sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Palmeira do Zé da Branca

Um símbolo que desaparece





Um símbolo, um ícone, um marco da nossa Terra “tombou”.   A velha palmeira do Zé da Branca, com 126 anos, sucumbiu à praga do Escaravelho da Palmeira e ao corte cirúrgico duma motosserra. Durante mais de um século a marcar um Lugar, a Cambeia, que toda a gente designava como o Sítio da Palmeira.
Abrigou muitos  Reis Magnos que, em Janeiro de cada ano, aí se encontravam, para planearem a viagem à descoberta do Menino.E quantos de nós, aproveitando a sua sombra benfazeja, desfiávamos os sonhos de meninos…
Pois um insecto conseguiu murchá-la, destruí-la… e uma serra, no dia 13 de Setembro de 2017, desceu-a do pedestal, ficando reduzida a um pequeno tronco seco, mirrado, que apenas nos recorda, com saudade, a Palmeira do Zé da Branca.

HRocha

Anselmo Borges — Livros das férias (2)




Continuo com reflexões a partir do livro de Celso Alcaína Roma Veduta. Monseñor Se Desnuda, ele próprio reflectindo sobre a Igreja e o seu futuro, a partir dos oito anos passados na Cúria, concretamente na Congregação para a Doutrina da Fé.

1. O Concílio Vaticano II constituiu uma viragem e uma enorme esperança para a Igreja e para o mundo. Foi na sua sequência que, por exemplo, em 1966 acabou o Index Librorum Prohibitorum (o catálogo dos livros proibidos). Em 1967, foi criada a Comissão Teológica Internacional, que teria temas múltiplos para estudar, como: "O valor e oportunidade do dogmatismo, o primado e magistério (incluída a infalibilidade) do bispo de Roma, a colegialidade episcopal, a relação permanente entre razão e fé, o evolucionismo, a divindade de Jesus, a fundação da Igreja como sociedade hierárquica permanente, a revisão e formulação dos dogmas com especial incidência nos marianos, o valor e a interpretação da Bíblia, o valor da tradição, a transubstanciação eucarística, o sacramento da penitência, a indissolubilidade do matrimónio, o pecado original, o pluralismo teológico, o papel do laicado, o celibato obrigatório." Mas "a Cúria atemorizou-se e essas propostas caíram em saco roto". Com João Paulo II, fez-se marcha atrás, voltou-se ao centralismo romano e as condenações de teólogos contam-se às dezenas.

Na impossibilidade de reflectir sobre todas essas problemáticas, volto à questão do celibato. A sua obrigatoriedade só muito lentamente se impôs. Durante o primeiro milénio houve inclusivamente papas casados. Foi o papa Gregório VII, no século XI, que impôs ao mesmo tempo essa obrigatoriedade e o centralismo papal. Mesmo assim, foi só no Concílio de Trento, no século XVI, que foi ratificado com carácter universal, isto é, obrigatório para todos os padres, no Ocidente. Mas, de facto, com a tolerância de muitos bispos. Como ficou dito, Paulo VI empenhou-se a favor do celibato opcional, sem o conseguir. João Paulo II previu a abolição da obrigatoriedade, com estas palavras: "Sinto que acontecerá, mas que não seja eu a vê-la."

Os escândalos sucederam-se. Diz-se, por exemplo, que no Concílio de Constança (1414-1418), compareceram 700 prostitutas. Houve papas filhos de papas. "Inclusivamente depois da lei do celibato obrigatório, nos séculos XV e XVI, foram vários os papas que geraram filhos, quer já papas quer na sua condição anterior de bispos: Inocêncio III, Alexandre VI, Júlio II, Gregório XIII..." Alcaína refere que durante os seus oito anos de actividade no Vaticano foi comissário-juiz para a redução de sacerdotes ao estado laical: "Mais de mil casos passaram pelas minhas mãos", clérigos que se tinham enamorado... Há hoje mais de cem mil padres casados, que formaram família e tiveram de abandonar o sacerdócio e eu pergunto porque é que a Igreja não aproveita tantos deles, que quereriam e têm qualidades para o exercício do ministério.

Alcaína nota que os filhos de clérigos, segundo uma norma que vem da Baixa Idade Média, serão chamados sobrinhos. Neste contexto, chamo a atenção para que no passado mês de Agosto foram dadas a conhecer normas dos bispos irlandeses sobre a situação dos padres com filhos: o bem-estar da criança é primordial e a mãe deve ser respeitada, devendo o sacerdote "assumir as suas responsabilidades pessoais, legais, morais e financeiras".

2. E Francisco? O que pensa dele Alcaína?

Ao contrário de Ratzinger, Bergoglio não é "um teólogo profissional. Não tem escola teológica própria. É de esperar que não pretenda impor uma concepção enviesada do cristianismo e que fomentará o progresso teológico. Francisco transmitiu desde o princípio sinais de humildade, também doutrinal. Antepôs a acção à ideologia: o nome eloquente que escolheu, o seu respeito pelas convicções dos ouvintes, a sua simplicidade com gestos nada teatrais, a sua posição manifesta a favor de uma Igreja pobre, o seu confessado amor aos pobres, as suas alocuções nada pontificais, o seu cuidado em evitar ser chamado com títulos pomposos para lá de "bispo de Roma", o seu beijo espontâneo a uma mulher perante as câmaras, nem sapatos vermelhos nem anel em ouro nem púrpura... Tudo faz pressagiar uma primavera de esperança".

Mas o jesuíta Francisco não conseguiu reformas visíveis e fundas. Escandalizou com canonizações, algumas endogâmicas, como no caso de João Paulo II. Reconheceu milagres, que implicariam um Deus arbitrário, a favor de uns e não de outros. "Criou cardeais, em reconhecimento de um arcaico Colégio Cardinalício, historicamente desprestigiado e eclesiasticamente artificial", que impede uma eleição mais democrática do papa: não se deve esquecer que no primeiro milénio, "como no resto das Igrejas locais, era o clero (e os delegados do povo) de Roma que elegia o seu bispo" e o Papa era primus inter pares (o primeiro entre iguais). "Não subscreveu a Declaração Universal de Direitos Humanos nem outras 15 convenções da ONU na linha da mesma Declaração." Não teve força para contradizer "a misógina decisão de João Paulo II quanto ao sacerdócio feminino". Não suavizou o verticalismo centralista nas nomeações episcopais. E há outras questões essenciais para quem trabalha por uma Igreja diferente: "Jesuânica, exemplar, autêntica." Ora, dentro do âmbito das suas actuais competências, Francisco pode fazê-lo. Há aquele dito: "Potuit, voluit ergo fecit" (podia, quis e, por isso, fez). "Aparentemente, Bergoglio quer; há dúvidas se Francisco quer; legalmente, canonicamente, o Papa pode. FIAT (Faça-se)."

Aqui, digo eu: certamente, Alcaína não ignora que o Papa Francisco não pode nem quer criar cismas na Igreja. Sobretudo, há a Cúria, que ele conhece como poucos, e que, repito com o jesuíta J.I. González Faus, é responsável por mais ateus do que Marx, Nietzsche e Freud juntos.

Perdoar de todo o coração. Sempre!

Reflexão de Georgino Rocha



Dom António Francisco dos Santos, conhecido por ser o bispo da bondade, deixa-nos um belo exemplo de como ser misericordioso e reconciliador, ir ao encontro dos outros, fazer-se próximo, acolher sem condições, dar e receber o perdão. As suas ricas mensagens e, sobretudo, o seu estilo de vida, garantem que é possível viver o Evangelho a tempo inteiro no emaranhado do quotidiano, sem alarmismos nem ansiedades. A sua memória abençoada certamente vai fazer-nos ser mais atentos à Palavra de Deus que, hoje, nos convida a varrer do coração todo o rancor, como aconselha a 1.ª leitura, a ousar perdoar incondicionalmente, seguindo a viva recomendação de Jesus, a pertencer sempre ao Senhor da vida e da morte, de acordo com a afirmação de fé de São Paulo.
A vida humana está marcada pelo limite e pela relação. A convivência nem sempre é harmoniosa e pacífica. Surgem tensões e conflitos, ofensas e outras atitudes mais agressivas. Que fazer? O que é melhor para reequilibrar o que se entortou e azedou a cidadania? Retaliar? Com que medida? Recorrer ao tribunal? Em que assuntos? Pedir a amigos que sirvam de mediadores e ajudem a lançar alguma ponte a fim de sanar a ferida e reatar a harmonia perdida? E entretanto o que diz a consciência pessoal e a voz da dignidade do outro, a sabedoria dos povos e a novidade do Evangelho? Ter em conta este rico património estimula a coragem a tomar uma decisão oportuna e acertada.
Pedro, segundo a versão de Mateus, o evangelista que narra o episódio (Mt 18, 21-35) quer viver a prática do perdão como Jesus vivamente exortava. De modo justo e generoso. Entre os Judeus, a medida prevista chegava a três vezes, oscilando conforme as escolas dos rabinos mais reconhecidos. Por isso, a Pedro parecia-lhe que sete seria o máximo e esperava confirmação do Mestre. A resposta de Jesus deixa-o sem palavra. “Não te digo até sete, mas setenta vezes sete”. E, para lhe fazer ver como estamos chamados a ser misericordiosos e a perdoar, conta a parábola do rei misericordioso e do servo sem entranhas de compaixão, em que surgem outros elementos esclarecedores. E conclui, afirmando que Deus procede connosco conforme nós procedermos uns com os outros. Quer dizer, deixa nas nossas mãos a medida do perdão. E para nos lembrar desta verdade ensina-nos a rezar no Pai Nosso: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Que responsabilidade e interpelação! Sejamos dignos desta ousadia confiante!

O Papa Francisco, na sua histórica Viagem Apostólica à Colômbia, reafirma muitas vezes a importância do perdão como caminho para a paz e exorta veementemente a que todos se esforcem para construir uma sociedade justa, sem feridas sangrantes nem ódios congelados. Dirige-se especialmente aos jovens na mensagem à multidão (mais de um milhão de pessoas), na praça Bolivar em Bogotá e diz-lhes: “A vossa juventude também vos torna capazes duma coisa muito difícil na vida: perdoar. Perdoar a quem nos feriu; é digno de nota ver como não vos deixais enredar por velhas histórias, como olhais de modo estranho quando nós, adultos, repetimos histórias de divisão simplesmente porque estamos presos a rancores. Ajudais-nos neste intento de deixar para trás aquilo que nos ofendeu, ajudais-nos a olhar para a frente sem o obstáculo do ódio, porque nos fazeis ver toda a realidade que temos à nossa frente, toda a Colômbia que deseja crescer e continuar a desenvolver-se; esta Colômbia que precisa de todos e que nós, os mais velhos, devemos entregar a vós.

Por isso mesmo vós, jovens, enfrentais o enorme desafio de nos ajudar a sanar o nosso coração, de nos contagiar com a esperança juvenil que está sempre disposta a conceder aos outros uma segunda oportunidade. Os ambientes de desespero e incredulidade fazem adoecer a alma: são ambientes que não encontram saída para os problemas e boicotam aqueles que procuram encontrá-la, danificam a esperança de que toda a comunidade necessita para avançar. Que as vossas aspirações e projetos oxigenem a Colômbia e a encham de salutares utopias!”
O perdão é a convicção firme de um caminho a percorrer na humanização das relações humanas, qual seiva revigorante em que se encontra o Deus da bondade, o nosso Deus. “Posso estar verdadeiramente magoado e ofendido, mas reconheço que mais vale ultrapassar, ir «mais além» disso. É o «per» do «doar». E o padre jesuíta Vasco de Magalhães conclui: “O grande problema é pesar bem o que vale mais”.
E não há nada mais valioso do que aceitarmos percorrer os caminhos de Jesus, do seu amor incondicional, do seu perdão misericordioso, da sua doação irradiante que faz da cruz horrorosa a porta aberta para a feliz ressurreição. E tanto nos humaniza que “diviniza” a nossa relação. Demos mais um passo e aprendamos a perdoar mais e melhor.

Georgino Rocha

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

P. Pedro José: Trabalhar em equipa torna-nos mais eficazes e mais maduros



Na Eucaristia de sábado, 9 de setembro, pelas 19h, na igreja matriz, foi prestada uma singela, mas significativa homenagem, ao P. Pedro José, vigário paroquial na Gafanha da Nazaré, que está de partida para novas tarefas pastorais em terras da Bairrada. A iniciativa partiu do Conselho Económico da nossa paróquia que ofereceu ao P. Pedro um paramento e uma coleção de livros de Agustina Bessa-Luiz, com edição da Fundação Calouste  Gulbenkian. Tratou-se de um «gesto de gratidão e agradecimento», no dizer do nosso prior, P. César Fernandes, que aproveitou a oportunidade para lhe desejar votos de que seja, no novo serviço, «uma pessoa feliz». Recordou, contudo, «que todos nós procuramos a felicidade, apesar de algumas vezes dizermos que a vida tem amarguras, com objetivos não alcançados». E prometeu que todos nos lembraremos dele nas nossas orações. Informou ainda que o P. Pedro José vai paroquiar Bustos e Mamarrosa, ficando a cooperar com o Padre Francisco Melo, como vigário paroquial, em Oliveira do Bairro e Palhaça.
Manuel Sardo, em nome do Conselho Económico, afirmou que, «quando se gosta das pessoas, o tempo passa a correr», salientando que o P. Pedro «tem o dom de cativar as pessoas pela sua disponibilidade e simplicidade». Dessa forma, «fomos crescendo juntos, adquirindo uma confiança saudável, capaz de criar laços de amizade que ficarão para sempre».
No momento da despedida, o homenageado tomou como ponto de partida a mnemónica dos efes, fixando-se em três mais um: Firmeza, Fortaleza e Felicidade, mais Fidelidade. Garantiu que aprendeu connosco a Firmeza, referindo que nestas terras, que certos amigos diziam das areias, encontrou «muita gente com raízes; as nossas raízes comuns».
Por estas terras, também experimentou a Fortaleza que dura imenso, à semelhança do vidro que, se ninguém o partir, pode durar mil anos. E agradeceu os votos de felicidades que lhe endereçaram, «porque só felizes nos podemos realizar como pessoas». 
Sobre a Fidelidade, que «é difícil de explicar», frisou que, «só sendo fiéis é que experimentamos a Firmeza, a Fortaleza e a Felicidade». «É isso que eu peço nas vossas orações», disse.
Lembrou, ainda, que é bom trabalhar em equipa, porque «nos torna mais eficazes e mais maduros, humanamente», sendo fundamental «para aquilo que queremos transmitir».
O P. Pedro José foi vigário paroquial da Gafanha da Nazaré de 2010 a 2017 e pároco da Gafanha do Carmo e da Gafanha da Encarnação de 2015 a 2017. Porém, viveu sempre na Gafanha da Nazaré. 

Fernando Martins

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

IX Nautimodelismo TEAM no Jardim Oudinot


O Jardim Oudinot volta a ser palco de mais uma atividade de Nautimodelismo rádio controlado, no dia 17 de setembro, com a participação de amadores desta modalidade, oriundos  de vários pontos do concelho e do país. No local, os visitantes poderão apreciar as provas e miniaturas de barcos motorizados 
A TEAM, que também comemora o seu oitavo aniversário, apresenta uma modalidade que tem vindo a desenvolver-se na região, esperando que a população participe neste evento. Com esta atividade, espera-se que haja mais interessados em se dedicarem a esta modalidade. Nesta ação, podem ser prestadas informações sobre a forma de se envolverem no Nautimodelismo. 
O evento pode ser visitado no dia 17 de setembro, das 9 às 18h, na praia do Jardim Oudinot na Gafanha da Nazaré, e contará com diversos tipos de embarcações em miniaturas, desde veleiros, lanchas e hovercraft´s e réplicas à escala de navios bacalhoeiros.

NOTA: Informação da TEAM (Truques & Engenhocas Associação de Modelismo)

Senhora dos Navegantes — É já no fim de semana


Nossa Senhora na navio Jesus nas Oliveiras


Padre Miguel Lencastre na sua última participação na festa
É já no próximo fim de semana que se realizará a festa em honra de Nossas Senhora dos Navegantes, no Forte da Barra, com a procissão pela Ria de Aveiro, na qual se incorporam embarcações de todo o tamanho e feito. A organização é da responsabilidade do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, em sintonia com a paróquia, registando-se ainda a colaboração da APA (Administração do Porto de Aveiro), da Câmara de Ílhavo e do IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude). 
No sábado, 16, haverá, à tarde, música gravada e arraial, e à noite atuará o grupo musical PK7. Mas o grande dia dos festejos será no domingo, 17, pelas 14h, com a procissão que se inicia na igreja da Cale da Vila, seguindo para o cais n.º 3 do Porto Bacalhoeiro, de onde partirá o desfile pela laguna aveirense, com a irmandade e andores, entidades oficiais e convidados, Filarmónica Gafanhense, bem como os grupos que vão participar no Festival de Folclore, pelas 18h30, nomeadamente, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, os “Moleiros” de Rio de Moinhos — Abrantes e o Grupo Etnográfico de Alfarelos. A chegada ao Forte da Barra está prevista para as 16h30, seguindo-se a Eucaristia. No final, atuará a Filarmónica Gafanhense.

Ler apontamento histórico aqui

Pedro José — Bispo António Francisco, a Profecia da Bondade

Fundadoras da Obra da Providência com D. António Francisco
O P. Pedro José escreveu no seu blogue um texto muito oportuno e expressivo sobre D. António Francisco, que foi Bispo do Porto, de quem os aveirenses guardam gratas e reconfortantes memórias, desde que na nossa diocese foi Bispo para nós e connosco. Partilho os mesmos sentimentos, mas não resisto a recomendar a leitura do texto publicado pelo P. Pedro. Leiam por favor.



«Trouxe-nos de volta à «Casa Diocesana». A Diocese…, a Igreja…, a Reunião…, o Passeio…, a Refeição…, a Correção fraterna…, as Lágrimas…, as Viagens cansativas e desgastantes, os Horários impossíveis de conciliar, as Presenças sempre que necessário, as Distinções que não ferem a Dignidade mas a restauram; tudo era um permanente voltar à «Casa do Pai»: «sentir-se em Casa»; abrir as portas da «Casa», para que a Rua fosse um lugar de Civilização e Cidadania. Uma Casa Comum para Todos. No seu coração habitou a Bondade de Deus, agora o nosso coração ferido de Bondade é um coração mais humano e por isso, purificado e vivificado pelo Espírito Santo. Sejamos dignos e agradecidos, como insistentemente nos repetia, pela da Graça e pela Profecia, que foi o seu Ministério como Bispo, à Igreja em Portugal.»

Ler todo o texto aqui 

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Uma manhã na Praia do Areão








Hoje acordei cedo com vontade de escrever umas coisitas. Levanta-se a Lita, logo a seguir, e diz-me de pronto que temos de ir ver o mar. «Apetece-me», diz ela. E à sua vontade tudo se altera. «Vamos então à Praia do Areão», sugeri eu. E lá fomos. A Lita esqueceu-se de tomar o pequeno almoço, coisa habitual nela. E na Praia do Areão ainda tudo estava fechado. Duas caravanas com estrangeiros a respirar o ar puro e um pouco fresquinho. Mas tivemos de sair para ela comer qualquer coisa. E comemos na Barra de Mira. Eu, só para lhe fazer companhia. 
Na despedida, metemos conversa com uma senhora que gostava ou precisava de falar. E ao saber que éramos gafanhões, começa a contar histórias das misturas de gentes daquelas bandas, Mira e Vagos, com as da Gafanha da Nazaré. Familiares e amigos abundam nesta terra de Nossa Senhora da Nazaré. E desta nossa cidade, debitou admiração e espanto pelo que tem visto no «passeio dos tristes» com o marido, que é bom falador. «Se ele cá estivesse, o senhor devia gostar de o ouvir contar as suas histórias», disse ela. Prometi que um dia voltaria. 
«Um dia destes, domingo, fomos àquele jardim… coisa linda. Não conheço igual. Canais, pontes, Forte e Farol, barcos e gente a passear. Não me cansei de olhar; e o meu marido até me repreendeu, por eu ficar tão entusiasmada», garantiu. 
A Praia do Areão estava à nossa espera. Um casal de idosos, com ar de ingleses, talvez das nossas idades, estava a chegar do mar, que se mostrava com ondulação que lhe emprestava uma certa beleza. Um casal jovem desafiou longa caminhada pelos passadiços. Um barco de mar esperava a maré. Um velho barracão mantinha-se quieto sem sinais de vida há anos. E a pureza do ambiente, própria de praia virgem, sem caixotes de habitação, desafiou a Lita a passar a barreira para ilustrar a fotografia. A paz do silêncio não tem preço. 

Fernando Martins

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

D. António Francisco dos Santos — Um bispo próximo e acolhedor


Hoje de manhã, fui dolorosamente surpreendido pela notícia da partida de D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto, para o regaço maternal de Deus. Apesar da fé que nos anima e nos leva a crer que tudo será melhor no coração do Senhor da Vida, que acolhe todos os homens de boa vontade, porque «perdoa sempre; perdoa tudo!», no dizer do Papa Francisco, reconhecemos, humanamente, que a dor momentânea da separação nos deixa tristes. 
Evoquei então o dia 8 de dezembro de 2006, Festa da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal e Mãe da Igreja, que me marcou para o resto dos meus dias. No cortejo de entrada na Sé de Aveiro, para a cerimónia solene da tomada de posse de D. António Francisco dos Santos, como bispo residencial da Igreja Aveirense, sofri um enfarte. Conduzido ao hospital, ali fiquei nos cuidados intensivos. No dia seguinte, pela manhã, antes dos meus familiares chegarem, abri os olhos ainda cansados para fixar dois visitantes: D. António Francisco e D. António Marcelino. Terão sido informados da minha situação pelo meu querido amigo e capelão do Hospital, Padre João Gonçalves. No domingo seguinte, D. António Francisco celebrou a Eucaristia no Hospital para os doentes e voltou a passar pelos cuidados intensivos para saber do meu estado. Dirigiu-me palavras de estímulo, palavras que vieram de um coração bondoso, que jamais esquecerei. 
Tempos depois, visitei-o na Casa Episcopal, para lhe agradecer a gentileza do gesto e das palavras que me dirigiu no Hospital de Aveiro. Sem pressas, sem nunca olhar para o relógio, falámos, trocámos impressões sobre Aveiro e sua região. Fiquei com a certeza de que a nossa Diocese, que teve tão grandes Bispos, cada um com o seu estilo, tinha agora um Bispo muito próximo e acolhedor. 
Dias depois, soube da saudação que dirigiu à Diocese, na qual garantiu que todos teriam lugar no seu coração de Bispo. «Que ninguém se sinta sozinho, esquecido, excluído ou à margem do meu desvelo de servir, independentemente da sua condição social, convicção de fé, cor ou cultura.», disse.  E na tomada de posse adiantou: «Somos uma diocese nova, recém-restaurada. Mas o caminho percorrido é grande e belo, com etapas marcantes de dois Sínodos diocesanos a cujos dinamismos me vinculo. É meu dever assumi-los. É meu desejo continuá-los. Há vidas doadas a Deus, à Igreja e ao Seu Povo, que hoje e sempre devemos recordar, agradecer e merecer.»
Num olhar atento, percebe-se que D. António Francisco foi, essencialmente, um Bispo com uma capacidade rara para ouvir, sem pressas. Atento ao mundo e à diocese, no seu espaço de intervenção pessoal, direta e próxima, D. António Francisco privilegiou a pessoa, com todos os seus problemas e anseios, mas ainda com as suas limitações e dificuldades.
Pessoalmente, não posso deixar de registar a sua serenidade, a sua humildade no contacto com todos, a sua fé esclarecida e atuante, o seu desejo de inovar e a procura das melhores soluções para implantar e dinamizar o Reino de Deus entre nós.

Fernando Martins

D. António Francisco, Bispo do Porto, faleceu hoje

Anuncia a Agência Ecclesia que D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto, faleceu hoje aos 69 anos.
O prelado foi nomeado para esta missão em fevereiro de 2014, sucedendo a D. Manuel Clemente.
D. António Francisco dos Santos foi ainda bispo de Aveiro e auxiliar de Braga, tendo sido ordenado bispo em março de 2005, na Sé de Lamego.
O falecido bispo era natural de Tendais, no Concelho de Cinfães (Diocese de Lamego).

Notícia em atualização na Ecclesia

NOTA: Texto e foto da Agência Ecclesia.

Marina da Gafanha da Nazaré aposta na modernização das instalações


A Direcção da Associação Náutica e Recreativa da Gafanha da Nazaré (ANRGN) continua a apostar na modernização das suas instalações. Agora apostou no tratamento do pontão e dos fingers com óleo de teca, que vai prolongar a sua vida útil. A obra foi realizada por uma equipa de elementos da direcção, coordenada pelo Lucílio Marçalo. Outro dos melhoramentos foi a limpeza dos terrenos entre a Marina e a linha do comboio, com a total colaboração da Administração do Porto de Aveiro, correspondendo ao nosso pedido. Esta zona será o futuro aparcamento de atrelados, quando os barcos estão na água. Humberto Rocha

Presidente da ANRGN

domingo, 10 de setembro de 2017

A nossa Ponte


A ponte que nos liga às nossas praias é sempre um desafio para mim. Desde sempre. Habituado que estava à velha ponde de madeira, que dava passagem para as praias e outras paragens, a chegada da nova ponte, esperada há muito, tornou tudo mais fácil, beneficiando, e de que maneira, quem circula por estas bandas. Hoje, porém, refiro-me à paisagem que inclui o canal de Mira e tudo quanto a envolve. Quando a contemplo, de perto ou de mais longe, não resisto e cá fica mais um registo para mais tarde recordar, onde quer que estejamos.
Em época de veraneio, a nossa ponte fica ainda mais bela pelo colorido e agitação que ostenta, refletindo-se nas águas lagunares a vida animada que ela promove e desafia. E o senão do trânsito engarrafado pode ter os dias contados, se por diante for o projeto da passagem desnivelada programada.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Anselmo Borges — Livro das férias


Anselmo Borges

1 Não é meu hábito recomendar listas de livros para férias, pois não tenho apetência para condicionar gostos, sobretudo nessa época. Mas tenho a convicção sem hesitações de que é essencial ler livros. Como me dizia em pequenino a minha mãe, "quem quer saber, andar e ler" livros. Porque é que considero tão importante ler livros? Porque um bom livro tem uma estrutura fundamental: uma introdução que anuncia as questões a tratar, o tratamento dessas questões, argumentando, e uma conclusão. E é preciso dialogar com ele, ir, voltar, ler outra vez, concordar, discordar, sempre com razões... E, como dizia Platão no que aos seus diálogos se refere, inicia-se com reticências, porque nunca se começa no zero, no nada, já que há sempre pressupostos, e termina-se com reticências, já que nada está definitivamente acabado, será preciso retomar o diálogo: "Havemos de continuar..."
Hoje não se lê? Lê e muito. Mas não livros. O que se lê e escreve tem a ver sobretudo com comentários, comentários de comentários, tudo muito fragmentado e no quadro do "achismo" (quase toda a gente acha que... sobre tudo, mesmo desconhecendo completamente a matéria; quase todos se pronunciam sobre tudo, mesmo sem a mínima ideia da complexidade das questões). Com as novas tecnologias, a ignorância pode triunfar, pois, como advertiu Umberto Eco, as redes sociais dão voz a uma "legião de imbecis".

2 Um dos meus livros para uns breves dias de férias foi, de Celso Alcaína, Roma Veduta. Monseñor Se Desnuda. Está-se a ver, subentendido, o velho dito: "Roma veduta, fede perduta" (quem vai e vê Roma perde a fé).
Após a ordenação sacerdotal e grande currículo académico, com doutoramentos em Teologia e Estudos Bíblicos, Alcaína passou oito anos (1967-1975) a trabalhar na Congregação para a Doutrina da Fé. O papa era então Paulo VI. O livro, com os seus contactos, o que viu e ouviu, são as suas impressões críticas desses anos. Ficam aí apenas algumas pinceladas da minha leitura.

Georgino Rocha — DAR O PRIMEIRO PASSO E PERDOAR


Georgino Rocha

A viagem do Papa Francisco à Colômbia que termina, hoje, tem como lema: “ Demos o primeiro passo”, lema em grande consonância com a mensagem do Evangelho proclamado na liturgia. A sintonia provém de ambas terem como “pano de fundo” tensões e conflitos que ferem a relação básica na convivência dos cidadãos e no seio da comunidade eclesial. Na Colômbia, uma guerra sem quartel dizimou milhares e milhares de pessoas, fez vítimas sem conta, arruinou laços familiares, queimou bens de primeira necessidade, ia destruindo a “alma” da nação que, a custo, se vem a erguer e a afirmar. E finalmente pode ver assinados os acordos de paz.
Na comunida cristã, a guerrilha tem outros matizes, mas regista sempre a negação da união comum em aspectos fundamentais e, consequentemente, da comunhão que nos irmana, e reflecte, ainda que de forma limitada, a verdade de Deus transmitida por Jesus Cristo. São Paulo apresenta listas de atitudes que ferem a dignidade humana e desvirtuam a beleza do Evangelho. Hoje, destaca o adultério, a morte por assassínio, o furto e a cobiça. E recomenda que seja apenas o amor a única dívida de uns para com os outros. Nós podíamos acrescrentar a corrupção, a ganância, a exploração de migrantes e de trabalhdores, a violência física e mental e muitos mais e afirmar que sem honestidade comprovada e confiança garantida nem a humanidade brilha nem a comunidade cristã se afirma.  

Na sociedade há turbulência e crispação a mais: barulhenta e em surdina, no espaço familiar e nas antenas dos meios de comunicação, em tempos de propaganda eleitoral e de gestão diária dos assuntos públicos. Exemplos típicos surgem no desporto violento, nos comportamentos de certos condutores na estrada, na publicidade agressiva, no controle dos centros de influência e nas tentativas de imposição do pensamento único (gender), em mensagens xenófobas e racistas que intimidam e lançam pânico. A sanidade ética das consciências precisa de uma desintoxicação mental que permita refazer relações “feridas”, reganhar a confiança e criar o respeito para com as diferenças sempre enriquecedoras, desde que convirjam na harmonia do conjunto social, no bem da comunidade eclesial.

A Igreja, qual sentinela vigilante como Jeremias de que fala a primeira leitura, quer oferecer a sua ajuda e apresenta a recomendação de Jesus narrada por Mateus (18, 15-20)  em três afirmações de acção sanadora. Tendo como seiva revigorante o amor, surge o perdão dado e recebido como meio de refazer a relação quebrada. O ponto de partida para o processo do perdão é a liberdade de quem deseja alcançar o bem maior.
Peregrino deste bem, o ofendido parte para a missão a realizar. Pede a bênção de Deus, escolhe o melhor momento, pensa no que será oportuno dizer e vai ter com quem lhe fez a ofensa. Acolhe a reacção e entra em diálogo. Se chegarem a acordo, manifestam a presença de Jesus Cristo, que, de modo discreto e estimulante, acompanha os esforços de reconciliação. Este primeiro passo abre horizontes novos a tantas encruzilhadas atadas por nós que parecem cegos. E pode visualizar-se em ver no outro um irmão, persistir no diálogo, aguardar a resposta, cultivar a liberdade na relação, amar sempre a pessoa, ainda que dominada pelo ciúme e ressentimento.
“O ambiente de crispação que, às vezes, domina as relações sociais deve-se à nossa incapacidade de reconhecer a dignidade do outro e a nossa relação fraterna com ele”, afirma Serna Cruz, na revista Homilética2017/5, p. 553, que acrescenta: “ Queiramos ou não, somos irmãos e só a partir desta identidade comum, podemos ajudar-nos”.

Em caso de recusa da oferta de perdão, o ofendido não desarma, pois o amor é inventivo. Discerne o que lhe parece mais acertado, escolhe pessoas experientes na mediação e retoma o caminho. Sabe o alcance da intervenção das testemunhas, pois a praxe judaica prescreve a sua presença para a questão ficar dirimida. Isto é, alcança dimensão pública. Ousa e, se bem sucedido, o irmão ofensor é reintegrado na comunidade e a alegria de todos torna-se exuberante. Quanta sabedoria, própria de quem aprecia os dons do Espírito Santo, está presente no processo curativo de feridas e de recuperação dos laços de comunhão.
   
Há um outro passo, o recurso à assembleia eclesial e aos seus responsáveis, para que, juntos, possam pedir ao Senhor a luz necessária para tomar a decisão correcta. Esgotados todos os meios, a comunidade vê-se forçada a reconhecer a obstinação do “pecador” que persistentemente se mantém afastado. Mas esta não desiste. Reconhece o facto e continua a amar quem o provoca; por isso, o recomenda ao Senhor na sua oração, “espreita” uma oportunidade para reatar o diálogo e aguarda a hora feliz do reencontro.

Que vai fazer à Colômbia, santo Padre?”, pergunta o jornalista na altura em que o Papa Francisco anunciou a viagem. “Vou rezar com os meus irmãos para que a paz seja reforçada com a reconciliação vivida”. A força da oração é âncora firme da fé da Igreja reafirmada com o seu testemunho. Obrigado, santo Padre!

Que delicadeza reveste cada passo do processo de reconciliação confiado a cada pessoa que ama o bem do outro. Faz parte da nossa humanidade e visa recuperar a dignidade “beliscada”. Faz parte dos membros da comunidade cristã fiéis aos ensinamentos de Jesus e reconhecidos pela fé que reforça os laços comuns e ilumina o seu “papel” reconciliador. A função da autoridade tem alicerces noutras passagens do Evangelho. Agora é a nossa vez. Decide-te e demos o primeiro passo.

Georgino Rocha

terça-feira, 5 de setembro de 2017

SCHOENSTATT — Padre Carlos Alberto está de partida para o Brasil



Santuário de Schoenstatt - Gafanha da Nazaré


O Padre Carlos Alberto Pereira de Sousa, mais conhecido apenas por Padre Carlos Alberto, foi ordenado presbítero por D. António Marcelino em 29 de junho de 1996, na igreja matriz da Gafanha da Nazaré, ficando ligado ao Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt, movimento a que pertence, como sempre pertenceu, desde a sua juventude.
A notícia da sua partida para o Brasil, concretamente para o Santuário de Recife-Olinda, da diocese do mesmo nome, que teve um bispo carismático, D. Hélder Câmara, chegou-nos há dias. A sua partida está para breve, mas o Padre Carlos Alberto sabe que as mudanças são sempre desafios de renascimento espiritual e de novos projetos de ação pastoral, num ambiente schoenstattiano que o levou a aceitar o sacerdócio há 21 anos. 
Nascido em Rocas do Vouga, Sever do Vouga, em 1960, cedo se radicou com a família na Gafanha da Nazaré, onde desde menino se identificou com a Igreja Católica, tendo assumido, conscientemente, ações eclesiais, mas não só.
Depois de 13 anos ao serviço do Movimento, como presbítero, no Santuário Diocesano de Schoenstatt, na Gafanha da Nazaré, o Padre Carlos Alberto vai assumir a responsabilidade pastoral daquele Santuário do nordeste brasileiro, iniciando o seu trabalho com uma comemoração marcante, as bodas de prata do Movimento naquela região do imenso Brasil. Trata-se de um Santuário bastante concorrido, que tem uma referência especial para todos os schoenstattianos, em geral, e para o Padre Carlos Alberto, em particular, já que ali foi implementado o “Terço dos Homens”, iniciativa do Padre Miguel Lencastre, que foi coadjutor e pároco da Gafanha da Nazaré. 
No próximo dia 9 de setembro, vai ter lugar na Casa José Engling, junto ao Santuário de Schoenstatt, um jantar de despedida, com inscrições limitadas. Os interessados poderão inscrever-se no referido Santuário ou no Cartório Paroquial da Gafanha da Nazaré.
Daqui desejo ao Padre Carlos Alberto os maiores êxitos pessoais e pastorais ao serviço da Igreja e do Movimento, razões da sua opção de vida em prol da Boa Nova, apostando sempre na construção de um homem novo para uma nova sociedade, alicerçada em Cristo.

Fernando Martins

REVISTA SAÚDA — Vagueira - Entre a Ria e o Mar, um paraíso


Texto de Rita Leça
Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes

«Quando chegamos somos facilmente enganados. A Gafanha da Vagueira parece, à primeira vista, mais uma simples vila de Portugal. Rapidamente compreendemos o erro. Somos guiados por José Giro, proprietário da farmácia com o mesmo nome, a viver aqui há 25 anos. É ele quem nos abre as portas da Natureza de par em par, como se a terra, o verde, a ria e o oceano fossem seus. Uma atitude típica de uma gente habituada ao trabalho árduo, seja na terra, seja no mar. 
Há quem saia para a pesca todos os dias. Duas, três, às vezes quatro vezes por dia. Encontram-se às 4h da manhã e pescam mediante a tradicional arte xávega, com os seus barcos altivos, de madeira e cores fortes, azul e vermelho principalmente. As redes puxam os cardumes, antigamente com a ajuda de bois, hoje com tractores aliados à força braçal de quem construiu sobre este trabalho a sua vida. Uma mão cheia de homens no meio do oceano, a contar com as poucas ferramentas de que dispõem, aliadas ao conhecimento milenar sobre os humores do mar e os seus indícios.»

Ler reportagem na Revista Saúda 

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Revista Saúda — Farmácia Ribau tem Mulher de Ferro


Texto de Rita Leça
Fotografias de Miguel Ribeiro Fernandes

«É conhecida pela sua exigência extrema. Junta 3,8 quilómetros de natação com 180 quilómetros de bicicleta e 42,195 quilómetros em maratona. Desde 2013, Teresa Cardoso participa nesta prova, conhecida como Ironman (“homem de ferro”, na tradução literal) e, dois anos depois, já conquistou o segundo lugar da prova na competição feminina, na Galiza, Espanha, com o tempo de 11 horas e 13 minutos. «Foi uma vitória muito importante. Fui para a Galiza com os meus pais e a minha irmã. Senti o apoio deles e isso deu-me muita força», lembra a directora-técnica da Farmácia Ribau, na Gafanha da Encarnação, perto de Aveiro. «Um ano depois, a minha mãe faleceu subitamente. Isso aumentou, ainda mais, a importância que teve para mim o facto de ela ter estado lá e ter-me visto fazer esta prova tão exigente»»

Ler mais na Revista Saúda 

Nota: Valores das nossas terras e gentes que temos de conhecer e aplaudir. Os meus parabéns.

Piódão vence grupo das Aldeias Remotas










Ontem à noite, fiquei satisfeito ao assistir à vitória de Piódão no grupo das Aldeias Remotas, num concurso promovido no âmbito das 7 Maravilhas de Portugal – Aldeias, com o objetivo de promover a identidade nacional. Gosto deste género de programas que nos permitem viajar no tempo com os pés assentes na atualidade.
Gosto, fundamentalmente, de todas as aldeias com história, preservadas no que é possível, havendo espaço para o presente. Quando as visito, aprecio o cuidado das suas gentes que se orgulham das joias que possuem e mostram a quem as visita. E tudo isso se sentiu nas manifestações de regozijo dos representantes das aldeias que participaram no concurso. 
Quando visito aldeias com identidades ancestrais, procuro os museus, se os houver, para além do museu vivo expresso no casario, monumentos, ruas e ruelas, igrejas, cruzeiros, pelourinhos e casas de pedra que resistiram ao passar dos séculos, suportando ventos agrestes, chuvas torrenciais, gelos invernais e calores infernais. Daí o prazer que senti quando fui a Piódão em 15 de julho de 2005. 
Tenho para mim que o viajante não pode fixar-se apenas na tipicidade do casario, no empedrado das ruelas e monumentos. Importa conhecer as pessoas, falando quando possível com elas, e ler o que sobre elas se escreveu com traços de realismo identitários. E em Piódão, para além do museu que visitei e onde fui autorizado a fotografar o que quisesse, comprei um livro — Dr. Vasco Campos – Obras completas — cuja leitura me ofereceu retratos belíssimos sobre as suas andanças como médico por aquelas bandas. «Vasco Campos foi o amigo que pegou na mão deste povo, ajudou-o e amparou-o em comunhão com ele. E fê-lo tocando o coração daqueles que tiveram a honra de ser por ele servidos», diz-se no Prefácio assinado por A. J. Rodrigues de Campos. 
Poesia em vários tons, relatos de um «compromisso solene de consagrar» a sua vida «ao serviço da Humanidade», na Serra do Açor e suas redondezas. Cartas, agradecimentos, recordações, estórias  e dedicações aos mais desfavorecidos e abandonados nas serranias perdidas. E aqui fica um naco de uma estória "O parto da Moleira": «Senhor doutor, nem de rastos como as cobras posso pagar o que lhe devo! E sobre todos os favores ainda quero pedir-lhe mais um: — Há-de ser o padrinho do cachopo.» E foi realmente o padrinho e sua mulher a madrinha. Referia-se Vasco Campos a um parto em que salvou uma criança de morte certa. A mãe estava em coma e o médico levou a criança  para sua casa até a parturiente recuperar.
Como curiosidade história, aponta-se o facto de Diogo Lopes Pacheco (estes apelidos ainda hoje existem na aldeia), conselheiro de D. Afonso IV e que contribuiu para o assassínio de D. Inês de Castro, se ter refugiado em Piódão. Também se diz que o célebre salteador e assassino João Brandão, que atacava de noite os povos da região, se escondia de dia em casa do pároco.
O Núcleo Museológico do Piódão é lugar de passagem obrigatória para o turista que preza a cultura.

Fernando Martins

Georgino Rocha — Aliança de amor e harmonia conjugal


“A Igreja deve ser e parecer mais séria no seu agir pastoral, sobretudo em relação ao matrimónio”, diz-me sem floreados e com ares de grande convicção um amigo que se vem dedicando a situações complexas de harmonia conjugal. Escuto-o com muita atenção porque também estou preocupado e o assunto envolve a vida de tantas pessoas, a credibilidade da mensagem cristã e a honestidade de agentes pastorais. E surgem, ora dele ora de mim, ditos do Papa Francisco, de D. António Marcelino, de párocos e de outras vozes autorizadas pela sua dedicação a promover a educação para a sexualidade no homem e na mulher, a beleza do casamento entre estes e a “desatar nós” quando o amor sonhado se dilui e desaparece.

A conversa faz desfilar a caminhada de preparação para a relação entre jovens e sua evolução para o casamento, a fase do noivado, o amadurecimento da opção pelo matrimónio alicerçada no propósito sincero de viverem a felicidade conjugal mútua. Recordei, com sentido de oportunidade, o testemunho ouvido no programa “Porque hoje é Domingo” da Radio Renascença que dizia: “Quero fazer-te feliz na medida das minhas possibilidades e das tuas necessidades”. Ficou encantado o amigo advogado, corroborando a minha percepção de que aqui estaria uma formulação acertada do propósito a viver pelo casal ao longo da sua história familiar. A viver e a alimentar. A alimentar e a transmitir.

sábado, 2 de setembro de 2017

Região de Aveiro é uma pequena Holanda



«A região de Aveiro é uma pequena Holanda em clima e luz ocidentais. Provavelmente pela extensa superfície de evaporação de centos de hectares de água salgada, toda esta região se distingue no norte do país pela luz irisada que a banha e de momento a momento muda de tom. Por vezes julgamo-nos aí transportados a uma região ideal.»

António Arroio, 
engenheiro e crítico, Porto, 1856; Lisboa, 1934

"Origens da Ria de Aveiro”, de Orlando de Oliveira

MaDonA — João Marquinhos


O Ensino Recorrente integrou a Educação de Adultos, que visava proporcionar uma segunda oportunidade de formação, conciliando os estudos com o exercício de uma atividade profissional. 
Foi nesta modalidade de ensino que conheci pessoas gradas da nossa terra. Pessoas de origem humilde, mas cujo percurso de vida as fez chegar ao topo dos seus sonhos. 
Neste âmbito, recordo um aluno, de idade já avançada, mas de espírito jovem que frequentou as minhas aulas. De seu nome João Marquinhos é uma referência na nossa terra, com a provecta idade de 83 anos, 38 como ele refere, gracejando. Oriundo de Aveiro, desde tenra idade veio para a Gafanha da Encarnação, adotando-a como sua terra natal. 
Concluiu o e ensino primário, com distinção, a menção honrosa dada aos alunos que sobressaiam no seu desempenho, numa época em que não havia, nas escolas, o Quadro de Honra e Excelência. Partilha o orgulho que sinto de ambos meus progenitores, que também concluíram a 4.ª classe com distinção. Uma façanha para a altura, em que o ensino primário não era obrigatório. Alguma coisa, por osmose, terá passado para esta humilde criatura? 
Desde muito cedo se lançou na vida de trabalho, tendo começado com apenas onze anos, na bilheteira do cais de embarque, na Costa Nova. Eram as barcas que faziam o transporte dos banhistas na Gafanha da Encarnação, ancoradouro da Bruxa, para a praia. Apesar da sua tenra idade, não foi alvo da CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens) por exploração de trabalho infantil. A ociosidade, como dizia o meu progenitor, é a mãe de todos os vícios...e o pai? Será mãe solteira, provavelmente! 
Nesse tempo eram poucos os que prosseguiam estudos e a maioria das crianças ajudava os pais nas atividades agrícolas ou da pesca. O trabalho que o menino João ia desempenhar não lhe exigia esforço físico, mas apenas mental – fazer contas, matéria em que era um ás. Dada a sua pequena estatura, precisou, certamente de um banquinho, para chegar ao guichet. 
A sua vida foi decorrendo sem sobressaltos, tendo passado pelo comércio, onde se terá iniciado nos meandros dessa atividade, até aos dezassete anos.
Nessa idade, já começava a “olhar para a sombra”, isto é a pensar nas “cachopas” e a querer catrapiscar alguma sua favorita. Com o intuito de comprar cerejas para oferecer a uma que tinha debaixo de olho, foi à festa da N.ª S.ª de Vagos, onde se deu o primeiro grande revés da sua vida. Uma derrapagem na areia, com o seu Cucciolo de estimação, levou-o às portas da morte...mas não chegou a entrar! A recuperação do coma em que esteve dois dias e a sua reabilitação física levaram o seu tempo e originaram o handicap da sua mobilidade: a locomoção com duas canadianas, imagem que sempre o acompanhou pela vida fora. Se fisicamente ficou debilitado, a sua força anímica redobrou, vindo à tona e a partir daí foi ver este homem mexer-se, a um ritmo quase vertiginoso. 
Não ficou de braços cruzados, à espera da compaixão do próximo, e fez-se à estrada da vida, cheio de energia e vontade de vencer. Já que a vida lhe dera um limão, ele haveria de fazer a sua limonada!
Assim, começou a idealizar uma profissão que se coadunasse com a sua limitação física e surgiu a ideia de ser alfaiate. Aprendeu com os melhores mestres, tendo feito uma formação em Lisboa que lhe haveria de mudar o rumo da vida. Ainda se lembra do n.º 852, na Rua da Prata. 
Iniciou-se na vida de alfaiate e depressa viu a sua clientela aumentar exponencialmente, chegando a ter dez costureiras no seu atelier. 
Como qualquer jovem que se preza, foi namoradeiro e teve os seus devaneios amorosos, como ele conta com um sorriso brejeiro “Ainda eu namorava com a Celeste, veio uma rapariga e enfeitiçou-me. Fui atrás dela até Amarante. Levava a motoreta no comboio até ao Porto...” 
Dado o seu dinamismo e uma vontade férrea de contribuir para o desenvolvimento da sua terra, hoje vila da Gafanha da Encarnação, ocupou lugares de relevo na administração local. Na autarquia, participou ativamente na Assembleia Municipal. Na Junta de Freguesia, desempenhou as funções de secretário, tesoureiro, tendo declinado o cargo de Presidente, por motivos de conciliação de agenda.
A sua paixão pelo futebol granjeou-lhe o cargo de presidente, do clube da terra, o NEGE (Novo Estrela da Gafanha da Encarnação). 
O Sr. João Marquinhos é o protótipo do self-made-man, o homem empreendedor, que não tendo ganho a meia-maratona, alcançou o podium na maratona da vida. 
Nas aulas, marcava a sua presença assídua e vestígios do seu trabalho, pousavam na sua roupa – as linhas com que costurava a vida. 
Foi um Homem que a pulso e com horizontes largos, construiu um império, um modelo de tenacidade e auto superação. Um exemplo a seguir pela juventude hodierna, que apesar dos dotes que a natureza lhe dá, anda à deriva, num desnorte confrangedor. 
O bichinho da profissão de alfaiate ainda não esmoreceu, pois criou um estaminé, adjacente ao banco, onde ainda dá uns pontos e atende a solicitação de algum cliente/amigo. 
Sempre que vou levantar dinheiro ao Totta (Quem quer dinheiro vai ao Totta!), situado no rés-do-chão do prédio onde habita, dou dois dedos de conversa ao Sr. João Marquinhos. Recebe-me sempre com um sorriso amistoso e não se cansa de elogiar a “sua professorinha” que um dia o teve, como aluno atento, na sua sala de aula. 
Que a vida lhe sorria e, quem sabe? a vila da Gafanha da Encarnação, um dia, lhe dê o tributo que merece este filantropo – um topónimo... para a posteridade. 

Mª Donzília Almeida 

29 de agosto de 2017

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Georgino Rocha — A coragem de ser cristão


Georgino Rocha

O diálogo de Jesus com Pedro, em Cesareia de Filipe, é esclarecedor e persuasivo. Manifesta um choque frontal de critérios em relação à missão a realizar. Os de poder e prestígio, típicos ainda do Antigo Testamento. E os da novidade que Jesus anuncia e que convergem no amor que leva à doação total, ao assumir a cruz da morte ignominiosa. Mas afinal, da manhã ressuscitadora, da Páscoa gloriosa.
Ser cristão discípulo exige coragem e ousadia confiante, determinação e coerência. Seguir Jesus é abraçar a sua mensagem na íntegra. Também na luta contra a corrente e na defesa da humanidade, da criação e do ambiente. A nossa fé, diz o Papa Francisco, ensina-nos uma forma de pensar, de sentir e de viver. 
Acredita, ama e dá. Esta é a batalha da vida. O mal ganha, dividindo a pessoa humana nas suas apetências e destruindo a sua harmonia interior. Deixa-a amargurada no vazio, na pobreza da esterilidade, na sensação da derrota. Mas cada um de nós pode revoltar-se contra o mal e preferir seguir caminhos de bem, de verdade que liberta e de amor que irradia. Como Jesus.
Pedro fica perplexo com o que ouve a Jesus. Contrastava tanto com o que havia experimentado. Realmente, era frustrante. Sentia-se desiludido, ele que tinha recebido tão rasgado elogio: Feliz és tu, filho de Jonas, por teres descoberto que eu sou o Messias; ele, o porta-voz, do grupo apostólico, que recebe a promessa de ser o alicerce da construção da Igreja e de ficar com as chaves da entrada no Reino; ele, que deixa o nome de família, e aceita ser chamado de modo novo – o da missão que lhe é confiada. 
Perante o contraste, o impulso do coração leva-o a agir. A simples hipótese do sofrimento anunciado e do enfrentamento, com os chefes religiosos e políticos, poder conduzir à morte de cruz, constituía um verdadeiro tormento. Espontâneo e generoso, como era, resolve aconselhar o Mestre. Toma-o à parte e contesta-o abertamente. A sós, pensava, seria mais fácil dizer-lhe tudo o que entendia ser prudente e sensato, ele que não largava a ideia de um Messias vitorioso, libertador, capaz de desarmar todos os seus inimigos e instaurar a nova ordem anunciada. À medida que fala, dá conta que o semblante de Jesus se altera. Parece que transmite irritação profunda, fúria incontida. E de facto, a resposta ouvida é tão áspera e dura que o surpreende completamente. Fica em silêncio, sabe Deus com que amargura, a “gemer” a reprimenda e a tentar ouvir as instruções que Jesus ia dando aos discípulos. E por quanto tempo estas palavras o hão-de acompanhar: Põe-te no teu sítio, não queiras desviar-me do caminho traçado, tem em conta as coisas de Deus, não sejas ocasião de escândalo, retira-te, Satanás.