domingo, 23 de outubro de 2016

A Igreja e a Política: que Igreja e que política? (1)

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO de hoje


1. A Igreja Católica está em alta! Foi a exclamação de um amigo ao mostrar-me, numa rua do Porto, a primeira página do jornal, Le Monde. No Vaticano, está o Papa Francisco, António Guterres no topo das Nações Unidas e o episcopado francês surge, na praça pública, com um grito de alarme para que os responsáveis da direita e da esquerda reencontrem o verdadeiro sentido da política. A laicidade do Estado é um quadro jurídico que deve permitir a todos - crentes de todas as religiões e não-crentes - viverem juntos, com as suas diferenças.
Não deitei água fria naquela euforia. Ele tinha vivido, desolado, o inverno da Igreja desde os anos 80 do séc. XX e com melancolia a mediocridade das lideranças do catolicismo português. Fomos conversar.
É um facto que o Papa Francisco é uma figura mundialmente respeitada. Não apenas pelo seu empenhamento na reforma da Igreja, mas sobretudo porque esse esforço não se destina a fixar-se em questões da instituição ou baixar os braços dos adversários e acusadores.

sábado, 22 de outubro de 2016

Utopias, distopias, retrotopia

Crónica de Anselmo Borges 




Coube-me a honra de um convite para participar no magno evento cultural Folio, na bela Óbidos, com uma fala sobre utopias e distopias, a que acrescentei retrotopia, pelas razões que direi.


1. Foi Thomas More que cunhou o termo utopia, com a publicação, há 500 anos, de A Utopia, cujo título em latim é mais longo: De Optimo Reipublicae Statu Deque Nova Insula Utopia (sobre o melhor estado de uma República e sobre a nova ilha da Utopia). Ele sabia do que falava, concretamente do poder, pois foi chanceler. A Igreja canonizou-o em 1935. A Utopia é uma ilha imaginada lá longe no oceano (utopia tem o seu étimo no grego: ou, que se lê u, que significa não) e tópos, com o significado de lugar. Portanto, Utopia é um não lugar; de qualquer forma, um ideal que indica o caminho.
A utopia supõe a distopia (também do grego: dys, que significa mau, duro: portanto, um mau lugar, o oposto a utopia). Assim, na primeira parte, More critica os males que atravessavam a sociedade inglesa, do despotismo e venalidade dos cargos públicos à sede de luxo por parte dos privilegiados e à injustiça e opressão que provocam. Na segunda parte, descreve uma sociedade ideal, que imaginariamente já se encontra realizada na ilha da Utopia. Neste sentido, embora haja vários tipos de utopias, a utopia nasce como eutopia (mais uma vez, do grego: eu- bom, feliz, e tópos, um lugar bom e felicitante, como na palavra Evangelho: eu+angelion, notícia boa, feliz, felicitante).

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Gafanha da Nazaré — Movimento de Schoenstatt

Registos da visita de hoje
 
Um símbolo de acolhimento com a âncora da nossa terra

O Santuário abraçado por árvores, arbustos e flores

Casa José Engling  sempre  florida

As pedras vivas neste arranjo decorativo

Uma explicação oportuna

As flores sempre presentes

Jovem entra no Santuário
Como faço periodicamente, passei hoje com a Lita pelo Santuário de Schoenstatt. Sentimos que ali se respira um ambiente acolhedor, marcado pelo silêncio e pelo culto da natureza. Arvoredo com bons anos, mas com zonas de reflorestação, denotando que alguém sabe que os espaços que nos envolvem precisam de atenção e cuidados. Pouca gente, que a hora era de trabalho para quem trabalha. Mesmo assim, registámos que era constante a passagem de pessoas. Chegavam, olhavam à volta como que a reconfirmar que Schoenstatt se caracteriza por ser um recanto “onde é bom estar”. Entravam... pelo tempo de estada, simplesmente para uma curta e  porventura habitual oração ou meditação, e partiam, a pé, de carro ou de bicicleta.
Esta passagem arrancou do meu subconsciente vidas ligadas a Schoenstatt, umas ainda entre nós e outras que já partiram para o Pai, como a Dona Maria da Luz Rocha, mas também trabalhos e canseiras dados a sorrir, coisa própria de quem se dá por amor. 
Sou do tempo da mata da Gafanha quase sem nada de importante no meio dos pinheiros, que raramente engrossavam, e vi crescer arruamentos para a todos servir, instituições variadas, o casario da Colónia Agrícola e a chegada de Schoenstatt, com muita gente que me habituei a respeitar. 
Hoje valeu a pena ter saído de casa. Aliás, vale sempre a pena sair de casa, nem que seja para um simples passeio.

Algumas datas:

— O Movimento Apostólico de Schoenstatt (MAS) foi fundado em 18 de outubro de 1914, na localidade do mesmo nome, na Alemanha, pelo padre José Kentenich;

— O MAS entrou na Gafanha da Nazaré em 1970, com a vinda do padre Miguel Lencastre para desempenhar as funções de coadjutor, com a concordância do pároco, padre Domingos Rebelo;

— Como é característica fundamental da missão de Schoenstatt, o Movimento necessita de um Santuário, cópia do original, fonte de graças e local de veneração da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt;

— O MAS destina-se a todas as pessoas das várias faixas etárias, de ambos os sexos, mas ainda a sacerdotes regulares e seculares, bem com a Irmãs. Há os Padres de Schoenstatt e as Irmãs de Maria, entre outros consagrados. No fundo, o MAS está aberto a todos os que apostam “num novo homem para uma nova sociedade”

— No dia 22 de maio de 1977, foi inaugurado um nicho;

— Em 25 de março de 1979, foi inaugurada a Casa das Irmãs de Maria e dada a primeira pazada do futuro Santuário em terras da Diocese de Aveiro, por D. Manuel de Almeida Trindade;

— No dia 1 de maio do mesmo, foram iniciadas as obras de construção do Santuário, de que foram impulsionadores a Irmã Custódia, os padres Miguel Lencastre e António Maria Borges e Vasco Lagarto;

— Em 20 de maio de 1979, foi benzida a pedra angular do futuro Santuário;

— A 21 de outubro de 1979, foi inaugurado o "Santuário Tabor Matris Ecclesiae" por D. Manuel de Almeida Trindade; 

— A 21 de setembro de 1993, o Santuário de Schoenstatt é declarado, por D. António Marcelino, Bispo de Aveiro, Santuário Diocesano;

— A Casa José Engling foi sonho nascido em 1980, graças à inspiração do padre Rúbens Severino, então pároco da Gafanha da Nazaré, e da Juventude Masculina de Schoenstatt. Foi inaugurado em 29 de janeiro de 1985.

— No Santuário cultivam-se as graças do acolhimento, da transformação interior e do envio apostólico. A espiritualidade do MAS assenta no vínculo à Aliança de Amor com Nossa Senhora, na ligação ao Santuário por visita assídua e adoração ao Santíssimo Sacramento, e na atenção aos ensinamentos o fundador, Padre José Kentenich.

Fernando Martins

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

MANIFESTO-ME NA ORAÇÃO QUE FAÇO

Reflexão de Georgino Rocha


O  Fariseu e o Publicano (Abadia de Ottobeuren)
O olhar de Jesus centra-se nas atitudes das pessoas e nas formas do seu relacionamento. Adverte em “coisas” que contradizem o projecto de salvação que vem anunciando. Dá conta de que há quem se considere justo e despreze os outros; de quem aproveite a oração no Templo para se exibir e fazer comparações humanas depreciativas; de quem está cheio de si e das suas obras e não deixa espaço para Deus nem para os demais; de quem apenas reconhece a situação em que se encontra proveniente da sua profissão odiada, “pecadora”.
Adverte e quer repor a verdade. Recorre à parábola do fariseu e do publicano que vão ao templo, como era hábito dos judeus, para orar. Cada um leva o que tem no coração, santuário da nossa realidade mais profunda. Cada um faz oração a seu jeito e manifesta-se tal como é.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Andanças com ria à vista - 1

Comecei por aqui, mas não comprei flor de sal. Ficará para a próxima

O reflexo é mais nítido do que o original
Sei pouco de passarada, mas percebi que estas aves posaram para a fotografia
Porto de Pesca Longínqua com poucos navios. Bem visível está o Santa Maria Manuela com os seus quatro mastros
Do outro lado da ria. Do longe se faz perto
De vez em quando é preciso sair de casa, mesmo com dificuldades no andar. Mas vale a pena o sacrifício pelo prazer de manter animada a memória cheia de imagens de tantas décadas de vida. Hoje por aqui, depois ainda à volta da laguna aveirense. A seguir outros recantos, que a região está cheia de desafios. Curiosamente, senti que toda a vida estive muito alheio ao outro lado da ria. Sem barco à mão, ficamos analfabetos, ou quase, em relação a certas margens. Bem ouço que é preciso passar às periferias, mas temo as caminhadas. 

D. João Evangelista ordena inquérito aos acontecimentos de Fátima

1917 — 19 de outubro

«O ilustre aveirense D. João Evangelista de Lima Vidal, então arcebispo de Mitilene e governador do Patriarcado de Lisboa, ordenou que se procedesse a um inquérito sobre os acontecimentos extraordinários de Fátima, iniciando assim o processo canónico das aparições da Virgem Maria às três crianças (João Gonçalves Gaspar, Lima Vidal no seu Tempo, II, pg. 80) – A.»

“Calendário Histórico de Aveiro”
de António Christo e João Gonçalves Gaspar


NOTA: É curioso verificar como não me lembrava desta efeméride em que esteve envolvido D. João Evangelista de Lima Vidal, apesar de ter lido o livro escrito por Mons. João Gaspar. Aquele que veio a ser o primeiro bispo da restaurada Diocese de Aveiro afinal também esteve ligado ao processo das aparições de Fátima. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Não haverá salvação?

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO de domingo



«A devoção que retém as pessoas nas igrejas, nas sacristias, 
está a opor-se a um Jesus em viagem para as periferias sociais e culturais.
 Foi isto que o papa Francisco veio lembrar: só vale uma Igreja de saída!»


1. Por causa do texto do passado domingo, recebi um telefonema longo, tentando mostrar-me que já não existem deuses, homens ou mulheres que nos possam salvar. O mundo está irremediavelmente perdido. Os cristãos são os mais culpados pela enganosa ideia de salvação. Depois da derrota de Jesus de Nazaré, inventaram a fé na impossível ressurreição. Não havendo remédio contra a morte, só ela nos pode livrar do mal de existir.
Depois desta metafísica veio uma sumária lição sobre a responsabilidade europeia no actual desconcerto do mundo. No séc. XIX, a filha da civilização das Luzes cegou-se com o alargamento das suas zonas de dominação. Duas guerras mundiais, de horrorosos extermínios, tornaram a memória do século XX numa vergonha sem nome.
Das ruínas surgiu a ideia de construir uma Europa como nunca tinha existido. Num momento de lucidez, alguns dirigentes de partidos democratas-cristãos e sociais-democratas consentiram em criar as condições para a sua união. Não previram que os sucessores iriam desprezar as boas regras da cooperação e do funcionamento democrático das instituições. Com desníveis económicos tão acentuados e sem o desenvolvimento de uma cultura de diálogo intercultural — a partir da família, da escola e das relações de trabalho — os velhos demónios do nacionalismo populista voltaram a agitar-se.
Os eurocépticos passaram a queixar-se do casamento e a calcular as vantagens e inconvenientes de um divórcio. O outro europeu está a tornar-se um adversário e os acossados pela guerra e pela fome que lhe batem à porta são seleccionados conforme o contributo que possam representar para os seus interesses e necessidades.

sábado, 15 de outubro de 2016

Ílhavo, Terra Milenar — Uma exposição a não perder

Exposição no Centro Cultural de Ílhavo 

“Se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, 
segue-se que no passado e no futuro se vê o presente, 
porque o presente é futuro do passado, 
e o mesmo presente é o passado do futuro.”

Pe. António Vieira


Fernando Caçoilo e Paulo Costa

Fernando Caçoilo e Maria Isabel Ribeiro


Eliana Fidalgo na visita guiada







Com o jogo de palavras simples e sabiamente ordenado pelo Pe. António Vieira, foi inaugurada hoje,  15 de outubro, no Centro Cultural de Ílhavo, pelas 17 horas, a Exposição “Ílhavo, Terra Milenar”. Vai ficar patente até 17 de abril de 2017, sendo certo que durante um ano será, garantidamente, enriquecida, graças ao contributo dos munícipes, mas não só. Aliás, este foi o desafio lançado a todos os presentes pelos autarcas e demais responsáveis da equipa que coordena o projeto — CIEMar-Ílhavo —, que abarca o estudo do passado e do presente, rumo ao futuro.
Fernando Caçoilo, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, sublinha que deu luz verde a este projeto na convicção de que a nossa história é importante e merece ser mais conhecida. «Pode haver muito conhecimento, mas se não for partilhado pela comunidade, se ficar guardado na gaveta, não serve absolutamente para nada», disse. Refere ainda, entre outras considerações, que «o passado nos dá força e conhecimento para percebermos o que devemos fazer para o futuro das nossas gerações». 
Paulo Costa, vereador da Cultura e dinamizador deste aliciante trabalho, que considera «ambicioso», frisa a importância de todos conhecermos melhor a nossa história «mais sistematizada». Adianta que nos próximos seis meses serão desenvolvidas diversas iniciativas, de forma regular, nomeadamente, conversas, colóquios e debates, dirigidas a vários públicos. 
Admite que a partir deste trabalho-base haverá trabalhos mais intensos, com investigação mais profunda, estando em preparação uma monografia do município «a várias mãos». Salienta que a história do povo «nunca está escrita» porque precisa constantemente de ser «reescrita». Nessa linha, Paulo Costa está certo de que esta exposição «deverá ser um incentivo para conversar e para discutir», no sentido de «conhecermos o passado para prepararmos o futuro». Garantiu, também, que o projeto “Ílhavo, Terra Milenar” vai chegar às escolas.
Maria Isabel Ribeiro, da equipa do Prof. Saul Gomes, responsável científico desta ação da autarquia, valoriza a presença de representantes das universidades de Coimbra e Aveiro e o trabalho dos investigadores voluntários, afirmando que «a história nunca está acabada». «Este é um trabalho organizado, coordenado e metódico, que se apoia em pesquisas, incluindo a investigação arqueológica».
Garante que o Foral Manuelino de Ílhavo, cujo estudo foi já publicado pela autarquia ilhavense, «foi um momento marcante», e sobre a mostra patente no Centro Cultural lembra que «há trabalhos que não têm a visibilidade de uma exposição». «O conhecimento não pode ficar fechado numa biblioteca; serve se servir aos cidadãos».

Fernando Martins

O vinho na Bíblia

Crónica de Anselmo Borges 



Em tempo de vindimas e vinho novo, 
fica aí uma alusão ao vinho na Bíblia.


1. O vinho é tão importante, com funções tão significativas no convívio social e na vida toda, que os antigos até pensavam que ele era uma criação dos deuses. Dioniso - Baco para os romanos - era o deus do vinho, que ensinou aos homens a arte do cultivo da videira e da preparação do vinho. Ele é de tal modo exaltante que, na leitura dos clássicos, da grande literatura, como belos poemas, grandes tragédias, romances geniais, dizemos que ficamos "inebriados". Diante do esplendor da beleza - o maior exemplo, para mim, é sempre a música, a grande música -, há quem exclame: "Uma bebedeira de beleza!" Num dos mais extraordinários diálogos filosóficos de sempre sobre o amor - o Banquete (Simpósio), de Platão -, lá está o vinho. Na Bíblia, as referências ao vinho são muitas. Tanto no Antigo como no Novo Testamento.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Clube de Vela Costa Nova


O Clube de Vela Costa Nova 
é um dos mais antigos clubes náuticos 
da zona do estuário 
da Ria de Aveiro 




O Clube de Vela Costa Nova é um dos mais antigos clubes náuticos da zona do estuário da Ria de Aveiro. 
Localizado na bonita e singular Praia da Costa Nova do Prado, a cerca de 10 minutos das cidades de Ílhavo e de Aveiro, o Clube de Vela Costa Nova promove a náutica de recreio nesta zona da Ria. 
Fundado em 1981 e dotado do estatuto de Associação de Utilidade Pública, o Clube de Vela Costa Nova tem na Vela Ligeira e de Cruzeiro o seu principal foco de atividade, tendo-se constituído, ao longo dos seus mais de 35 anos de atividade, como referência na formação de jovens velejadores e na divulgação das classes de vela mais tradicionais. As suas escolas de Vela e de Náutica de Recreio, ambas certificadas, são hoje em dia uma referência a nível nacional. 
As 4 Horas da Costa Nova associações Clube de Vela Costa Nova constituem uma Regata emblemática organizada anualmente durante o mês de agosto na zona da Ria em frente à Costa Nova. Esta prova, na qual participam anualmente dezenas de barcos, é hoje em dia um evento marcante na promoção da vela e da região, sendo, por si só, um cartaz que atrai à Costa Nova largas centenas de visitantes e adeptos do desporto náutico. 
Com cerca de 900 associados, o CVCN procura ser hoje uma associação virada para o futuro e uma referência entre os maiores e mais modernos Clubes da Região Norte de Portugal. Com um longo historial rico e marcante na promoção da vela e investimentos patrimoniais elevados, o CVCN pretende manter-se como uma instituição de excelência, contribuindo para a valorização dos seus sócios e do meio onde se encontra inserido, bem como promover turística e culturalmente a Costa Nova, o Município de Ílhavo e a Ria de Aveiro.

Principais Atividades 

- Escola de Vela (todo o ano); 
- Escola Náutica de Recreio (cursos de Marinheiro, Patrão Local, Patrão de Costa, Patrão de Alto Mar, Radiotelegrafista Classe A, Radiotelegrafista Geral); 
- Regata 4 Horas da Costa Nova; 
- Circuito da Ria de Cruzeiros; 
- Organização de Campeonatos Nacionais Federados de Vela.

Clube de Vela da Costa Nova

Av. José Estêvão 
3830-453 Costa Nova do Prado

Tel 234 369 300 Telm 963 898 568
www.cvcn.pt cvcn@cvcn.pt

Presidente da Direção

Paulo Ramalheira

Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI

Nota: Fotos do meu arquivo

A força da oração confiante e persistente

Reflexão de Georgino Rocha
Papa Francisco em Bangui
Uma viúva teimosa e um juiz sem escrúpulos, iníquo, são os protagonistas da parábola que Jesus narra para mostrar aos discípulos a necessidade da oração confiante e persistente. A queixosa não deixa em paz quem lhe pode valer, fazendo justiça. Via-se acossada por um perseguidor que não a largava. Não tinha qualquer outra defesa: familiares ou vizinhos, amigos, crentes praticantes ou indiferentes religiosos. Sentia-se amargurada e só. Certamente lhe ocorrem várias saídas. Escolhe uma, a mais coerente e honesta. Cheia de determinação, dirige-se ao juiz, o encarregado de velar pelo cumprimento do direito. Pede-lhe justiça. Nada mais. Que o adversário deixe de a atormentar. Que possa viver em paz. Que a liberte da amargura e do medo.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Exposição “Ílhavo, Terra Milenar”

Conhecemos o passado, 
preparamos o futuro


Sábado | dia 15 de outubro | pelas 17h00 |
no Centro Cultural de Ílhavo |Inauguração da Exposição 
“Ílhavo, Terra Milenar”

Patente até 17 de abril de 2017

Muito mais do que um fim, esta exposição marca o início de uma investigação profunda, sistemática e consistente sobre o Município de Ílhavo, abordando os aspetos mais marcantes na nossa imensa História, impossível de materializar  na sua totalidade dentro destas quatro paredes. 

Um caminho sempre em aberto 
em direção ao conhecimento, 
suscitando a união e a paixão 
da Gente da Terra

Fonte: CMI

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Horror às rotinas


1.Tenho horror às rotinas. Aceito, promovo e defendo as mudanças em todos os setores da vida. Outros pensarão o contrário; sentem-se mais seguros com o status quo. Não é por acaso que de vez em quando altero a fisionomia dos meus blogues. Gosto de inovar, de mudar, de abrir portas e janelas para entrar ar fresco, de aceitar alternativas. Outros sentir-se-ão bem como sempre estiveram: sentados nas mesmas cadeiras, percorrendo os mesmos trilhos, abordando os mesmos temas, pregando os mesmos sermões.
Mudar é procurar novos caminhos, definir novos desafios, apostar em ideias renovadoras. Tudo, naturalmente, em consonância com o espírito do possível e do necessário. Olhando atentamente os sinais dos tempos que mudam com aragens frescas e desafiantes. 

2. No domingo, li o PÚBLICO sob a luz coada pela janela do meu Sótão, com a curiosidade de perscrutar as mudanças avançadas pela nova direção, presidida por David Dinis. O P2 voltou para quebrar a monotonia do caderno único. Reportagens interessantes a par de textos mais ligeiros. Para não cansar. Lê-se o primeiro caderno e depois vamos ao segundo. Há algumas novidades e outras hão de seguir-se para se não cair na rotina. Adivinham-se novos colaboradores para acicatar as nossas curiosidades impostas por este espantoso mundo da comunicação social. 

3. Permitam-me que destaque o “Regresso a casa” na rubrica “A esquina do mundo”, do fundador do jornal, Vicente Jorge Silva. Jornalista competente que marcou, passados quase 30 anos, o jornalismo de referência no nosso país. 
Vicente Jorge Silva comoveu-se com o convite, apesar de escrever, na hora da despedida, a 29 de novembro de 1997, que “Nada é mais inabitável do que um lugar onde se foi feliz” [Cesare Pavese]. E depois contou a chegada à Redação: «vi-me envolvido numa onda de afecto intenso, emocionado, que pude partilhar com aqueles que haviam trabalhado comigo e outros que tinham chegado depois da minha partida. Foi um momento mágico que não esquecerei e que selou o meu reencontro com o PÚBLICO.»
Não será preciso dizer mais nada. Continuarei leitor do PÚBLICO e do Vicente Jorge Silva. 
Só mais uma palavra: gostaria que o António Marujo também regressasse. Há uma lacuna que só ele poderia preencher no âmbito do religioso, espiritual e transcendente, de matizes muito diversos.

Fernando Martins

domingo, 9 de outubro de 2016

As Mulheres na Igreja

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

Mulheres com o Papa Francisco 
1. O ciclo de tertúlias, de Janeiro a Novembro de 2016, na Biblioteca de Belém, é inteiramente dedicado às mulheres. No passado dia 29, o tema era As mulheres na Igreja, desenvolvido pela filósofa Maria Luísa Ribeiro Ferreira e moderado por Maria João Sande Lemos. Como carta fora do baralho, pediram-me uma intervenção.
Lembrei-me, imediatamente, da antiga distribuição das pessoas no espaço da igreja da minha aldeia: os homens à frente, as mulheres e crianças atrás. O padre dizia a Missa, em latim, de costas para todos.
As mulheres limpavam a igreja, enfeitavam os altares e algumas ensinavam a “doutrina” às crianças. Dizem-me que, nas igrejas das cidades, as actividades e associações femininas eram mais abundantes e variadas.
A partir dos anos 30 do século passado, a Acção Católica teve um papel muito activo na renovação da vida da Igreja. Manteve, em todas as suas expressões, a separação entre masculina e feminina. O assistente era sempre um padre.
Nos anos 60, para os Cursos de Cristandade, a religião não era para mulheres. A versão feminina surgiu apenas para que elas pudessem entender o repentino fervor dos maridos cursilhistas.
Na mesma época, casos como o da Juventude de Cristo Rei - inteiramente misto e em perfeita autogestão democrática – eram raros. 
Os chamados Institutos femininos de Vida Consagrada nunca precisaram de nenhuma ordem para se multiplicarem, mas também nunca eram dispensados da autorização masculina. 
Compreendo que as novas gerações já não saibam o que isso quer dizer e as mais velhas não gostem de o lembrar. No entanto, o tema, As mulheres na Igreja, é recorrente, mas falar do papel dos homens na Igreja parece insólito. Porque será?

sábado, 8 de outubro de 2016

Já se encontra em Deus o Padre Jeremias Carlos Vechina

Notícia da Agência Ecclesia 

Antigo provincial da Ordem dos Carmelitas Descalços 
em Portugal deixa um legado de dedicação 
à espiritualidade e à formação

(Foto de SN/AE)
Faleceu o padre Jeremias Vechina, antigo Provincial da Ordem dos Padres Carmelitas Descalços em Portugal e Superior do Convento carmelita em Fátima e Paço de Arcos.
A informação foi avançada hoje pela congregação à Agência ECCLESIA, numa nota em que destaca o percurso deste religioso de 77 anos, que tinha cumprido recentemente 50 anos de sacerdócio.
Natural da Gafanha da Nazaré, na Diocese de Aveiro, e nascido no meio de uma família numerosa, com mais sete irmãos, o padre Jeremias Carlos Vechina iniciou o seu percurso vocacional no Seminário Carmelita Missionário de Viana do Castelo, em 1953.
Seguiu depois para Espanha para fazer o noviciado e a sua formação, nomeadamente em filosofia e teologia, nas localidades de Larrea, Vitória e Bilbau, respetivamente.
A ordenação sacerdotal chegou a 11 de setembro de 1966 e nos anos seguintes esteve em Roma para estudar espiritualidade.
Além dos cargos que exerceu na Ordem dos Carmelitas Descalços, já referidos, o padre Jeremias Vechina foi diretor das Edições Carmelo e Mestre de Noviços.
Enquanto especialista em espiritualidade carmelita, sobretudo em ligação à vida e obra de Santa Teresa de Jesus e de São João da Cruz, empenhou-se em vários movimentos da vida da Igreja Católica, procurando aí transmitir o carisma e a razão de existir da congregação, também junto dos Carmelitas Seculares, o ramo laical da Ordem.
Foi também nessa condição que colaborou várias vezes com a Agência ECCLESIA, sobretudo através do Programa ECCLESIA, na Antena 1, como aqui recordamos.
Ao longo da sua vida, dedicou ainda especial atenção à formação dos sacerdotes diocesanos e religiosos, dando o seu contributo em inúmeros retiros e encontros.

JCP

Li aqui

NOTA: Acabo de receber, via Agência Ecclesia, a triste notícia do falecimento do Padre Carmelita Jeremias Carlos Vechina, meu colega da Escola Primária da Cambeia, Gafanha da Nazaré. Éramos  sensivelmente de mesma idade (ele nasceu em 21 de novembro de 1938 e eu três dias depois, 24 do mesmo mês)  e comungámos dos mesmos ideais cristãos. Ele optou pelo seminário, talvez inspirado pela convivência com três tios padres, João Maria, José Maria e Manuel Maria Carlos. que deixaram memória de fé e dedicação à Igreja entre nós. Especializado em espiritualidade, foi sempre um bom amigo, com quem de vez em quando trocávamos recordações em esporádicos encontros de velhos condiscípulos.
É irmão ainda de um padre, José Carlos Vechina, também carmelita.
Pelo que dele conheço, sei que o Senhor da Misericórdia, tendo em conta os méritos e a entrega incondicional do Padre Jeremias à Boa Nova de Jesus Cristo,  já o acolheu no seu terno regaço maternal,
Apresento condolências aos Padres Carmelitas e à numerosa família do Padre Jeremias.



O funeral será realizado hoje, domingo, pelas 16 horas,
na Igreja do Carmo, em Aveiro, 
seguindo depois para o Cemitério da Gafanha da Nazaré


Excepcionalismo islâmico

Crónica de Anselmo Borges 






1.Na religião, como tentei tornar claro no Sábado passado, o decisivo é a experiência religiosa, mística, do encontro pessoal com Deus, com todas as consequências de comprometimento com o amor ao próximo, também na política. Mas, num mundo pluralista, em ordem à convivência e à paz, há condições essenciais, nomeadamente o Estado aconfessional. De facto, sem a separação da religião e da política e sem um Estado laico, não se vê como é possível garantir a tolerância e a liberdade religiosa de todos. Evidentemente, a laicidade nada tem a ver com o laicismo pelo qual, desgraçadamente, muitos sectores, sobretudo da esquerda política e cultural, se batem.

2 Quando a laicidade não foi garantida, imensos atropelos foram cometidos no âmbito do mundo cristão, como mostrei no Sábado. De qualquer forma, o fundador, Jesus, tem aquelas palavras decisivas: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". O cristianismo foi durante 250 anos uma religião pacífica e não pretendia conquistar o poder político. Aliás, seguindo o exemplo de Jesus que, chegado a Jerusalém, não exerceu violência, pelo contrário, mandou que Pedro metesse a espada na bainha, e foi crucificado.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Da janela do meu sótão



Os horizontes da janela do meu sótão não são muito desafiantes. Ou serão? A torre da igreja à esquerda, o casario a encher o espaço e a mata da Gafanha ao longe. Ainda telhados, uns gastos pelo tempo e outros novos ou rejuvenescidos, postes e cabos que se cruzam e entrecruzam da energia elétrica e redes sociais, chaminés para gostos diversos, ruas que se persentem e estórias  que me enchem a alma.
Pelas novas que vêm do lado das Finanças, não será por esta paisagem que o IMI subirá. Mas se fisicamente o horizonte é, realmente, limitado, já o mesmo não digo das memórias que me chegam, dia a dia, quando olho através da janela. Aí, haverá sempre algo a partilhar, trazendo até ao presente gente e cenas de mais de meio século de vivências neste recanto sereno da Gafanha da Nazaré.
Depois, porque nas lembranças há tantos horizontes sonhados, idealizados, ouvidos, contados e recontados, cujo prazer de os partilhar, revivendo quotidianos, me obrigam a agradecer à vida. Para isso tenho pano para mangas quanto baste para divagar ao som do mar que mora em todo o meu ser. 
É por aqui, a partir da janela do meu sótão, que viajarei quando puder

OBRIGADO JESUS, ÉS O MEU SALVADOR

Reflexão de Georgino Rocha

Jesus encontra-se com leprosos numa aldeia situada entre a Samaria e a Galileia, no caminho para Jerusalém. Pode parecer um encontro fortuito, mas não é pois os protagonistas mutuamente se desejavam: Os leprosos, por necessidade; Jesus por imperativos da sua missão, de que faz parte integrante a atenção sanadora aos excluídos da sociedade e amaldiçoados da religião judaica. Lucas concentra a narração na atitude do samaritano leproso que é curado em contraste com os outros nove. Evita pormenores ou derivas que distraiam o discípulo leitor. E fá-lo com grande acerto descritivo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A paz com o olhar na ria


Fiquei com a sensação de que o mais importante para este pescador desportivo está na tranquilidade que da ria vem para a sua alma. Ali, sem vivalma que o incomode, sem sono nem azedume, sem rádio e sem TV, sem vizinhos e sem ventos que o perturbassem, percebi que a laguna tranquilizante é remédio para muitos males: stresse, angústias, depressões. cansaço, tristezas. Fiz, então, uma curta experiência e concluí que nem sempre aproveitamos as benesses da natureza, 

Ser atleta é correr para o «mistério»

Papa pede desporto para todos, 
apela ao fim da corrupção 
e diz que ser atleta é correr para o «mistério»


Na presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e do presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, Francisco realçou que «é importante que todos possam participar nas atividades deportivas». «Neste momento penso também em muitas crianças e jovens que vivem às margens da sociedade. Todos conhecemos o entusiasmo das crianças que jogam com uma bola furada ou feita de trapos nos subúrbios de algumas grandes cidades ou nas ruas das pequenas vilas.»
(...)
«Seria triste, para o desporto e para a humanidade, se as pessoas deixassem de confiar na verdade dos resultados desportivos, ou se o cinismo e o desencanto levassem a melhor sobre o entusiasmo e a participação alegre e desinteressada. No desporto, como na vida, é importante lutar pelo resultado, mas jogar bem e com lealdade é ainda mais importante»
Papa Francisco


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A Nossa Gente: Licínio Amador

Licínio Amador (foto do meu arquivo)
Neste mês de outubro, em que se comemora o Dia Mundial do Professor e o 15.º aniversário da ampliação e remodelação do Museu Marítimo de Ílhavo, dedicamos a rubrica “a nossa gente” a Licínio Ferreira Amador, professor aposentado e um curioso por certos episódios da História de Portugal e da temática marítima. 
Licínio Amador nasceu na freguesia de S. Salvador, em Ílhavo. Depois da Instrução Primária, ingressou na Escola Comercial, Secção Preparatória para o Instituto Comercial, atual Escola Secundária Dr. Mário Sacramento, em Aveiro. Seguiram-se mais dois anos letivos, desta vez no Liceu José Estêvão, igualmente em Aveiro, que lhe deram equivalência para concorrer ao ensino superior. 
Em 1975, ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que frequentou com o estatuto de trabalhador-estudante, pois durante a sua vida académica sempre deu o seu contributo à atividade comercial da família.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Filarmónica Gafanhense celebra o seu 180.º aniversário


No próximo dia 23 de outubro, a Filarmónica Gafanhense, também conhecida por Música Velha, vai celebrar o seu 180.º aniversário, com um programa simples mas expressivo. Para assinalar o facto, sobressai a apresentação de um fardamento novo, que importou em 15 mil euros, comparticipados por diversas entidades públicas e privadas, bem como pelo resultado de eventos levados a cabo pela associação musical que ao concelho de Ílhavo muito tem dado ao longo da sua história.
As cerimónias iniciam-se com uma romagem ao cemitério da Gafanha da Nazaré, pelas 10h, na qual se integram os corpos sociais, membros da Filarmónica e amigos, para assim prestarem singela mas significativa homenagem aos que, dando o melhor de si à Música Velha, não podem nem devem ser esquecidos nesta data marcante.
Às 11h15 a Filarmónica Gafanhense participa na Eucaristia dominical e pelas 16h haverá um concerto no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, com a apresentação do novo maestro. Às 19h, no Stella Maris, será o jantar aberto a sócios, simpatizantes e amigos da banda.
Na primeira parte do concerto, os executantes apresentar-se-ão com o fardamento antigo e na segunda parte com o fardamento acabado de adquirir, que será de cor azul mais escura.
Entretanto, e como tem vindo a ser noticiado, a Escola de Música Gafanhense já foi integrada na Filarmónica Gafanhense, por se tornar incomportável a existência de duas escolas de música do mesmo género na Gafanha da Nazaré. Há neste momento cerca de 30 alunos para todos os instrumentos próprios da banda, havendo também aulas de piano.
A Filarmónica comprou recentemente um carrilhão que importou em 3300 euros e, ainda, flautas transversais e uma trompa que custaram seis mil euros.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Dona Luz Rocha já descansa no seio maternal de Deus

FUNERAL
Igreja Matriz da Gafanha da Nazaré
Amanhã, Quarta-Feira,
5 de Outubro
16h30



Se há notícias que tenho muitas dificuldades em escrever e divulgar, o falecimento de Dona Maria da Luz Rocha é, seguramente, uma delas, porventura a mais dolorosa, emparceirando ao lado dos meus familiares e amigos mais próximos. Dona Luz, como era conhecida entre nós e muito para além das nossas fronteiras, recolheu-se há momentos no seio maternal de Deus, o mesmo Deus que durante a vida a guiou e lhe deu capacidades para estar, animar, ajudar, aconselhar e indicar caminhos de bem, de verdade e de vida digna a todos quantos com ela conviviam ou dela se aproximassem em momentos de fragilidades humanas ou de pobreza extrema. 

A Dona Luz, que tive a felicidade de acompanhar na vida, dando-lhe o meu apoio incondicional quando alguns lho recusavam, foi, para mim e para imensa gente, um pouco de todo o país, uma mãe solícita, uma crente fervorosa, uma católica empenhada na comunidade e, sobretudo, um belo testemunho, no meio da sociedade e em todas as circunstâncias, mas também uma seguidora de Jesus Cristo e da Sua Boa Nova que haveria de revolucionar a nossa era, a era cristã, tão simplesmente pelo mandamento novo que nos deixou: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”

Ainda jovem, mas já viúva e com quatro filhos, olha com ternura para as mulheres e raparigas mal-amadas, rejeitadas pelas famílias, namorados ou maridos, e avança, com Rosa Bela Vieira, na qualidade de vicentinas, para o apoio incondicional a quantas lhe batessem à porta a pedir apoio… E a bola de neve foi crescendo, sempre com a sua firme determinação, formalizando-se depois com o conhecido nome de Obra da Providência. 

Está hoje junto do Deus que tanto amou, com Eucaristia diária que nunca dispensou, pois acreditava, firmemente, que toda a força que possuía para fazer o bem sem olhar a quem, em especial aos feridos da vida, vinha precisamente daí. Deus em Jesus Cristo, que ela via nos rejeitados e perseguidos, nos pobres e nos infelizes, era a sua inspiração diária, a força do seu discernimento, a coragem da sua intervenção social, o sentido coerente da sua permanente vivência eclesial e o amor que repartia com toda a gente.

Fernando Martins

domingo, 2 de outubro de 2016

A verdadeira religião é crítica

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


 
1. Tinha recomendado a um amigo, enfastiado com as produções açucaradas de espiritualidade pós-moderna e com as passerelles de diálogo inter-religioso, o último livro de Anselmo Borges, o questionador das manifestações da religiosidade, da religião e das religiões[1]. É um agrupamento de textos essenciais acerca do essencial.
Avisei o potencial leitor de que não são as razões que encontramos para crer em Deus e as que temos para não crer que nos fazem crentes ou ateus. Virou-se para mim apreensivo: mas, então, em que ficamos?
Não podemos ficar. Os que repousam nas suas convicções continuam o mesmo sono dogmático. Os despertos são peregrinos. É normal que, na presente condição humana, precisem de “estações de serviço” para continuar a viagem. Mas quando se diz que o nosso coração não conhecerá quietude a não ser quando repousar no infinito, imagina-se, de forma ilusória, o infinito como termo de uma caminhada.

sábado, 1 de outubro de 2016

Excepcionalismo

Crónica de Anselmo Borges 



1. Sempre que se fala em religião tem de se atender a uma distinção essencial. Sem ela, todo o debate se anula em confusões. Há a religiosidade, que consiste naquele movimento de transcendimento que se defronta com o Mistério, a que os fenomenólogos da religião chamam o Sagrado. Religioso é aquele que se entrega confiadamente a esse Mistério-Sagrado, do qual espera salvação. Depois, neste enquadramento religioso, entende-se que apareçam as religiões institucionais, que são construções humanas enquanto mediações entre o Mistério ou o Sagrado, Deus, e os homens e mulheres, e entre estes e aquele. Nas religiões, encontram-se concretamente quatro dimensões: a dimensão teológico-doutrinal, a litúrgico-celebrativa, a ético-moral e a organizacional.
Nesta distinção entre religiosidade, religiões e Sagrado-Mistério, entende-se que as religiões estão referidas ao Sagrado, Deus, mas não são Deus, o Sagrado, o Mistério, que todas tentam dizer, mas que a todas transcende. Por outro lado, percebe-se que pode acontecer que alguém tenha feito e faça uma experiência mística, religiosa, de autêntico encontro com Deus e, no entanto, não se relacione, ou pouco, com a religião institucional, como pode acontecer que alguém viva na e da religião institucional, se sirva dela para fins económicos, políticos, estratégicos, de prestígio, etc., - no limite, que alguém mate em nome da religião - e não tenha nenhuma experiência religiosa autêntica, viva.