quinta-feira, 5 de julho de 2018

O maior navio de sempre no Porto de Aveiro





NOTAS:

1. Para quem, como eu, viu nascer e crescer o Porto de Aveiro, com a estrutura das últimas décadas, é sempre um prazer ler notícias destas.
2. Pessoalmente, assisti, há 10 anos, ao primeiro maior navio de sempre no Porto de Aveiro.

Eu conheço aquela cara de qualquer lado

Uma saudação a todos os nossos emigrantes 
que passam férias este ano entre nós

Em férias, minhas ou de outros, há muitos encontros inesperados. Em qualquer esquina, há rostos que me levam a pensar: — Eu conheço aquela cara de qualquer lado. É o tal déjà vu, reação do cérebro, julgo eu, que o leva a processar a questão para chegar a uma conclusão sobre os tais encontros inesperados. 
Ontem aconteceu-me precisamente isso. Numa grande superfície, quando me sentei para ler uma revista sobre assuntos de história, o N. olhou-me tão fixamente que me levou  a questioná-lo sobre se me conhecia. Mesmo antes de lhe lançar a pergunta, disse-me: — É de… no Canadá! Respondi que não. E a esposa, à sua frente, que apenas tinha visto de costas, logo acrescentou: — Foi confusão, desculpe. 
O sol obrigou-me a mudar de lugar e agora, voltado para a senhora, tirei uma conclusão, fruto do tal processamento do meu cérebro, que, como todos os cérebros, deve funcionar como os computadores. Os psicólogos saberão explicar melhor o que se passou. 
De imediato, levantei-me e dirigi-me ao casal. — Estou cá a pensar que vos conheço mesmo. Por favor, digam-me: — Moram por aqui perto de Aveiro? E a resposta foi pronta e em simultâneo: — Somos da Gafanha da Nazaré e estamos cá de férias, pois vivemos no Canadá. 

Fernando Martins 

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Férias — Escrever


Escrever
por prazer, por gosto, para ver
escrever para escutar o que o barulho comum encobre ou confunde
incluindo o barulho das palavras
Lavar as palavras até que elas fiquem
completamente puras e redondas e lisas
ou então ir pelos caminhos abundantes
ou então refazer, refazer indefinidamente
para abordar um pouco mais o que falta e insistir
escrever para chegar àquele ponto
que comunica com o que está para além e aquém de toda a palavra.


Maurice Bellet
In Cahiers pour croire aujourd'hui, Novembro 1993)
Trad.: MLPV/JTM

terça-feira, 3 de julho de 2018

"A Vida no Campo" — Leitura saborosa


Li, com a serenidade possível, “A Vida no Campo”, de Joel Neto, escritor que tive o prazer de conhecer no Porto, no lançamento do seu mais recente livro, “Meridiano 28”. Escusado será dizer que foi um prazer enorme saborear uma prosa tão escorreita, ou não fosse o autor um escritor de referência no panorama da literatura atual do nosso país. 
Joel Neto deixou Lisboa para fixar residência nos Açores, de onde é natural, concretamente na Terceira, local privilegiado para, no silêncio que convida à reflexão, escrever os seus livros e as suas crónicas que tem publicado no Diário de Notícias. Interrompeu essa colaboração há dias, para a retomar, porventura em janeiro, em moldes diferentes. Lia-as regularmente e muitas delas fazem parte do livro “A Vida no Campo”. O “Arquipélago” e “Meridiano 28” estão à espera de leitura em estante cá de casa. Serão, garantidamente, grandes momentos de satisfação interior. 
Das referências que li ao livro “A Vida no Campo”, registo a do crítico literário Pedro Mexia, publicada o Expresso, cujas sugestões sigo quando posso. Aqui fica: 

«A escrita é concisa, cuidadosa, composta palavra a palavra, sob pressão, de uma tranquilidade melancólica, atenta às mutações, aos hiatos, ao que fica do que passa. (...) "A Vida no Campo" é um "poema à duração". Um elogio da transmissão geracional, das boas pessoas, dos objectos herdados, da felicidade pela agricultura, do viver habitualmente. A Terra Chã desenha-se como uma hipótese de salvação pela Humanidade comum.» 

PEDRO MEXIA 

Há tempo para tudo



HÁ TEMPO PARA TUDO

Tudo neste mundo tem seu tempo;
cada coisa tem sua ocasião.

Há um tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derrubar e tempo de construir.

Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar;
tempo de chorar e tempo de dançar;
tempo de espalhar pedras e tempo de as juntar;
tempo de abraçar e tempo de afastar.

Há tempo de procurar e tempo de perder;
tempo de economizar e tempo de desperdiçar;
tempo de rasgar e tempo de remendar;
tempo de ficar calado e tempo de falar.

Há tempo de amar e tempo de odiar;
tempo de guerra e tempo de paz.

Ecle. 3, 1-8

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Não há vidas sem saída



«Um náufrago foi lançado pelas ondas para as costas de um ilhéu deserto. Todos os dias perscrutava o horizonte na esperança de uma ajuda, mas não avistava ninguém no mar.
Os dias foram passando e ele conseguiu construir uma cabana. Um dia, voltando da caça para encontrar alguma comida, encontrou a cabana em chamas, enquanto que densas colunas de fumo subiam ao céu. Ficou desesperado.
Mas no dia seguinte eis que vislumbra no horizonte um navio a dirigir-se para o ilhéu. Tinha sido o fumo a impeli-lo na direção daquela ilha.»

Li aqui 

NOTA: Imagem e texto do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura


Em tempo de férias, olhemos para o que nos rodeia



Pondo de lado a hipótese, por circunstâncias conhecidas, de sair em gozo de férias, vamos olhar para o nosso concelho com olhos bem abertos. Paisagens de encantos vários e gentes de simpatia extrema bem justificam uma atenção mais atenta. 
Da nossa ria e do nosso mar vale sempre a pena falar, porque haverá recantos a descobrir, experiências a usufruir, riquezas a explorar. Vamos no período de férias por aí, sem precisar de muito dinheiro ou até sem ele. 
Passeemos pela borda-d’água, mergulhemos na laguna ou no mar em dias de calmaria. Utilizemos os trilhos assinalados pela Câmara Municipal de Ílhavo e descubramos o que há de antigo e de mais moderno, com a finalidade de compreender o porquê das coisas. Há folhetos bastante úteis que podemos encontrar nos Postos de Turismo, onde os houver, sobretudo nas zonas balneares do nosso município. E assim, mais esclarecidos, poderemos ficar no que é nosso. 
Todavia, não vamos supor que já sabemos e conhecemos tudo, porque não é verdade. Somos muitas vezes uns puros analfabetos acerca do que nos envolve, optando, vezes sem conta, por outras terras e outras gentes e desprezando as nossas realidades quotidianas e históricas.

domingo, 1 de julho de 2018

Tolentino Mendonça: O 48.º bibliotecário do Vaticano

Entrevista conduzida por Miguel Marujo 
para o  Diário de Notícias


«O padre e poeta português é o novo bibliotecário e arquivista do Vaticano, ele que já tinha orientado o retiro quaresmal do Papa. Em entrevista ao DN recusa a "lógica das influências" e fala da sede que desinstala

José Tolentino Mendonça estava convencido que orientava o retiro quaresmal do Papa - estávamos em fevereiro - e voltava ao seu trabalho em Lisboa. Mas Francisco desinstalou-o e chamou-o a Roma, agora, para ser o responsável da Biblioteca Vaticana e do Arquivo Secreto da Santa Sé, dando-lhe a dignidade de arcebispo.

Depois de ser o primeiro português a pregar os exercícios espirituais ao papa, Tolentino chegará a Roma recusando qualquer influência especial junto de Francisco. "Um retiro tem outra natureza, bem distante da lógica das influências. A voz que aqueles que fazem um retiro procuram não é certamente a do pregador. E mais. De uma forma despojada, nem é sequer a sua própria voz. A única voz importante é mesmo a de Deus que ressoa no silêncio do coração. Tudo o resto é acessório", confessou ao DN.
É esta lógica despojada com que responde sobre a sua nomeação. "Eu estava convencido que fazia o retiro e voltava ao meu trabalho em Lisboa, de que gostava muito."»

Ler toda a entrevista no Diário de Notícias

Diário de Notícias aposta em novos desafios



Os que me seguem neste espaço sabem que já tenho o Diário de Notícias (por extenso) na mão. Encomendei-o na véspera, não fosse o diabo tecê-las. E quando cheguei ao quiosque lá estava o jornal guardado, escondido dos olhares dos clientes. 
Folheei-o com avidez para apenas em casa o saborear com calma. E comecei, logicamente, pelo editorial (sem essa indicação, porém) do diretor Ferreira Fernandes. Bem no seu estilo, que aprecio. 
Cada parágrafo, mais ou menos, poderia servir de mote a esta minha primeira referência ao mais antigo quotidiano de Portugal Continental, agora renovado. Mas fico-me pelas notas, oportunas, neste tempo do vale tudo a nível da comunicação social, com duas ideias:   “A semana das boas notícias" e “crónicas “edificantes e de enternecer”. Infelizmente, estas opções têm dado lugar ao mal-dizer, às raivas e ódios de estimação, às notícias falsa. Só quando  o homem morde o cão ou há faca e alguidar, no sentido literal ou metafórico, é que alguns jornalistas acordam. "São estas que vendem", dizem-me. 
No meu Pela Positiva, nem sempre segui o que me propus fazer desde que abri esta minha janela para o mundo. Terei que rever esta minha posição. Obrigado pela sugestão, Ferreira Fernandes. 

Fernando Martins

Não há milagres? (1)

Bento Domingues

1. Falou-se durante muito tempo do milagre económico alemão. Quando se deseja criticar uma gestão económica e financeira diz-se: não há milagres! Em clima de religião barata vem o velho ditado: fia-te na Virgem e não corras! São apelos sensatos para que as iniciativas humanas sejam pensadas e planeadas a tempo, executadas com rigor. Não deixar as nossas decisões ao Deus dará, pois Ele ajuda quem se sabe ajudar. Afirmar que não há milagres nem sempre significa uma atitude ateísta ou negação da providência divina. Pode ser apenas respeito pela responsabilidade humana com uma conotação teológica: não invocar o Santo nome de Deus em vão. 
Não é aconselhável dar demasiada importância à linguagem do quotidiano que, raramente, é fruto de grandes cogitações como, por exemplo, eu cá sou ateu graças a Deus. Usa-se o vocabulário mais disponível, marcado pelo contexto social e cultural de uma população. Há zonas do país nas quais um palavrão é, apenas, um recurso simples e rápido, para acabar com uma conversa que não leva a lado nenhum.