quarta-feira, 21 de outubro de 2009

CÂMARA virou CAMARA



Pode ler-se no edifício da Câmara Municipal de Ílhavo um errito que já devia ter sido corrigido. Alguma criança que passe por lá pode ficar convencida de que os professores ensinam mal a Língua Portuguesa. Eu sei que todos nós erramos, mas, que diabo, mal vai quando não emendamos. Podem dizer-me que é coisa simples, mas não é. Na Gafanha da Nazaré, a placa toponímica da principal avenida tem um erro, repetido em vários pontos. Tem José Estêvão sem o acento circunflexo. Assim: José Estevão. Conclusão: não tem conta o número de vezes que esse erro tem sido repetido. Se o nosso grande tribuno cá viesse, é certo e sabido que, mesmo do alto da cátedra da sua oratória, não perdoava a quem lhe adulterou o nome. Isto é uma forma de ir dormir bem disposto. Desculpem lá a brincadeira. Mas não é verdade que a brincar se podem dizer coisas sérias?
Então boa noite. E já agora, amanhã, quando acordarem, não se esqueçam de pôr no sítio certo o ^.

FM

NB: Será que no meu escrito está algum errito? Se estiver, avisem-me por favor.

O FIO DO TEMPO: Da polémica à formação

Uma sociedade
sedenta de casos mediático


1. Cada vez mais vale a pena pensar e perguntar sobre o que, afinal, move as multidões, as pessoas, a sociedade em que vivemos. Uma perturbadora preferência no mundo da comunicação pelo que escandaliza, pelo que arrepia caminho tido como normal reflecte a nova condição humana actual. Há dias alguém dizia que para alimentar uma notícia e vender papel bastará sobre um determinado assunto fracturante chamar duas pessoas a expor as suas ideias, uma de cada lado e alimentar a polémica. Poder-se-á dizer que nunca como hoje se combateu todo o género de extremismos, mas nunca como agora estes foram tão úteis e usados para alimentar as “novelas” que seduzem uma sociedade sedenta de casos mediáticos onde o esquisito sempre triunfa.

2. Sempre nos perturbou esta desfocagem em que o essencial muitas vezes se mostra passado para a periferia. Quanto bem é feito, quantas apostas decisivas na formação, quanto esforço de tanta gente em semear os grandes valores e as maiores causas, dedicação imensa esta que acaba por não ter nenhum reflexo público. Esta regra de mediatizar o que é escândalo, mesmo sem o saber ou querer, é precisamente o motor gerador da generalização do “mal” que se de(a)nuncia. Se em tudo a vida é “como as cerejas”, umas puxam as outras, não se duvide da contra-escola que acaba por representar o contínuo explanar do rol de notícias trágicas, de situações de violência, de cinemas carregados de armas… desenhos animados já não inocentes como outrora mas muitas vezes a ensinarem as maiores manhas e egoísmos a quem está na fase de aprender a viver para ser…



3. Sociedade melhor formada será sociedade mais informada. O baixar do nível ético alimenta a própria incultura que se denuncia. A relação de causa – efeito, se assumida a sério, obrigará todos os agentes educativos, dos formais aos informais, a pensar e repensar em toda a contradição que persiste quando num lado ensinam uma coisa e da televisão aprende-se outra. Vale a pena pensar nisto!?

Alexandre Cruz

Tempo de profetas que ninguém poderá calar






Sempre que se calam os profetas,
proliferam os falsos profetas

Profetas não têm faltado na Igreja, e a incompreensão, em relação a eles, também não. Se na Igreja de Cristo há o fermento novo do apelo à conversão e à mudança interior, também resta nela o fermento velho que a impede de ser serva, neste tempo em que a luz de Cristo é ainda, para muita gente, o único pão da esperança.

O Cardeal Martini, profeta a que não falta lucidez, coragem, sabedoria, amor à Igreja e aos homens e mulheres deste tempo, é, como bispo, um cristão humilde e consciente, que exerce o seu dever de promover a comunhão eclesial, com o profetismo do realismo e da esperança. Sempre houve gente de lugares cimeiros, não Bento XVI nem os seus predecessores, que o temeram, desconfiaram dele e puseram reservas públicas às suas intervenções, lúcidas, pertinentes e corajosas. Gente que, por certo, se sentiu aliviada, a quando da sua passagem a emérito. Porém, a doença progressiva não lhe apagou o dom que nele Deus outorgou à Igreja e à sociedade, nem as suas limitações de saúde, lhe limitaram o direito e o dever de discernir, criteriosamente, os sinais dos tempos e, em comunhão, ser profeta, numa Igreja em que todos se deviam sentir estimulados a exercer o profetismo que lhes é próprio, e de que muito necessita a Igreja e o mundo.

Não falo do Cardeal Martini, por uma simpatia de última hora. Conheci-o de modo directo e de vivência, não meramente ocasional, ao longo de três sínodos, de vários simpósios, de encontros frequentes, por essa Europa fora, e pela leitura e reflexão atentas a que nos habituou nas suas intervenções orais e escritas.

A Martini podemos juntar Hélder Câmara, que legou à Igreja um riquíssimo património profético, avalizado por um compromisso eloquente, ainda não entendidos.

O momento histórico que a Igreja vive, obriga a caminhos novos aos já acordados para as urgências da fé esclarecida e do testemunho coerente, que não podem enredar-se em tradições e costumes que, não raro, sossegam o espírito e anestesiam a vontade.

Sempre que se calam os profetas, proliferam os falsos profetas. A sementeira das seitas, os movimentos pseudo-religiosos que fazem da ignorância e da dor de muitos uma fonte de réditos, a onda de indiferença que atinge jovens e adultos, o descrédito programado que caiu sobre o casamento e a família, a carga pesada de tantas vidas que procuram, por vezes em vão, cireneus generosos e compreensivos, as incursões diárias nos meios de comunicação social para desvirtuarem a verdade cristã e que pugnam para impor sentimentos e opiniões falaciosas, a diminuição de vocações de consagração, tudo grita por um apelo a profetas corajosos e atentos e por um retorno urgente ao essencial.

Mais parece, em muitas circunstâncias, que a Igreja de alguns roda à volta de si própria, gasta, com os seus problemas internos, as melhores energias e, em detrimento do Reino, mais dá atenção aos “acréscimos”, que não resistem ao tempo.

Construir o Reino de Deus, fermento novo na humanidade, é o grande e apaixonante projecto de Jesus Cristo. Foi esse projecto que legou à Igreja e lhe pediu lhe fosse fiel.

Os interpelados por acontecimentos da vida que afectam o agir da Igreja, juram fidelidade ao Vaticano II. Já lá vão mais de quarenta anos, tempo suficiente para amadurecer orientações e lhes dar vida. Porém, não podemos esquecer que são já muitos os padres, leigos e consagrados que do Vaticano II apenas ouviram falar e os seus documentos são um livro volumoso, ao lado de outros, que o pó vai cobrindo.

Sente-se, aqui e ali, ao arrepio do Concílio, um agir pastoral e uma vida comunitária, que pouco tem a ver com as intuições e orientações conciliares. Recebemos um património conciliar que nos honra e responsabiliza. Ele está vivo, mas só se for posto em prática.

António Marcelino

Demolir o Estádio Municipal de Aveiro?


Estádio Municipal de Aveiro


Quem se acusa deste erro estratégico?

A ideia de demolir o Estádio Municipal de Aveiro anda no ar. Não sei se bem se mal. De qualquer modo, a sua rentabilização tem de ser, penso eu, estudada com rigor, por gente que perceba dessas coisas do foro económico-financeiro, desportivo e social.
Esta questão vem, para já, demonstrar que o processo nasceu mal. Oportunismo para termos em Aveiro uns, poucos, jogos do Europeu de Futebol, e para o Beira-Mar utilizar. A megalomania também teria estado nisto tudo. Os jogos foram-se e o Beira-Mar sentiu-se sem a sua gente, na hora das competições. Disseram-me, há tempos, que nem dez por cento das bancadas são ocupadas, normalmente, nos jogos de um dos mais representativos clubes de Aveiro. E agora? Responda quem souber. Uma coisa já eu sei. Ninguém se acusa como culpado deste erro estratégico. Querem apostar?

FM

Santuário de Schoenstatt faz hoje 30 anos


Santuário de Schoenstatt



A importância das diversas expressões
de fé na Igreja é indiscutível

Permitam-me que sublinhe, hoje e aqui, a importância das diversas expressões de fé no seio da Igreja Católica. Ao contrário do que alguns pensam, elas não serão redutoras da fé em Jesus Cristo, antes ocupam uma posição catalisadora da dinâmica dessa mesma fé. Sendo, naturalmente, aprovadas pela própria Igreja, mais razões teremos para acreditar  no indesmentível contributo que Movimentos, Serviços, Obras, Institutos Religiosos e outras organizações oferecem ao mundo, como testemunhos de uma vivência centrada na Boa Nova de Jesus Cristo.
É certo que, por vezes, há desvios e comportamentos inadequados às orientações da Santa Sé, fruto, talvez, de um certo sectarismo ou de grande ignorância, quando os seus mentores se arrogam o direito de se considerarem os únicos detentores da verdade mais pura no seio da Igreja. Mas para esses, tanto quanto vou sabendo, os "visitadores" enviados pelo Papa se encarregarão de chamar à pedra os "iluminados". A Igreja Católica é só uma, a que assenta os seus alicerces na verdade revelada, configurada no Papa, qual guardião da fé.
O Santuário de Schoenstatt, que hoje celebra os seus 30 anos de existência, é um pilar do Movimento que por aqui se radicou há décadas e que tantas pessoas dinamizou para testemunharem a importância de se formar um homem novo para uma nova sociedade. Gente empenhada nos mais diversos campos do apostolado e da vida, gente que dá o rosto e a coragem para que haja uma fé mais esclarecida e dinâmica, gente que assume partilhar com o mundo, dos crentes e dos não crentes, valores que enformam comportamentos solidários e de amizade fraterna. Por isso, esta singela evocação.

Fernando Martins

Ler  a homilia do Bispo de Aveiro, proferida na eucaristia da peregrinação diocesana ao Santuário de Schoenstatt, que ocorreu no passado domingo.

Boa notícia para começar o dia

Já chegou a BÍBLIA para todos


"O projecto nasceu há 40 anos, demorou 20 a ser traduzido por católicos e evangélicos, e outros 10 de revisão. “A Bíblia para Todos”, ontem lançada, apresenta-se numa edição traduzida sem indicação de capítulos, versículos e notas explicativas. Mas dentro de dois meses, a mesma edição será enriquecida com capítulos, versículos, introduções e notas críticas.
Durante a sessão de apresentação, o escritor Francisco José Viegas lembrou que “a Bíblia como nós a termos aqui não é, ao contrário do que se disse nos últimos dias, um manual de costumes, não é um manifesto para mudar o mundo, não é um repositório de observações sobre política e sexualidade”.
“O mais importante nesta edição – acrescentou – é que se trata de um conjunto de narrativas que transitam de um povo errante para uma civilização que ocupou o seu lugar no mapa”.
Ler mais aqui

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Arco-Íris






Arco-íris


Hoje, a chuva voltou apressada e intensa, mas lá para o fim da tarde, deu-nos um ar da sua graça. A brincar às escondidas com o sol, proporcionou-me um espectáculo que reputo de rara beleza – o arco-íris!
Mal vi o céu verter para a terra a suas lágrimas redentoras e logo a seguir abrir-se num mar de luz, cogitei: estão aí as condições meteorológicas para o aparecimento do arco-íris!
Corri pela calçada, em frente da casa e observei, extasiada, a beleza sempre renovada deste fenómeno!
Durante anos, lidei todos os dias com o “Rainbow” e pensava para mim: quando irei ter o prazer de passar do livro, do compêndio que uso na aula, para o fenómeno atmosférico?
Hoje tive esse prazer concretizado e... como não quero a beleza toda para mim, venho partilhá-la com aqueles que, fechados no local de trabalho, não o puderam observar!
Agradeço ao Criador a dádiva desta maravilha!

M.ª Donzília Almeida

20.10.09

O FIO DO TEMPO: Informática, o novo poder




1. Não será novidade para quem diariamente, ou pelo menos para quem com alguma periodicidade precisa do uso das novas tecnologias, o facto de se sentir totalmente dependente diante de uma situação de problema informático em que não se sabe como agir. Para quem, porventura, mesmo após todas as buscas de mão especializada na área, perdeu algum trabalho importante de anos, meses ou semanas, a sensação de perda é inqualificável. Na procura de segurança a todo o custo, vão crescendo os discos externos, um, dois, três; diante de softweare bloqueado que impede o acesso a conteúdos para se poder trabalhar, sente-se a limitação do próprio tempo e das energias e tempo necessário para se recuperar as etapas perdidas, tão contado que tudo parece estar…

2. Se para alguns o uso das informáticas pode ser um dado acessório, para outros acaba por ser o trabalho diário. A internet veio acrescentar mais velocidade, o que resulta ainda em mais responsabilidade. Se existirão alturas em que pode ficar para os dias seguintes outras existem em que tal não pode acontecer; uma montanha de “lixo” informático vai invadindo o espaço pessoal e a pergunta sobre as seguranças e as privacidades, mesmo nos códigos de acesso, vai fazendo cada vez mais correr mais tinta. É de notícia recente não só aquele discurso sobre a segurança das tecnologias da presidência da república, como as inseguranças informáticas nos sistemas de justiça ou ainda nos múltiplos e complexos processos bancários. A “rede” onde o mundo acontece está em todo o lado e quando não se consegue aceder com fluidez e segurança a ela parece uma nova fuga ao mundo.

3. Se se falar na essência do poder, a partir das coisas diárias mais simples, então as tecnologias informáticas são um novo e fortíssimo poder, que quando não em ordem geram dependências de tal maneira que acabam por relativizar tudo o resto. Não é virtual esta ordem de poder; embora poderá transformar o essencial em acessório. Alerta!

Alexandre Cruz

AGROVOUGA' 09 : Feira Nacional do Bovino Leiteiro e Feira Nacional do Cavalo de Desporto - 21 a 25 de Outubro


Reis da Feira

Concursos, exposições de bovinos das raças autóctones portuguesas, mostra agrícola e industrial, jornadas técnicas e restaurantes de carnes certificadas portuguesas e cavalos de desporto, mais três dias com queijo, são os ingredientes para quem gosta de ver o nosso mundo mais ligado à terra, que muitos dizem estar em vias de extinção. Estará? Passe por lá para ver. 

Efeméride Aveirense: Liceu de Aveiro

1851 - 20 de Outubro

Nesta data, "Ficou definitivamente constituído o Liceu de Aveiro, como corporação docente, cuja acta de instalação já havia sido assinada em 14 de Julho anterior; instalou-se primeiramente no edifício do Paço Episcopal, sito na Rua dos Tavares".

Fonte: Calendário Histórico de Aveiro

O FIO DO TEMPO: Ao proclamado Diálogo!?


Diálogo de Harry Rosenthal

1. A inevitabilidade de se ter que se dialogar – quase que num à força político! – acaba por reduzir o diálogo a uma mera formalidade esvaziada de si mesmo. Cada um é como é, e não é a conjuntura numérica de actos eleitorais que altera a profundidade das atitudes humanas fundamentais. Talvez este usar as palavras mediante o jeito que elas dão às circunstâncias seja um reflexo do próprio enfraquecimento das lideranças. Esta lei que institucionaliza o vender gato por lebre chamando palavras afáveis em determinados momentos de aproximação estratégica sempre dá que pensar… Quando se viveu pouco o diálogo no passado recente (em que se podia tê-lo feito em liberdade) e agora se insiste em dialogar à força, é opção discursiva que não augura nada de novo, antes confirma o tempo precedente.

2. Um dos grandes filósofos do diálogo, Martin Buber (1878-1965) deve estar assustado! Compreenderá o esvaziar das palavras mas não o apagão da “ideia” da intersubjectividade dialogal. Buber, judeu de origem austríaca, filósofo, escritor e pedagogo de educação poliglota, via a experiência humana como a realização continua do diálogo. Viver é relacionar-se, diria Buber. E a verdade é que em momentos fundamentais da humanidade o “diálogo” foi estando como princípio fundante de novos caminhos que se procuram desenvolver. Viver o diálogo como e no “princípio” e não no fim, como se fosse um último recurso de sobrevivência, talvez seja esta uma recomendação bem-vinda, saudável e auspiciosa na procura de um envolvimento sempre mais abrangente. Até porque o isolacionismo, no “dia seguinte” faz morrer o seu próprio autor.

3. Não se duvide que diante de um mundo em profunda convulsão transformadora a atitude de diálogo só poderá ser crescente. Ela marca a diferença entre o apostar no futuro ou o fechamento do passado. O diálogo autêntico não reside em apagar-se a si mesmo ou às suas ideias, mas em partilhá-las na boa liberdade que edifique e (re)une…

Alexandre Cruz

Uma Boa Ideia para Portugal


Jardins de Schoenstatt

Texto enviado por Domingos Lopes
e reencaminhado pela  Margarida Bola 
aponta-nos um excelente desafio

Torna-se importante divulgar uma iniciativa civil para limpar o nosso país. Há um ano na Estónia a população conseguiu limpar o país num só dia. As pessoas tiveram força de vontade, organizaram-se, e a mobilização foi fenomenal! Quem ficou a ganhar foi o país.
O vídeo é impressionante:


Agora, em Portugal, foi lançado o mesmo desafio: "Limpar Portugal". Será no dia 20 de Março de 2010. Inscrevam-se e divulguem por favor:

Para ter um país mais limpo, organizado e com menos incêndios!

Para começar bem um dia de Outono




O sol despede-se lentamente nos dias cada vez mais breves de finais de Setembro. Esmaecem os doirados cabelos de Apolo. E as vinhas, os milheirais, os grandes plátanos dos jardins das cidades amolecem em tons amarelados e sanguíneos.

É o tempo das colheitas. Das vindimas e da apanha da fruta. Arrancam-se as batatas dos lameiros. Debulham-se os cereais. Descasca-se a amêndoa e secam-se os figos. A terra entrega generosamente ao homem o resultado do seu trabalho. Chegam as primeiras chuvas e despedem-se as aves migratórias. Límpidos horizontes. O mar, desocupado, exprime agora toda a brancura das suas ondas. Um cão vadio que corre atrás das gaivotas. Um par de namorados sentados na areia da praia. Avança o outono por Outubro. Desprendem-se as primeiras folhas. Pelos campos queimam-se as ramas secas. E o fumo levanta-se numa liturgia final de um ciclo que se encerra. Terminaram as últimas romarias do ano. Depois de Nossa Senhora dos remédios de Lamego, é a Feira das Colheitas em Arouca e S. Mateus em Viseu. Vem aí Novembro com as castanhas e o vinho novo. As árvores cada vez mais despidas. Os insectos entontecidos. E os primeiros frios de uma noite que se torna mais longa e ávida.

Revolvemos os armários em busca de roupa quente. O sono aumenta. Depois das beladonas, florescem os crisântemos e acorremos ao cemitério para recordar os nossos mortos. Chove muito. E lembro-me muito de ti ao cair da tarde. Não consigo evita este roxo, esta ansiedade, este advento que me conduz a Dezembro e ao nascimento de uma luz que auguramos desde o princípio do mundo.

Deslizamos por outono docemente e na verdade esta convulsão meteorológica e natural parece afinar-nos a sensibilidade. Os amanheceres breves e límpidos, com fiapos de nuvens avermelhadas atravessados pelo primeiro sol, são inesquecíveis, como aquela árvore cor de fogo, hirta e soberana que parecia reunir toda a luz do entardecer e que eu te pedi que fotografasses, naquela viagem para o longínquo norte.

Manuel Hermínio Monteiro (1952-2001)
Foto: BSPI/Corbis

Fonte: Umbrais

domingo, 18 de outubro de 2009

Jornadas de Outubro no Centro Tabor do Movimento de Schoenstatt



Alexandre Cruz


Fronteiras abertas exigem
responsabilidades abertas


Integrada nas Jornadas de Outubro do Movimento de Schoenstatt, teve lugar no sábado, 17, no Centro Tabor da Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, uma conferência sobre a Encíclica de Bento XVI, “Caridade na Verdade”. O conferencista convidado, Alexandre Cruz, doutorando em Ciências da Educação e Provedor do Estudante na Universidade de Aveiro, esclareceu que, ao olhar este documento pontifício, viu nele novos caminhos de Deus para enfrentarmos os desafios do futuro.

Depois de saudar o Movimento de Schoenstatt que está já a celebrar o Jubileu dos 50 anos da sua entrada em Portugal, Alexandre Cruz lembrou a universalidade da mensagem do Padre Kentenich, bem patente naquela “casinha de oração” que se habituou a ver desde há anos, o Santuário que é réplica do original, repetido em vários cantos do mundo, “neste tempo de globalização”.
“O mundo – referiu – é uma grande casa onde todos somos acolhidos e convidados a ouvir as vozes dos tempos e da própria Igreja, que actualiza, para cada época e situação, a melhor resposta às inquietações humanas.”
O conferencista frisou que o negativo, patente em todos os telejornais e noticiários, “não é o melhor caminho para o nosso mundo”, enquanto chamou a atenção dos participantes nas Jornadas para a necessidade de todos, em Igreja, “repensarmos a fé nos dias de hoje”.
A caridade de que Bento XVI nos fala, na encíclica “que irrita”, segundo o padre e poeta Tolentino Mendonça, não faz lembrar o passado, “cheirando a mofo”, mas torna patente “os valores da solidariedade em espírito divino”, na linha do amor proposto por São Paulo, para “tornar o mundo melhor”.
Alexandre Cruz disse que a “solidariedade é insolidária” quando esconde ou tem segundas intenções, sendo garantido que as pessoas “sabem distinguir o bem do mal. Urge, por isso, viver “uma fé pensada”, diferente naturalmente da tradicional, quantas vezes “sem sentido”.
“Caridade na Verdade”, a primeira encíclica do actual Papa dedicada à questão social, vem recomendar, a todos os católicos e a todos os homens e mulheres de boa vontade, que a Igreja tem de apresentar “um novo rosto para os novos tempos”, apoiando-se no princípio de uma “justiça do bem comum”, capaz de “gerar pontes de diálogo” entre todos os parceiros sociais e entre todas as pessoas.
“O que eu sou deve orientar o que faço”, na busca de novas soluções para as inquietações humanas, tendo em conta que “problemas globais precisam de respostas globais”, porque “o planeta não tem muros”, adiantou o conferencista.
Defendeu, seguindo o texto papal, que o “governo da globalização” deve fomentar o desenvolvimento, “dando a cada um o que lhe é preciso”. “Não se pode promover o desenvolvimento para, mas com…”, disse.
Considerando que “fronteiras abertas exigem responsabilidades abertas”, Alexandre Cruz mostrou como o desconhecimento das realidades pode “gerar a intolerância”, adiantando que a superação das fronteiras “é um dado não só material, mas cultural”.
Recordou que a maior herança que recebemos está centrada nos valores, os quais devem propor, a cada momento, “a colaboração fraterna entre crentes e não-crentes”, num trabalho conjunto “pela justiça e paz da humanidade”. “Se usarmos um diálogo beato com o mundo, ninguém nos ouve”, afirmou.
Garantiu que a razão é importante no diálogo com a fé e que os fenómenos das migrações precisam de atenções redobradas, tendo em consideração que o desenvolvimento humano tem de ser integral, apoiando-se na verdade e na caridade, que é amor recebido e dado.
“Sem Deus, o homem não sabe para onde ir e não consegue compreender quem é; temos de nos conhecer bem para descobrirmos os nossos caminhos de verdade”, concluiu Alexandre Cruz.

Fernando Martins

Ainda o Dia Mundial da Erradicação da Pobreza



Novas Oportunidades!



Um dia, em resposta à pergunta, se haveria alguém pobre na sua turma, a quem poderia ser dada uma peça de roupa que deixara de servir, ouvi dizer: sim, de espírito há muitos!
De facto, é esta a verdadeira e mais pungente pobreza pois reduz o ser humano a condições de indignidade e sujeição que chegam a ser aviltantes.
Ao longo da minha existência, tenho deparado com esta realidade, a que não se pode fugir pois não depende da vontade de ninguém nem sequer se pode culpar Deus por esta desgraça. O exercício das liberdades individuais conduz-nos, por vezes, a becos sem saída e muito constrangedores.
Quando era miúda, lembro-me dos pobres que andavam de porta em porta, a mendigar o pão-nosso de cada dia. Eram, essencialmente, homens que tendo caído nas malhas da solidão e abandono, quer por perda da família, quer por outras quaisquer circunstâncias, não tinham eira nem beira.
Hoje, em pleno século XXI, há muito mais pobres que antigamente e sobretudo na camada jovem da população. Que é esse enxame de arrumadores de carros, “profissão” inexistente no tempos da ditadura (seria por haver poucos carros e muito espaço para os estacionar?) que pulula nas nossas cidades e é um cancro a alastrar as suas metástases a todas as partes do país? As causas são múltiplas e não me cabe agora e aqui dissertar sobre o assunto.
No meu sector de actividade, não me parece que a política educativa esteja a fazer o melhor, no sentido de desenvolver os valores e os princípios que hão-de nortear os seus cidadãos como seres responsáveis, a serem homens e mulheres dignos, no amanhã.
A forma como se avalia o desempenho dos alunos, o facilitismo com que se transita de ano, o modo como é conduzido o processo ensino aprendizagem, não são de molde a formar cidadãos responsáveis! Premeia-se a preguiça, o laxismo, a irresponsabilidade!
Está agora, ainda de forma titubeante a ser restaurado o ensino técnico-profissional, que teve o seu sucesso e apogeu na época da outra senhora, apesar de todas os defeitos apontados ao regime.
Para progredir e proporcionar um bom nível de vida aos seus cidadãos o estado deve investir na educação e desenvolver políticas educativas conducentes a um real sucesso. Uma população bem instruída, com um nível de formação e literacia satisfatórios será um povo preparado para enfrentar os desafios duma civilização moderna.
Um dos erros de que enfermou a ditadura, na pessoa de Salazar, foi o obscurantismo em que manteve o povo, que desta forma, ignorante, analfabeto, não tinha meios para reivindicar melhor nível de vida. O poder mantinha-se, com um povo submisso, que não levantava a voz.
Sempre ouvi dizer que em vez de darmos o peixe que nos pedem, devemos ensinar a pescar! Assim, numa visão mais dilatada das coisas, preparamos o pedinte, o necessitado a angariar o seu próprio sustento! Emancipar um povo é dar-lhe a cana de pesca, os meios e as competências, não o peixe frito numa côdea de broa!
Deveria ser assim a forma de actuar do governo! Dar às pessoas os meios para não caírem na dependência, na indigência e na mão aberta à esmola! Ensinar os cidadãos a pescar é muito mais construtivo e libertador do que sujeitá-los à indignidade dum R.S.I. Estão aí as Novas Oportunidades!
Responderá o Governo, na sua peculiar aleivosia!
Qualquer estado, que se preze, promove a emancipação dos seus cidadãos, criando estruturas e desenvolvendo políticas que conduzam ao bem-estar individual e colectivo.
É para isso que se fazem eleições e que se pede ao povo que escolha os seus representantes. Estarão eles à altura da confiança que neles é depositada?
Fica a pergunta no ar!

M.ª Donzília Almeida
17.10.09