sábado, 10 de agosto de 2013

HAVANESA muda de rumo

Uma novidade na Figueira da Foz



Desde que me habituei a passar uns dias na Figueira da Foz, já lá vão 13 anos, a visita à Livraria Havanesa era obrigatória. Os livros sempre me atraíram e ali encontrava uma gerente e funcionárias acolhedoras, sobretudo a primeira, que sabia sugerir leituras interessantes e até importantes, tanto da literatura como sobre a Figueira da Foz. Pude confirmar que por ali passava a elite intelectual da terra e não só. Os visitantes, de passagem ou de férias, conversavam com ela de vivências de anos passados e notava-se, com facilidade, uma natural cumplicidade cultural. Eu não passava de mero observador e na Havanesa identifiquei personalidades da vida literária e não só.

Já não ia à Figueira há uns tempos e das últimas vezes, por dificuldades de locomoção, que as pernas não gostam muito de subidas e descidas, não passei pela Havanesa, pelo que ontem fiquei surpreendido. A Havanesa tinha mudado de gerência e deixou de ser aquele ponto de encontro de amigos de livros, que se encostavam ao balcão para uma troca de impressões sobre a Figueira e literaturas. A surpresa, contudo, foi agradável. Se a venda de livros se democratizou, se as livrarias clássicas perderam na competição comercial com as grandes superfícies e com os grandes grupos económicos que tudo dominam com as suas campanhas de promoções desenfreadas, então os responsáveis pela Havanesa deram um salto qualificativo, transformando-a em restaurante, café e bar, mantendo livros como aperitivos. Ontem estava na hora de regresso à Gafanha da Nazaré, mas prometo voltar, para comprar livros, meu prazer de há muito, mas ainda para saborear uns petiscos, de que sou um apreciador certo, mas comedido.

Oração da Paz

S. Francisco de Assis é sempre inspirador

Senhor! Fazei de mim um instrumento da vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.

Da Liturgia das Horas de hoje

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Lita e Fernando - 48 anos de casados



Celebramos hoje, 7 de agosto, o nosso casamento. Foi há 48 anos, na igreja matriz do Bunheiro, Murtosa, em cerimónia presidida pelo nosso comum amigo padre Manuel Ribau Lopes Lé, de saudosa memória, estando presentes muitos familiares e algumas pessoas que nos eram mais próximas.
Ao recordar esta saborosa efeméride, que preservamos como riqueza que nos alimenta dia a dia, retrocedemos no tempo para tornar mais presente momentos inesquecíveis, como os nascimentos dos filhos (Fernando, Pedro, Paulo e Aida) e dos netos (Filipa, Ricardo e Dinis), afinal, os que perpetuam, com o nosso espírito e o nosso ADN, a nossa presença no mundo.
Muitos dos que estiveram connosco naquela hora, em que nos aceitámos para toda a vida, já nos deixaram, mas as suas boas lembranças, os seus exemplos de vida, os seus testemunhos de fé e de perseverança, esses estão inculcados na nossa alma. Recordamo-los com muita saudade e imensa gratidão.
E porque a vida continua, com projetos, sonhos e anseios, vamos ficar atentos aos que nos rodeiam, familiares e amigos, apostando em convivências fraternas, partilhas solidárias e amizades duradoiras, na convicção de que o mundo, apesar de tudo, vai ser melhor para todos.

Coisas interessantes

"Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes."

Carlos Drummond de Andrade (1902 // 1987)




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terça-feira, 6 de agosto de 2013

O MARNOTO GAFANHÃO — 2


Texto de Ângelo Ribau Teixeira

A época da marinha 
começava por alturas da Páscoa


A época da marinha começava normalmente por alturas da Páscoa.
Era pelo abrir da bomba de tubo que tudo começava. Ia-se escoando a água da marinha, ao mesmo tempo que se ia apanhando algum moliço que existisse, começando pelos algibés, a parte mais alta e que primeiro secava. Depois reforçavam-se as barachas com a lama existente junto das mesmas, que era anafada enquanto se encontrava ainda mole, para facilitar o serviço. Este era repetido à medida que as diversas partes da marinha iam ficando secas:


— Algibés;
— Caldeiros;
— Talhos;
— Sobrecabeceiras;
— Cabeceiras;
— Marinha Nova (parte de cima);
— Marinha Nova (parte de baixo);
— Marinha Velha (parte de cima) e
— Marinha Velha (parte de baixo).

Todas as lamas eram arrastadas andaina a andaina (parte de cima + parte de baixo) até serem depositadas no intervalo, onde eram deixadas a endurecer. Endurecida, era baldeada à pá para a malhada, onde ficava a secar. Seca, era novamente baldeada agora para o malhadal para aumentar a sua altura e evitar que as marés vivas entrassem nas marinhas, servindo também para aumentar a altura das eiras do sal e protegendo-o das águas das marés vivas. 
A baldeação das lamas para o malhadal era normalmente feita quando havia chuva que não permitisse o trabalho na marinha. Assim, quando nós víamos tempo de chuva, logo pensávamos: “Hoje vou dormir um bocado na tarimba”. Puro engano. Logo vinha a ordem para os moços: “Não está tempo de trabalhar na marinha. Peguem nas pás e vão baldear mais um bocado de malhada até o tempo estiar…” 
Quando a lama era muita — o Inverno tinha sido muito pesado — e não era possível arrastá-la até ao intervalo, por as almajarras (pás com cerca de dois metros de largura, que tinham de ser manejadas pelo menos por dois homens) se tornarem muito pesadas, esta era deixada a secar nas partes de cima da marinha. Depois de seca era tirada, em canastras, para o malhadal.
Se os marnotos tinham posses, era falado a pessoal extra que vinha ajudar a transportar essas lamas. 
Depois de tiradas as lamas, a marinha estava “limpa” e iniciava-se o tratamento das praias das partes de baixo, que eram secas até que ficassem duras, tarefa que levava o seu tempo, dependendo do vento, da temperatura e do sol que fizesse.
Com a praia com a dureza necessária (e isso dependia do marnoto, um verdadeiro técnico), era pisada com um círcio (objeto feito de um toro de pinheiro, com uns quarenta centímetros de diâmetro e cerca de um metro de comprimento, pesado e que tinha de cada lado um eixo, onde se aplicavam as “maueiras” que serviam para o puxar e empurrar) que ia e vinha do tabuleiro do meio até ao tabuleiro do sal em movimento contínuo.
Era meio-dia a passear para baixo e para cima, até que todos os meios estivessem circiados. Só as partes de baixo, onde iria ser colhido o sal, levavam este tratamento, dado com a praia quente, para evitar que a lama se colasse ao círcio. A praia tinha de ficar lisa e nivelada para que a moira ficasse com a mesma altura em todos os lados do “meio”, o que aumentava a produção de sal.
Para que cada meio ficasse devidamente nivelado, era “arriada” (passada) a água que se encontrava nas partes de cima para as partes de baixo. Essa água servia de nível. 
Onde se encontrasse um cabeço era rapado com um rasoilo (rasoila pequena com cerca de vinte centímetros) e essa lama era retirada para o malhadal. Era um serviço moroso e de paciência, para que ficasse bem feito. E sempre vigiado pelo marnoto…!
Findo este serviço a água, que tinha estado nas partes de baixo e foi apurando o grau de salinidade era aproveitada, sendo ugalhada (atirada com um ugalho) para a parte de cima, onde continuava a apurar.
Nas partes de baixo continuava o serviço de preparação do terreno dos meios. Seriam essas superfícies onde se colheria o sal, pelo que teriam de estar bem niveladas e limpas.

Continua...


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Violência doméstica




A vida decorria, sem sobressaltos, ali, na Quinta do Briol. O “sultão” AlGalarós dominava, na hierarquia dos sete galináceos, arrastando a asa e controlando as suas (apenas!) seis concubinas.
Era um regalo olhar para o espaço ensolarado e contemplar o macho imponente no seu traje vistoso de penas listradas de cetim branco e cinzento, cacarejar em chamamento das companheiras dispersas pelo pinhal. Estas acorriam, ao apelo cantante do “senhor” que encontrara algum verme e queria partilhá-lo com as fêmeas. Tê-las sempre debaixo de olho e sob controlo apertado, era o grande objetivo do galo apavonado!
Cumpria-se a velha e já ultrapassada (!) filosofia, “Onde há galos, não cantam galinhas” e tudo corria ao som da trombeta, isto é, da voz do chefe.


Dori(n)da
No entanto, a tradição já não é o que era e a velha filosofia começou a ruir, pois Camões sempre disse: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades!” As galinhas, sempre atentas à evolução dos tempos, referida pelo grande vate, começaram a sublevar-se e oferecer resistência às investidas do “sultão”.
- Abaixo a ditadura! Fora a tirania! Derrubemos a prepotência! Seriam estas as ideias revolucionárias, em embrião, talvez do tamanho dum grão de milho, que começavam a ganhar forma, no cérebro minúsculo da meia dúzia de galinhas.
Estas e outras maquinações iam progredindo, na surdina, sem que a dona se apercebesse dos conflitos existentes ali, ao lado de casa.

Cristoteca na Costa Nova

Música ao vivo no próximo fim de semana



Entre a ria e o mar, na Costa Nova, a diocese de Aveiro organiza este fim de semana, entre as 18h do dia 10 e as 06h do dia 11 de agosto, uma Cristoteca, um espaço de animação e diversão e também de evangelização que terá a presença do grupo “One Time”, do “Rebelde Karaoke” e ainda dos djs H20, Peixinho e Electonic Grooves.

domingo, 4 de agosto de 2013

Os gafanhões vistos por outros — 6



«são denominados gafanhões os habitantes da Gafanha. O seu tipo fisionómico denuncia feição árabe. Os homens são robustos e de boas formas e as mulheres de mediana estatura, mas cheias e vigorosas. São de caráter expansivo e índole benévola. É raridade o casamento de um gafanhão, homem ou mulher, fora da colónia, que talvez por isso conserva imutável a sua feição primitiva.»


Em artigo de Rocha Madail, 
citado no livro “Gafanha da Nazaré — Escola e comunidade numa sociedade em mudança”, 
de Jorge Arroteia e outros

sábado, 3 de agosto de 2013

Igreja demasiado débil

No DN de hoje

Papa Francisco: uma revolução tranquila



«Aos eclesiásticos: "Fazem falta bispos que amem a pobreza e não tenham psicologia de príncipes." "Devem ser pastores, próximos das pessoas, pais, irmãos, pacientes e misericordiosos." "Reina a cultura da exclusão e do descartável." Que tenham a coragem de ir contra dois dogmas da sociedade atual, "eficiência e pragmatismo", e "sair ao encontro das periferias, que têm sede de Deus e não têm quem lho anuncie". Devem ir à procura dos "afastados, que são os convidados vip".

Aos políticos: condenou a corrupção e pediu-lhes que sejam humanos, que tenham "sentido ético" e pratiquem o "diálogo, diálogo, diálogo". É preciso "reabilitar a política", que deve estar ao serviço do bem comum, que "evite o elitismo e erradique a pobreza".

Porque é que tantos têm abandonado a Igreja, incluindo "aqueles que parece viverem já sem Deus?" A Igreja "mostrou-se demasiado débil, demasiado afastada das necessidades deles, demasiado fria, demasiado auto-referencial, prisioneira da sua própria linguagem rígida". Talvez tenha tido "respostas para a infância do homem, mas não para a sua idade adulta".»

Anselmo Borges

Multidões de mãos vazias

O valor dos bens e o sentido da vida




«Outrora como agora, a avareza tende a apoderar-se do coração humano que fica sem espaço para mais nada nem ninguém; a fazer-se centro de preocupações absorventes e de atitudes invejosas; a transformar os bens no deus da vida a quem se sacrifica tudo: amizades, família, profissão, honestidade e integridade, futuro que se reduz ao presente fugaz, consciência que se cala perante a conveniência. A erguer celeiros de prosperidade para alguns e a deixar multidões “de mãos vazias”.»

Georgino Rocha