer. Nunca o vi numa ferra, isso é verdade; mas aqui de Valada a Almeirim ninguém corre mais do que ele por sol e chuva, e há-de saber o que é um boi de lei, e o que é lidar com gado.”
– “Pois oiçamos lá a questão.”
–“Não é questão”, tornou o Ílhavo: “mas, se este senhor fidalgo anda por Almeirim, para Almeirim vamos nós, que era uma charneca outro dia, e hoje é um jardim, benza-o Deus! – mas não foram os campinos que o fizeram, foi a nossa gente que o sachou e plantou, e o fez o que é, e fez terra das areias da charneca.”
– “Lá isso é verdade.”
– “Não, não é! Que está forte habilidade fazer dar trigo aqui aos nateiros do Tejo, que é como quem semeia em manteiga. É uma lavoura que a faz Deus por Sua mão, regar e adubar e tudo: e o que Deus não faz, não fazem eles, que nem sabem ter mão nesses mouchões co plantio das árvores: só lá por cima é que algumas têm metido, e é bem pouco para o rio que é, e as ricas terras que lhes levam as enchentes.”
– “Mas nós, pé no barco pé na terra, tão depressa estamos a sachar o milho na charneca, como vimos por aí abaixo com a vara no peito, e o saveiro a pegar na areia por não haver água... mas sempre labutando pela vida.”
– “A força é que se fala” tornou o campino, para estabelecer a questão em terreno que lhe convinha: “A força é que se fala: um homem do campo que se deita ali à cernelha de um toiro que uma companhia inteira de varinos lhe não pegava, com perdão dos senhores, pelo rabo!...”
E reforçou o argumento com uma gargalhada triunfante, que achou eco nos interessados circunstantes que já se tinham apinhado a ouvir os debates.
Os ílhavos ficaram um tanto abatidos; sem perderem a consciência de sua superioridade, mas acanhados pela algazarra.
Parecia a esquerda de um parlamento quando vê sumir-se, no burburinho acintoso das turbas ministeriais, as melhores frases e as mais fortes razões dos seus oradores.
Mas o orador ílhavo não era homem de se dar assim por derrotado. Olhou para os seus, como quem os consultava e animava, com um gesto expressivo, e voltando-se a nós, com a direita estendida aos seus antagonistas:
– “Então agora como é de força, quero eu saber, e estes senhores que digam, qual é que tem mais força, se é um toiro ou se é o mar.”
– “Essa agora!...”
– “Queríamos saber.”
– “É o mar.”
– “Pois nós que brigamos com o mar, oito e dez dias a fio numa tormenta, de Aveiro a Lisboa, e estes que brigam uma tarde com um toiro, qual é que tem mais força?”
Os campinos ficaram cabisbaixos; o público imparcial aplaudiu por esta vez a oposição, e o Vouga triunfou do Tejo.»

Almeida Garrett


In "Viagens na minha terra"
Nota: O fidalgo "C da T" era o Conde da Taipa

Efeméride - Início da Guerra Colonial

4 de Fevereiro de 1961


Em Angola, neste dia, em 1961, começou a guerra colonial portuguesa, ao abrigo das políticas defendidas por Salazar, que proclamavam que Portugal era um país multicultural, multirracial e multicontinental, uno e indivisível. Nas escolas, desde tenra idade, todos eram doutrinados para estes princípios, de que Portugal se estendia do Minho ao Algarve, chegando a Timor e Macau, depois de passar por Angola e Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, Açores e Madeira. A guerra está na memória da minha geração, pelas mortes que custou, pelos traumas que provocou, pelos mutilados que deixou. Tudo isto tende a ficar esquecido, mas tal não é fácil para os que por lá passaram e para milhares de famílias que viram partir para a luta tantos dos seus filhos. Muitos por lá ficaram.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

DO PANAMÁ PARA PORTUGAL

Anselmo Borges
1. Nesta sua presença de 5 dias nas Jornadas Mundiais da Juventude no Panamá, o Papa Francisco também visitou um centro de detenção de jovens, que é modelar, pois, com a ajuda de assistentes sociais, psicólogos e peritos de várias especialidades, prepara os jovens para a sua integração na sociedade, sendo também obrigatória a sua participação em cursos de formação profissional e de desenvolvimento humano. Francisco animou-os: “Que ninguém vos diga nunca: ‘não vais conseguir’. Deus não vê rótulos nem condenações, vê filhos.” 
Foi ali que um jovem preso contou ao Papa a sua história: que desde pequeno sempre sentira um vazio interior, a falta de um olhar carinhoso de pai; um dia, encontrou esse olhar em Deus, mas, depois, caiu e agora encontrava-se ali cumprindo uma pena; e disse-lhe, do fundo do seu contentamento, que havia de ser um grande chefe. Francisco ouviu com atenção e carinho, como só ele sabe escutar. E o jovem comentou enternecida e admirativamente: “... Que alguém como você tenha arranjado tempo para ouvir alguém como eu, um jovem privado da liberdade!... Não sabe a liberdade que sinto neste momento!” O jesuíta Diego Fares comentou: “Talvez tenha que ser um preso para valorar quem o Papa é e o que faz.” 
 Ao longo desta sua viagem, Francisco encontrou-se com políticos, bispos, padres, religiosos e religiosas, fez discursos para as centenas de milhares de jovens, vindos de 155 países, mas encontrou tempo para escutar a história deste rapaz e assim escreveu mais um capítulo da sua encíclica, que não é de palavras, mas de gestos, encíclica que dá sentido a todas as suas encíclicas e discursos. Jesus também assim procedeu. 

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Eduardo Lourenço: "Não sou um grande pensador, o mundo é que pensa"

"Não creio que a Bíblia naufrague, 
mesmo numa civilização tão desapiedada (...) 
como a nossa."

Eduardo Lourenço
«"Não sou um grande pensador, o mundo é que pensa e eu tento imaginar o que ele me está a dizer. O mundo já não tem aquela leitura tradicional que herdámos do século XIX, em que o livro era o começo, o princípio e o fim da nossa experiência com o mundo e com nós próprios", disse Lourenço.
"O nosso livro fundamental é a Bíblia, pelo menos até agora. Não creio que a Bíblia naufrague, mesmo numa civilização tão desapiedada, tão violenta internamente, tão pouco cheia de misericórdia como é a nossa nestes tempos que correm".»

Ler mais em  Euronotícias 

Notas do Meu Diário: Desassoreamento da Ria

Laguna em maré baixa
É público que a Ria de Aveiro está assoreada há muito. É sina sua e nossa, desde que me conheço. E o Governo, como é público, vai avançar daqui a umas semanas com trabalhos de desassoreamento. 
Nas meus escritos sobre a região lagunar, tenho por costume cantar loas à beleza da nossa terra, com a Ria a ocupar um espaço especial. A Ria de Aveiro fascina-nos. É um facto. Ainda há tempos, quando falei dos seus canais, a maioria dos quais nunca visitei com olhares críticos, alguém opinou, sublinhando que estão assoreados, sendo, por isso, impossível navegar por eles. E não duvidei. 
O desassoreamento que vai ser feito implica uma despesa enorme, da ordem dos 17,5 milhões de euros, e depois dos trabalhos executados e pagos cada um vai à sua vida. E com a Ria acontece o mesmo, como desde a sua origem, há uns mil anos. Então que fazer? A meu ver,  o desassoreamento devia ser mais frequente, com as entidades competentes a saírem dos seus gabinetes para denunciarem as zonas assoreadas e atuarem de imediato e em conformidade. É lirismo da minha parte? Talvez. 
Bom fim de semana

F. M.

Notas do Meu Diário: Em Portugal, a culpa morre solteira...




Em Portugal, a culpa morre solteira imensas vezes. Os processos de corrupção e compadrios, entre outros grandes crimes, nunca mais chegam ao fim e nem é preciso citá-los. No caso da derrocada da estrada de Borba, onde morreram pessoas, está toda a gente à espera de se saber quem foram os culpados. Será que algum dia se virá a saber quem não reparou, por obrigação, que a derrocada estava a ameaçar?
Agora vem o inquérito parlamentar descobrir que a CGD emprestou milhões sem as mínimas garantias de um dia ser reembolsada pelas empresas beneficiadas. E quem alimenta tudo isto?  Tem de ser o povo português, está claro.
Ao que chegou a nossa democracia...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Jesus, expulso da cidade, segue o seu caminho

Georgino Rocha
"Felizes os que são coerentes 
e fazem o que creem, 
e creem o que o Evangelho ensina"

A esplanada da sinagoga de Nazaré, após a celebração em que Jesus intervém, torna-se palco de um acontecimento notável que marca o início simbólico do caminho para Jerusalém. A seguir à homilia, a assembleia reage cheia de entusiasmo e admiração, dando testemunho “a seu favor pelas palavras cheias de graça que saíam da sua boca”. Dir-se-á que é uma reacção coerente com a novidade anunciada e compreendida, com a linguagem de Jesus, o leitor mensageiro, com as expectativas dos participantes no rito do culto semanal. Dir-se-ia que Jesus seria ovacionado no final e coroada de êxito a sua primeira vinda oficial à terra natal. Mas o ser humano é instável e a sua curiosidade insaciável. Surgem as perguntas de pesquisa sobre a identidade de Jesus. E com elas a suspeita e a disputa. Vamos acompanhar o desenrolar do episódio que o Evangelho de Lucas (Lc 4, 211-30) nos deixa como “portal” do que vem a acontecer na caminhada para Jerusalém.
“Este episódio do rechaço de Jesus em Nazaré tem um caracter simbólico: em certo sentido é uma síntese de todo o evangelho, afirma o comentador do nosso texto na Homilética, 2019/1, p. 42. E prossegue dizendo que “Jesus irá experimentando um fracasso cada vez maior (até os seus próprios amigos o abandonam e um dos mais íntimos o atraiçoa).

O entusiasmo dos nazarenos constitui o início da alegria que desabrocha em quem segue Jesus nos caminhos da missão. O número vai aumentando chegando a ser uma pequena multidão. E mostra-se em gritos e aclamações públicas, em encontros de rua e festas de família, em convites e refeições, e em tantos outros modos. Seguir Jesus dá sentido à vida, revigora energias, alimenta a esperança, desinstala, cria laços de pertença, traça novos ritmos.
Mas esta adesão inicial esgota-se rapidamente se não for alimentada e robustecida pela convicção firme, fruto da razão inteligente iluminada pela graça da fé. Como é urgente dar-lhe suporte consistente? Vem a propósito a advertência de Jesus: Casa construída sobre areia está sujeita a derrocada ao primeiro vendaval. E vem a propósito trazer à memória eventos apostólicos de grande sucesso imediato que se esgotam no momento do encerramento. A intensidade da experiência vivida dilui-se e acaba por ser apenas memória saudosa e gérmen de nostalgia frustrante. Reganhar ânimo e começar de novo exige grande confiança em Deus e paciência criativa.