domingo, 14 de fevereiro de 2016

Dia dos Namorados — 14 de fevereiro

 Todos nós, os noivos e os casados, 
namoramos realmente todos os dias


Começo com um lugar-comum: Dia dos Namorados é quando quisermos. Sendo verdade pura como a água cristalina do regato, nem por isso rejeito a celebração. É preciso comemorar este dia, na data própria, porque imensas vezes andamos distraídos com assuntos importantes, mas também com banalidades sem conta que nos desviam do essencial da vida em casal. 
O Dia dos Namorados é, por isso mesmo, um marco simbólico para reflexão e  ponto de partida para continuar na caminhada partilhada, na busca constante da harmonia, no sentido da compreensão mútua, na aceitação do outro tal qual como é, tendo no horizonte a passagem do testemunho para os nossos filhos e netos dos valores que enformam a sociedade em que nascemos e crescemos. Valores assentes na verdade, na justiça, na liberdade, na fidelidade, na alegria, na paz, na ternura e no amor.
Visto nesta perspetiva, o Dia dos Namorados não pode nem deve cair no esquecimento nem tão-pouco alimentar risos sem nexo, nem comentários acintosos, muito menos de menosprezo pela simbologia que ostenta, quantas vezes envolvido pelo afirmar que tal dia é quando nós quisermos. Afinal, todos nós, os noivos e os casados, namoramos realmente todos os dias e em cada momento do dia, mas, para além disso, a celebração e a festa, mais ou menos simples, são naturalmente uma mais-valia para enriquecimento do amor do noivado ou do casal. 
Bom Dia dos Namorados para todos…

Fernando Martins 

Tanta misericórdia já aborrece

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

 «Só uma Igreja em reforma permanente 
poderá estar livre para ver o mundo 
a partir dos excluídos»


1. À saída de uma Igreja em Braga, um senhor, que eu não conhecia, veio directo a mim, indignado: eu já não posso com tanta misericórdia! Sem suspeitar o que dali podia vir, pedi-lhe alguma para mim. Explicou-se. Como bom e velho bracarense, sou católico, desde pequeno. Aprendi a doutrina na família e na igreja, onde também casei. Tenho filhos e netos. A minha mulher educou-os bem, raramente falto à missa e pertenço a várias confrarias.
Sendo assim, disse-lhe que não precisava da misericórdia de ninguém. Sorriu e acrescentou: sei quem é e conheço as suas ideias. Quero desabafar.
O Deus de Braga – disse-me – foi sempre um Deus medonho. A maioria da população vivia com medo do inferno. Do purgatório ninguém escapava. Esse Deus vigiava, dia e noite, as nossas acções. Na confissão era preciso prometer que não voltaria a cair naqueles pecados que estavam na lista dos mais vergonhosos. O propósito de emenda era a artimanha necessária para receber a absolvição.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

A Beleza de Aveiro


 «É um dogma a beleza de Aveiro.
Não se discute, nem na qualidade,
que é da natureza do cristal,
nem na profundeza,
que é da categoria do mistério.
Nem é de discutir;
aos nossos olhos se ostenta
com uma tal evidência e tão constante
que, só mentindo às instâncias da consciência,
poderíamos negar-lhe o domínio e o afago
que em nossos sentidos e em nossa contemplação
subtilmente se insinua.»

Jaime de Magalhães Lima
Em  “O Democrata”,
29-03-1930

Citado por João Gonçalves Gaspar em “Aveiro na História”

NOTA: Pode conhecer melhor Jaime de Magalhães Lima 

Viver

Crónica de Anselmo Borges 


«No meio do rebuliço estonteante, 
é decisiva a pausa e o silêncio»

Numa recente viagem à Índia, a um dado momento, no meio daquele trânsito absurdamente caótico e ensurdecedor, quando se fecha os olhos para não ver o que parece iminente: um choque em cadeia de uma infinidade de carros, motos, motoretas, bicicletas, riquexós e quejandos, pessoas em multidão a pé, alguém perguntou: "O que é que toda esta gente anda a fazer?" Resposta pronta e sábia de um professor ilustre: "Andam a viver." É isso: a viver. O que é que andamos a fazer? Tão simples como isto: a viver. Melhor ou pior, material, espiritual e moralmente falando. Todos, a viver.
E são tantas as vezes em que se não dá por isso: o milagre que é viver! Assim, numa sociedade na qual o perigo maior é a alienação - viver no fora de si -, quando a política se tornou um espectáculo indecoroso, quando Deus foi substituído pelo Dinheiro e o mundo se tornou globalmente perigoso e ameaçador, o jesuíta Juan Masiá, que, durante trinta anos, ensinou Filosofia, um semestre em Tóquio e outro em Madrid, vem com um belo livro, precisamente com o título: Vivir. Espiritualidad en pequeñas dosis. "Deixo-me acariciar pela brisa, saboreio a experiência de estar vivo, sentir palpitar a minha vida. E penso: viver, que maravilha e que enigma! Paro em silêncio a saborear esta vivência. Estou vivo, mas a minha vida supera-me: não é só minha nem a controlo. Viver é ser vivificado pela Vida que nos faz viver." A Vida vive-te, vive na Vida!

Gerir a Liberdade com Sabedoria

Reflexão de Georgino Rocha

«Gerir a liberdade com ética, 
eis a sabedoria que vence 
toda a tentação desviante»

Seria tudo tão fácil. Pão com abundância, êxito garantido, missão cumprida. O episódio das tentações de Jesus, habilmente apresentado em diálogo por Lucãs, traz-nos uma mensagem sublime: a de ser livre nas opções de vida, a de ser fiel nas decisões tomadas, a de ser lúcido e consistente nas razões de suporte a tais atitudes.
— “Não és tu o filho de Deus”? aduz o tentador. — “Sim sou” responde Jesus. “E não estás cheio de fome?”. Há tanto tempo que não comes. —  “Sim estou”. Então mostra quem és, aproveita a tua condição de filho, liberta-te do sofrimento, transforma essas pedras em pão abundante. Come!
O projecto de Jesus tem outra dinâmica. Ser filho de Deus é viver a normalidade da existência, respeitar a natureza das coisas, sentir-se solidário com todos, sobretudo com os famintos, assumir a dureza das limitações como desafio a superar e a buscar novas realidades contidas na palavra de Deus.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Tranquilidade


1. Depois de uma semana algo agitada e com emoções fortes, resolvi descontrair. Numa volta pelas nuvens, correndo imagens como em filme mudo, contemplei esta foto de tranquilidade absoluta. Águas serenas da nossa laguna, ausência de vento e nada que mexesse. O homem que ao leme está dá-se por satisfeito naquele dia de verão, ali para as bandas da Torreira. Era fim de semana e a vida dá-nos  tempo para tudo. 

2. Hoje participei no funeral de um amigo de longa data, o Josué Ribau. Chuva miudinha e atrevida com amigos que nestas horas nunca faltam. Recordações em catadupa, esforços contínuos para trazer à memória os nomes de todos, Nem sempre com êxito. As conversas, contudo, não paravam. E chegou o momento da despedida do amigo que nos deixou, Silêncio completo durante as derradeiras orações. Mas o amigo que fisicamente partiu vai ficar connosco, num lugar reservado das gavetas das nossas boas recordações. 

“Praia da Costa Nova” deixa júri “impressionado”


«O alemão Karl Murr, presidente do júri dos prémios “Luigi Micheletti”, esteve ontem em Aveiro, onde visitou a lancha “Praia da Costa Nova”, que se candidatou àquele galardão internacional, de forma a ver reconhecido o seu valor histórico e patrimonial. A ideia de Gustavo Moreira Barros -empreendedor que em 2011 adquiriu a lancha, recuperou-a fez dela mais um ponto de interesse turístico da Ria - passa por promover o projecto de ter “um museu a navegar”. “Estes prémios pretendem reconhecer algo que foi património industrial e que foi reaproveitado para criar algo novo”, explica o aveirense à margem da visita que, ontem, uma comitiva encabeçada por Karl Murr realizou à “Praia da Costa Nova”. Além da apresentação da lancha e daquilo que já foi feito para a tornar operacional, Gustavo Moreira Barros recordou algumas das tradições aveirenses e a ligação secular entre a toda a região e a Ria.»

Texto e foto do  Diário de Aveiro

Como é que chegámos aqui?

«Como é que, algures pelo caminho dos últimos anos, perdemos a independência?
Como é que permitimos, todos, povo e governantes, o que se está a passar?
E não me venham com a dívida. A dívida ajuda e muito, mas não é a questão central. A questão central é que ao abdicarmos de soberania, abdicamos também de democracia.
E estamos agora governados por uma burocracia anónima, sem legitimidade eleitoral, que responde aos seus donos e nós não somos donos de nada. Nem sequer de nós próprios.»

José Pacheco Pereira, 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Teoria de Albert Einstein provocou euforia científica

100 anos depois da Albert Einstein 
ter formulado a Teoria da Relatividade Geral, 
foi possível detetar as ondas gravitacionais



«100 anos depois de Albert Einstein ter formulado a sua Teoria da Relatividade Geral, foi finalmente possível detectar as ondas gravitacionais cuja existência estava prevista nas suas fórmulas. E isso foi possível porque ouvimos o som de buracos negros a colidirem.»
(...)
«Mas se por aqui ficamos a saber o que se passou hoje, é importante começarmos por compreender o que são ondas gravitacionais e qual a sua importância, e, também, olharmos para trás, mais exactamente para 25 de Novembro de 1915, o dia em que, falando na Academia Prussiana de Ciências, em Berlim, Einstein apresentou pela primeira vez a sua Teoria da Relatividade Geral, introduzindo o misterioso conceito da curvatura espaço-tempo.»

Ler no Observador 

Márcio Walter à procura das suas raízes entre nós

Os Carolas podem dar uma ajuda 

´Márcio comigo na Costa Nova
Não é todos os dias que se conhece um jovem que vem de S. Salvador, Brasil, para descobrir as suas raízes portuguesas, aqui no Concelho de Ílhavo e lá para as bandas de Coimbra. Um dos seus apelidos, Carola, que presentemente não usa, que as leis e os usos vão variando conforme os tempos, está em muita gente da região de Ílhavo.
Márcio Walter não me contactou por acaso. Nas suas buscas pela Net, encalhou nos meus blogues, Pela Positiva e Galafanha, onde apreciou uma referência a um dos seus antepassados, Maestro da então Filarmónica Ilhavense (Música Velha), agora denominada de Filarmónica Gafanhense. 
Tanto bastou para estabelecermos conversa via e-mail, ampliadas posteriormente no Facebook. Com as simples e poucas dicas que eu possuía, o Márcio bateu a muitas portas dos arquivos existentes e lá foi construindo pouco a pouco a sua árvore genealógica, iniciada na sua terra natal e já bastante completa. Mas as pesquisas vão prosseguir, porque o Márcio não é pessoa para pôr de lado objetivos, por mais difíceis e complexos que eles sejam.
Andou numa roda-viva, cujos rolamentos emperravam de vez em quando. Porém, o seu entusiasmo nunca abrandou, porque o Márcio quer chegar o mais longe possível, no sentido inverso da vida. Gosto, realmente, de pessoas assim. 
Com o peso da minha idade não pude acompanhá-lo como desejaria. O seu ritmo é intenso e eu preciso de alguma serenidade e para viver e trabalhar. Mas não deixei de o levar a saborear as enguias fritas a um restaurante da Costa Nova, povoação que ele apreciou sobremaneira pela tipicidade das suas casas e pela amplitude das águas tranquilas da nossa laguna. Mas ainda pudemos visitar o célebre palheiro de José Estêvão, onde seu filho Luís de Magalhães teve a gentileza e o prazer de receber o grande escritor Eça de Queirós, tão apreciado entre os nossos irmãos brasileiros. 
Formulo votos dos maiores êxitos ao brasileiro amigo Márcio Walter, quer pessoais, profissionais e sociais, quer literários (é contista) e de investigação.
Até sempre.

Fernando Martins 

NOTAS: 

1. Se alguma pessoa de apelido Carola desejar contactar com ele, pode remeter-me o contacto. 
2. Curiosamente, diversos brasileiros me contactaram, graças a apelidos e nomes registados nos meus espaços do ciberespaço.

Não fechemos a porta à misericórdia

Da Mensagem do Bispo de Aveiro 
para a Quaresma de 2016


«Se quisermos descobrir algumas das características de como é o Deus de que Jesus nos fala, é fundamental meditarmos nas parábolas sobre a misericórdia (cf. Lc 15). Nos três casos, é Deus – o pastor, a mulher, o pai – quem toma a iniciativa de ir ao encontro. Uma diferença importante se manifesta: perante a falta de responsabilidade da ovelha e da moeda, no filho aparece o exercício da liberdade. O pai respeita as decisões do filho – o que supõe estar com o coração a sangrar à espera que ele regresse. O pai, que o espera, acolhe-o e abraça-o, mas a sua magnanimidade contrasta com o coração do filho mais velho, que, vivendo sempre dentro da mais estrita legalidade, não é capaz de se alegrar com o regresso do irmão, nem aceita o amor do pai que o acolheu. O pai, identificado com Jesus, supera as leis, move-se na compaixão, no amor – atitude que deveria ser a de todos nós.»

Ler mensagem aqui 

Faleceu o Josué Ribau Teixeira

A sua memória ficará sempre connosco 

Josué fala da sua coleção
Acabo de receber a triste notícia do falecimento no IPO de Coimbra do Josué Ribau, depois de tenaz e corajosa luta contra doença que não se deixa vencer. A notícia veio do filho Bruno e trazia a informação de que seu pai «sempre esteve lúcido até ao final e disponível para os seus instrumentos e familiares». 
Conheço o Josué desde sempre. Era ele o pequeno, filho mais novo de Madalena Ribau e Manuel Teixeira, que brincava na eira um pouco indiferente às músicas que os irmãos mais velhos (Manuel, Ângelo, Plínio e Diamantino) com os amigos executavam na casa do avô, Manuel Ribau Novo (principal responsável pela nossa primitiva igreja matriz), na altura já falecido. 
O Josué cresceu, estudou, valorizou-se, foi professor de Educação Física, casou com a Zinha, foi pai de um rapaz, o Bruno, e de uma menina, a Madalena, pautando a sua vida pelo trabalho, pela dedicação à família, enquanto criou amizades. Cultivou sempre o respeito por todos, mantendo continuamente um espírito sereno. Nunca lhe conheci conflitos e gostava de conversar com ele. 
Um dia soube que se tinha apaixonado pela música e pela coleção de instrumentos de cordas. É certo que estranhei estes novos gostos. Um pouco incrédulo, resolvi visitá-lo para ver com os meus próprios olhos como é que ele, o menino e rapaz, que nunca mostrara interesse pelo fascinante mundo da música, mudou tão rapidamente e com tanta vontade.
Na altura, confessou-me que foi fumador durante 40 anos, mas que resolvera cortar radicalmente com o tabaco, canalizando todo o dinheiro então poupado para a aquisição dos instrumentos que constituem a sua coleção. E garantiu-me que vai continuar a investir neste seu prazer, jamais admitindo a ideia de vender o que coleciona, restaura e constrói de raiz.
Durante a conversa, sem nunca mostrar cansaço, foi-me revelando conhecimentos musicais que eu estava longe de imaginar. Procurava literatura que o elucidasse, quer na arte de restauro e construção, quer na área da teoria musical. E sobre a sua coleção de instrumentos contava-me o historial de cada um: país de origem, materiais usados, técnicas utilizadas, diferenças relativas a épocas e a regiões, entre outros pormenores. 
A vida é assim. Nascimento, trabalhos, lutas, alegrias e algumas tristezas, paixões, vitórias, sonhos e a morte no final da caminhada terrena. Que Deus o receba no seu coração maternal. A sua memória, porém, ficará eternamente na sua família e nos seus amigos, até ao fim dos tempos.

Fernando Martins

Ler entrevista aqui 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

E depois da folia vem a Quaresma



Depois da folia própria do carnaval, com festas e diversões para todas as idades e gostos, vem a Quaresma, como desafio à nossa reflexão. Tão importante ou muito mais que o Carnaval. A vida está cheia de contrastes e disso ninguém foge. Todos temos momentos e razões para a diversão e para a interiorização. Ambas importantes, direi mesmo, fundamentais ao nosso equilíbrio. 
Quando ouço alguém desdenhar da alegria dos outros, é certo e sabido que vejo logo essa atitude como própria de tristonhos, macambúzios, pessimistas, maldizentes, insociáveis, bichos do mato e nem sei que mais. As pessoas felizes têm de estar abertas ao mundo, alimentando essa atitude com sentido de humor. 
Cá para mim, a Quaresma tem de afinar, e afina, certamente, os nossos espíritos para comportamentos sadios, sociáveis, de partilha generosa e de confraternização universal, em torno de Quem é Caminho, Verdade e Vida — Jesus Cristo, o nosso Redentor. 
Boa Quaresma para todos, na certeza da ressurreição de Cristo, razão de ser da nossa fé.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Sorrir dá saúde e prolonga a vida

Bom Carnaval para todos



Apesar das curvas a que estamos sujeitos, livres umas e forçadas outras, a vida vale sempre a pena ser vivida. E como tristezas não pagam dívidas nem afugentam desgraças, precisamos realmente de folgar. Com ou sem máscaras, que eu prefiro andar de cara ao léu para olhar, olhos nos olhos, quem me cerca ou com quem me cruzo. Nada tenho a esconder, mas também compreendo e gosto de ver a capacidade criativa, a crítica sábia e oportuna, o gosto pela fantasia, o jeito para a brincadeira e o sentido de humor. Bom Carnaval para todos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A nossa gente — Delmar Conde

Delmar Conde no seu estaleiro
Neste mês de fevereiro, em que o Fórum Náutico do Município de Ílhavo promove o 2.º Congresso Náutico – Embarque para o conhecimento (no dia 27, no Museu Marítimo de Ílhavo), dedicamos a rubrica “a nossa gente” ao construtor naval Delmar Conde.
Nascido a 26 de outubro de 1955 na Gafanha do Carmo, Delmar Conde reside e exerce a sua atividade profissional há cerca de 30 anos na Gafanha da Encarnação, sempre norteado pela sua paixão pela água, pela Ria e pelo mar.
O gosto pela vela surgiu desde os seis anos, tendo-se iniciado numa bateira à vela, que já na altura aparelhava “à sua maneira”. 
Entre 1974 e 1986 foi emigrante na Alemanha, onde não se sentia realizado. Aos 26 anos decidiu regressar ao país, já com ideias de trabalhar naquela que é a sua paixão. 
Delmar Conde admite que, na altura, foi um grande risco começar a trabalhar na construção náutica recreativa à vela, visto que tratava-se de uma área dominada pelos barcos a motor.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Ainda a Nazaré, antes de me virar para outros lados

Santuário
Volto à Nazaré antes de me virar para outros lados. Lá em cima, no Sítio, não podemos ficar indiferentes à majestosa fachada principal do santuário dedicado a Nossa Senhora da Nazaré, padroeira dos nazarenos há tantos séculos. Ao lado, na humilde ermida, de que falei ontem, pode ser apreciada a primeira imagem, segundo a tradição. Está guardada a sete chaves por razões óbvias. 
No largo, com poucos turistas, há comerciantes, cafés, restaurantes e similares. Bugigangas também, que não falta quem goste de colecionar lembranças, por mais sem-graça que sejam. Olhar o mar, mansinho como nunca o imaginei, por pensar nas ondas gigantes, faz parte da vida turística. O mar é sempre o mar de largos horizontes e sonhos indizíveis E descemos para a baixa da cidade. O burburinho de quem se prepara para a festa do Carnaval estava no ar. 

Nazarena
Monumento aos Náufragos

No Centro Cultural, foi fácil divisar a festa que se avizinhava. À entrada, do lado de fora, dois motivos escultóricos. A Nazarena, de rosto virado ao vento, disposta a vender o peixe e a ralhar com o mar, se não fosse ele amigo e generoso com belas pescarias; e o Monumento aos Náufragos, que mexeu com a nossa sensibilidade, e de que maneira!





Sinais do Carnaval
Dentro, textos do neorrealista Alves Redol (e de outros), que tão bem soube descrever, com autenticidade e alguma poesia, que sem ela a literatura ficaria mais pobre, a canseira sofrida de tantos feridos da vida. Deu para ler e meditar, que a alegria, que o Carnaval proporciona, esconde porventura sofrimentos e desgostos, tão patentemente à vista nas viúvas carregadas de negro. Que essas, certamente, não vão em folguedos.
Numa pastelaria, onde descansámos da caminhada, dei de caras com uma recomendação pertinente, para ler e meditar. Realmente, o sorriso resolve muita coisa.



Barquinho em descanso
Barcos do mar no areal e peixe do mar da Nazaré, seco ao sol com vento, desafiavam a nossa imaginação. Peixe assim, cujo sabor desconheço, e barcos, quais cascas de nozes, enfrentando o oceano de águas paradas a refletirem o azul do céu, ou as tais ondas gigantes capazes de tudo engolirem num trago. Barcos e homens na praia da outra banda, que a do norte é perigosa,  com areal convidativo e mar tranquilo que vem saudar o povo que passeia num dia de sol de autêntico verão. 

Tirar o Evangelho da cadeia

Crónica de Frei Bento Domingues 

«Os Evangelhos não podem ser 
o arquivo morto das Igrejas

1. Com intenções diversas, dizem-se que já é tempo de me convencer de que faço parte de uma minoria religiosa em extinção. Alguns afirmam-no como um lamento: depois do desprezo laicista pelas raízes cristãs da cultura europeia, passando pelo esquecimento ecuménico do Vaticano II, podemos estar a caminhar, a passos largos, para uma Europa muçulmana de cariz revanchista. Portugal, depois de um longo interregno, estaria incluído numa explícita vingança.
Não sou nada bom em sociologia religiosa e já não tenho idade para chegar a ver o que será esse futuro. Espero que as novas gerações católicas consigam libertar a Igreja de certas formas religiosas e movimentos que a asfixiam, mas não para os trocar por algo que se pareça com a vida da maioria dos países dominados pela lei islâmica.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Um dia de chuva

O café tratado pelo MEC 
no Fugas
Miguel Esteves Cardoso


Este tempo, chuvoso e frio, propicia o prazer de estar em casa, olhando de soslaio a fogueira e sentindo o seu calor tranquilizante. E quanto mais olho o tempo escuro e molhado através da vidraça, mais reconfortante me sinto no aconchego da minha tebaida, com música hoje de Sibelius, alternando com silêncio absoluto, que só o crepitar da salamandra interrompe ligeiramente.
Leio as notícias do dia, manchadas aqui e ali por nuvens que deixam marcas indeléveis de futuros incertos e sombrios para alguns. Detenho-me na crónica de Miguel Esteves Cardoso do Fugas, sábado a sábado com recomendações gastronómicas ou culinárias. O conhecido escritor e cronista gosta mesmo desta arte de saber cozinhar e de saber comer, conseguindo transmitir aos seus habituais leitores pormenores de fazer crescer água na boca. 

Nazaré sem ondas

Nem sombras 
de garrettmacnamaras 
à vista


Nossa Senhora da Nazaré
Ontem, a famosa Nazaré da ondas gigantes, que Garrett-McNamara tornou mundialmente conhecida no universo do surf, estava sem ondas. Mar chão em dia de sol, sem grande frio, com alguns turistas a visitar a praia do norte. Foi ali, à vista de muitos, que McNamara bateu o record numa onda de uns trinta metros, quase metade da altura do nosso farol, o mais alto de Portugal.
Já não visitava a Nazaré há décadas. Ontem tive o privilégio de a revisitar, completamente diferente da que morava na minha memória. Igual, lá estava, porém, a ermida de Nossa Senhora da Nazaré, se calhar “mãe” da nossa padroeira. Marcas do tempo a manter viva  a lenda de D. Fuas Roupinho.

Com a minha Lita lá no cimo

Diz Ramalho Ortigão, no seu livro “As Praias de Portugal — Guia do Banhista e do Viajante”, que a capelinha foi edificada em 1370 pelo rei D. Fernando. A imagem, lembra o escritor, é «de madeira pintada, tem palmo e meio [o palmo corresponde a  22 centímetros] de altura e dizem que foi trazida de Nazaré para Mérida, onde esteve algum tempo, e de Mérida para o lugar em que actualmente se acha». Como é natural, eu não podia deixar de a visitar, até porque se diz que de alguma forma estamos ligados àquela imagem.

Nazarena em festa

A Nazaré estava a viver antecipadamente a festa do Carnaval, havendo sinais disso pelas zonas mais turísticas. Por aqui e por ali as nazarenas exibiam as sete saias. Questionei uma sobre o motivo de em dia de trabalho andar com um traje tão antigo. Veio como resposta que nas festas é uso obrigatório e da tradição apresentarem-se assim, começando nas antevésperas. E a jovem, quando lhe pedi autorização para a fotografar, de imediato procurou a pose ideal.
A visita à Nazaré foi apenas de algumas horas, mas deu para perceber que em dia de ondas gigantes, decerto anunciadas com antecedência, não faltarão visitantes curiosos para apreciar o Garrett-Mcnamara ou candidatos a heróis como ele. Nesse ponto, tivemos azar. Ficará para a próxima.

Fernando Martins

O grande enigma (2)

Crónica de Anselmo Borges 
no DN

«Teísmo e ateísmo são possíveis 
e podem ser construídos pela razão 
de forma legítima e honesta moralmente»

1- Ao longo da história, os homens, face ao enigma do universo, acreditaram numa Presença divina pessoal e transcendente, invocável, da qual esperaram a libertação para além da morte. Essa crença foi universal e impunha-se como quase evidente até do ponto de vista social. O número de ateus confessos era reduzido. Foi a partir da modernidade que a ideia de Deus se tornou problemática e o ateísmo, face ao teísmo dogmático, se afirmou a si próprio também dogmaticamente, num frente-a-frente de dogmatismos.

2- Aspecto essencial da obra já aqui citada no sábado, do jesuíta Javier Monserrat, O grande enigma. Ateus e crentes face à incerteza do Além, é afirmar uma "mudança crucial" na história do pensamento, concretamente nos últimos dois terços do século XX. Com o nascimento da nova ciência, da nova física, estamos colocados na consciência de enigma e de incerteza e, por isso, numa profunda inquietação quanto às perguntas e respostas pela ultimidade.

Confiar em Jesus, surpreende. Experimenta

Reflexão de Georgino Rocha


«A abundância foi caminho 
para o encontro com o Senhor. 
Que bela lição!»

Pedro acaba de chegar da faina da pesca. Amarra a embarcação, limpa e enrola as redes, olha mais um vez o mar tranquilo e, apreensivo e amargado, senta-se na proa, dando largas ao “ruminar” da experiência frustrante que está a viver. Com ele, certamente os companheiros da noite aziaga. Ele, que sabia da arte, não consegue nada. Ele, homem experiente na escolha das horas e das rotas, engana-se redondamente. Ele, chefe da companha, vê-se sem nada nem para si e nem para os trabalhadores contratados. E claro para as suas famílias e os cobradores de impostos. Dura e amarga decepção que se prolonga enquanto não surge outra oportunidade! Esta não tarda, mas tem um alcance especial, simbólico.
Chega Jesus rodeado da multidão. Senta-se na sua barca, pede-lhe que se afaste e começa o ensinamento desejado. Depois diz sem rodeios: “Avança para águas mais profundas e lança as redes para a pesca”. Grande desafio que, simultaneamente, é enorme provocação. Simão Pedro vence todas as resistências interiores, supera as dúvidas e os medos, esquece o cansaço, anima os companheiros e exclama: “Em atenção à Tua palavra, vou lançar as redes”. A confiança surge do abatimento consciente qual flor mimosa do charco pantanoso.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O descanso do guerreiro

Crónica de Maria Donzília Almeida



«Educar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais...Entendo assim a tarefa primeira do educador: Dar aos alunos a razão para viver»

Rubem Alves

Fui aluna quando era bom ser professor! Fui professora quando é bom ser aluno. Nesses remotos tempos, do Magister dixit…o professor cheio de direitos, contrapunha-se ao aluno cheio de deveres. Mudaram-se os papéis e, agora, o aluno está no centro das atenções.
Hoje em dia, os professores trabalham até à exaustão, sendo pouco reconhecidos socialmente. É das profissões com maior índice de burnout. 
A nossa profissão é um iceberg: uma parte visível, na escola, a lecionar e a fazer serviço burocrático; o trabalho de bastidores, que não se vê, em casa, mergulhado numa parafernália de papéis.
No início do ano, multiplicam-se reuniões, somam-se planificações, avaliações diagnósticas, preparação de dossiers, elaboração de grelhas, etc, etc

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A beleza antiga da nossa ria




Perdida nos meus arquivos, sem origem conhecida, encontrei há momentos esta imagem, autêntico retrato de uma época que se perde no tempo. Assim, de repente, não consigo identificar o local dos trabalhos, mas acredito na capacidade de alguns leitores do meu blogue para me ajudarem nesta tarefa. Fico a aguardar. 

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Postal Ilustrado — Salva-Vidas

O Instituto de Socorros a Náufragos 
precisa de ser mais conhecido 


Quem passa pelo Jardim Oudinot não pode deixar de apreciar, mesmo de fugida, uma embarcação que ficou na memória de muitos como o Salva-Vidas Almirante Afreixo. Não terá tido a eficiência que os novos meios de salvamento oferecem a quem, por razões variadíssimas, naufraga no mar ou na ria, mas cumpriu as suas obrigações como foi possível. As condições de há décadas evoluíram imenso e hoje as técnicas de salvamento estão devidamente modernizadas. Tudo na vida é assim.
Sou do tempo em que, perante qualquer naufrágio, uma embarcação como a da imagem teria muitas dificuldades em enfrentar o mar alteroso e socorrer quem se debatia numa tentativa desesperada de fugir à morte. Daí as críticas que na minha juventude tantas vezes ouvi, perante a incapacidade de salvar quem quer que fosse. Felizmente, nos dias de hoje é tudo muito diferente.
O Real Instituto de Socorros a Náufragos foi fundado, como instituição privada, por insistência da rainha Dona Amélia, em 21 de abril de 1892, ficando como presidente a sua fundadora, até à implantação da República. A partir de 5 de outubro passou a designar-se por Instituto de Socorros a Náufragos, com dependência e ligação à Marinha de Guerra. Era formado por voluntários, ao jeito de bombeiros.
Trata-se de um organismo com fins humanitários e exerce as suas funções em tempo de paz ou de guerra, assistindo igualmente qualquer indivíduo, independentemente da sua nacionalidade ou qualidade de amigo ou inimigo.
Presentemente, está equipado com os mais eficazes meios de salvamento, sendo notícia sempre que há desastres na ria ou no mar, como aconteceu, recentemente, quando se envolveu na busca de desaparecidos, eventualmente por afogamento. E, diga-se de passagem, tem outras e diversas competências, que uma busca no site da Capitania do Porto de Aveiro esclarece mais ao pormenor.

Fernando Martins

Fonte: Capitania do Porto de Aveiro