sexta-feira, 11 de maio de 2018

Artes no Canal – 3: SKETCHERS em Aveiro








Quando visitei, com certo interesse, o projeto da Câmara de Aveiro, “Artes no Canal”, notei que alguns jovens tiravam “retratos”, desenhando, ao ambiente que ali se vivia. Não foi a primeira vez que vi artistas em pleno trabalho nas ruas e praças de diversas zonas do país, procurando deixar para a posteridade marcas das suas sensibilidades. Aqui perto, foi assim na Costa Nova, na Barra e em vários locais de Aveiro, nomeadamente no Jardim Infante D. Pedro e junto ao Canal Central. Contudo, talvez por descuido meu, não tenho deparado com artistas plásticos na rua, mas sabe-se que músicos, por exemplo, usam muito essa tática de partilharem as suas artes com quem passa. E depois, naturalmente, acabam por dar nas vistas e seguem, profissionalmente, a via da música. 
Na Praça Melo Freitas, porém, vi um artista ali à mão, não resistindo eu à vontade de o interpelar. Amavelmente, o João Tiago dispôs-se a elucidar-me. Faz parte de um grupo — ASK – AVEIRO SKETCHERS — que se reúne para desenhar, partilhando, posteriormente, nas redes sociais, os seus desenhos. 
A lição que recebi, para além de um exemplo de paixão pela arte de desenhar, foi o nome adotado pelo grupo, referido acima. Desconhecia completamente, mas percebe-se que a sua origem não será portuguesa, nem isso agora importará. O que se torna relevante é o prazer do encontro de pessoas que cultivam e partilham expressões artísticas, neste caso o desenho, convivendo e, decerto, trocando experiências, que só enriquecem. 
João Tiago sublinhou o espírito de partilha que os une, em vez de ficarem por casa, sem nada fazerem de concreto, neste âmbito. 
Li que não circunscrevem a sua ação apenas à cidade de Aveiro, mas saem em busca de novas inspirações noutras regiões do país. E para quando uma exposição dos seus trabalhos em Aveiro? Aqui fica o desafio. 

Fernando Martins 

Nota: podem consultar aqui, aqui e aqui

A multinacional do sentido

Anselmo Borges


1 No discurso histórico no Collège des Bernardins, que já aqui tentei sintetizar nas suas linhas de força [20 de Abril], o presidente da França, Emmanuel Macron, quis mostrar a importância decisiva dos católicos na vida cultural, ética, caritativo-social, política, mas sublinhou o inesperado: a Igreja como guardiã e despertadora das perguntas últimas, das questões do homem enquanto pessoa, do sentido da vida. É claro que "uma Igreja que pretendesse desinteressar-se pelas questões temporais não iria até ao fim da sua vocação". Mas há a outra parte, a parte católica da França, aquela "que no horizonte secular instila seja como for a questão intranquila da salvação, que cada um, acredite ou não, interpretará à sua maneira, mas em relação à qual cada um pressente que põe em jogo a sua vida toda, o sentido desta vida, o alcance que se lhe dá e a pegada que deixará. É verdade que o horizonte da salvação desapareceu totalmente do quotidiano das sociedades, mas é um erro e vê-se através de muitos sinais que continua aí, enterrado. Cada um tem o seu modo de nomeá-lo, de transformá-lo, de levá-lo consigo, mas é sempre a questão do sentido e do absoluto nas nossas sociedades que a incerteza da salvação traz a todas as vidas, mesmo as mais resolutamente materiais". Há um dom que a Igreja deve dar à República: "O dom da liberdade espiritual." "Porque não somos feitos para um mundo que seria atravessado apenas por finalidades materialistas. Os nossos contemporâneos têm necessidade, tenham fé ou não, de ouvir falar de uma outra perspectiva sobre o homem que não a material. Têm necessidade de matar uma outra sede, que é uma sede de absoluto. Não se trata aqui de conversão mas de uma voz que, com outras, ousa ainda falar do homem como um ser vivo dotado de espírito. Que ousa falar de outra coisa que não o temporal, mas sem abdicar da razão nem do real."

Festa da Ascensão



JESUS INDICA OS SINAIS DOS QUE ACREDITAM

Georgino  Rocha

O encontro de Jesus com os discípulos, antes da Ascensão, é muito expressivo e encorajante: confia-lhes a sua missão, indica os sinais que acompanham os que acreditarem, garante-lhes companhia de cooperação e promete confirmar a verdade da sua acção missionária. (Mc 16, 15-20).
A Igreja reza nos prefácios da Festa da Ascensão: “Depois da sua ressurreição, apareceu a todos os discípulos e à vista deles subiu aos céus, para nos tornar participantes da sua divindade e nos dar a esperança de irmos um dia ao seu encontro”. Esta é a certeza que nos move. Esta é a seiva que nos revigora e reconforta. Esta é a alegria que nos enche, mesmo nas maiores provações.
Vamos saborear a maravilha do Evangelho de hoje, seguindo de perto o complemento do livro de Marcos que faz parte da narração feita por cristãos da primeira geração. Jesus aparece aos discípulos “enquanto estavam a comer”. A refeição torna comensais os participantes, alimenta as forças, fomenta a partilha de ocorrências, faz crescer a amizade, infunde ânimo para novas ousadias, constitui momento singular para todos experienciarem a presença de Jesus ressuscitado. Que grande alcance ter o comer juntos, estar sentado à mesma mesa, escutar e dizer, celebrar “o magistério do amor” como refere Enzo Bianchi, monge da comunidade de Bose. Em entrevista à Visão, o teólogo italiano afirma: “A mesa é o lugar onde se iniciou a humanização, é o lugar onde nasceu a linguagem, a palavra. Então a mesa deve ser levada a sério. O problema é que hoje a mesa se tornou o lugar da máxima estranheza, quando a mesa tem a vocação para a máxima comunhão.”

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Peregrinos de Fátima


Umas 35 mil pessoas, um pouco de todo o país, peregrinam a Fátima a pé. Partiram maioritariamente do Norte e muitos cumprem este ritual, com toda a naturalidade, anos e anos seguidos. Há, até, grupos organizados com apoio logístico. E a devoção com que o fazem, partilhando alegrias, dores, convívios, orações, cânticos, desabafos, confidências, descobertas interiores e muita fé em Nossa Senhora, decerto alheios às polémicas que as aparições ou visões têm provocado, está bem patente nos sacrifícios que as caminhadas impõem, sem deixarem rastos de desânimo. 
Embora nunca tenha feito a experiência de peregrinar a Fátima a pé, não deixo de apreciar e compreender quem o faz. Aliás, é norma minha respeitar, em absoluto, as ideias ou convicções religiosas ou outras de toda a gente, na perspetiva de que também respeitem as minhas. A Fátima já fui imensas vezes, de carro, e reconheço que, para além das dúvidas dos céticos, o santuário e Nossa Senhora, que lá se venera, atraem anualmente milhões de pessoas, E como li e já senti, realmente ali respira-se um ar diferente, com a harmonia e a serenidade a aproximarem peregrinos ou simples visitantes. Até parece que o céu envolve aquele recanto do nosso país. À sombra da Virgem Maria, comungamos a paz interior e ganhamos forças para enfrentar o quotidiano de tantas agruras, mas ainda de tantas alegrias.
Peregrinar faz parte da vida de cada um de nós, física ou espiritualmente. Emocionamo-nos quando atingimos a meta, sentimo-nos realizados quando chegamos ao destino e apostamos em mais desafios pelo prazer de nos superarmos. E tanto peregrinamos a pé como de carro, de avião ou de bicicleta, de moto ou de barco, porque o que importa, no fundo, é descobrir novas terras, novas gentes, novos caminhos, que poderão ser de âmbito espiritual, religioso, cultural, desportivo, artístico e social. 
Quando converso com peregrinos, percebo bem a força da fé que os anima, dos anseios que cultivam. Nunca encontrei desânimos e juras de jamais repetirem a experiência. Bom testemunho para muitos de nós. 

Fernando Martins

Nota: Sobre a alimentação dos peregrinos,  ler aqui

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Centro Comunitário da Gafanha do Carmo


«Se tivesse só uma oportunidade para ir ao ano de 2068, o senhor João Fernando visitaria Alcoitão. É que apesar de ser da Gafanha do Carmo, foi na freguesia do concelho de Cascais que ele, com esforço, conquistou o seu futuro. “Gostava de ir lá ver se eles continuam a ensinar as pessoas como me ensinaram a mim”, justifica, recuan­do à sua infância. “Aqui, como eu tinha uma deficiência [paralisia cerebral], não queriam deixar-me ir para a escola. Mas lá, eles perceberam que eu também era uma pessoa que tinha futuro e deram-me uma segun­da oportunidade. Ensinaram-me a dactilografar e, graças a is­so, voltei para cá e trabalhei mui­tos anos numa junta de freguesia. E sempre consegui su­pe­rar todas as barreiras que me apareceram na vida. Todas”, sublinha. Seja o que for que o futuro nos reserve, o exemplo do senhor João Fernando nunca vai deixar de ser inspirador.
Mas isso somos apenas nós a fazer o exercício de tentar adivinhar como será essa coisa do futuro. E foi isso que convidámos a fazer, também, a D. Ermelinda. Ela é que nos confidenciou que, em 2068, iria direitinha à América para visitar o neto Pedro Jorge, que criou e que não vê há 12 anos. Já a D. Maria Helena, regressaria a Angola. Ao país onde viveu 21 anos da sua vida, no qual viu os filhos nascer, e que é uma terra pela qual tem “uma admiração muito grande”. “Tenho e terei até morrer”, assegura. Mais perto, ficaria o senhor Lino. “Lino de Aveiro”, aliás. Homem que traz colado à identidade a terra que sempre foi sua e na qual é “muito famoso”. Por isso, em 2068, seria pelo Rossio e pela Praça do Peixe que voltaria a passear-se. 
O desafio para que os quatro utentes do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo (CCGC) dessem um salto a 2068 foi proposto pelo Diário de Aveiro, mas a ideia está longe de ser original. Afinal, é isso que os responsáveis por aquela casa vão fazer, no sábado, pelo terceiro ano consecutivo. O “Futuridade 2068 – Desperta o teu horizonte” vai decorrer na Casa da Cultura de Ílhavo (CCI), a partir das 9 horas, contando com a participação de 12 oradores (ver caixa) das mais variadas áreas, que vão, também eles, ser desafiados a perspectivar como será o mundo daqui a 50 anos.»


Notas:
1 - Todo o texto pode ser lido no Diário de Aveiro em papel;
2 - A foto é do mesmo diário. 

terça-feira, 8 de maio de 2018

“Tributo a Capitães de Ílhavo”

Um livro de Ana Maria Lopes 

Ana Maria Lopes, em agosto, na apresentação do seu livro



Li “Tributo a Capitães de Ílhavo”, com gosto e curiosidade, um livro de Ana Maria Lopes, editado quase há um ano, com prefácio de Álvaro Garrido, professor da universidade de Coimbra e Consultor do Museu Marítimo. Contou com o apoio da Câmara Municipal de Ílhavo, do Museu Marítimo e, naturalmente, da Associação dos Amigos do Museu, de que a autora é membro qualificado pela sua entrega às questões do mar e da ria, de que é profunda conhecedora. 
No Prefácio, Álvaro Garrido sintetiza o essencial do trabalho de Ana Maria Lopes, sublinhando: «Aqui se reúnem trinta breves biografias de Capitães ilhavenses já desaparecidos, conjugando palavras certas e belíssimas imagens, muitas delas inéditas porque residiam algures em silêncio. As biografias privilegiam o currículo marítimo dos oficiais e as principais peripécias dos navios que governaram. Homens houve que naufragaram três vezes. Muitos já eram filhos e netos de oficiais da Marinha Mercante. A esses detalhes narrativos, fios de água que levam ao mar, aditou-lhes a autora preciosas notas humanas, traços de vida e testemunhos de família que não deixarão de interpelar outras memórias quando estas páginas forem dissecadas emotivamente.» 
“Tributo a Capitães de Ílhavo” apresenta-se com 178 páginas, a maioria com fotos a preto e branco, que na altura dos registos ainda estaria longe a fotografia a cores, dos biografados e dos navios que comandaram, o que enriquece sobremaneira o seu trabalho, que contou com testemunhos de familiares e amigos. 
Ana Maria Lopes relata alegrias e tristezas, sucessos e naufrágios, festas e momentos de descanso, a dureza da vida no mar, usando o linguajar técnico e as expressões populares. Navios e seus apetrechos, o dia a dia a bordo, a ameaça dos medonhos icebergs, as empresas e os registos oficiais dos biografados dão-nos uma panorâmica histórica e humana dos capitães ilhavense já falecidos, muitos dos quais fizeram história na pesca do "fiel amigo".
Para ajudar o leitor, que nem todos estarão por dentro dos termos técnicos, a autora oferece um Glossário sucinto, que necessita mesmo de ser consultado, para se compreender cabalmente o que se lê. E na Bibliografia, estão indicados os livros, revistas, jornais, o Arquivo Marítimo do CieMar-Ílhavo e alguns blogs, com destaque para o seu "Marintimidades". 
Nos agradecimentos, Ana Maria Lopes sublinha, entre outros colaboradores, Etelvina Almeida e Paulo Miguel Godinho, seu filho, que procederam ao tratamento e limpeza de quase duas centenas de imagens. 

Fernando Martins

Pontes



Em terras de ria, com canais e mais canais, ora estreitos ora mais largos, uns de águas serenas e outros de águas mais agitadas, as pontes brotam como fundamentais à vida das comunidades. Esta não é para pessoas passarem a pé, de bicicleta, carros ou camiões, não aproxima povoações nem se destina a gente que vive o dia a dia com necessidade de estabelecer contactos, mas liga o Porto de Aveiro ao mundo ferroviário.

Base de amizades

«Em política, a comunhão de ódios 
é quase sempre a base de amizades»

Alexis Tocqueville (1805-1859), historiador e escritor 

Li no Público de sábado 

Sede alegres na esperança

Rumo ao Congresso Eucarístico


“A morada natural da esperança é um «corpo» solidário, no caso da esperança cristã este corpo é a Igreja, enquanto o sopro vital, a alma desta esperança é o Espírito Santo. Sem o Espírito Santo não se pode ter esperança”

Papa  Francisco 

“Sede alegres na esperança”, recomenda S. Paulo aos cristãos de Roma perseguidos pelo poder político e necessitados de reforçar as relações dentro e fora da comunidade. E acrescenta outras de grande valor para dar testemunho da fé operativa.
Que alegria terão sentido os discípulos de Emaús ao encontrarem a comunidade de Jerusalém em assembleia! E que comoção ao verem confirmada a novidade surpreendente do fazer caminho e estar à mesa com Jesus ressuscitado! E ao poderem partilhar a experiência por eles vivida: “Contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus quando Ele partiu o pão”. Que conforto recíproco terão saboreado!
Agora, um novo laço os une. Além do sangue familiar, entre alguns, da memória agradecida de uma história comum nos caminhos da Galileia e noutras terras, da amizade alimentada em convívios e conversas, surge o facto novo que a todos entusiasma: O de serem constituídos testemunhas de Jesus ressuscitado, de beneficiarem da graça da sua aparição, de receberem o encargo do seu anúncio até aos confins da terra, a começar por Jerusalém (Lc 24, 40). E de contarem sempre com o Espírito Santo, o prometido por Deus Pai: “Por isso, esperai na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”.
Que conforto psicológico e espiritual lhes terá advindo deste regresso à cidade, testemunha do processo iníquo, onde tem de recomeçar a nova etapa da evangelização. Em Igreja, claro! Etapa que prossegue ao longo da história. Etapa em curso na busca de novos rostos e novas ousadias, novos métodos e novas atitudes. Etapa que brota da Eucaristia celebração para chegar à Eucaristia missão. 
O Papa Francisco lembra que: “A morada natural da esperança é um «corpo» solidário, no caso da esperança cristã este corpo é a Igreja, enquanto o sopro vital, a alma desta esperança é o Espírito Santo. Sem o Espírito Santo não se pode ter esperança”.

Georgino Rocha

domingo, 6 de maio de 2018

Artes no Canal - 2

Banca da Batita

A Lita também quis ver a mulher-estátua a mexer-se 

Criança a desfiar a mulher-estátua 

João Tiago 
Volto, como prometido, ao projeto “Artes no Canal” que visitei ontem, sábado, com dia luminoso e convidativo para uma saída. No meu caso, para retemperar ânimo, um pouco em baixo. Sair de casa ajuda a espairecer. 
Para além das bancas de vendas, onde se mistura o artesanato com outros produtos, acabamos por perceber que há rostos habituais com artigos habituais, nem sempre a condizer. A exposição-venda de uma artesã gafanhoa, a Batita, lá estava, com sua mãe a substitui-la, como tem acontecido noutras alturas. Dispensando-me de deixar o registo de tantos trabalhos exibidos, tive pena de não detetar mais ninguém das Gafanhas, mas seria natural e expetável que lá estivessem. Se errei, alertem-me. 
Motivo de atração para todos quantos passavam, com destaque para a pequenada, foi a mulher-estátua, na sua postura rígida, só alterada quando alguma moeda caía na caixinha à sua frente. As crianças, o melhor do mundo segundo Pessoa, passavam do espanto à admiração, com desafios, olhares, aproximações e palmas que não alteravam o rigor da postura. E então, quando tilintavam as modas na caixa, lá se mexia a mulher-estátua, serenamente, para gáudio dos mais pequenos e de alguns mais maduros. 
Também apreciei jovens que integram ASK – Aveiro Sketchers, um grupo que desconhecia e que abordarei amanhã. O seu projeto, cujo nome indica a naturalidade estrangeira, cultiva o desenho que posteriormente partilha nas redes sociais. Cinco jovens “retrataram” com arte o ambiente da Praça Dr. Joaquim de Melo Freitas.
Visita que recomendo em próximas edições.