Moliceiro a bolinar
Imagem rara e espetacular de um moliceiro a bolinar. Arte com o saber de experiência feito. O arrais não frequentou qualquer escola náutica, mas aprendeu na vida. O moliceiro navega contra o vento, numa posição incrível. Haverá ainda quem saiba conduzir um moliceiro assim?
Esta imagem foi-me enviada pelo Ângelo Ribau, que não conseguiu identificar o autor. Ela aqui fica, em homenagem aos arrais e a tantos outros que nos deram, na ria, exemplos de coragem e saber.terça-feira, 9 de agosto de 2011
Férias para estes tempos - 1
As praias esperam-nos
Será
possível gozar férias no meio de uma crise económica, financeira e social tão
grande como a que estamos a viver? Com algum esforço e com uma boa dose de
organização, pensamos que sim.
A
ideia generalizada em muitos meios de que férias só serão possíveis com grandes
gastos e em estâncias turísticas de nomeada poderá passar à história, se levarmos
à prática a imaginação e a capacidade criativa de novos e menos novos.
Estamos
convencidos de que à nossa volta há excelentes motivos de interesse a
descobrir, a explorar e experimentar, contribuindo, assim, para valorizar o que
temos. Sabemos que a tendência de muitos se inclina para falar de viagens por
outras terras e outras gentes, de costumes exóticos e paisagens deslumbrantes,
mas é garantido que as mais das vezes nem sequer conhecemos bem o que está ao
pé da nossa porta. Pretende-se conhecer o distante, continuando a ignorar o que
nos envolve e até o que está na matriz da nossa forma de ser e de estar na
vida.
Sem
pretendermos ocupar o direito à imaginação de cada um, deixamos neste espaço
algumas sugestões, que não passam disso mesmo. Veja a partir de amanhã.
Para pessoas amedrontadas
Lago Tiberíades
NÃO TENHAIS MEDO. SOU EU. TENDE CONFIANÇA
Georgino Rocha
Exortação revigorante dirigida a pessoas amedrontadas.
Exortação firme e determinada num contexto de perigo iminente. Exortação
clarificadora de fantasmas possíveis e identificadora de rostos perdidos na
noite.
A cena ocorre no mar de Tiberíades. Os intervenientes
principais são Jesus de Nazaré e os discípulos que se deslocam numa barca e já
estão longe da terra. A ocasião surge no percurso da travessia. A circunstância
é a da tempestade ameaçadora. E os gestos e as palavras que se percebem são de
gritaria e de pânico. E não era para menos!
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Concha para a minha coleção
GRATIDÃO
Maria Donzília Almeida
“A gratidão desbloqueia a abundância da vida. Ela torna o que temos em suficiente, e mais. Ela torna a negação em aceitação, caos em ordem, confusão em claridade. Ela pode transformar uma refeição em um banquete, uma casa em um lar, um estranho em um amigo. A gratidão dá sentido ao nosso passado, traz paz para o hoje, e cria uma visão para o amanhã."
Melody Beattie
No seu tratado sobre Relações Humanas, o americano Dale Carnegie teceu algumas considerações, muito importantes, sobre o assunto em epígrafe. Diz ele que duma forma geral, as pessoas não têm esse hábito enraizado, no quotidiano do seu relacionamento com o próximo. Nós não devemos esperar gratidão dos outros, já que não ser grato é comum no ser humano. Mas, quando alguém tem o dom de agradecer, seja a quem for, essa pessoa é possuidora duma sensibilidade e uma educação especiais, segundo o patrono das Human Relations.
Quantos de nós, agradecem a Deus, por “todas as maravilhas que ele operou”? Há muita gente, a quem, não passa pela cabeça, agradecer as maravilhas arquitetónicas, as maravilhas artísticas, as sete maravilhas do mundo, tantas coisas que o homem tem criado ao longo dos tempos, usando a sua inteligência, sabedoria e arte. Mas sabemos quem criou o universo, pois, quanto mais os cientistas avançam no conhecimento, mais provas recolhem da existência desse Criador.
A ADIG não é contra ninguém
Paulo Costa, Júlio Cirino, João Alberto Roque e Manuel Serra
É urgente dar importância ao que é importante
A ADIG — Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré vai ser uma aposta forte na valorização do que é essencial para o bem-estar de todos os gafanhões, na certeza de que a vida democrática não se esgota nos partidos políticos. A vida cívica, com partidos e outras forças, tornar-se-á mais rica, se todos derem as mãos na defesa do que é importante. Isso mesmo sublinhou o vereador da Câmara Municipal de Ílhavo Paulo Costa, na tomada de posse dos novos órgãos sociais da ADIG, que ocorreu na quinta-feira, 4 de agosto, no salão nobre da Junta de Freguesia.
Confesso que fiquei surpreendido com a adesão de tantos conterrâneos nossos aos anseios da nova ADIG, agora com a liderança de Júlio Cirino, um homem que não gosta de virar a cara a desafios que têm a ver com a terra que o viu nascer. Aliás, no seu discurso de posse (ver aqui) teve o cuidado de indicar um conjunto de iniciativas que se tornam estimulantes para todos os que amam a Gafanha da Nazaré. Ainda me disse que a ADIG não é contra ninguém, mas a favor do que é fundamental a vários níveis.
Paulo Costa, também ele gafanhão, congratulou-se com a presença de tantos apoiantes, enquanto sublinhou a premência de «todos ajudarem a direção na prossecução dos seus objetivos». Referiu que «o associativismo é a forma mais pura da força popular», porque é aí «que damos o nosso tempo para o bem de todos, sócios e comunidade».
Afirmou que somos «de longe» o município, tal como a nossa freguesia, que mais tem crescido acima da média nacional, «em todos os indicadores», graças ao nosso povo, às associações, aos empresários e às autarquias. Garantiu ainda que a CMI continuará a colaborar, «dando importância ao que é importante».
Também o presidente da Junta de Freguesia, Manuel Serra, enalteceu o papel que a ADIG por certo vai desempenhar na promoção dos valores que nos foram legados pelos que construíram a nossa terra, numa altura em que «a alternativa era a América». Contudo, e porque importa prosseguir a caminhada de progresso e bem-estar, Manuel Serra chamou a atenção para a necessidade de todos contribuirmos, nestes tempos de crise, para o regresso a tudo o que nos deu riqueza: a agricultura, as pescas e a construção naval.
Fernando Martins
Novos Órgãos Sociais da ADIG
A Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré (ADIG) elegeu na Assembleia Geral, que decorreu no passado dia 28 de julho, os novos Órgãos Sociais para o biénio 2011-2013, depois de várias reuniões, onde se discutiram projetos para o futuro e se constituiu a lista agora eleita.
Júlio Cirino da Rocha lidera a Direção de que fazem também parte Leopoldo Oliveira, Aldina Casqueira Guimarães, Paulo Pinto, Carlos Teixeira Pereira, João Aristides Marçal, Álvaro Guimarães, Helena Ferreira e Manuel Mário Bola.
Na Assembleia Geral, continuam João Alberto Roque e Cândido Casqueira. Josué Ribau completa o elenco.
Constroem-se mais muros que pontes
Um mundo de interrogações
incómodas mas necessárias
António Marcelino
É inevitável, no agir do dia-a-dia de cada pessoa, o confronto entre os tempos já vividos e os que se vivem agora com o futuro no horizonte. Só no presente podemos ter memória do que se vivemos antes e abertura realista para projectos novos. O presente, porém, aparece-nos cada vez mais confuso e inquietante. Há menos memória, mas mais possibilidades para muitas coisas e mais problemas a enfrentar. São mais difíceis as relações e a comunicação pessoal atenta, pela abundância dos canais massificadores e porque o mundo de muitas pessoas e os valores em causa não coincidem em aspectos essenciais. Toda a gente tem opinião acerca de tudo, do que conhece e do que não conhece. E, quanto menos se conhece, mais se é dogmático nas afirmações e menos respeitador das opiniões alheias. Constroem-se mais muros que pontes, no dia a dia, na política, nas opções desportivas, que só no aspecto religioso se vai notando o contrário. Há mais diplomas de escola, mais festas e passeios de finalistas, mas menos conhecimento de coisas essenciais da vida. Por sistema, alguns vão apagando o passado e pensam, como ideal, um presente de imediatos, sem horizontes, sem projectos que se justifiquem a longo prazo.
domingo, 7 de agosto de 2011
Poesia para este domingo
Foi assim que a história
começou.
Era uma vez um homem
que tinha um relógio.
Dava corda ao relógio,
o relógio andava, o tempo
passava,
E o homem ficava a olhar,
O relógio a andar,
e o tempo a passar.
Mas um dia o homem
não deu corda ao relógio:
O relógio parou — o tempo
passou.
Então o homem nunca
mais deu corda ao
relógio.
E foi assim que a
história acabou.
Eduardo Libório,
História
do Homem que Tinha um Relógio
in ‘Poesias, Desenhos e Correspondência’
Caderno Economia do
EXPRESSO
TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 248
DE
BICICLETA ... ADMIRANDO A PAISAGEM – 31
BICICLETA
Caríssima/o:
Dia de
poesia... Então, procuremos acompanhar Herberto Hélder, “ o poeta pernalta
[que] dá à pata nos pedais... de pulmões às costas e bico no ar”...
«Lá vai a bicicleta do poeta em
direcção
ao símbolo, por um dia de verão
exemplar. De pulmões às costas e bico
no ar, o poeta pernalta dá à pata
nos pedais. Uma grande memória, os
sinais
dos dias sobrenaturais e a história
secreta da bicicleta. O símbolo é simples.
Os êmbolos do coração ao ritmo dos
pedais -
lá vai o poeta em direcção aos seus
sinais. Dá à pata
como os outros animais.
O sol é branco, as flores legítimas, o
amor
confuso. A vida é para sempre
tenebrosa.
Entre as rimas e o suor, aparece e desaparece
uma rosa. No dia de verão,
violenta, a fantasia esquece. Entre
o nascimento e a morte, o movimento da
rosa floresce
sabiamente. E a bicicleta ultrapassa
o milagre. O poeta aperta o volante e
derrapa
no instante da graça.
De pulmões às costas, a vida é para
sempre
tenebrosa. A pata do poeta
mal ousa pedalar. No meio do ar
distrai-se a flor perdida. A vida é
curta.
Puta de vida subdesenvolvida.
O bico do poeta corre os pontos
cardeais.
O sol é branco, o campo plano, a morte
certa. Não há sombra de sinais.
E o poeta dá à pata como os outros
animais.
Se a noite cai agora sobre a rosa
passada,
e o dia de verão se recolhe
ao seu nada, e a única direcção é a
própria noite
achada? De pulmões às costas, a vida
é tenebrosa. Morte é transfiguração,
pela imagem de uma rosa. E o poeta
pernalta
de rosa interior dá à pata nos pedais
da confusão do amor.
Pela noite secreta dos caminhos iguais,
O poeta dá à pata como os outros
animais.
Se o sul é para trás e o norte é para o
lado,
é para sempre a morte.
Agarrado ao volante e pulmões às costas
como um pneu furado,
o poeta pedala o coração transfigurado.
Na memória mais antiga a direcção da
morte
é a mesma do amor. E o poeta,
afinal mais mortal do que os outros
animais,
dá à pata nos pedais para um verão
interior.»
Conceito de Saúde e Doença
Antropologia e medicina
Anselmo Borges
Já não vivendo em círculos fechados, acontece-me ser
convidado para intervir sobre o tema em epígrafe, no contexto de colóquios de e
para médicos.
De facto, o conceito de saúde e doença depende também da
ideia que se tem de Homem.
1. Assim, sublinharia, em primeiro lugar, a neotenia, para
reconhecer que o ser humano é um prematuro, nasce antes do tempo, sendo esta a
condição de possibilidade de se tornar Homem. Enquanto os outros animais vêm ao
mundo já feitos, o ser humano nasce por fazer e tem de se fazer. Por isso, é
sempre o resultado de uma herança genética e de uma cultura em história, com
encontros e desencontros e onde há lugar para a liberdade. O Homem é por
natureza cultural.
Cá estou de novo
Depois do anunciado período de férias a que me dediquei, cá estou de novo. De novo e julgo que renovado para viver mais um ano em permanente contato com os meus leitores e amigos. Descansei, li, pensei, alinhei algumas ideias, sonhei. E também vivi momentos de muitas saudades destas andanças pelo mundo do ciberespaço. Senti o palpitar do mundo que não parou de girar e de nos ameaçar com catástrofes que, por certo, ninguém quer. São os homens e mulheres deste mundo que constroem o futuro da humanidade. Cometem erros, dão passos acertados, alimentam sonhos, elaboram projetos, mas os egoísmos persistem no meio das comunidades. Daí o mundo desregrado em que vivemos ou labutamos. Uns conseguem tudo e outros ficam sem nada. E não há meio de criarmos uma nova ordem social de que tanto falava há anos Maria de Lurdes Pintasilgo. Contudo, continua em nós o sonho da meta desejada, rumo a uma sociedade mais justa e mais fraterna.
Como sempre, espero a participação de todos os meus amigos e leitores.
Fernando Martins
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