PEDRA FILOSOFAL
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
sexta-feira, 15 de abril de 2005
Um poema de António Gedeão
PEDRA FILOSOFAL
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
Um artigo de Mário Bettencourt Resendes
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O poder real daqueles que "andam por aí"
Durante o último congresso do PSD, o dr. Pedro Santana Lopes consagrou uma nova expressão no léxico político doméstico o grupo daqueles que "andam por aí".A importância desse grupo no rumo da vida política teve altos e baixos ao longo dos anos, mas a sua entrada no "dicionário" permite consciencializar a sua existência e elaborar alguma análise histórica. Basicamente, trata-se de homens políticos retirados, em licença sabática ou em travessia do deserto, depois de períodos, mais ou menos prolongados, em que desempenharam funções de relevo em partidos políticos ou em órgãos de soberania.Entre todos os que "andam por aí", Mário Soares, Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa estão na primeira linha de poder real, passado, presente ou futuro, nomeadamente em relação ao desempenho dos seus sucessores.
(Para ler na íntegra, clique DN)
A FEIRA DE MARÇO cumpre um ritual
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As farturas são um ex-libris da Feira |
Farturas da Família Armando têm o seu segredo
Como não podia deixar de ser, fui mais uma vez à Feira de Março, que se realiza há mais de meio milénio em Aveiro. Fui para cumprir a tradição, apoiada num hábito com mais de meio século. A Feira continua a atrair-me, como atrai muitos outros, apesar de seguir quase sempre o mesmo figurino. Barracas de quinquilharias, zona de divertimentos para os miúdos, onde alguns menos jovens também gostam de entrar, quanto mais não seja em jeito de quem vai acompanhar os netos, artesanato e pronto-a-vestir, louças e brinquedos, de tudo um pouco se oferece a quem chega.
Mais modernamente, mas já com bastantes anos, não faltam as mostras industriais, algumas inovações tecnológicas, espaços de instituições e gastronomia um pouco por todo o lado, porque a Feira de Março quer satisfazer apetites e matar a sede a quem a tem. Aos fins-de-semana há música para quem aprecia e para atrair ainda mais gente, que vem de toda a região aveirense, nem que seja apenas uma vez durante o certame.
Ora acontece que eu vou sempre à Feira de Março, porque assumo isso como um ritual, desce a meninice, quando lá ia de propósito, para comer uma fartura e para comprar uns livros de bolso da Civilização, numa barraca que tinha um vendedor que pouco falava. Às vezes perguntava-lhe uma opinião, mas o homem encolhia os ombros e deixava-me sozinho a decidir. Dê as voltas que der, tenho de cumprir outro ritual, mesmo que as dietas da minha idade mo proíbam. Não passo sem comer duas ou três farturas, sempre da mesma marca.
Há décadas que entro no espaço das Farturas da Família Armando, que são, para mim e para muitos, as melhores. O seu sabor doce é inconfundível e não resisto. Sei que as Farturas da Família Armando estão na Feira de Março de Aveiro há cerca de 60 anos. Para quem lá vai há tanto tempo, sabe disso muito bem. O que não sabe é o segredo que envolve a feitura das farturas, que são um ex-libris da Feira.
Bem olhei, vi como as fritam em azeite bem quente, como as polvilham com açúcar e com canela (será só isso?), mas o segredo está, de certeza (penso eu, claro!), na massa, como diz o italiano. E porque são tão saborosas, no próximo ano lá estarei outra vez, se Deus quiser.
Fernando Martins
Um artigo de D. António Marcelino
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Depois dos louvores, a serenidade necessária
Enterrado o morto, não falta, logo a seguir, enquanto houver quem ouça, alguém que aponte defeitos, faça críticas, mostre contradições, avance profecias. Muitas vezes trata-se de desabafar ressentimentos ou marcar rumo novo para coisas que não foram tão consideradas como se desejava. Um papa, quando morre, não foge a este clima e, por isso, não é de estranhar que tal aconteça em relação a João Paulo II.Ninguém esteve na praça pública das sete partidas do mundo, como este homem. Os tempos facilitaram a publicidade à sua pessoa, não apenas pelo favor das novas tecnologias, dos transportes à comunicação social, mas, sobretudo, pelo que ele disse, escreveu, lutou e mostrou ao vivo, num mundo ansioso de luz, de verdade, de segurança, de paz, de respeito pelos direitos das pessoas, de amor verdadeiro, de reconhecimento, de uma presença que anime e de bem que toque o coração. Não foi a curiosidade que moveu as multidões que foram ao seu encontro, nem o turismo que levou a Roma milhões de cidadãos do mundo. Há fenómenos sociais que se explicam mais por moções interiores irresistíveis, expressões não caladas de gratidão ou de esperança, dinamismos misteriosos que dão estímulo à decisão de viver, mesmo que outras forças soprem em sentido adverso.
(Para ler o artigo na íntegra, clique CV)
quinta-feira, 14 de abril de 2005
O grande milagre de João Paulo II
Foto da ECCLESIA
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A Igreja Católica estabeleceu há muito que, para haver beato, tem de ser comprovado, cientificamente, um milagre físico. Por exemplo, a cura de uma doença sem explicação ou intervenção médica. Para a canonização, precisa, pelo menos, de mais um milagre. Que eu saiba, talvez por serem de difícil comprovação, não contam, grandemente, os milagres espirituais, como a conversão de pessoas ou a influência do "candidato" a santo na mudança radical de vida de homens e mulheres e até de comunidades. Ou ainda, as alterações profundas na sociedade universal.
Vem isto a propósito do que está a acontecer com o já saudoso Papa João Paulo II, com tanta gente a pedir, o mais depressa possível, que lhe seja dada a honra dos altares. Alega-se, e bem, que João Paulo II conseguiu, durante a sua vida e até na sua partida para o Pai, o milagre de congregar multidões de todos os quadrantes da Terra, levando ao mais importante milagre de todos, que é o milagre da conversão e da mudança de vida, na linha do seguimento de Jesus Cristo.
Se o que aconteceu na fase terminal da vida de João Paulo II e no seu funeral não foi o mais extraordinário milagre dos tempos modernos, e quiçá de todos os tempos, para além, obviamente, da presença física de Jesus no mundo e da sua mensagem de salvação, então já não sei o que é, verdadeiramente, um milagre.
Um funeral que conseguiu juntar centenas de Chefes de Estado e de Governo, alguns inimigos figadais, uma multidão incontável, de crentes e não crentes, representantes de todas as religiões do mundo, e um sem-número de órgãos de comunicação social, que projectaram a cerimónia pelo globo, tem de ser um milagre, como nunca se viu.
Um funeral que levou toda a gente a debruçar-se sobre a vida e o exemplo de fé de João Paulo II, recordando os milagres que ele fez na sociedade cristã e humana, é, sem margem para dúvida, a maior prova da santidade do Papa que nos deixou fisicamente, mas que continuará connosco. Por isso, é de crer que a Igreja Católica declare santo aquele que o povo já santificou.
Fernando Martins
Um soneto de Silva Peixe
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Rio Vouga ..... Belezas da nossa terra |
Tão linda a nossa ria, esta laguna;
É um perfeito lago adormecido!
Não há, por mais encantos que reúna,
Melhor que o nosso Vouga apetecido.
Distingo o casario além na serra...
Se olhar p'rá Costa Nova é um altar!
A bênção do Senhor cai sobre a Terra
Que mais tens, Natureza, p'ra nos dar?
As águas cristalinas e mansinhas,
A Gafanha a sorrir, casas branquinhas!
Que inefável pureza, Santo Deus!
Belezas que se gravam na retina
Encantos duma hora matutina
Que eu passo a meditar, olhando os céus!
In "Aveiro, Princesa do Vouga" (1974)
Silva Peixe Manuel Silva Peixe nasceu em Ílhavo a 12 de Abril de 1902. Com apenas 5 anos ficou órfão de pai. Com a tenra idade de doze anos, embarcou como moço de bordo. Desde logo manifestou a sua veia poética, tendo, sobre esta primeira viagem, escrito: "Tão novo fui p'ro mar com doze anos E a voz da tempestade conheci! Na grande imensidão dos Oceanos! Deixei a mocidade que perdi!" Pela sua profissão de marinheiro, e pelo seu "passatempo" como poeta, ficou conhecido como poeta-marinheiro. Silva peixe participou em programas da RTP, e esteve, por várias vezes, presente na universidade de Aveiro, onde a sua poesia foi analisada e lida perante catedráticos. Foram cerca de vinte os livros que mandou imprimir, a despesas próprias. Poucos dias antes da sua morte foi ao Museu Marítimo de Ílhavo "depositar" todas as medalhas que lhe ofereceram. Morreu em 1990, contando já com a bela idade de 88 anos.
In "site" da Câmara Municipal de Ílhavo
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