domingo, 14 de outubro de 2018

Notas do Meu Diário – O mundo e nós


1. Com a minha idade, já vi e senti tantas voltas e reviravoltas no mundo que nada me espanta. E de todas essas voltas e reviravoltas sempre aprendi e desaprendi tanta coisa, que não me canso de perceber que o povo, na sua felicidade e na sua revolta, terá motivos para mostrar que é ele quem manda. Tão depressa vive a democracia como de repente, por raiva, ameaça e leva à prática dar o seu voto a malandros e a eventuais ditaduras. O mundo até parece que está a virar de escota, porventura sem norte seguro. Temos de exercer um papel pedagógico no sentido de alertar para os inconvenientes de políticas racistas, xenófobas e antidemocráticas? Temos. 

2. A tempestade que esta noite nos assustou, entre as 23 horas e as quatro da manhã, motivada por fenómenos raros neste recanto à beira mar plantado, no dizer do poeta, deixou devastações dolorosas com prejuízos ainda incalculáveis. Dizem os entendidos, que ouvi durante a noite, que as profundas ofensas ao ambiente, provocadas pela ganância industrial e por comportamentos humanos desregrados, estão na origem desta revolta da natureza. E como restabelecer a harmonia neste mundo em correria desenfreada para o abismo?

3. Ontem à noite participei num encontro-convívio promovido pela ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha), que muito me agradou, fundamentalmente pela participação de diversas associações da nossa terra. Na hora certa, o presidente daquela associação, Humberto Rocha, frisou a importância da união de todos na luta pela qualidade de vida das nossas terras e gentes. A união faz a força, disse. Mas desse encontro-convívio hei de escrever um dia destes.

Fernando Martins

As horas

"As horas batem indiferentemente para todos 
e soam diferentemente para cada um"

Condessa Diane (1829-1899), escritora

No PÚBLICO de hoje

Nota: Gosto de frases que nos levem a pensar. Normalmente, são-nos legadas por quem escreve bem, pensa melhor e põe sentido no que diz. Qualquer dia, vou tentar registar algumas frases, pensamentos ou ditos que mereçam destaque. Veremos se acerto...

Um poema de Miguel Torga para este domingo




OUTONO


Outono.
(A palavra é cansada…)
Tudo a cair de sono,
Como se a vida fosse assim, parada!

Nem o verde inquieto duma folha!
O próprio sol, sem força e sem altura,
Olha
Dum céu sem luz e levedura.

Fria,
A cor sem nome duma vinha morta
Vem carregada de melancolia
Bater-me à porta.

Miguel Torga

Leiria, 11 de outubro de 1940,
em “Poesia Completa”

sábado, 13 de outubro de 2018

Francisco​​​​​​​ em Pyongyang?

Anselmo Borges

"Na Coreia do Norte, em 1950, viviam ainda mais de 55 mil católicos, com 57 igrejas construídas, com missionários, escolas católicas e actividades pastorais florescentes. A perseguição tinha começado antes, mas acentuou-se com a guerra da Coreia e o brutal regime instalado: as igrejas foram arrasadas, os cristãos, católicos e protestantes, mortos ou enviados para campos de concentração, num processo de eliminação de qualquer presença religiosa."


A notícia chegou completamente inesperada e surpreendente: o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, será portador de um convite formal do presidente Kim Jong-un ao Papa Francisco para que visite o seu país, a Coreia do Norte. E está preparado para recebê-lo em Pyongyang "com entusiasmo". 
A Coreia do Norte ocupa hoje o primeiro lugar na lista dos países onde os cristãos são mais perseguidos. Nos princípios do século XX, a capital, Pyongyang, foi chamada "a Jerusalém do Oriente" ou "a Jerusalém da Ásia". Na Coreia do Norte, em 1950, viviam ainda mais de 55 mil católicos, com 57 igrejas construídas, com missionários, escolas católicas e actividades pastorais florescentes. A perseguição tinha começado antes, mas acentuou-se com a guerra da Coreia e o brutal regime instalado: as igrejas foram arrasadas, os cristãos, católicos e protestantes, mortos ou enviados para campos de concentração, num processo de eliminação de qualquer presença religiosa. As comunidades católicas tornaram-se verdadeiramente a "Igreja do silêncio". Hoje existe apenas uma igreja católica, construída em 1988, mas sem padre nem religiosos nem baptismos. Na capital, os católicos serão uns 800 e, dispersos por toda a Coreia do Norte, uns dois ou três mil; no entanto, é convicção de padres do Sul, que estiveram no Norte, que o número pode ser muito superior: haverá muitos homens e mulheres que continuam a viver a sua fé em Cristo de modo íntimo, sem possibilidade de exprimi-la publicamente. O regime é ateu, mas, a partir de 1989, com a queda do bloco comunista, reconheceu uma Associação Católica e uma Federação Cristã, que são duramente enquadradas e controladas pelo governo. Alguns contactos informais têm tido lugar em Roma entre representantes norte-coreanos e diplomatas do Vaticano, revela o jornal La Croix, que também escreve que em 2017 um diplomata norte-coreano declarou expressamente a um seu enviado especial à Coreia do Norte que "as organizações humanitárias católicas faziam um trabalho muito bom na Coreia do Norte; são sérias, eficazes e nós confiamos, pois são mais honestas e sinceras do que outras grandes organizações laicas que nos enviam espiões". 

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

As lágrimas impedem-nos de ver as estrelas



"Se choras porque não consegues ver o Sol, as tuas lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas."


Rabindranath Tagore (1891-1941)

O tesouro da liberdade e o seguimento de Jesus

Georgino Rocha
 
 Não basta cumprir os mandamentos com lisura e honestidade. Não chega a atitude obediente e rigorista. Não adianta alimentar piedosos desejos e nunca os realizar. Não. É preciso deixar o coração livre de todas as amarras, designadamente a posse de bens, as rotinas da vida, o sentir-se acomodado no já conseguido e apreciado. É necessário alcançar o tesouro da liberdade.
 
 
Jesus está na rua prestes a sair para a missão. Ia pôr-se a caminho quando é surpreendido por um homem que vem a correr ao seu encontro. Não apenas vem a correr, como chegando junto dele se ajoelha e faz uma pergunta crucial, típica de todo o ser humano, em alguma fase da vida: “Que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?” O coração fala mais alto do que a vergonha pública e o possível comentário displicente, desdenhoso. A pressa da corrida denota a intensidade do desejo. A atitude assumida manifesta o reconhecimento de Jesus como Alguém que pode abrir a porta do espírito humano a novas dimensões para além dos saberes positivos/experimentais. A súplica indica claramente o sentido do encontro provocado pela pressa do ritmo do coração aliado ao impulso da consciência de querer agir recta e livremente.

Jesus acolhe o homem com delicadeza, respeita a atitude, escuta o pedido, antevê o alcance da pergunta, assume a sua ânsia, sintoniza com o seu reconhecimento e inicia o diálogo da liberdade que se constrói na verdade. Havia sido tratado por bom. Pois é a partir da bondade que se faz a conversa. Marcos reveste de um são realismo a narrativa (Mc 10, 17-30). Dá-nos um quadro referencial para revermos as nossas atitudes e, guiados pela mão do Mestre, deixar que aflorem as perguntas decisivas da nossa vida, a articulação do que andamos a fazer com o futuro que nos espera, com a vida eterna que se faz presente na prática dos valores do Reino. A semente do presente dá frutos no tempo e faz germinar a eternidade. “Na morte se recebe, o que na vida se semeia”, repetia o saudoso P. José Gualdino, pároco da Murtosa.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Postal do Porto - Chuvas de outono

Manuel Olívio

Amigo

As primeiras chuvas de Outono recordam-me as viagens de bicicleta a caminho do velho Liceu de Aveiro… Tantas saudades.
Passaram-se os anos… À vida sucedeu o estudo…
Agora a Escola Antiga está a ser contestada… Surge a Escola Nova…
Praza a Deus que a reforma nos traga um clima de sossego e de trabalho onde, cada um, possa e queira estudar ou, melhor, preparar-se para a vida.
Não tenhamos ilusões. Por mais voltas que a roda dê, um jovem sentirá sempre o salto para as realidades da vida. A escola tem obrigações de lhe deixar o espírito aberto para essa adaptação.
Que os nossos estudantes saibam aproveitar tantas facilidades concedidas e continuem, como os outros, à procura de um mundo melhor!

Um abraço

Manuel

Nota: Este Postal do Porto foi publicado pelo meu familiar e amigo, Manuel Olívio da Rocha, no Timoneiro, em outubro de 1973. E como esta noite choveu, vem mesmo a propósito a sua publicação. Um abraço para o Manuel.