quarta-feira, 17 de maio de 2017

Santa Joana, padroeira da cidade e diocese de Aveiro


Nunca é demais tentar esclarecer o que diz respeito a Santa Joana, padroeira da cidade e diocese de Aveiro, até porque tenho verificado que há muita confusão nas redes sociais. Santa Joana foi beatificada, mas ainda não foi canonizada. Depois da beatificação, foi declarada padroeira dos aveirenses. E a canonização, tão desejada pelos seus devotos, ficou a aguardar. 
Entretanto, o atual Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro, entendeu, e muito bem, que seria altura de retomar o processo da canonização, estando garantido que os responsáveis pela recolha, seleção e registo de tudo o que possa contribuir para a declaração da Beata Joana como Santa, com culto universal, pela Santa Sé, tomariam posse no dia 25 de junho, Dia da Igreja Diocesana, em Schoenstatt. 
Para um conhecimento mais completo das vida da princesa Joana entre nós e do processo canónico da sua beatificação, nada melhor do que ler o que Mons. João Gonçalves Gaspar escreveu sobre a nossa padroeira em livro e em variadíssimos textos.Sugiro, para começar, o que está publicado na site da Diocese de Aveiro. 




Varrer o passado para debaixo do tapete

Opinião de André Carneiro no PÚBLICO

Parque verde de Alcobaça

«Portugal é definitivamente um país estranho. Vivemos num território que alberga uma milenar herança de várias épocas, povos e civilizações. Estas condições poderiam fazer de nós um caso de referência internacional, mas continuamos a ser incapazes de estudar, valorizar, mostrar e orgulharmo-nos do nosso património herdado e de transmiti-lo às gerações futuras. Um país que agora é visitado por milhares de turistas, mas que continua a ter as suas memórias fechadas, abandonadas, arruinadas ou (como recentemente sucedeu com um elemento pertencente a um conjunto classificado como Património da Humanidade) vandalizadas de forma sorrateira e ignóbil.»

Por sugestão de M. Ferreira Rodrigues no Google +

Nota: Para que não aconteça entre nós... Para que saibamos valorizar o nosso património... Para acreditarmos na importância do nosso passado. 

A bondade do papa Francisco, por Clara Ferreira Alves


«Jorge Bergoglio vivia entre os pobres e os criminosos, e deste período de frugalidade e meditação, de perseguição e dor, retirou os ensinamentos de Cristo sobre a resistência ao sofrimento e ao medo». «A sua bondade, creio, vem daqui. Vem de dentro, do centro, dessa qualidade intemporal que não se confunde com o humanismo porque o transcende, incorporando tudo, todo o mundo conhecido e desconhecido, todos os seres vivos e mortos, toda a matéria e antimatéria, numa compaixão universal e transcendental.»

Nota: Texto editado pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
a partir de uma crónica publicada no EXPRESSO. 

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terça-feira, 16 de maio de 2017

Com os nossos cães...

Lita, Tóti e Tita num relvado da Gafanha da Nazaré

Permitam-me que partilhe hoje a foto da Lita, em passeio com os nossos cães, o Tóti e a Tita, com mais de 14 anos de vida connosco. O Tóti e a Tita são realmente dois animais adoráveis e inseparáveis. A doença de um é doença do outro. E quando um se ausenta, para ir, por exemplo, ao veterinário, é certo e sabido que ficam mesmo inquietos. Depois, quando se juntam, saltam de contentes. 
Partilho esta reflexão para fugir ao marasmo de histerias coletivas que enchem alguns noticiários televisivos com horários e programas repletos de nada, uns, e de coisa nenhuma, outros,  quando uma síntese bem feito e bem ilustrada seria o suficiente. para nos esclarecer. Das rádios, porém, não me queixo.
Voltando aos nossos cães, ensinados a respeitar e a seguir direitos e obrigações, apetece-me dizer que são mais fiéis que muitos humanos. Não é por acaso que o velho ditado — "Quanto mais conheço os homens mais gosto dos cães" —, criado nem sei há quantos anos, continua atual.

Passagem fugaz pela Figueira da Foz

Na rotunda do pescador
Ao longe, um bar à espera da época de veraneio 

Ontem passei pela Figueira da Foz. Passagem fugaz, é certo, mas não deu para ver o mar. Uma neblina estanque cortava-me a visão das ondas ou do mar-chão. Bem tentei e esperei, mas nada. E regressei com vontade de ficar. Qualquer dia hei de voltar. Mas ainda deu para ver que a praia, a extensa praia da Figueira da Foz, de areal e mar desafiantes, está em maré de requalificação. No verão, seguramente, tudo estará afinado.

Fátima e Papa na imprensa internacional


«A profunda devoção mariana do papa Francisco encontra no contexto de Fátima um lugar «ideal» para manifestar-se com todo o seu vigor. Na cidade portuguesa, com efeito, onde o culto à Virgem é particularmente sentido, o amor por Maria, traço característico dos fiéis da América Latina, é o sinal forte de uma peregrinação que pretende lançar uma mensagem de paz num mundo atravessado por conflitos e tensões.
Do "Times" ao "New York Times", do "Guardian" ao "Los Angeles Times" emerge com evidência o significado de uma viagem que, recordando a dimensão mariana, reitera a urgência de abater os muros e superar as divisões.»

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segunda-feira, 15 de maio de 2017

No Dia Internacional da Família com o Dinis

Avó e Dinis

Houve esclarecimentos a prestar

Avó agradece o Diploma. O avô agradeceu depois
Casa S. Pedro
Dinis assina o diploma


Dinis com a avó Lita

Diploma devidamente preenchido e assinado

Hoje, eu e a Lita, participámos num encontro-convívio, na qualidade de avós, na escolinha que o meu neto mais novo, o Dinis, frequenta. Este encontro, promovido pela escolinha, Casa S. Pedro, em Buarcos, Figueira da Foz, integrou as celebrações do Dia Internacional da Família, 15 de maio. E foi muito agradável voltar ao ambiente que ao longo da vida tantas alegrias me deu.
O Dinis, pelas reações que percebemos, estava feliz. Os avós, ali com ele, souberam e puderam enquadrar-se nos jogos programados e preparados para que tudo corresse bem. Pelo que soube, o Dinis esclareceu, antes da nossa chegada, que éramos reformados e que ambos andávamos com bengalas. Disse ainda que o avô não ouvia muito bem. Tudo certo, mas nós quisemos fazer-lhe uma surpresa, não fossem os seus amigos pensar que éramos velhinhos. E fomos sem bengalas, que ficaram no carro.
Durante os jogos, não demos parte de fracos, fazendo das tripas corações. E alinhámos em tudo: umas corridinhas para desentorpecer os membros, uma caminhada com os atacadores dos sapatos amarrados, no meu caso, ou com as pernas com um cordel a limitar os movimentos; depois, o jogo de passar uns aos outros (avós e netos) um balão pequeno cheio de água; ganharia quem aguentasse mais tempo o balão sem rebentar… Mas o Dinis ficou triste porque o nosso balão caiu e rebentou. Paciência. Para a próxima vez, garanto que o nosso balão há de chegar ao fim cheio de água.
No final, já cansados, que a idade realmente não perdoa, tivemos a dita (como os outros avós) de receber um diploma pela nossa participação, com os nomes bem escritos pelo Dinis, que assinou a distinção. Eu e a Lita ficámos muito felizes, mas o Dinis também ficou. E no fim, quando nos despedimos, ele só disse: Obrigado…. Obrigado…. Obrigado…

Lita e Fernando

NOTAS:

1. A escolinha tem por padroeiro S. Pedro;
2. As atividades contaram com a indispensável orientação das educadoras e demais funcionárias, que nos receberam com muita simpatia;
3. O Dia Internacional da Família (DIF) foi aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas;
4. Este dia foi celebrado pela primeira vez em 1994; 
5. Escusado será dizer que reconhecemos a importância da presença dos avós na vida e educação dos netos, sem, contudo, colidirem com as responsabilidades dos pais;
6. O DIF visa destacar a importância da família a diversos níveis, nomeadamente na educação, no amor, no bom relacionamento entre as pessoas do núcleo familiar e entre as demais famílias, na perspetiva de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais solidária, sem omissões nas áreas dos direitos e deveres. 

Exposição no Museu de Ílhavo de Artur Pastor


domingo, 14 de maio de 2017

“O meu Bacalhau é melhor que o teu”


Estando garantido que o Festival do Bacalhau se vai realizar entre 9 e 13 de agosto, no Jardim Oudinot, no Forte da Barra, Gafanha da Nazaré, onde se tornou, realmente, mais badalado, a Câmara Municipal de Ílhavo aprovou as normas de participação no Concurso Gastronómico “O meu Bacalhau é melhor que o teu”. Trata-se de um concurso que estimula a criatividade a nível da culinária, sendo certo também que enriquece, ano a ano, a qualidade gastronómica. É que, no âmbito dos comes e bebes, com qualidade e novos sabores, os pratos repetitivos podem tornar-se cansativos, por ser sempre o mesmo. Pessoalmente, gosto de variar, dando prazeres diferentes ao palato, sem esquecer a apresentação, já que o homem é o único animal, porque  racional, naturalmente, que come com olhos.
A autarquia esclarece que o concurso é realizado «em parceria com EFTA – Escola de Formação Profissional em Turismo de Aveiro», destinando-se «a público não profissional». Há que ter em conta que a proteína do prato principal deve ter por base o «Bacalhau de Cura Tradicional Portuguesa e/ou um ou mais dos seus derivados». 
As candidaturas têm de ser presentes até 30 de junho, sendo este o período em que «os candidatos deverão submeter as suas receitas através do envio do formulário de inscrição, acompanhado de um vídeo de mostra da elaboração da receita».
Boa sorte a todos os participantes para que os consumidores continuem a apreciar devidamente o bacalhau, para nós ou para muitos o rei dos peixes.

Nota: Foto e demais informações da CMI

Ver normas do concurso aqui

Fátima: que futuro?

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


O futuro de Fátima depende do seu empenhamento em desencadear uma verdadeira mobilização geral contra esta indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar.

1. Nestas crónicas, recusei-me sempre a responder à pergunta: que vem o Papa fazer a Fátima? Que vinha canonizar os “beatos” Jacinta e Francisco estava assente. Para isso não precisava desta custosa deslocação. A declaração de reconhecimento da santidade destes pastorinhos podia ser feita em Roma. Por isso, julguei que era melhor esperar para ver. O Papa veio mas, antes, tinha realizado outra peregrinação bem mais arriscada e de alcance imediato: o encontro com cristãos e muçulmanos no Egipto.
Mário Bergoglio, antes de vir a Fátima, tinha publicado uma carta apostólica que transfere as competências sobre os Santuários para o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Vislumbrava nesse documento, inspirador e normativo, que viria realizar o que mais tem faltado em Fátima: tornar-se um centro propulsor de saída para o mundo e não apenas de um altar de incenso.
Como já referi, irritavam-me, entretanto, as notícias colhidas ou veiculadas pelo Santuário sobre os cuidados com a figura do Papa, a sua indumentária para celebrar, o cálice de ouro, a pala para o resguardar do sol e outras futilidades do género. Pareciam manifestar o propósito de neutralizar, na Cova da Iria, o que Bergoglio trouxe de novo à orientação da Igreja católica: uma Igreja de saída para todas as periferias, com gosto da alegria do Evangelho, de uma evangelização nova, libertadora, descrucificante.
Um grande desejo pode tornar-se numa grande decepção: ver o Papa chegar a Fátima e nem ele cumprir o que propôs para os santuários, seria o enterro da sua própria Carta Pastoral.
Entretanto, foi divulgada a oração que iria fazer no dia 12 de Maio, na Capelinha das Aparições. É uma celebração transfiguradora da Salve Rainha tão antiga e que, de repente, ficou uma nova respiração do céu e da terra. As invocações gastas encontraram a linguagem poética da fé incarnada na alegria do Evangelho. Atrevo-me a destacar: Ó doce virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima! Faz-nos seguir o exemplo dos Bem-aventurados Francisco e Jacinta e de todos os que se entregam à mensagem do Evangelho. Percorreremos, assim, todas as rotas, seremos peregrinos de todos os caminhos, derrubaremos todos os muros e venceremos todas as fronteiras, saindo em direcção a todas as periferias, revelando, aí, a justiça e a paz de Deus. Seremos, na alegria do Evangelho, a Igreja vestida de branco, da alvura branqueada no sangue do Cordeiro derramado ainda em todas as guerras que destroem o mundo em que vivemos. E assim seremos, como Tu, imagem da coluna luminosa que alumia os caminhos do mundo, a todos mostrando que Deus existe, que Deus está, que Deus habita no meio do seu povo, ontem, hoje e por toda a eternidade.
O horizonte do primeiro documento, verdadeiramente programático do Papa Francisco, (A Alegria do Evangelho), passou para a sua Salve Rainha, a oração feita missão para todas as periferias. Tinha de dizer: esta peregrinação é essencial. Como poderia Bergoglio esquecer o seu passado de transformação da religiosidade popular – puramente regional – perante um santuário que reúne multidões de muitos países?

2. O Papa veio, rezou na capela de Nossa Senhora do Ar. Repetirá, durante a sua peregrinação, que se reza em Fátima como em qualquer lugar. Seguiu para a Cova da Iria. A quem desejasse acompanhar a deslocação e a sua chegada ao santuário, os quatro canais de televisão exibiam uma verborreia contínua e irritante que não deixava espaço mental para mais nada. Não se prepararam para saber dosear o tempo da informação e do comentário com o silêncio indispensável. O silêncio imposto para a oração do Papa, na capelinha, mostrou que tudo podia ser diferente.
Um momento chave de todas as peregrinações de Fátima é o mar de luz expresso na procissão das velas. Desta vez, havia uma mensagem especial. O Papa enfrentou a sua tarefa de transformar as atitudes dos peregrinos: Peregrinos com Maria… Qual Maria? Uma «Mestra de vida espiritual», a primeira que seguiu Cristo pelo caminho «estreito» da cruz dando-nos o exemplo, ou então uma Senhora «inatingível» e, consequentemente, inimitável? A «Bendita por ter acreditado (b)» sempre e em todas as circunstâncias nas palavras divinas, ou então uma «Santinha» a quem se recorre para obter favores a baixo preço? A Virgem Maria do Evangelho venerada pela Igreja orante, ou uma esboçada por sensibilidades subjectivas que A vêem segurando o braço justiceiro de Deus pronto a castigar: uma Maria melhor do que Cristo, visto como Juiz impiedoso; mais misericordiosa que o Cordeiro imolado por nós?
Grande injustiça fazemos a Deus e à sua graça, quando se afirma em primeiro lugar que os pecados são punidos pelo seu julgamento, sem antepor – como mostra o Evangelho – que são perdoados pela sua misericórdia! (…) «Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho. Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentirem importantes (…). Esta dinâmica de justiça e de ternura, de contemplação e de caminho ao encontro dos outros é aquilo que faz d’Ela um modelo eclesial para a evangelização» (b). Possamos, com Maria, ser sinal e sacramento da misericórdia de Deus que perdoa sempre, perdoa tudo.

3. Deus criou-nos como uma esperança para os outros, uma esperança real e realizável segundo o estado de vida de cada um, disse o Papa na homilia de Sábado.
Temos Mãe na Mãe de Jesus. Não veio aqui, para que A víssemos. Para isso teremos a eternidade inteira. Dos seus braços virá a esperança e a paz que necessitamos e as suplico para todos os meus irmãos no Baptismo e em humanidade, de modo especial, para os doentes e pessoas com deficiência, os presos e desempregados, os pobres e abandonados.
O futuro de Fátima depende do seu empenhamento em desencadear uma verdadeira mobilização geral contra esta indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. A vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida. Sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor.
Bem-haja, Papa Francisco!

(a) cf. Lc 1, 42.45
(b) Exort. ap. Evangelii gaudium, 288

Nota: Este texto é quase todo composto com extractos das intervenções do Papa. A selecção e organização são minhas.

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Nota: Foto do Sapo 

sábado, 13 de maio de 2017

O fim de linha

Crónica de Maria Donzília Almeida



É uma verdade tacitamente aceite que a vida é uma viagem. Tem o seu início após o nascimento, isto é, a entrada neste planeta azul em que vivemos e vai-se desenrolando em sucessivas estações e apeadeiros, onde deixamos um pouco de nós, como trazemos um pouco dos locais e das pessoas com quem privámos.
Não há duas viagens iguais, apesar de haver muito de comum entre as pessoas, os lugares e as circunstâncias. Cada pessoa tem o seu próprio percurso de vida.
Quando se é criança, jovem ou até adulto, vislumbra-se um longo caminho à frente, em que o tempo parece dilatar-se até ao infinito. Ilusão da juventude, dizem os mais velhos.
Quando se atinge a idade da reforma, impõe-se uma paragem mais prolongada, para uma reflexão profunda. Começa a ter-se a perceção de que o percurso já vai adiantado e provavelmente, mais de 2/3 já percorridos. Sente-se a vida estremecida! Se durante o período de atividade, o tempo era escasso para a multiplicidade de tarefas que preenchiam o nosso dia-a-dia, eis chegada a oportunidade para a pausa que se impõe.
As pessoas aposentadas, ainda com energia para saborearem a vida e rentabilizá-la, procuram preencher o seu tempo, da forma que mais lhes agradar e que lhes traga um sentimento de gratificação. Das múltiplas ofertas disponíveis, há uma que parte de cada um de nós e que traduz um sentimento de partilha e pertença à sociedade em que vivemos – o voluntariado.
Pode revestir-se de variadas formas, desde lecionar, transmitir saberes numa Universidade Sénior, até à mais frequente, como visitar doentes nos hospitais ou utentes em lares de idosos.
Já que tenho um tempo alargado e o posso gerir como me aprouver, optei pela última modalidade. Uma vez por semana tenho encontro marcado numa casa de acolhimento de idosos, de ambiente familiar, onde cada um é tratado mediante as suas especificidades. Ali, não há a massificação que é a característica das instituições.
Aproveito para fazer uma caminhada, respirando o ar puro que ainda existe na nossa vila e deliciando o ouvido com a sinfonia dos grilinhos, numa orquestra sempre bem afinada.
O ambiente acolhedor e amistoso desta “Casa de Hóspedes” cria uma atmosfera de bem-estar que a todos contagia. A dona faz disso questão, pretendendo recriar ali, o ambiente familiar que ficou para trás
Sou sempre recebida, com certo alvoroço e ouço, essencialmente, o que os idosos têm para contar. Encontrando-se numa fase descendente da vida, vivem agora do passado, já que não se podem projetar no futuro. Vivem de memórias, sobretudo de boas memórias, da sua luta pela vida, que se vai aproximando do fim. Contam repetidamente as mesmas histórias, os episódios de vida em que foram protagonistas; as alegrias e tristezas, as vitórias e as derrotas, enfim o tecido das suas vidas.
Passando ali o dia inteiro um a seguir ao outro, apreciam a lufada de ar fresco de quem os visita. Ser bom ouvinte é qualidade de quem ouve com o coração e não só com os ouvidos. Ouvir e escutar são coisas diferentes. Eu escuto pacientemente, tudo o que têm para me contar, ainda que pela enésima vez.
“O que está a fazer é apostolado” disse já uma senhora, em tom de reconhecimento. Sem pretender ser “o bom samaritano”… reservo uma fatia do meu tempo para dar aos outros. “Volte sempre que puder” é a frase que ouço à despedida.

13.05.2017

Papa Francisco: Não queiramos ser esperança abortada



Não é muito frequente estar com os olhos e o coração fixos no ecrã da televisão tanto tempo. Desta vez, pus de lado tudo para saborear a presença entre nós do Papa Francisco, que veio do outro lado do mundo para ser Bispo de Roma e, portanto, pastor universal dos católicos. 
Vi-o vestido de branco, sem adereços dourados, sorriso franco, postura afável, sensível a gestos de aproximação à sua passagem, beijando crianças e doentes, carinhoso nas atitudes, falando e ouvindo com naturalidade. Silencioso no momento próprio junto da imagem de Nossa Senhora… de pé, com centenas de milhares de peregrinos em silêncio absoluto também. Gesto raro em multidões ansiosas. Velas ao alto iluminam sentimentos porventura de vida nova para muitos. Há papas inspiradores como Francisco; há símbolos que estimulam corações adormecidos. E o Papa Francisco, 80 anos de vida cheia, retira-se para descanso. 
Disse o Papa Francisco em Fátima: «A Virgem Mãe não veio aqui, para que a víssemos; para isso, teremos a eternidade inteira, naturalmente, se formos para o Céu. Mas Ela, antevendo e advertindo-nos para o risco do Inferno onde leva a vida sem Deus e profanando Deus nas suas criaturas, veio lembrar-nos a Luz de Deus que nos habita e cobre.» E noutra passagem da sua homilia da Eucaristia da canonização dos dois pastorinhos, Francisco e Jacinta, que sempre disseram terem visto e ouvido a Mãe de Deus, lembrou que «a vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida». «Não queiramos — adiantou o Papa — ser uma esperança abortada».
Citando João Paulo II, salientou: «Sob a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor.» 
Assisti, via televisão, quase a tudo. Em Fátima seria garantidamente diferente. 

Fernando Martins

Nota: Foto da Ecclesia

sexta-feira, 12 de maio de 2017

QUERO QUE ESTEJAIS ONDE EU ESTOU

Reflexão de Georgino Rocha
Busca o caminho

Jesus vive horas decisivas da sua missão. Acaba de fazer a ceia de despedida dos seus amigos e está prestes a entrar no processo da paixão. As circunstâncias são especiais e os momentos geradores de expectativas. Os discípulos sentem-se incomodados e perplexos. Não se imaginam sozinhos. Estão confusos. Não “engolem” o falhanço da aposta de terem deixado tudo e, agora, verem ruir os projectos tão intensamente alimentados. Acham estranho que Jesus lhes acene com novos horizontes. O realismo começa a pesar e o sonho a desfazer-se. A perturbação instala-se e o coração “chora”. E as perguntas surgem pela boca de Tomé e de Filipe, porta-vozes do grupo apostólico.
“Senhor, como podemos saber o caminho, se não sabemos para onde vais”?, adianta Tomé como reacção às declarações de Jesus. Pergunta coerente pois o “vaivém” de Jesus, o seu “até breve”, o vou partir, mas voltarei “para vos levar comigo”, na casa de meu Pai há muitas moradas, quero preparar-vos um lugar, “soariam” a estranhas e provocantes. E a afirmação conclusiva, ainda mais: “Vós conheceis o caminho para onde Eu vou”.
Este breve diálogo evidencia modos diferentes de compreender a novidade do projecto de Jesus. Tomé deixa perceber o seu lado humano, vitorioso face aos adversários, triunfante nos últimos confrontos. Finalmente, todos como no Jardim das Oliveiras cairão por terra. E será Jesus a dar-lhes ordem de se erguerem. Outra é a realidade: a denúncia de Judas, a prisão de Jesus e todo o processo da paixão que culmina na ressurreição, depois da morte. Tudo por amor de salvação. Tudo por decisão de consumar o caminho iniciado na Galileia. Tudo com determinação livre, firme e corajosa, expressa progressivamente nos passos dados rumo a Jerusalém.  
E nós, por que caminho avançamos na vida? “Quero que estejais onde eu estou”, continua a dizer-nos como outrora aos discípulos. O Papa Francisco, alerta-nos para as tentações de andarmos por atalhos individualistas, sem apreço pela comunidade nem pelo compromisso, para experiências subjetivas sem rosto, para o refúgio em zonas de bem-estar pessoal, indiferente e insensível a tudo o que acontece à sua volta. (Alegria do Evangelho, 90).
O caminho de Jesus é claro. Nele se encontra a verdade. Por ele se alcança a vida. Com ele se vai ao Pai. Há outros que brilham em tantas luzes de sedução; mas esgotam-se depressa e, quase sempre, deixam o coração vazio e insatisfeito. Ganham em intensidade o que perdem em fugacidade. De sede em sede, aspiram sempre mais, desejam a fonte que jorra água viva, sacia agora e tem em reserva um manancial para muitas outras ocasiões. É o próprio Jesus.
Santo Agostinho diz-nos num dos seus sermões: “Seguindo o caminho da sua humanidade, chegarás à Divindade. Ele te conduz a Ele mesmo. Não procures por onde ir fora Dele. Se Ele não tivesse querido ser caminho, sempre andaríamos extraviados. Ele se fez, pois, caminho, por onde ir. Portanto não te direi: Busca o caminho. O caminho mesmo é quem vem a ti. Levanta-te e anda! Anda com a conduta, não com os pés. Muitos andam bem com os pés e mal com a conduta. E inclusive os que andam bem, mas fora do caminho. Correm, mas não pelo caminho, e quanto mais andam, mais se extraviam, pois se afastam mais do caminho… Sem dúvida, é preferível ir pelo caminho, embora mancando, do que ir fora do caminho” (Sobre o evangelho de São João, XIII). Sim, Cristo é caminho estreito em comparação com os caminhos espaçosos do mundo. Porém estes últimos são atalhos sem saída. Pelo mesmo caminho veio e voltou, para nos mostrar-nos a direção da verdadeira rota.
“Quero que estejais onde eu estou”. É desejo apelo a que sigamos Jesus na sua doação ao Pai, no amor à Igreja e à comunidade a que pertencemos, no desempenho das funções e serviços que são indispensáveis à realização da missão, na promoção do bem comum das pessoas e da sociedade, na atenção aos sem voz nem vez. Ouvir e seguir Jesus, como os pastorinhos de Fátima, hoje santos da Igreja universal, que à pergunta da Senhora de branco: Quereis oferecer-vos a Deus? Respondem: sim, quero.
E o Papa Francisco deixa-nos este pedido familiar: “É nas vestes de Pastor universal que me apresento diante Dela, oferecendo-lhe um bouquet das mais lindas flores que Jesus confiou aos meus cuidados. Ou seja, os irmãos e irmãs do mundo inteiro, resgatados pelo seu sangue, sem excluir ninguém. Vedes? Preciso de vos ter comigo. Preciso da vossa união — física ou espiritual, importante é que seja do coração , para o meu bouquet de flores, a minha rosa de ouro, formando um só coração e uma só alma. Entregar-vos-ei todos a Nossa Senhora, pedindo-lhe para segredar a cada um: O meu imaculado coração será o teu refúgio, o caminho que te conduzirá até Deus”.

É preciso manter desperta a busca da verdade

Bento XVI, Tolentino Mendonça e Manoel Oliveira


Efeméride: Há sete anos, tive o privilégio de participar num encontro com o Papa Bento XVI no auditório principal do Centro Cultural de Belém, em Lisboa. E neste dia, em que temos também a felicidade de ver e ouvir o Papa Francisco, ocorreu-me evocar esta efeméride da minha vida. Foi um momento inesquecível. Hoje, se Deus quiser, teremos outro momento que ficará, creio eu, num cantinho especial das nossas memórias.

Foi com grande emoção, contida com esforço, que ouvi hoje [12 de maio de 2010], ao vivo, o Santo Padre Bento XVI, no principal auditório do Centro Cultural de Belém (CCB).
Um silêncio profundo encheu a sala antes da entrada do Papa, e quando «o homem vestido de branco» assomou ao pano de fundo do palco, os aplausos explodiram de alegria.
Não era o filósofo apresentado nos mais recentes debates e escritos nem o teólogo proclamado ainda antes de se sentar na cadeira de Pedro. Não era o alemão frio e tímido que toca piano e se debruça sobre os clássicos. Não era o Papa fechado sobre si mesmo e que come à mesa sozinho. Não era o homem carismático continuamente comparado com o seu predecessor João Paulo II. Quem chegou afinal?
Chegou ao CCB o sucessor de Pedro, o que traiu o Mestre, mas a quem Jesus recomendou que nos confirmasse na fé; chegou o continuador da cadeia apostólica, que carrega aos ombros as certezas e dúvidas das comunidades católicas em caminhada de busca e de aprendizagem da vivência da compaixão e do perdão; chegou o pastor universal com a missão de guiar todos os homens e mulheres de boa vontade rumo a uma sociedade mais fraterna.

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O que eu penso sobre Fátima (3)

Crónica de Anselmo Borges no DN 



1 O sofrimento das pessoas tem de ser compreendido e respeitado. Perante o sofrimento, os calvários todos do mundo, eu inclino-me, porque me comovo profundamente.
Mas, depois, porque os crentes muitas vezes não foram informados sobre o verdadeiro Evangelho, notícia boa e felicitante da parte de Deus, concebem Deus à maneira de um tirano ou de um déspota, que precisa de sangue e submissão, fazem promessas e, concretamente em Fátima, vão pagá-las, de joelhos ou arrastando-se, sempre com aquela ideia de que talvez Deus se comova. Aqui, há uma pergunta simples: que pai ou mãe sadios, para darem pão e saúde aos filhos, precisam que eles se ajoelhem e se arrastem?
Fátima precisa, pois, de ser evangelizada. E a primeira evangelização é a evangelização de Deus, da imagem que fizemos dele. Jesus veio "evangelizar" Deus. Afinal, Deus é mesmo Pai e Mãe, e o seu único interesse consiste na alegria e na realização verdadeira e plena dos seus filhos. O único sacrifício que Deus quer é o que é exigido para lutar pela dignidade de todas as pessoas e pelos seus direitos.