domingo, 3 de janeiro de 2016

Com quem começar o novo ano? (I)

Crónica de Bento Domingues 

frei bento domingues - Pesquisa Google:
Esperava-se, nesse momento, 
tanto entre judeus como entre gentios, 
que o universo mudasse de signo 
para uma nova salvação.

1. Um católico fervoroso tentou convencer-me de que a preocupação com a Bíblia e mesmo com os textos do Novo Testamento era prejudicial à sua fé, pois suscitavam-lhe muitas dúvidas e, para viver, as certezas é que são precisas. Tinha ficado muito satisfeito, no entanto, ao ouvir dizer que, “ao contrário do Judaísmo e do Islão, o Cristianismo não era uma religião do Livro. Era uma ligação espiritual a Jesus Cristo que, aliás, não tinha deixado nada escrito. Nenhuma doutrina ou prática moral se poderia reclamar dele”.

Perante semelhante desistência intelectual, não entrei na conversa. Por outro lado, também não disponho de respostas rápidas para questões complexas, como tantas vezes me foi pedido nesta quadra natalícia. Uma, repetida por vários leitores, regressou como se fosse a primeira vez: afinal, quem é o fundador do Cristianismo?
Um famoso historiador das origens cristãs, Antonio Piñero, em várias das suas obras e intervenções, sustenta que nenhuma das ideias do Novo Testamento, isoladamente consideradas, é original. A teologia deste conjunto de escritos não é um meteorito descido do céu. É um produto da história teológica, social e literária anterior que importa conhecer para compreender o nosso passado religioso e de certo modo, o próprio Ocidente.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Bolacha Americana



Sou do tempo da Bolacha Americana que se vendia nas praias no verão como doce sempre apetecido. Depois a venda passou a ter lugar cativo nas grandes superfícies, que garantiam a comercialização durante todo o ano. Só no verão não dava para viver. E pelo que tenho visto não faltam os clientes, com "raiva" minha porque não a posso comer. A diabetes a isso obriga. 
Hoje o vendedor da bolacha americana saiu à rua, mesmo em tempo de inverno, curiosamente sem muito frio. E à falta de um bom amplificador de som, moderno e sofisticado, o vendedor usa as mãos para projetar a sua voz o mais longe possível. Bom apetite para quem puder comer a bolacha estaladiça e doce... muito doce.

A sabedoria em três palavras

Crónica de Anselmo Borges 

É urgente fazer o elogio do silêncio, 
para ouvir a voz da consciência



1. Passada a alegria, talvez até a euforia, da passagem do ano velho para o novo ano, o que é facto é que estamos no ano novo de 2016. E, aqui chegados, nesta abertura do novo, do que nunca houve, pois é mesmo novo, inédito, pela primeira vez, talvez não seja mau reflectir um pouco

2. Fazer o quê no novo ano? Fazermo-nos, que é a única tarefa que temos na existência.
Ao contrário dos outros animais, os humanos vêm ao mundo por fazer. Nascemos prematuros. Daí, dizermos a nós próprios: ou a natureza foi madrasta para nós, pois nascemos sem garras para nos defendermos, sem pêlos para nos protegermos, por fazer, ou esta é a condição de possibilidade de sermos o que somos, fazendo-nos: seres humanos, tendo de receber e de fazer por cultura o que a natura nos não deu. Nascemos com uma abertura ilimitada de possibilidades, permitindo inovar, criar e inventar, e crescer, de tal modo que, se Platão, por exemplo, cá voltasse, encontraria os outros animais como os deixou, mas teria dificuldade em adaptar-se à nova sociedade que entretanto os humanos criaram. Cá está: tendo nascido por fazer, a nossa missão é, fazendo o que fazemos nas mais variadas funções e actividades, fazermo-nos a nós próprios, uns com os outros, evidentemente. E, no fim, o resultado será ou uma obra de arte ou uma porcaria (perdoe-se a dureza da palavra), a vergonha de nós.

Festa da Epifania

Reflexão de Georgino Rocha

EM JESUS, DEUS FAZ-SE 
HUMANO PARA TODOS

Rolo da câmera | Flickr - Photo Sharing!:
Magos na tradição da Gafanha da Nazaré


Os magos do Oriente e a arriscada viagem a Belém, com episódica passagem por Jerusalém, constituem uma boa referência para todo o ser humano que busca o rosto de Deus. São um símbolo que Mateus “trabalha” admiravelmente e vem completar a manifestação do alcance da missão de Jesus. Aos familiares, é o nome; aos pastores, o anúncio dos anjos e a visita ao curral de animais; aos magos, a estrela com brilho intermitente que os acompanha em toda a viagem até Belém.

A Igreja, apoiada na riqueza desta tradição, celebra a Festa da Epifania do Senhor, festa em que Deus se humaniza em Jesus, acolhe os de longe e de perto, integrando raças e cores, tradições e culturas, crenças e religiões. Integrando, sem anular, mas completando e abrindo os olhos do coração a uma nova luz: a estrela da verdade, a riqueza do diálogo, a paciência nas “horas de trevas”, a persistência na viagem da vida, a alegria de alcançar a meta e ver o sonho realizado – início de uma nova etapa como aconteceu aos magos que regressam por outro caminho, após o encontro com o Menino e sua Mãe.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A partir de hoje, começo a renascer!

Reflexão-poema  
de Maria Donzília Almeida

Propósito  — 2016

Hoje dir-me-ei que quero
Estar de bem com a vida,
E em paz comigo, com as pessoas
Que me rodeiam
E as que estão distantes de mim.
Vou irradiar esperança e amor,
A todas as pessoas que convivem comigo.
O que de graça recebi, de graça quero oferecer.
Não me vou queixar do passado,
Do que não deu certo,
Nem daquilo que deixei de fazer.
Hoje o meu pensamento
eleva-se e o meu viver intensifica-se.
Que Deus me ajude a ser
uma pessoa realizada e feliz,
Que nasceu para algo mais:
quero oferecer a todas as pessoas
o meu ombro amigo,
para que possam contar comigo
para chorar, sorrir, sonhar…
A partir de hoje, começo a renascer!


Google com bom gosto

A Google deseja-lhe um Feliz Ano Novo!

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Ano Novo



Hoje fico por casa. Para já, o silêncio impera. Só lá para a hora do jantar é que teremos a presença de alguns filhos e netos com a natural conversa mais ou menos animada até ao momento exato de brindarmos ao novo ano, na esperança de que será muito melhor do que um 2015 para esquecer.
Nunca receei o silêncio e muito menos a solidão. Porque pensar, refletir e tomar decisões, na intimidade de nós próprios, são atos muito pessoais. Partilhados só depois.
Espero um 2016 muito melhor que o ano prestes a passar à história, com momentos bons, mas com outros menos agradáveis. A magia do ano novo é de sempre. Na minha já longa vida sempre senti isso. Mais notoriamente na passagem do milénio. Nessa altura, não faltaram os milenaristas com os seus presságios catastróficos do fim do mundo, tantas vezes pregado, porém nunca realizado. A não ser para os que partem deste mundo.
Contudo, não faltaram os que anunciaram a hipótese de os computadores bloquearem ou desconfigurarem. E esperámos mais ou menos ceticamente que algo poderia acontecer. Nada aconteceu. Mais uns minutos depois das 12 badaladas e tudo, afinal, se comportou bem. Não houve fim do mundo e os computadores continuaram a portar-se como habitualmente, indiferentes ao pessimismo de muitos. E logo mais, na altura de brindarmos ao ano novo, com ou sem espumante,  ficaremos apenas com a esperança de que o mundo continuará a rolar, que homens e mulheres saberão contornar os obstáculos para todos  então construirmos uma sociedade mais fraterna.
Bom ano para todos. 

JESUS, O FILHO DE MARIA, SALVADOR DO MUNDO



Reflexão de Georgino Rocha


santa Maria Mãe de Deus - Pesquisa Google: «O brilho do rosto 
do Deus revelado em Jesus 
é próximo e familiar»

O nome de Jesus é-lhe dado por seus pais por indicação do anjo Gabriel, aquando da anunciação em Nazaré. Maria e José vão ao templo de Jerusalém cumprir o que estava prescrito. Observam o ritual comum a todos, inscrevem o nome do Menino no registo oficial, inserindo-o na história de Israel e, por ela, na da humanidade. 
Nome anunciado, nome dado, nome registado, nome realizado e em realização. Porque Jesus não indica apenas uma figura histórica, mas uma missão pessoal com abrangência universal. Ele é o Salvador como anunciaram os coros celestes aos pastores de Belém, a Luz oferecida por Deus a todos os povos como intuiu profeticamente o velho Simeão, o Emanuel de todos os peregrinos no tempo como vaticinou Isaías, o filho de Deus como reconhece o centurião romano, o “meu Senhor e meu Deus” como confessa Tomé ao ver as chagas do cruxificado/ressuscitado. E a lista dos títulos que expressam a missão de Jesus pode facilmente alongar-se com tonalidades várias que realçam a riqueza extraordinária da sua realidade admirável.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Escritores e a Ria de Aveiro — 10

poõr do sol na ria de aveiro pela positiva - Pesquisa Google:
(…)
Em certas manhãs, doiradas pelo sol nascente, a Ria parece toda um espelho onde, apenas, um trémulo de evaporação – ténue e vibrátil – põe um vestígio de movimento ritmado.
E, então, os malhadais, os montes de sal, os palheiros exíguos e pintados a zarcão, duplicam-se, invertidos, nas águas quietas onde, de vez em quando, uma gaivota, maleabilíssima e ágil, raspa uma tangente quase imperceptível.
As pálpebras cerram-se sobre a pupila magoada por esta duplicação da luz que se remira no espelho da água e, no silêncio inundado de sol, o chap chap de uns remos, ou o golpe da ponta de uma vara que empurram o barco que desliza, põem uma nota fugidia de onomatopeia.
Um homem de músculos individualizados – como num quadro mural de anatomia – corre sobre a borda de uma bateira mercantel como se andasse sobre o asfalto de uma avenida. Visto de longe, recortado na luz diáfana da manhã que lhe aviva as linhas e delimita os contornos, não sabe a gente se tem na frente um ginasta, se um bailarino. Os pés parece que não pisam e os movimentos de vaivém, desembaraçados e leves, semelham passos coreográficos.»

Frederico de Moura
"Aveiro e o seu Distrito", n.º 5, junho de 1968

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Um livro de Afonso Reis Cabral


Há dias recebi uma reprimenda de uma amiga por ter dito que não tinha lido o livro “O Meu Irmão” de Afonso Reis Cabral, trineto de Eça de Queirós. Não sei se disse apenas que não andava a ler ou se pronunciei alguma heresia.
A minha amiga adiantou que tinha estado num colóquio em Ílhavo com Afonso Reis Cabral e que tinha ficado encantada com a simplicidade do jovem escritor de 25 anos. Sobre o livro, acrescentou, em crónica que publicou no meu blogue: «O livro [O Meu Irmão], pousado na mesa de cabeceira e autografado pelo autor, é o bombom que saboreio todas as noites, antes de mergulhar nos braços de Morfeu.»
Desculpe lá, Maria Donzília, a minha heresia sem nexo. Já ando a ler o livro. E porque estamos em maré de emoções, confesso que chego a comover-me.

domingo, 27 de dezembro de 2015

As belezas da natureza


A Natureza é uma fonte inesgotável de belezas. As paisagens, os animais e as plantas das infindáveis espécies e as pessoas, fontes intermináveis de expressões. Julgo que sei apreciar a beleza, esteja ela onde estiver, mas nunca consegui identificar certas plantas e animais que saiam do nosso quotidiano. Como esta ave que vi na margem da Ria.

Notas do meu diário — Natal de 2015


1. Perdi a conta aos textos que escrevi por encomenda sobre o Natal. Há anos tive a coragem de declinar os convites que me chegavam nesta quadra talvez por recear repetir-me nas ideias, nos conceitos, na forma e no estilo. Julgo, porém, que podia e devia ter evitado a indelicadeza de dizer não, sobretudo a pessoas que muito estimo, mas na realidade fi-lo por receio de não dizer coisa de jeito. Contudo, gosto de escrever quando a vontade de o fazer me aperta ou quando sinto uma razão motivadora. Foi o caso deste ano...

Será a Bíblia blasfema?

Crónica de Frei Bento Domingues 

«O iaveísmo histórico veicula 
uma teologia nacionalista, 
por vezes, de uma extrema violência»

1. Quando se tenta explicar a violência das religiões ou contra as religiões resvala-se facilmente para a justificação do crime.
Nos últimos tempos, repetem-me: o Papa Francisco considera o terrorismo, em nome de Deus, como uma blasfémia, mas, nesse caso, o Antigo Testamento (AT) não é também ele blasfemo?
O exegeta, Armindo Vaz [1], referindo-se a Dt 20,10-18 [2], apresenta Moisés a falar a Israel deste modo:
“Quando te aproximares duma cidade para combater contra ela…, Iavé teu Deus a entregará nas tuas mãos e passarás a fio de espada todos os seus varões, as mulheres, as crianças, o gado; tudo o que houver na cidade, todos os seus despojos, o hás-de tomar como espólio…Quanto às cidades destes povos que Iavé teu Deus te dá em herança não deixarás nada com vida; consagrá-los-á ao extermínio: hititas, amorreus, cananeus, ferisitas, hivitas e jebuseus, como te mandou Iavé, teu Deus, para que não vos ensinem a imitar todas essas abominações que eles faziam em honra dos seus deuses: pecaríeis contra Iavé vosso Deus”.
As explicações históricas do autor são importantes, mas insuficientes.

sábado, 26 de dezembro de 2015

2016 — Um desafio à estabilidade

Foto
A persistência tudo consegue

O complexo da vida, por culpa nem sei de quem, é um desafio que teremos de enfrentar no dia a dia. O equilíbrio que queremos não é tarefa fácil, mas temos de acreditar que é possível. À semelhança do que a foto mostra, os cubos estão em equilíbrio, porventura instável, mas ali estão há anos como decoração e como exemplo a seguir, como retrato da teimosia ou persistência do homem ou mulher que tal conceberam para exemplo de todos nós. Que 2016 seja também desafio de estabilidade para todos.

Francisco, o reformador

Crónica de Anselmo Borges no DN


«A reforma "continuará com determinação, 
lucidez e resolução, porque a Igreja tem 
de estar sempre em reforma"»


1 Foi um dos acontecimentos mais importantes do século XX. Pelas suas repercussões religiosas, políticas, sociais, geoestratégicas. Constituiu uma revolução. Refiro-me ao Concílio Vaticano II, cujo encerramento se deu fez no passado dia 8 cinquenta anos. O que seria a Igreja e, consequentemente, o mundo, se não se tivesse realizado o Concílio? O teólogo Juan Tamayo acaba de elencar algumas das transformações operadas.
Passou-se de uma Igreja, sociedade perfeita, à Igreja Povo de Deus; do mundo considerado inimigo da alma ao mundo como "espaço privilegiado onde viver a fé cristã"; da condenação e anátema contra a modernidade e as religiões não cristãs ao "diálogo multilateral": com o mundo moderno, a ciência, a cultura, as confissões cristãs, as religiões não cristãs, o ateísmo; da condenação dos direitos humanos ao seu reconhecimento e ao combate por eles; da condenação da secularização ao reconhecimento e defesa da autonomia das realidades terrestres; da Igreja "sempre a mesma", imutável, à Igreja em permanente reforma; da Cristandade ao Cristianismo; da pertença à Igreja, condição necessária para a salvação, à liberdade religiosa.