quinta-feira, 16 de março de 2017

Márcio Walter: Minhas andanças por Portugal

Texto e fotos partilhadas por Márcio Walter 

Márcio Walter e Fernando Martins na Costa Nova
O título do livro “Viagens na minha terra”, de Almeida Garrett, sempre me chamou a atenção por dois motivos: a ação (viagens são coisas que sempre gostei de fazer desde pequenino) e o lugar (“na minha terra”). Obviamente, Garrett falava sobre sua jornada entre Lisboa e Santarém, dentro do Portugal do século XIX, num período de guerra entre liberais e miguelistas. Todavia, no meu imaginário, essas viagens seriam atemporais e sem dissensões. 
Como bisneto de portugueses por ambas as partes de minha família, Portugal sempre foi uma memória presente para mim – memórias tidas por outros num passado próximo e contadas por terceiros que as narravam vividamente como se tivessem feito parte delas. Daí, minha sensação de que as terras das quais Garrett falava também eram minhas. Por isso o desejo de um dia entrar num comboio (ou trem, como dizemos pelas bandas de cá do Atlântico) e de sua janela observar os olivais, o mar português, os rios, os montes e as casas cujas imagens se pintavam em minha memória-fantasia desde a mais tenra infância. 

Márcio em Lisboa
Em dezembro de 2015, devido a uma pesquisa genealógica iniciada no ano anterior, pus os pés sobre o solo lusitano pela primeira vez. Quão maravilhosa a sensação de sair do aeroporto e sentir a frescura do ar invernal de Lisboa, o lugar que serviu de modelo para a criação da minha cidade natal de São Salvador da Bahia. Caminhar pelas pedrinhas brancas da calçada, subir e descer ladeiras de pedras negras, olhar ao lado e ver a arquitetura barroca das igrejas e casas, escutando o som do fado vindo de algum lugar, me fez sentir em casa duas vezes. Pois, ali, eu via a imagem de minha própria terra americana fincada no continente europeu e ao mesmo tempo revivi as fantasias criadas no tempo de miúdo quando as histórias de meus antepassados me eram contadas. Lisboa, então, começaria a ser o sítio de chegada e partida, porque muito mais se há de ver por esse país geograficamente pequeno, mas absolutamente grandioso em sua história, sua cultura e seu povo afável, acolhedor e de espírito inquebrantável.

Márcio em Coimbra
Não fiz o percurso de Garrett, minha primeira parada depois de Lisboa, ao contrário de ser Santarém, foi Coimbra, a cidade em cuja universidade a grande parte dos poetas e intelectuais brasileiros tinham estudado desde o século XVII. Ouvir anunciar no autofalante que era a “próxima paragem Coimbra B”, fez com que meu corpo sentisse um choque de excitação. Descer à rua, ver a torre Cabra cortando o céu no alto da colina, sentir a brisa que subia do Mondego, ouvir as vozes e o sotaque pelo caminho, era muito melhor do que ver o país apenas da janela do comboio – essas paisagens vistas de longe e como observador apenas deixei-as para os pequenos lugares por onde passei a caminho de Figueira da Foz, Conimbriga, Foz de Arouce, Arganil ou Lousã, esses sítios outrora afastados de mim e ao mesmo tempo tão próximos, quer fosse pela genealogia, quer pela beleza e significado de cada um -, porque em Portugal o que vale mesmo é saltar fora do trem ou dos autocarros e viver cada sítio, cada meia de leite com tostas enquanto moradores locais, sempre muito receptivos aonde eu fui, conversavam comigo e me contavam suas histórias e eu descobria as minhas. 
Coimbra, muito além de ser um lugar de minha própria ancestralidade, é também o parque, os mosteiros, as ladeiras e a gente bacana com quem se toma um café à Portagem e se vê o pôr do sol entre conversas amistosas, aliás, não só Coimbra. 

Márcio em Aveiro, Costa Nova  e praia
Lembro de fazer o mesmo sentado em frente à Ria de Aveiro, observando o vai e vem dos moliceiros coloridos sarapintando a paisagem com cores que não eram muito distantes daquelas da Costa Nova, cujas casas são uma atração à parte. Sentando ao cais de onde vemos a imensa ria de um lado e a arquitetura vibrante de outro – onde mais se pode sentir em dois mundos tão diferentes e de forma tão única? Onde se tem a natureza refletida na areia de cor bege, na água clara molhando os pés próximo aos antigos/renovados palheiros ali mesmo ou um pouquinho mais adiante na Barra ou pelo píer da Vagueira e pelos restaurantes de enguias fritas ou stands de tripas recheadas com ovos moles. Ali mesmo em Aveiro se pode deixar o coração e a alma repousando serenos, vendo a água chegar à praia onde antigamente os bois puxavam a pesca.
Minhas andanças por Portugal geralmente se fixam entre Aveiro e Coimbra por conta das pesquisas que faço, mas obviamente Portugal se estende muito além desse eixo. Por exemplo, não muito longe dali, encontrei a Ribeira onde as famosas tripas do Porto são servidas com o vinho suave e os transeuntes se reúnem aos montes para ouvir cantores que fazem seus shows ao ar livre aos pés da Ponte Luís I. À qual também se pode subir e observar o D’ouro correr livre sob nossos pés enquanto a ponte treme com o trem que passa. A linda, antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto, sua história de resistência e lealdade encerrada naquelas muralhas e prédios centenários, as vinhas e os barcos cortando o longo e antigo rio, isso, para o turista de olhar encantado (e quem não se encanta?!) não é nem de longe apenas mais uma paisagem nas muitas fotografias e selfies obrigatórios, mas uma lembrança que se gruda ao espírito para nunca se esvanecer. 
Caminhar por aquelas ruas nos traz uma sensação de transposição no tempo e no espaço, um lançar-se em algum lugar onde o sonho e a história se confundem. Onde tudo no resto do mundo parece ser sombras. 

Márcio no Porto 
A cidade do Porto pela qual me apaixonei num dia de domingo, parece mesmo ser daqueles lugares que aguçam a fantasia e inspiram poetas e soldados, racionais e emotivos. O Porto tem seu charme, sua mágica sedutora como as notas da música triste que soa pelas esquinas e nos restaurantes famosos. Entretanto, em Portugal se vai de encanto em encanto, de fascinação em fascinação por entre os diversos outros lugares no país de Florbela Spanca. 
Ver-me às portas de Braga, seus santuários, seu Bom Jesus do Monte e as escadarias que o cortam num zig-zag de beleza única, como únicos são seus jardins espraiando-se ao longo das ruas do Centro, não é inferior a nenhum outro lugar que no país dos lusos eu tenha visitado – cada lugar é único e igualmente diferente. Cada cheiro (sim! Há cheiros em Portugal que me pareceram peculiares), cada lufada de vento, cada praça com sua igreja central de campanários antigos nos faz remontar na história e nas eras, nos levando ao caminho de onde outrora se passava devagar a pé ou no lombo de animais e agora velozes como nos poemas de Álvaro de Campos. Portugal tem de tudo um pouco (ou muito)! 

Márcio em Viana
Como nos lembra a estátua postada em frente a ponte sobre o Rio Lima, com os touros, que aravam o chão, ajudando os camponeses em sua lida a cujo redor estão carros e buzinas e música cortando o ar da vila mais antiga do país. Lá, onde o Santo Antônio multicolorido abençoa seus habitantes e de onde podemos chegar rapidamente a um outro lugar santo, à capela da Senhora de Castro, de onde se vê correr o Rio Lima a desembocar no mar, passando por entre casas e bosques e bancos de areia da linda e acolhedora Viana do Castelo. Quem não se emociona com aquela visão estonteante a partir da igreja de Santa Luzia, a ver o mar, a terra, a floresta se abraçarem num amor profundo? 
Passear por Portugal para mim é como fazer uma viagem em quatro dimensões: emocional, cultural, histórica e linguística. 
Não é necessário dizer aqui o porquê da história, pois esta mesma se manifesta em cada casa, em cada rua, em cada aldeia, pois quem anda pelas ruas seculares logo a percebe, mesmo sem os olhos abertos. 
A cultura, por sua vez, manifestada na sua culinária única - do bacalhau aos doces, da ginjinha ao vinho do Porto, e tripas e chanfana e arroz de tamboril. E nas cavacas arremessadas da capela de São Gonçalinho, em Aveiro, numa demonstração da fé imortal de um povo fervorosamente religioso, a sair em procissão pelas ruas nos dias santos, invocando seus deuses e heróis e mártires ao estilo romano. Mas não só nisso! O que não dizer dos trajes e danças típicos de Viana, dos Açores, da Madeira e do orgulho estampado nos rostos dos que fazem e dos que veem a sua tradição recontada?!
A emoção que se sente é de excepcional profundidade por motivos que ultrapassam a explicação. E não para simplesmente por aí pelas demonstrações da alma desse povo, mas se propaga pelas risadas ao escutarmos palavras tão corriqueiras dos discursos diários que para nós, falantes do português americano, têm sentido totalmente diverso e que nos arrancam as gargalhadas sob o olhar atônito de nossos interlocutores. Vocábulos tais quais “rapariga”, “cu”, “puto” e “biscate” fazem os brasileiros, mesmo divertidos, corarem dependendo do caso. Pois ao fazerem o tal Acordo Ortográfico, não levaram em conta a semântica. 
Em Portugal, aprendi um novo português, retomei palavras de vocabulário visto apenas em livros, tive de tomar cuidado com expressões comuns a ambos os nossos portugueses (europeu e americano), mas que para vós vos fazem corar. Sigo, entretanto, a ter dificuldades em usar o “tu”, uma vez que na minha comunidade linguística de Salvador da Bahia o utilizamos apenas para nos referirmos a Deus em oração (“você” é o que usamos informalmente. Formalmente dizemos “o senhor/a senhora”). Seja tal qual for, como disse o Caetano Veloso com ecos do Pessoa: “Gosto de sentir minha língua roçar a língua de Luís de Camões (...) minha pátria é minha língua”.
Só mesmo visitando, fazendo viagens nessa “minha” terra, agora fixada para sempre em meu coração, é que se pode entender - de forma pessoal e única – toda a extensão do que é estar em Portugal, do que significa tomar um café à beira do Tejo enquanto se come um pastel de Belém (ou em qualquer outro sítio, com qualquer nata, ovos moles, bolas de Berlim!). Andar em Portugal, para mim, é redescobrir o ar de admiração, o coração bater apaixonado e a beleza dos dias passando leves.

Ver blog do Márcio aqui 

oooooooooooooooo

NOTA: Há encontros pessoais providenciais. Surgem quando menos se espera e ocorrem ao sabor da maré. Uns terminam levados pelas ondas e outros ficam na praia abertos ao diálogo. Foi assim  com Márcio Walter que veio do Brasil à procura dos seus ancestrais, oriundos da terra dos ílhavos e da banda da  Lusa Atenas. E bateu à minha porta e o diálogo franco aconteceu. Umas pistas para achar os Rocha-Carolas, que os há em abundância aqui à nossa porta. E Márcio calcorreou o que era necessário. E achou o que procurava.
Jovem viajante do mundo, conhece terras e gentes de cada canto da Europa. Porventura de outros continentes, a partir do seu Brasil, país que foi filho e há muito virou irmão de Portugal.
Por aqui  fez amizades, partilhou   conhecimentos, descobriu a nossa cultura, o nosso linguajar, as nossas tradições. Ficou fascinado pelas paisagens lusas, leu os nossos clássicos, respirou os ares marítimos e serranos deste país à beira mar plantado,  saboreou os nossos petiscos, sentiu o inverno português e europeu, gozou a frescura da primavera florida e o calor ameno do nosso verão, e ficou a saber que os nossos outonos avisam mesmo que o frio está a chegar. E fez amigos.

Um abraço,  meu caro Márcio

Fernando Martins                                                                              

quarta-feira, 15 de março de 2017

Passagem pelo Parque Infante D. Pedro









Hoje fui matar saudades ao Parque Infante D. Pedro, onde não ia há anos. De carro e mesmo a pé passei várias vezes, mas nunca me ocorreu entrar para apreciar a vegetação, o lago, os painéis cerâmicos com motivos aveirenses e a Casa de Chá que já serviu vários fins. Hoje estava com sinais de algum abandono.
Não subi as escadarias para apreciar o jardim superior, porque as pernas não davam mais. E então contornei o lago de águas esverdeadas, dois patitos marrecos ou de raça desconhecida, o arvoredo variegado. Mas nada de cisnes como antigamente. Um pombal no meio do lago servia de hotel aos pombos que decerto se deleitavam com árvores e arbustos para todos os gostos. Pouca gente por ali andava. Alguns estudantes à conversa, um grupo de idosos de chapéu amarelo lanchava sob os cuidados atentos de funcionárias, um ou outro, como eu, fotografava e nada mais.
As passadeiras superiores não estavam a ser muito frequentadas para conduzir as pessoas para o outro lado das rua de trânsito intenso. 
Segundo reza a história, o parque foi construído numa propriedade dos frades franciscanos a partir de 1862, na zona do Convento de Santo António. O coreto de Arte Nova fica no jardim superior onde desta vez não fui. Também pode ser apreciado nesse jardim uma homenagem ao insigne aveirense Jaime de Magalhães Lima.

 Fernando Martins

terça-feira, 14 de março de 2017

Tempos de Pesca em Tempos de Guerra no El Correo Gallego.es

A notícia  chegou-me há momentos. Xosé Cermeño publicou no El Correo Gallego.es uma reportagem sobre o livro "Tempos de Pesca em Tempos de Guerra" de Licínio Amador. O livro do nosso amigo Licínio está a chegar longe. E não ficará apenas pela Galiza. 



Submarino alemán U-94 del tipo VII C. Ofciais observan á tripulación de a bordo da nave

Licínio Ferreira relata como a II Guerra Mundial chegou ata os barcos bacalloeiros cando un submarino alemán afundiu o pesqueiro Maria da Glória.

Posiblemente as persoas poidan dividirse en dúas clases: a xente común e os homes que navegaron nos barcos bacalloeiros polos mares do norte. A pesca do bacallau no século pasado era en si mesma unha tarefa épica, máis propia de deuses mitolóxicos que de xentes normais. O frío, os temporais, a soidade no mar, os meses de reclusión en barcos inhóspitos, o traballo en durísimas condicións, a complicada convivencia en espazos reducidos... marcaron unha actividade de características lendarias.

Ademais, a historia deste traballo fora de calquera medida sumaba de cando en vez algún feito extraordinario con vocación de converterse en mítico. Nos últimos anos, historiadores do mundo da pesca e mariñeiros con boa memoria teñen verquido en libros e reportaxes as súas peripecias case inverosimis. E Portugal, os libros sobre a pesca do bacalhau forman xa un xénero en si mesmo, cultivado por profesores, navegantes, pescadores e científicos. Autores como Alvaro Garrido - desde unha perspectiva académica, Valdemar Aveiro -desde a lembranza persoal- , Manuel Luís Pata -cun enfoque local e etnográfico- e outros moitos, desde un punto de vista xornalístico e literario, ampliaron nos últimos anos o coñecemento e tamén a mitoloxía dos barcos e mariños bacalloeiros.

Ler mais aqui 

Saudades destes ambientes

Praia da Barra com data incerta

Peço desculpa por vir para aqui com as minhas saudades. Não sou muito exigente. Gosto de coisas simples, normalíssimas, muito terra a terra, Gosto sobretudo do sossego, da serenidade envolvida por horizontes largos e arejados. Sou assim.
Tenho andado por aqui com azáfamas que me envolvem o tempo quase todo. De modo que, se precisar de espairecer, não tenho, como nunca tive, dificuldades em me imaginar longe dos bulícios, sem sair de casa. Abro as janelas da imaginação e parto à aventura. Como hoje fiz.

domingo, 12 de março de 2017

Um conselho oportuno de Mandela



“Eu aprendi que a coragem não é a ausência de medo, 
mas o triunfo sobre ele. 
O homem corajoso não é aquele que não sente medo, 
mas aquele que conquista por cima do medo.”

Nelson Mandela

Li aqui 

Postal Ilustrado: Complexo Desportivo da Gafanha

Os mais pequenos em competição

Em boa hora batizaram uma rua da nossa terra com o nome de Complexo Desportivo da Gafanha. Esse gesto reflete a importância de uma estrutura desportiva que, presentemente, acolhe centenas de atletas de todas as idades, ligados ao Grupo Desportivo da Gafanha (GDG). Mas ainda reflete o esforço que diversas pessoas e entidades empreenderam para que o Complexo Desportivo fosse uma realidade.
Em 20 de Março de 1976 o Secretário de Estado da Estruturação Agrária assina e autentica o Alvará de Cedência Gratuita à Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, para usufruto do Grupo Desportivo da Gafanha, de uma parcela agrícola com 8,5 hectares.
As datas de 6 de Agosto de 1982, Outubro de 1983, 1988, finais de 1989 e Abril de 1991 foram importantes para um trabalho insano, entre os responsáveis do GDG, CMI e Junta de Freguesia, tendo em vista a concretização do velho sonho de substituir o campo de futebol do Forte da Barra.
No dia 11 de Fevereiro de 1986, após longo e significativo trabalho, foi possível inaugurar as torres de iluminação, o que constituiu uma meta extremamente importante para a atividade desportiva que se vinha a implementar. E de 1987 a 1989 decorreram as obras de construção da tão desejada bancada poente e sua cobertura.
O relvado do campo de futebol foi inaugurado precisamente em Fevereiro de 1999 e no dia 15 de Fevereiro de 2009 surge um outro marco histórico na vida do GDG, da Junta de Freguesia e do Município de Ílhavo, com a ampliação e remodelação do Complexo Desportivo, que integra dois campos de futebol, um pelado e outro com relvado sintético.  

A cada ano a sua Quaresma

Crónica de Frei Bento Domingues 





1. A Quaresma deste ano está marcada por dois movimentos opostos: o da intensificação da Reforma da Igreja, anunciada no programa do Papa Francisco e o da contra-reforma, organizada e com sinais visíveis que mostrem quem está com uma e quem está com outra. Sabíamos que o hábito não faz o monge, agora querem convencer-nos que o cabeção e a batina fazem o padre. Quem se apresentar sem estes sinais não sabemos se está com o caminho aberto por Bergoglio ou não. Terá de o mostrar pelas suas opções pastorais e de vida pessoal. Quem exige que os fiéis se ajoelhem na missa durante a consagração e para receber a comunhão parece que não gosta muito do Vaticano II nem das ousadias do Papa Francisco. Dizem-me que certos párocos tentam resgatar a memória de lugares marcados na igreja, anteriores ao Concílio, mediante genuflexórios forrados para joelhos delicados. Parece que ainda não está previsto dividir o espaço das celebrações colocando as mulheres atrás e os cavalheiros à frente.
Quando se participa em missas solenes, com bispo ou cardeal, uma das distracções possíveis é a contagem das vezes que lhes põem e tiram o solidéu, a mitra e o báculo.
As novas tecnologias, como por exemplo iPads, tablets e e-readers – coisas que me ultrapassam -, estão a substituir missais e breviários, livros antigos muito veneráveis e pouco portáteis, com muitas vantagens económicas, com recursos imagísticos e musicais e prontos a servir, sem ter de incomodar grupos ad hoc para baptizados, casamentos e funerais e, ainda, um reportório de homilias previamente adaptadas aos públicos e pregadores mais diversos. Haverá quem diga, como a nordestina brasileira, quando na missa substituíram o latim pelo português: tiraram-lhe a decência.
É muito possível que isto possa suscitar um novo debate sobre simbologia e ritualidade litúrgica e seus dignos e indignos suportes.

Oito razões a favor do Papa


Crónica de Bárbara Reis 


Francisco fala dos problemas de hoje 
com a linguagem de hoje e, para isso, 
nem precisa de ver televisão.

Uns dias depois do atentado contra o Charlie Hebdo, o Papa Francisco disse que “não se pode provocar, não se pode insultar a fé dos outros, não se pode ridicularizar a religião dos outros”. Na altura, escrevi aqui as oito razões que me levavam a discordar do Papa. Hoje, chegou o momento de fazer a crónica-espelho prometida ao Hugo Torres, então nosso editor de comunidades, que teve de gerir os leitores indignados. Crentes ou ateus, temos oito grandes razões para aplaudir este Papa.

1. Francisco é um reformista e enfrenta os católicos retrógrados. Com elegância e sem medo. Três exemplos. a) Abriu a possibilidade de os católicos divorciados e recasados poderem receber a comunhão, uma forma de reconhecer as novas família e não alienar (ainda mais) católicos. Para um ateu, os sacramentos são uma abstracção, mas esta abertura foi o que mais enfureceu os conservadores. b) Demitiu o grão-mestre da Ordem de Malta, o príncipe britânico Matthew Festing, que afastara um cavaleiro alemão que fechara os olhos ao uso de preservativos num projecto de saúde. c) E há anos faz frente ao cardeal americano Raymond Burke, um sonso e intriguista que trava um combate feroz contra os católicos progressistas. Burke é amigo de Steve Bannon (o amigo de Donald Trump), apoia a ideia de um muro a separar os EUA do México, e diz que o "feminismo radical" criou vários problemas à igreja, entre os quais os abusos sexuais de menores. É a ala radical de Burke que acusa Francisco de ter criado uma “confusão sem precedentes na Igreja Católica”. É caso para dizer: viva a confusão.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Costa Nova e Gafanhas no dia 10 de março


Ponte e  Barra

Ponte e Forte da Barra

Igreja da Gafanha da Encarnação

Gafanha da Encarnação e Estufa

Estive hoje algum tempo na Costa Nova, de seu nome completo Costa Nova do Prado. Eu sei que os nomes das povoações vêm do povo, que as batizaram  para se fazerem entender. Com o tempo, porém, a lei da simplificação dita as suas ordens. E hoje toda a gente diz Costa Nova. 
Fui lá com a Lita para encher este dia 10 de março em sua homenagem. Celebrar aniversários é norma cá de casa e de muitas outras casas. Apesar de se encontrar em convalescença, lá fomos em jeito de passeio com almoço de permeio. Porém, os incómodos da deslocação, tanto mais que a Lita se desloca com auxílio de “canadianas”, aconselharam-nos a regressar. 
Da Costa Nova vislumbrei as Gafanhas do outro lado do canal de Mira, que exibia, neste dia claro, a sua função de espelho do céu . Um céu luminoso que fez gala em nos segredar que a primavera vem a caminho com as suas cores, tonalidades, odores, alegrias e sabores. E então, para mais tarde recordar os minutos que olhámos a laguna e as Gafanhas vistas no dia 10 de março, registei umas fotos. A Lita, desta vez, ficou de fora. É que eu não quis que as “canadianas” merecessem a honra de ficar para a posteridade. Um dia destes serão atiradas para um canto. Para longe vá o agoiro. 

Fernando Martins

Região de Aveiro na Bolsa de Turismo de Lisboa



A BTL2017 - Bolsa de Turismo de Lisboa, que se realiza nas instalações da FIL, vai ter lugar de 15 a 19 de março. Como vem sendo hábito, a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), com campanha promocional “Ria de Aveiro”, participa naquele certame, englobando os 11 Municípios e integrando um espaço personalizado dentro do stand do Turismo Centro de Portugal.
Na sexta-feira, dia 17, das 11h às 13h, terá lugar o período dedicado em exclusivo ao programa de animação “Ria de Aveiro”, onde será lançada a Agenda da Primavera, projetando os principais eventos municipais e intermunicipais até ao verão.
O prato e o copo forte deste período serão as degustações das mais variadas iguarias regionais e espumantes da Bairrada, que serão devidamente acompanhadas pela presença de confrarias gastronómicas. Também não faltarão culturais e de demonstração, em que se destaca a presença de dois grupos musicais da nossa região e uma demonstração de pintura em azulejo. 
Durante o fim de semana, a Região de Aveiro estará igualmente em destaque com a presença da Escola de Samba ‘Vai Quem Quer’, vencedora do Carnaval de Estarreja deste ano, no sábado pelas 18h, e uma prova de Pão-de-Ló de Ovar, no domingo pelas 17h.

Fonte: CIRA

Hino para a Escola Secundária da Gafanha da Nazaré

Poesia para este tempo


Francisco: um quase-testamento (2)

Crónica de Anselmo Borges 


1 - Para o Papa Francisco, a definição de Deus é misericórdia, mas sem uma concepção delicodoce, pois a misericórdia é exigente. Avisa que é preciso ser coerente; não se pode ter uma vida dupla: "Sou muito católico, vou sempre à missa, mas não pago o justo aos meus funcionários, exploro as pessoas, faço jogo sujo nos negócios... É daí que vem ouvirmos tantas vezes: "ser católico como aquele?, é melhor ser ateu"."
Na frente do seu combate está a idolatria do dinheiro, como aconteceu com Jesus: o dinheiro transformado em ídolo absoluto é incompatível com a fé no Deus da Vida: "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro." Por isso, diz "não" a uma economia da exclusão e da iniquidade. "Essa economia mata"; vivemos "na ditadura de uma economia sem rosto e sem objectivos verdadeiramente humanos"; "a cultura do bem-estar anestesia--nos"; acusado de comunista, responde: "esta mensagem não é marxismo, mas Evangelho puro."

Escutar Jesus, o Filho amado de Deus Pai

Reflexão de Georgino Rocha

Escutar Jesus

Há momentos na vida, que põem à prova decisões tomadas de modo definitivo. Certamente por motivos sérios. Talvez porque circunstâncias diferentes tentem impor-se ou os próprios amigos o aconselhem com insistência… E vozes interiores crescem de intensidade, instalam a dúvida e a pessoa sente-se abalada.
Jesus, segundo o relato de Mateus que narra o episódio da Transfiguração no Monte Tabor, faz preceder a descrição com o diálogo de Cesareia de Filipe, em que após a resposta acertada de Pedro à pergunta “E vós, quem dizeis que eu sou”, Jesus anuncia que tem que sofrer muito, ser rejeitado e crucificado, e, só depois, é que ressuscitará. O coração de Pedro sobrepõe-se à razão da inteligência e “dispara”: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!”. A resposta de Jesus é contundente e radical: “ Afasta-te de mim, Satanás. És uma pedra de tropeço para Mim, porque não pensas as coisas de Deus, mas as coisas dos homens”. Estão em contraste dois modos de realizar a missão: servir até à cruz por amor ou impor-se com gestos espectaculares, os das tentações diabólicas.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Dia Nacional do Bacalhau — 5 de junho?

Proposta da Associação 
dos Industriais de Bacalhau 


Porto de Aveiro: Lugres e Seca do Bacalhau

A notícia veio a lume de diversas fontes. A Associação dos Industriais de Bacalhau (AIB) formalizou na Assembleia da República a proposta de instituição do Dia Nacional do Bacalhau a 5 de junho. Pretende-se, com esta iniciativa, homenagear «a epopeia lusa da pesca do bacalhau», com a autoridade que vem do facto do “Fiel Amigo” representar, desde há séculos, uma mais-valia na dimensão «socioeconómica e gastronómica» do nosso país. 
A iniciativa nasceu de visão da empresa Riberalves, a qual recebeu, à partida, o apoio incondicional do Museu Marítimo de Ílhavo, ou não fosse o município ilhavense a capital do bacalhau.
E porquê o 5 de junho? Simplesmente, mas com todo o sentido, por ter acontecido nesse dia, do ano 1942, a tragédia do afundamento do lugre Maria da Glória, torpedeado por um submarino alemão durante a II Guerra Mundial, apesar da posição neutral de Portugal no conflito, neutralidade assinalada pela cor branca da frota portuguesa. É, por esse motivo, uma homenagem justa às 36 vítimas mortais e seus familiares, alguns deles do nosso concelho. 
Acresce o facto de Portugal ser o país do mundo que mais bacalhau consome per capita, tendo-se especializado na cura tradicional e nas artes de pesca, para além do volumoso negócio que proporciona.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Dia Internacional da Mulher — Flores para todas as mulheres



Para todas as que riem e para todas as que choram...
Para todas as que trabalham e para as desempregadas…
Para todas as que foram mães e para as que o não puderam ser…
Para todas as que sofrem injustiças e para todas as justas…
Para todas as perseguidas e ofendidas…
Para todas as que amam e para as não amadas...
Para todas as artistas que fazem o mundo mais belo…
Para todas as que rezam pelos que não rezam...
Para todas as que sofrem com o sofrimento dos outros…
Para todas as que partilham alegrias com os tristes...
Para todas as que lutam por um mundo melhor…
Para todas as MULHERES…

 As mulheres ainda precisam do seu dia?

A mulher ainda precisa do seu dia especial com data marcada no calendário!
O homem não precisa desse dia especial para si próprio,
porque se considera o rei da criação.
O homem tem todos os dias por sua conta.
É ele que manda em quase tudo.
A mulher ainda luta por estar em pé de igualdade com o homem em muitas áreas.
Em muitas tarefas profissionais ganha menos quando faz o mesmo que o homem.
Na liderança, em vários setores, é preterida em favor do homem.
O homem é o sexo forte, mesmo sendo frágil;
a mulher é o sexo fraco mesmo sendo forte.
Na política barram-lhe a subida apesar do mérito, da sensibilidade, da persistência e da intuição.
Mas quando tem campo aberto lidera.
Nas universidades e no ensino é maioritária;
na investigação dá cartas;
nos cuidados médicos e nas artes bate-se em pé de igualdade;
no desporto agiganta-se;
e na família cuida, amamenta, espalha ternura, acarinha, estimula, abre horizontes, ama incondicionalmente.
E apesar da aparente fragilidade ainda consegue acumular duas profissões:
Uma remunerada, a do emprego; 
e outra não remunerada, a de casa,  por amor.

Fernando Martins

segunda-feira, 6 de março de 2017

Humberto Rocha continua na liderança da ADIG

Eleições na ADIG


No passado 3 de março, sexta-feira, a ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré) elegeu, para o próximo biénio, a lista liderada por Humberto Rocha, constituída, na prática, pelos membros que foram responsáveis pela intervenção daquela associação, no biénio antecessor. Isto significa que vai prosseguir a linha de intervenção pelo bem-estar das populações da região, em especial da Gafanha da Nazaré.
Humberto Rocha, bem conhecido entre nós pelo seu dinamismo e entusiasmo na defesa do que considera ser útil e necessário para o bem do nosso povo, garante que a ADIG «não vai esmorecer» nos seus «esforços», porque «não há cansaço que nos vença». Refere ainda que «a Gafanha da Nazaré e as suas gentes tudo merecem!»
Felicitamos os vencedores pela confiança que neles depositaram os sócios da ADIG, enquanto esperamos determinação, certos de que muito trabalho os espera. «Cada passo em frente é uma vitória e uma grande alegria», sublinha-se no comunicado que me remeteram.

Fernando Martins

“Ílhavo, Terra Milenar” - Arqueologia no Município de Ílhavo

Casa da Cultura de Ílhavo
8 de março
18 horas



Vai ter lugar na próxima quarta-feira, 8 de março, pelas 18 horas, a segunda sessão da palestra “Património Religioso e Urbanístico de Ílhavo”, no âmbito do ciclo de conferências sobre o projeto "Ílhavo, Terra Milenar", promovido pela Câmara Municipal de Ílhavo, através do Centro de Documentação. 
A iniciativa decorrerá na Casa da Cultura de Ílhavo, no auditório adjacente à Exposição "Ílhavo, Terra Milenar", que constitui a base e o motivo da realização de todos os encontros efetuados neste contexto.
Esta sessão terá como oradores Monsenhor João Gaspar e Doutor Saul Gomes, que abordarão o Património Religioso, e o Arquiteto Paulo Anes, que falará sobre a evolução urbana de Ílhavo.
Esta atividade tem entrada gratuita e destina-se ao público em geral, em particular aos amantes do Município de Ílhavo. 

domingo, 5 de março de 2017

Quinta do Rebocho abandonada

Não teria futuro 
na área do turismo?


A Quinta do Rebocho vista da Gafanha da Nazaré... É notório o estado de abandono. Não seria possível recuperá-la para o Turismo?
Antigamente, chegou a ser agricultada e, tanto quanto me lembro, teria caseiro, feitor ou empregado. A família saberá. Depois, sem ninguém por ali, havia quem fosse até lá em jeito de visita. Até houve quem por ali acampasse. Desde há anos que se encontra como mostra a foto.

Fátima dá para tudo (3)

 Crónica de Frei Bento Domingues 



1. Fátima pode dar para tudo, mas não dá para todos! Mesmo a preços loucos, já é impossível arranjar onde dormir de 12 para 13, do próximo mês de Maio. Um antigo colega da Escola Apostólica telefonou-me indignado com esse tipo de observações: um verdadeiro peregrino não vai a Fátima para dormir. Vai para se sacrificar e rezar. Penitência e oração é o programa que os pastorinhos transmitiram, como pedidos de Nossa Senhora. Lembrou-me ainda como também ele e eu, pelos finais dos anos 40 do século passado, aguentamos várias vezes, ao relento, com um cobertor, a noite fria de 12 para 13. Quem é capaz de fazer centenas de quilómetros a pé também pode substituir alguns por uma noite ao relento. Agora, comercializada e aburguesada, tem de seguir a prática da lei da oferta e da procura. O turismo religioso é um negócio muito antigo no qual o substantivo e o adjectivo se ajudam numa tensão fecunda. É sabido que Jesus Cristo não gostava nada desse comércio. Os quatro evangelistas narram, por esse motivo, a sua indignação no átrio do Templo de Jerusalém: “Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; aos que vendiam pombas, disse-lhes: Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira [1].

sexta-feira, 3 de março de 2017

Frederico Lourenço: O Lugar Supraceleste

Ludwig van Beethoven cantou esse lugar




Comecei a pensar em ler algo do multifacetado Frederico Lourenço quando iniciei a leitura do Novo Testamento da Bíblia, uma tradução do grego, com apresentação e notas de sua autoria. Pouco ou nada tinha lido, não por qualquer razão especial, mas apenas porque não tenho capacidade para comprar e ler muito do que é editado. Certo dessa minha lacuna e do desejo de o ler, um filho meu teve a gentileza de me oferecer O Lugar Supraceleste, uma obra constituída por crónicas em que o autor nos oferece muito da sua grande cultura, enriquecidas por vivências a vários níveis, passando pela música, pela filosofia, pelas artes, etc. E devorei uma a uma acolhendo delas o que me soube melhor.
O título era, à partida, estranho, e só no fim, na última crónica, vem a razão da sua opção que deu título ao livro: O Lugar Supraceleste, que não posso nem deve transcrever muito do que disse por motivos que se prendem com direitos de autor. 
No entanto, ninguém me levará a mal, penso eu, se disser que Frederico Lourenço pega em Platão, um filósofo quase sempre presente no seu pensamento e escrita, para o citar quando diz que ele teve «o desplante de chamar à filosofia a mais alta forma de música», juntando depois «injúria aos insultos já lançados contra os poetas ao queixar-se de que nenhum poeta alguma vez conseguiu cantar o lugar supraceleste que está para lá da abóbada do céu». Depois, ao lembrar que Platão viveu em Atenas no século IV antes de Cristo, diz que ele «não pôde estar presente em Nova Iorque no ano 2000, no dia em que Mikhail Pletnev interpretou a última sonata para piano de Beethoven no Carnegie Hall». Frederico Lourenço conclui assim: «Se Platão lá tivesse estado, teria percebido que a filosofia NÃO é a mais alta forma de música: a música é que é a mais alta forma de filosofia. E, ao ouvir a Arietta desta sonata tocada por Pletnev, o inimigo dos poetas teria sido obrigado a reconhecer que um poeta, pelo menos, cantou esse lugar supraceleste: Ludwig van Beethoven.»

Fernando Martins