domingo, 18 de novembro de 2007

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 47




OS TRIPEIROS

Caríssima/o:

E é tempo de chegar ao Porto por onde já passara umas tantas vezes e onde aportara antes da ida para a tropa; porém, terminada esta, a vinda para o Porto foi definitiva até aos dias de hoje.
Certo certo é que o meu contrato com esta Terra e estas Gentes foi um tanto desigual: em troca de me permitirem que o coração continuasse livre, me prenderam a mente e os pés a estas pedras graníticas e, ainda mais violento, abraçaram os nossos Filhos que à sua sombra se acolheram!
Será então curioso que, no Porto, me (e nos) reconheçam pela Ria... E quando saboreio (saboreamos) berbigões, rojões do redenho e maresia insinuem que...”vá lá, vá lá, umas tripinhas à moda do Porto...”
Sem mais!...

Assim sendo, vamos às tripas:

«Ramalho Ortigão, no torno inicial de As Farpas, declara: No fundo das suas convicções políticas e sociais, o portuense é verdadeiramente patuleia ... gloria-se de ser tripeiro e articula esta palavra rijamente. Então, os portuenses têm orgulho na alcunha de tripeiros? Ora porquê? Por duas razões, mediando entre elas nada menos que 31 anos.

Parece misterioso, mas recuemos a 1384, quando Rui Pereira organiza no Porto uma armada de 17 naus e 17 galés e ruma a Lisboa, para acabar com o cerco dos castelhanos e acudir a uma população faminta. A armada levava não só marinheiros e soldados como mantimentos. Praticamente toda a carne que havia entre muralhas no Porto, que os da velha cidade entenderam contentar as suas mesas à conta das tripas, que cozinhavam com feijões. O resto das carnes apareceu só quando se estabilizou a vicia nacional. Os portuenses ganharam o gosto às tripas e uma comida de emergência tornou-se um petisco e um prato de substância. Aliás, só os estômagos fracos e sensibilidades exageradas afastam o prato. E o tom pejorativo da alcunha apareceu já em fase de calmia histórica, digamos assim.

A segunda e decisiva vez já foi em 1415. Os calafates da beira-rio trabalhavam rijamente na aparelhagem de mais umas quantas naus e multiplicavam-se os boatos sobre o destino das mesmas. Que eram uns príncipes que iam casar a Nápoles, que era o rei João apontado a visitar a Terra Santa, que a princesa assim, que não se sabia mais quê. Boataria.
À maneira, como convinha. Até que o jovem Infante D. Henrique manda chamar o seu fiel Mestre Simão, que dirigia os estaleiros. Pedindo-lhe o máximo sigilo, confiou o infante ao seu velho amigo que essas naus em construção se destinavam à conquista de Ceuta. Mestre Simão, que já participara na armada que Iibertara Lisboa, sabia que o que se pedia não era apenas o cumprimento de prazos na entrega das embarcações, era o próprio abastecimento. E de novo o Porto se comprometeu a voltar a comer tripas por obrigação. E o epíteto, muitas vezes incompreendido para os de fora e para alguns de dentro, tornou-se uma medalha de patriotismo.»
[V. M., 210]

E pela cópia fica o


Manuel
Foto: Ramalho Ortigão

sábado, 17 de novembro de 2007

Responsabilidade social das empresas

José Roquette vai apresentar, no próximo dia 20 de Novem-bro, o Portal VER.PT. Trata-se de uma iniciativa da ACEGE (Associação Cristã dos Empresários e Gestores), que tem por finalidade promover a defesa da ética e da res-ponsabilidade social de empresas e gestores, segundo anunciou o suplemento de Economia do EXPRESSO. Num país maioritariamente católico, é tempo das empresas e dos gestores assumirem, na prática, a vivência da Doutrina Social da Igreja, há tanto tempo pregada pelos defensores de mais justiça e de mais diálogo entre patrões e trabalhadores.

Imagens da Ria


Esta fotografia é capa de um folheto anunciador das belezes da Rota da Luz, nomeadamente na área do desporto. Fala por si. E serve, também, de estímulo a quem gosta de sair de casa, sobretudo aos fins-de-semana, para contactar e apreciar as belezas que estão à nossa espera. Neste caso, na Ria de Aveiro, de encntos vários.

DIA MUNDIAL DO NÃO FUMADOR

Será que o fumador tem o direito
de prejudicar os outros?


A propósito das limitações que vão ser impostas aos fumadores, no sentido de não poderem fumar em recintos fechados, não faltam vozes a protestar, clamando que se está a cair em radicalismos incompreensíveis. Os fumadores acham que devem poder fumar onde lhes apetece e os não fumadores entendem que ninguém tem o direito de conspurcar o ar que respiram.
Pessoalmente, penso que os não fumadores têm razão. Os fumadores podem e devem fumar onde quiserem, mas com limitações que exijam o respeita pelos não fumadores.
Ontem, precisamente, entrei com familiares num conhecido restaurante da Bairrada. Salas amplas que começaram a encher por volta do meio-dia, quando chegámos. Estávamos a começar a refeição, quando entra um daqueles fumadores que não param de fumar… O homem, de cara esquelética talvez pelo excesso de fumo, não se cansava de atirar fumo para o ar, enquanto não chegou a sua refeição. Perguntámos, então, se não havia sala para não fumadores. O empregado, delicadamente, informou-nos que não. Poderíamos mudar, se quiséssemos, para a outra sala, ainda com menos pessoas, mas não era seguro que pudesse ficar sem fumadores. Resolvemos ficar, para evitar complicações com a mudança de mesa. E o fumador voltou à carga nos intervalos da refeição, obrigando toda a gente a inalar o fumo que inundava tudo e todos.
Perante situações destas, eu pergunto se é admissível vivermos assim, sem radicalismos que imponham aos fumadores o respeito pelo seu semelhante, sobretudo daquele que gosta de respirar o ar puro.
O fumador, a meu ver, tem todo o direito de fumar e de dar cabo da sua saúde. Mas será que tem o direito, também, de prejudicar os outros? Julgo que não.

FM

A ESPERANÇA E A SANTA ESPERANÇA


Uma reflexão aprofundada sobre a esperança deverá começar por aquela tendência para o futuro que caracteriza todo o ser vivo e mesmo toda a realidade cósmica, em evolução, de tal modo que já é e ainda não é adequadamente - por isso, está a caminho.
O cosmos, desde a sua origem, é em processo (do latim procedo, ir para diante). A realidade material tem carácter "prodeunte" (do verbo prodeo, avançar), para utilizar uma palavra do filósofo Pedro Laín Entralgo, que estou a seguir.
Trata-se de uma propriedade genérica que se vai fazendo proto-estruturação - passagem das partículas elementares às complexas -, molecularização - dos átomos às moléculas -, vitalização - das moléculas aos primeiros seres vivos -, vegetalização, animalização - aparecimento e desenvolvimento da vida quisitiva da zoosfera - e hominização - transformação da tendência geral para o futuro em "futurição" humana, tanto no indivíduo como na espécie humana e na História, desde o Homo habilis até ao presente.
No quadro destes modos de existir na orientação do futuro, só quando se chega ao nível do ser vivo, que precisa de buscar para viver, é que se dirá que a tendência para o futuro se configura como espera, podendo chegar a ser esperança. Desde o nascimento até à morte, entre a esperança e o temor, o animal vive permanentemente voltado para o futuro e orientando a sua espera na procura do que precisa para viver.
O animal e o Homem esperam, mas, enquanto a espera animal é instintiva, no quadro dos instintos e de estímulos, situada e fechada, a do Homem transcende os instintos, os estímulos e as situações, sendo, portanto, aberta, de tal modo que nunca se contenta com a simples realização de cada um dos projectos parciais em que a sua "futurição" constitutiva se concretiza.
Laín dá um exemplo. Numa "sala de espera" de uma estação de caminho-de-ferro, não me limito a aguardar a chegada do comboio que traz o meu amigo, pois, mesmo que não tenha consciência explícita disso, espero o que será a minha existência em todo o seu decurso posterior. A espera humana está realmente aberta a possibilidades que transcendem a realização feliz ou frustrada de cada projecto.
Ora, tanto num como noutro caso, isto é, tanto na espera do concreto - aqui, a chegada do amigo no projecto de aguardá-lo - como, mesmo que não pense directamente nisso, na espera do que transcende o concreto e limitado - o que será de mim na minha vida depois da chegada do amigo -, são possíveis duas atitudes enquanto tonalidades afectivas: a confiança e a desconfiança.
Devido a uma multiplicidade de factores, desde o temperamento às circunstâncias biográficas de sorte ou desgraça, passando pela educação, estes dois estados de ânimo - confiança e desconfiança - "podem converter-se em hábito de segunda natureza: a esperança, quando é a confiança que domina, e a desesperança, quando prevalece a desconfiança".
O Homem, como o animal, não pode não esperar: vive orientado para o futuro e esperando o que projecta, isto é, a consecução de metas e objectivos concretos e também, quer se dê conta disso quer não, o que permanentemente transcende a obtenção desses projectos. A esperança tem, pois, dois modos complementares: a esperança do concreto (o hábito de confiar que os projectos parciais se irão realizando bem) e a esperança do fundamental (o hábito de confiar - a confiança não é certeza - em que a realização da existência pessoal será boa).
Esta esperança do fundamental é a "esperança genuína", que assume também dois modos, que não se excluem: a esperança terrena e histórica e a esperança meta-terrena e trans- -histórica. Esta é própria dos crentes numa religião que afirma confiadamente a vida para lá da morte em Deus.
Aí encontraria o Homem finalmente, como diz Santo Agostinho, aquela plenitude por que aspira na tensão constitutiva entre a sua radical finitude e a ânsia de Infinito: "O nosso coração está inquieto enquanto não repousar em ti, ó Deus." "Santa esperança!", dizia Péguy.
Anselmo Borges
In Diário de Notícias

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

No Museu Marítimo de Ílhavo

Para ver melhor clicar na imagem


Colectiva de Fotografia "Meu Nome Mar"

Amanhã, 17 de Novembro, sábado, às 17 horas, o Museu Marítimo de Ílhavo inaugura a exposição colectiva de fotografia e instalação Meu Nome Mar, comissariada por Luis Oliveira Santos.
Nesta exposição participam quinze dos melhores fotógrafos portugueses e o escultor Alberto Carneiro, cuja expressiva instalação, O Mar Prolonga-se em Cada um de Nós, pertence às colecções da Fundação de Serralves. Esta exposição resultou da ideia de identificar na obra de reconhecidos fotógrafos portugueses alguns trabalhos de "temática marítima" susceptíveis de compor um diálogo colectivo e de permitirem ao público uma reflexão própria sobre os modos de representação do mar na fotografia portuguesa contemporânea. Este diálogo inédito, tornar-se-á ainda mais intenso mercê da presença imponente e fortemente material da instalação em chapa de ferro de autoria de Alberto Carneiro.

DIA INTERNACIONAL DA TOLERÂNCIA

Neste mundo carregado de tantas intole-râncias, é bem oportuna esta cele-bração do Dia Internacional da Tole-rância. Será um dia como outro qualquer, mas seria óptimo que fosse diferente. Porque se ficarmos alheios a estes alertas, então de nada vale a boa vontade de tantos que se esforçam para que o mundo fique um pouco melhor.
Ninguém ignora que a intolerância marca o dia-a-dia de cada um de nós, tanto nos grandes momentos como nos pequenos. A intolerância reflecte-se em tudo: no culto contra o inculto, no sábio contra o ignorante, no rico contra o pobre, no patrão contra o empregado, no chefe contra o subordinado, no mais velho contra o mais novo, no mais novo contra o mais velho… a lista dos intolerantes é mesmo extensíssima. Do tamanho do mundo. E como resultado disso temos gente infeliz que tem de suportar a agressividade humilhante dos intolerantes.
Estou a pensar que, afinal, também entre nós, os que nos julgamos tolerantes, compreensivos e respeitadores dos outros, não faltam vestígios, por vezes não camuflados, de intolerâncias, que urge erradicar dos nossos comportamentos.
Vamos todos, portanto, fazer um esforço, no dia-a-dia, para sermos mais tolerantes? Isso seria, sem dúvida, uma extraordinária conquista da humanidade.
FM
Foto de um "site" brasileiro

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Francisco Sarsfield Cabral no CUFC




É URGENTE REPENSAR
A ECONOMIA

“É urgente repensar a economia”, defendeu ontem, no CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura), Francisco Sarsfield Cabral, conhecido jornalista e director de Informação da Rádio Renascença, em mais uma Conversa Aberta do Fórum::UniverSal. Debruçando-se sobre o tema, pertinente, “Globalização, Economia e Desenvolvimento Humano”, o convidado do CUFC abordou diversas questões complexas de forma simples, como é seu hábito, num tom intimista que convidava à reflexão, antes de se colocar à disposição de todos para responder às questões que não faltariam, como não faltaram.
Depois de recordar que os portugueses, com os Descobrimentos, foram um povo que assumiu, na prática, a globalização, frisou que esse conceito é hoje aceite por todo o mundo, como inevitável, embora careça de uma atenção muito especial por todos. "Graças à globalização, muito milhões de chineses escaparam à miséria extrema”, garantiu.
Defendeu que nem o comunismo nem o seu colapso trouxeram o paraíso ao mundo, nem o capitalismo o poderá dar. Só nos EUA, a pátria do capitalismo, há mais de 40 milhões de pessoas sem qualquer segurança social e sem seguros que lhes garantam apoios na doença e na velhice. No entanto, foi o capitalismo que levou a que grande parte dos proletários passasse para a classe média, frisou Sarsfield Cabral.
O director de Informação da RR falou da importância das novas tecnologias e dos benefícios que delas poderemos usufruir; da mediatização da vida, sendo certo que há uma grande diferença entre o que ganham os melhores (os que aparecem na televisão) e os outros; e dos condomínios fechados e dos que ali vivem bem, que não vêem a pobreza que os cerca.
Referiu que a globalização dá, realmente, muitas oportunidades a imensa gente, mas desfavorece o trabalhador em detrimento do capital. E sobre isto, disse que o Evangelho não dá receitas políticas, sociais e económicas, mas impõe uma atitude de respostas, concretas, aos que mais precisam. A este propósito, recordou o microcrédito que já está implantado em dezenas de países, com apoios efectivos a grande número de famílias.
Nessa linha, defendeu uma globalização diferente, que respeite os direitos humanos e que proponha a solidariedade, estimulando a justiça social. Considera inadiável que, no seguimento da Doutrina Social da Igreja, “os cultores da ciência económica, os operadores do sector e os responsáveis políticos devem advertir para a urgência de se repensar a economia”.
Afirmou que nesta aldeia grande em que vivemos “os pobres pobres estão marginalizados e sem capacidade de autodefesa”, sendo premente o envolvimento das pessoas na luta contra a resignação e contra a indiferença, perante o sofrimento dos outros.

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia


A LATA CONTINUA!

1. Alguém dizia há dias que “a lata” está cheia…de petróleo! A referência é personalizada no maior animador político da actualidade, Hugo Chávez. São 2,2 milhões de barris de petróleo diários que a Venezuela exporta, sendo a maioria dos quais para os EUA. Efectivamente, numa economia que depende do “ouro negro” (80% de exportações, metade das receitas do Estado), enquanto a “lata” continuar cheia desse precioso recurso, este e tantos outros líderes que nadam em petróleo continuam a falar alto numa demonstração cabal de sedução imperial pelo poder e dando nas vistas pelos piores motivos.
2. A vingança de Chávez está aí. À sobriedade do Rei de Espanha (que não gritou mas numa frase disse tudo), o iludido “senhor moço” da lata ameaça tudo e todos, julgando-se dono de tudo e de todos. Seja de que quadrante político for (tendo o seu lugar próprio, isso pouco importa, pois o essencial são as pessoas e a sua dignidade humana), atitudes deste género são o espelho de uma “adolescência” política típica de ditador. Alguém ainda pensa que a Venezuela não corre perigo (os venezuelanos e os que lá lutam pela vida)? Nestes próximos anos, à medida que a Venezuela entrar em polvorosa, veremos como a comunidade internacional continuará a colocar a cabeça debaixo da areia…pois a dependência energética (agrava) tapará os olhos das indignidades.
3. É inconcebível ao ponto a que chega a lata do senhor eleito (?!...) pelo seu povo! Do episódio da cimeira ibero-americana, Chávez terá concluído que o Rei fez-lhe xeque-mate e agora o contra-ataque é a “profunda revisão” das relações políticas, económicas e diplomáticas, em que “as empresas espanholas vão ter de prestar mais contas”. Mais ainda, diz Chávez: “Vou lá ver o que andam a fazer”. Grande trabalho, é natural!... De facto, no centralismo absolutista que cresce de dia para dia, tem de ser ele a ir ver o assunto… Pobre povo, vítima no presente e mais vítima no futuro. E pelo andar da carruagem, havendo poderosos interesses à mistura, parece que o futuro está traçado. A lata vai continuar sendo cada vez maior. A não ser que… haja democracia! Pelo enfiamento da jogada, as portas democráticas estão mesmo a fechar e, enquanto a “comitiva” estiver bem alimentada, será para durar. Que nos enganemos redondamente!

Alexandre Cruz

CARLOS DUARTE: “40 ANOS DE FOTOGRAFIAS”





“40 ANOS DE FOTOGRAFIAS” é um livro de Carlos Duarte, um ilhavense apaixonado pela arte de fotografar. Esta obra, que reflecte um labor de 40 anos, de andanças e olhares atentos e interessados sobre o que o rodeia, vai ser apresentada no dia 24 de Novembro, pelas 15.30 horas, na Biblioteca Municipal de Ílhavo. Paralelamente, será inaugurada uma exposição de fotografia cujo tema é a Ria e que ficará patente ao público até 2 de Dezembro.
Conheço o Carlos Duarte há muitos anos. O jornalismo provocou muitos encontros e gerou entre nós as simpatias inevitáveis. Tudo porque o Carlos Duarte é um homem bom.
O fotógrafo que não gosta de ser fotografado é um artista com sentido de oportunidade, vendo, muitas vezes, o que outros não vêem. Fixando da fotografia o que outros nunca descobriram ou acharam digno de registo. Por tudo isso, entendo que vale a pena adquirir o seu livro para o guardar, depois de muito apreciado, num lugar de destaque da sua sala de visitas. Bem à vista de todos e para que todos o manuseiem, fixando os olhares nas fotografias que mais os levarem a um passado mais próximo ou mais afastado.

FM