sábado, 5 de julho de 2008

Mycarlo: o gosto pela música

Tinha na minha agenda, há muito, uma visita ao Mycarlo, de seu nome Carlos Alberto Sarabando. Por ser um bom amigo e por curiosidade em conhecer, ao vivo, o seu gosto pela música, que o levou a coleccionador de discos e de instrumentos musicais, um pouco de toda a parte. Calhou hoje, tarde de sábado, fazer essa visita. 
Entrei numa sala de música com LPs e instrumentos que me desafiavam a fazer, através deles, uma viagem ao mundo, tendo o Mycarlo por cicerone. Não um cicerone vulgar, daqueles que querem despachar o visitante o mais depressa possível, por haver mais gente à espera de entrar, mas um cicerone que esquece tudo com o entusiasmo que põe na história de cada instrumento e de cada disco.
O Mycarlo nasceu na Venezuela, filho de emigrantes portugueses. Há muito que veio para Portugal, trazendo o gosto pela música, que bebeu no seio familiar. O pai, tocador de acordeão, foi o primeiro a despertar no meu amigo a paixão que continua a cultivar. 
O Mycarlo não sabe música, mas nem isso o impediu de participar em alguns grupos musicais, quer como cantor, quer como percussionista. E também foi responsável por alguns programas radiofónicos dedicados à música, de vários estilos e épocas. Mas hoje eu fui essencialmente para conhecer a sua colecção de instrumentos, com mais de 200 exemplares de vários naipes. 
Nasceu-lhe esse prazer em casa de um amigo, há uns 35 anos. A partir daí, nunca mais parou. E a colecção continuará, não faltando, de quando em vez, a generosidade dos seus amigos, que lhe conhecem este entusiasmo que não esmorece. 
Nas paredes e em mesas, em estantes e no chão, tudo bem acomodado, o visitante pode apreciar instrumentos de cordas e de sopro, de percussão e outros, dos países mais diversos. Balalaica russa, Banjos, Bandolins e Cavaquinhos, mais Violas e Guitarras portuguesas, Quadros venezuelanos, Koras senegalesas, Zitner grega, kissanje de Angola, Zimbre marroquino, Marimbas guineenses, Percussões do Zaire, Moçambique, Angola e Marrocos, Flautas de Pan do Peru, Chile, Bolívia e Martinica, Berimbau do Brasil, Flautas clássicas, o Violino, o Contra-baixo, o Apito do comboio, Rouxinóis e Joaninhas, entre muitos outros. 
Uns instrumentos foram adquiridos pelo Mycarlo e outros foram oferecidos, sendo certo que muitos passaram por trabalhos de restauro, a cargo do próprio coleccionador. Mas o meu amigo não tem somente instrumentos musicais. Na sua sala da música, como ele a baptizou, há uma colecção de discos, LPs, com décadas de vida. São cerca mil, em excelente estado, que o Mycarlo faz questão de exibir, com carinho, e de pôr um ou outro na sua aparelhagem de som, para eu me deliciar. Aqui, o Mycarlo, não resiste e reclama a minha atenção para pormenores que só ele conhece com o seu ouvido privilegiado: “Ouça estes sons que estão por detrás; os baixos e os graves; é lindo, lindo, lindo!”
Ao som da música, trauteada pelo meu amigo, ele corre a pegar nas matracas, agita-as como que a oferecer à melodia um ritmo mais cadenciado… “é lindo, lindo, lindo”, sublinha o Mycarlo, para meu encanto. O meu amigo coleccionador não se fica pela contemplação do seu mundo. Os seus instrumentos já foram expostos um pouco por todo o lado. E em escolas já exerceram o seu papel pedagógico, onde o Mycarlo ensinou os alunos a construírem os seus próprios instrumentos musicais, a partir de material cujo destino seria o lixo. E depois, não faltaram as orquestras em que construtores viraram executantes. 
O Mycarlo defende que “toda a música é bonita, mas acha que toda a gente precisa de cultivar o ouvido”. “Ninguém – sublinha ele – nasce com o prazer da música, embora o ritmo seja inerente ao ser humano.” Também acredita que há opções por outras sensibilidades artísticas, mas não deixa de afirmar que, para si, a rainha da artes é a música. No seu dizer, “a música é um código universal, com as suas sete notas a serem compreendidas por todos os intérpretes do mundo”. E frisa que é possível “criar melodias e ritmos para todos os gostos, para todas as idades e para todas as sensibilidades”. Músicas de alegria e de tristeza, de euforia e de revolta. Música de escravos e de homens livres, adiantou. 
Quando cheguei, o meu amigo estava a ouvir jazz. Quando o deixei, ficou com um LP de arranjos musicais de Tim Crosse. Um LP com Bach, Mozart, Beethoven e outros. Uma gravação com mais de 25 anos. Ao ouvi-lo, Mycarlo ia salientando os instrumentos que lhe davam corpo, pormenores imperceptíveis para mim e para muitos. A arte encanta qualquer ser humano sensível. A música, essa arte sublime, eleva-nos a mundos de sonhos! 

Fernando Martins

A VIOLÊNCIA DOS PACÍFICOS

Crescem os sinais de um mundo violento, de sociedades amedrontadas, de grupos étnicos e religiosos em sobressalto e sob pressão, de famílias destroçadas e em pânico, de pessoas ameaçadas em convicções e haveres. Estes sinais contrastam radicalmente com as aspirações profundas do coração humano, com os dinamismos da convivência social em harmonia, com a vontade genuína e autêntica de tantos movimentos pacifistas, com os propósitos generosos de construtores da paz assente no respeito pela dignidade dos outros e pelo reconhecimento dos bens a que têm direito, com a esperança consistente e mobilizadora das comunidades eclesiais, com a seiva vitalizante da mensagem cristã que Jesus Cristo nos deixa como “marca de estilo” de quem é seu discípulo e testemunha. Este contraste é sinal do desequilíbrio em que se encontra a escala de valores que “comandam” a consciência humana, pessoal e colectiva: o interesse individual acima de tudo, o patamar social superior às posses reais, a cultura do brilho ainda que efémero, a intensidade das emoções mesmo que espezinhem as convicções, a preferência pelo que dá prazer e pela reacção “à flor da pele”, o adiar continuo dos apelos éticos que brotam da interioridade humana, o esquecimento voluntário da relação que a todos irmana na mesma humanidade e no ideal comum de uma vida feliz para cada um. Jesus vem ensinar-nos a repor o equilíbrio, fazendo propostas de humanização integral. Face à confusão geral provocada pelo sistema legal – havia 613 mandamentos! –, deixa claro que só o amor pleno dá sentido à vida. Perante a ânsia de ter em abundância bens e outros valores efémeros, lembra que é mais importante ser humano e progredir constantemente em humanidade solidária. Ante o recurso à força para repor o direito ou vingar ofensas, exorta à reconciliação benevolente, à reparação justa e, se necessário, ao perdão incondicional. Face à auto-suficiência exorbitante e descabida, aconselha a simplicidade da verdade e o reconhecimento das limitações. Diante de quem se menospreza e amesquinha a si mesmo, exorta ao apreço e à consideração que lhe advém da sua condição humana e filiação divina. Jesus apresenta a força do seu exemplo como testemunha do ser humano a que todos estamos chamados. "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração". E do exemplo da sua vida brota uma energia, suavemente forte e violenta, que actua a partir de dentro de cada pessoa e a transforma. É uma violência que corresponde à intensidade da resistência humana e, progressivamente, a vai reduzindo e reencaminhando. É uma violência que acalma ânimos exaltados e eleva espíritos abatidos para os situar de novo no patamar da sua dignidade. É uma violência posta ao serviço da verdade que liberta e abre caminhos novos de humanização integral. Georgino Rocha

O que tem de ser tem muita força

Embora a cair em desuso aos fins-de-semana e em tempos de lazer, a verdade é que a gravata faz parte, quase obrigatória, no dia-a-dia de certas profissões. Cá para mim, o uso da gravata, entre nós, está para as relações sociais como o tratamento de doutor está para a afirmação na sociedade e na profissão. Por tudo e por nada, de gravata ou sem ela, há quem pense que sem doutor nada feito. Não seria tempo de restringirmos o uso da gravata e do doutor?

HERMENÊUTICA FEMINISTA DAS RELIGIÕES E SEUS TEXTOS

Convidado para intervir no Congresso Feminista, na Gulbenkian, na semana passada, comentando intervenções sobre "Mulheres e Religiões", tentei apresentar alguns princípios de hermenêutica feminista das religiões e dos seus textos. Pressuposto essencial é, evidentemente, a compreensão de que os textos sagrados não são ditados de Deus, tornando-se, pois, claro que, sem interpretação, eles se convertem, inevitavelmente, em textos fundamentalistas. Os textos sagrados têm de ser lidos de modo crítico e situados no seu contexto histórico. Um livro sagrado, por exemplo, a Bíblia, só tem validade última e só encontra a sua verdade adequada enquanto todo e na sua dinâmica global. A argumentação com fragmentos pode por vezes tornar-se inclusivamente ridícula. Assim, princípio hermenêutico essencial e decisivo das religiões e dos seus textos é o do sentido último da religião, que é a libertação e salvação. O Sagrado, Deus, referente último do religioso, apresenta-se como Mistério plenamente libertador e salvador. É, pois, à luz desta intenção última que as religiões e os seus textos têm de ser lidos, concluindo-se que não têm autoridade divina aqueles textos que, de uma forma ou outra, se apresentam como opressores e discriminatórios. Então, não sendo normativos, deverão ser evitados nas celebrações religiosas. É claro que a hermenêutica feminista tem de ser uma hermenêutica da suspeita. Não é de suspeitar que religiões orientadas por homens e textos que têm homens como autores maltratem as mulheres, lhes sejam pouco favoráveis e as tornem invisíveis, as considerem inferiores e as coloquem em lugares subordinados? Ela é também uma hermenêutica da memória. Lembra as vítimas, todas as vítimas. Exige, portanto, uma leitura da História no seu reverso, que é a História dos vencidos. Normalmente, o que aparece é a História dos vencedores, onde, por isso, não cabem as mulheres nem as vítimas do sistema. Mas, como escreve Juan Tamayo, "a memória das mulheres vítimas do patriarcado é já em si um acto de reabilitação, de devolução e reconhecimento da dignidade negada". Na reconstrução da História, é preciso encontrar o papel das mulheres, activo e criador, mas oculto e silenciado. A leitura feminista dos textos sagrados faz-se a partir dos movimentos de emancipação da mulher e, portanto, dentro da luta pelos direitos humanos, que, sendo indivisíveis, exigem sociedades que ponham termo a todo o tipo de discriminação, sem esquecer que as estruturas discriminatórias da mulher são múltiplas e multiplicativas, como bem viu E. Schüssler Fiorenza. A hermenêutica feminista está particularmente atenta ao funcionamento sexista da linguagem. Atente-se, por exemplo, ao prurido auricular de expressões como: a bispa do Porto, a cardeal de Lisboa. Utilizando normalmente o genérico "homem" e "homens", nos textos sagrados, nas celebrações litúrgicas, na catequese, as mulheres são inevitavelmente invisibilizadas, esquecidas e marginalizadas. Essa hermenêutica é particularmente crítica com as imagens patriarcais de Deus. De facto, se Deus é masculino, o homem acaba por ser divinizado. Realmente, a maior parte das imagens usadas nas religiões e nas teologias para se referirem a Deus são expressão do domínio patriarcal e acabam por legitimar religiosamente o poder dos homens. Entre as mais comuns: Pai, Rei, Juiz, Senhor, Soberano, Criador do Céu e da Terra, Omnipotente. Segundo Tamayo, a crítica feminista deve desconstruir estas imagens, porque estão associadas ao poder dos homens e geram atitudes de submissão e dependência, não fomentando uma relação interpessoal. A teologia feminista mostra-se especialmente crítica com a imagem de Deus "Pai", por tratar-se de uma imagem que leva "directamente à obediência e à submissão, de que a religião autoritária abusa". Quer recuperar imagens que têm a ver com a vida, a amizade, o amor, a clemência, a compaixão, a compreensão, a generosidade, a ternura, a confiança, o perdão, a solicitude... E o que é que pode impedir os crentes de se dirigirem a Deus como Mãe? Anselmo Borges In DN

PONTES DE ENCONTRO

As energias renováveis e o futuro do homem Diz o provérbio popular, e com toda a razão, que “a necessidade aguça o engenho.” A pensar já no que o futuro, não muito distante, nos reserva, uma equipa de estudantes do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, desenvolveu, há pouco tempo, aquele que poderá ser, segundo os seus autores, o sistema de energia solar mais eficiente do mundo, tendo em conta o seu baixo custo. Trata-se de um disco côncavo de concentração solar com 3,7 metros de largura, construído com uma leve armação de finos tubos de alumínio e coberto com espelhos. É capaz de concentrar a luz do Sol mil vezes mais num único feixe, criando calor suficiente para fundir uma barra de ferro. No centro do disco, que faz lembrar uma antena parabólica, há um tubo, em forma de serpentina. No interior deste tubo, circula água que se transforma instantaneamente em vapor, que irá, accionar uma turbina de um gerador de energia eléctrica, que será fornecida, localmente, a qualquer habitação, desde que esta esteja preparada para tal. Se juntarmos a esta tecnologia, já testada, mas ainda em fase de aperfeiçoamento, outras que estão em desenvolvimento ou já em funcionamento pleno, tais como os colectores solares térmicos, que captam a radiação solar, transformando-a em vapor que depois é convertido, pelo mesmo processo do MIT, em energia eléctrica; os painéis solares fotovoltaicos, que convertem directamente a luz solar em energia eléctrica, para muitos especialistas, considerada uma das mais promissoras formas de aproveitamento da energia solar; as miniturbinas eólicas, que produzem energia solar através da acção do vento e que poderão reduzirem a factura energética entre 50 e 90 por cento; os sistemas de aquecimento a biomassa, a partir do aproveitamento da matéria orgânica (resíduos das florestas, agricultura e combustíveis) e que, quando usados no aquecimento doméstico, podem representar importantes ganhos económicos e ambientais ou ainda as bombas de calor geotérmico, que aproveitam o calor do interior da terra para o aquecimento dos lares, temos razões para irmos tendo esperança, no que a esta parte energética diz respeito. Há que não esquecer, também, a energia das ondas. Pelo que se verifica, muitas destas formas de energia dependem da luz solar (o que, actualmente, é uma limitação) e nenhuma, só por si, é auto-suficiente, funcionando em modo de complementaridade, a que se juntam a energia hídrica e, para quem a tiver, a nuclear. Dinamizar a investigação e descobrir outras formas de energias renováveis é uma necessidade prioritária e o tempo não pára, para se terem descuidos ou faltas de empenho. Já não se pode pensar em termos da duração do petróleo, assunto sobre o qual existem várias opiniões, mas que este é (agora) muito caro e a transição é inevitável. O conceito de serem só os cidadãos a receber energia eléctrica de rede pública também tem que ser alterado, passando estes a injectarem energia na rede eléctrica, sempre que o consumo nas suas moradias for inferior às suas necessidades. Ainda não estamos em nenhum oásis; longe disso. Muitos interesses políticos e económicos irão surgir, e nem sempre pelas melhores razões. O preço do petróleo continuará a transformar o modo de vida da generalidade das pessoas, até que o reequilibro energético pós-petróleo seja possível de atingir e não dependamos, como até aqui, de uma minoria de países teocráticos ou onde a democracia muito deixa a desejar (excepção para a Noruega), como acontece, presentemente. O sector dos transportes também sofrerá profundas alterações, não só com a introdução dos carros híbridos, que já vão circulando um pouco por todo o lado, mas, também, dos veículos eléctricos e a hidrogénio (uma área onde há muito a investigar), ainda que o sector ferroviário, moderno e eficaz, deva ser o privilegiado, no transporte de pessoas e bens. Fora disto, não há alternativas, a não ser que o homem prefira, no caso de não querer ou não saber vencer a gravíssima crise energética actual, deixar que seja esta a derrotá-lo, definitivamente!
Vítor Amorim

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Jacinta encanta no Centro Cultural de Ílhavo

Após o sucesso no Aveirense, na apresentação do seu novo trabalho denominado "Convexo", numa homenagem a Zeca Afonso, com o público a aplaudir de pé a cantora de jazz Jacinta, o mesmo aconteceu no Centro Cultural de Ílhavo. 500 pessoas assistiram a uma autêntica “aula” de jazz, com Jacinta a cantar os clássicos, passando pelos blues até ao mais puro dos improvisos vocais e instrumentais, com especial incidência no diálogo com o saxofonista, que, por momentos, fez lembrar o célebre Omette Coleman, ao imprimir, na consistência do improviso, toda uma técnica e um registo que fez o público, mesmo timidamente, bater com os pés, fazendo ouvir o estalar dos dedos. Paulo de Carvalho mostrou que a idade não conta, já que continua “a ser músico com a sua voz”, como gosta de afirmar, e o “diálogo“ com Jacinta foi deslumbrante, o que também aconteceu no início do espectáculo com o acordeonista. Jacinta continua no caminho que a poderá levar ao estrelato da música de jazz, desde que saia desta país, é claro, e a sua voz quente e possante, aliada à capacidade de transmir ao público as emoções que o jazz permite a quem o canta ou toca e a quem o ouve, deixando-se embalar por essa expressão musical que, segundo José Duarte, não se aprende nas escolas, nasce com as pessoas. No final Jacinta foi aplaudida carinhosamente, não fosse ela também da Gafanha da Nazaré!

 Carlos Duarte

Liberdade tranquila

O amor
INGRID: Amor à vida, sem ódios As reportagens televisivas sobre a chegada de Ingrid Betancourt à liberdade mostraram uma mulher feliz, mas tranquila. Sem raiva, sem ódios, sem acusações e no céu. Onde os seus filhos, que a receberam como quem recebe alguém que ressuscitou, são a sua lua e as suas estrelas. Agradeceu a Deus e aos homens que tornaram possível o seu regresso à liberdade e à vida e pediu que se não esquecessem dos que continuam presos às mãos e às armas dos guerrilheiros colombianos. A minha referência a esta atitude marcada “pela positiva”, de uma mulher que se limita, no fim de um cativeiro desumano, a respirar, serenamente, o ar da liberdade, vem precisamente por causa desse exemplo raro nos dias que correm. Palmas para Ingrid pelo seu testemunho de amor à vida, sem ódios… e tristeza pelos que não são capazes de condenar os métodos dos guerrilheiros da Colômbia

A HERA em acção em Eixo

Protecção do Forno Romano
e requalificação da Ponte da Balsa
A HERA - Associação para a Valorização e Promoção do Património convida todos os seus amigos e todos os apaixonados pelas marcas do passado, para participarem na inauguração da primeira fase da protecção do forno cerâmico romano de Eixo, Aveiro, e da requalificação da Ponte da Balsa, na mesma localidade. Será no próximo domingo, dia 6, a partir das 10.30 horas, em Eixo. Estas iniciativas representam um momento histórico para a HERA, pois o processo de valorização do forno, que levou ao projecto final de cobertura e valorização, começou e foi acompanhado pela associação, representando o seu primeiro projecto, denominado ARQUEOLARIA. O empenho da HERA, associado à confiança e apoio da Junta de Freguesia de Eixo, fizeram com que o "sonho" de valorização duma importante parte da história de Aveiro se tornasse realidade.
Neste mesmo dia, serão feitas algumas comunicações sobre importantes mudanças na direcção da HERA.

A Net oferece-nos coisas interessantes!

O cariz internacionalista
do povo português é peculiar:
: - Se tem um problema para ultrapassar... diz que se vê grego;
- Se alguma coisa é difícil de compreender... diz que é chinês;
- Se trabalha de manhã à noite...diz que é um mouro;
- Se tem uma invenção moderna e mais ou menos inútil... diz que é uma americanice;
- Se alguém mexe em coisas que não deve... diz que é como o espanhol;
- Se alguém vive com luxo e ostentação... diz que vive à grande e à francesa;
- Se alguém faz algo para causar boa impressão aos outros... diz que é só para inglês ver;
- Se alguém tenta regatear o preço de alguma coisa diz que é pior que um marroquino;
- Mas quando alguma coisa corre mal... diz que é à PORTUGUESA!!! Texto enviado pelo Ângelo Ribau

Ana Moura canta o fado

Um bom fado tem sempre lugar em qualquer parte. Este é mesmo para os que gostam.

TRANSMISSÃO E PROFISSÃO DA FÉ, UM PROBLEMA EM ABERTO

Muita gente da Igreja parece não ter entendido ainda que esta está posta perante um desafio que não a pode deixar indiferente: a opção inadiável dos cristãos por uma fé consciente, esclarecida e socialmente comprometida. Gerações de católicos portugueses, hoje adultos às portas da velhice ou já entrados nela, receberam a fé num contexto pacífico e normal; o da família cristã tradicional que a transmitia, bem como a hábitos religiosos, consciente de que era esse um seu dever em relação aos filhos, ao lado de outros igualmente indiscutíveis. Já vai tempo em que muitas famílias deixaram de o fazer, conservando, porém, alguns desses hábitos, hoje já frequentemente vazios de conteúdo religioso, mas com cargas sociais, pouco ou nada consequentes na vida do dia a dia. Assim se passa ainda, um pouco por todo o lado, em relação ao baptismo, à primeira comunhão, ao casamento, ao funeral, à festa do padroeiro e a outras tradições religiosas locais. De há tempos para cá verifica-se, porém, que muitas crianças já não são baptizadas, muitos jovens baptizados deixam de casar na igreja, as festas dos santos se foram paganizando, alguns costumes religiosos desapareceram e que apenas resta, como preocupação familiar que se defende a todo o custo, o funeral com padre. Também a prática dominical regular foi diminuindo para gente mais nova e o denominado preceito pascal já não passa de uma piedosa recordação dos mais velhos. Verifica-se que a vida se organiza à margem da fé ou de qualquer influência religiosa e que o compromisso cristão não tem nada de vinculativo no dia a dia para muita gente que ainda se afirma como tal. Acresce que foram surgindo na sociedade focos de laicismo agnóstico e mesmo de ateísmo militante, gozando de pelouros de informação e de acção, que os tornam mais influentes do que o são por força própria. Alguns deles se vão encarregando de dar publicidade aos problemas da Igreja e à incongruência dos cristãos, para daí tirarem proveito para as suas posições e ideologias. A verdade, porém, é que, na Igreja Católica, mormente depois do Vaticano II, não têm faltado iniciativas válidas que procuram a renovação dos seus membros, grupos e comunidades, quer no sentido de esclarecerem e motivarem as suas opções, quer de se abrirem para uma presença e acção válidas e eficazes na sociedade. É verdade que o mundo mudou e continua sujeito a mudanças sociais e culturais. Os cristãos, como cidadãos deste mundo, não estão imunes às influências emergentes, nem podem viver com gente instalada e sem projectos. O que aparece mais urgente neste contexto e antes de mais é transmitir uma fé esclarecida que se exprima numa adesão livre e comprometida, a nível pessoal e comunitário. Ao longo da história tanto os cristãos como a Igreja, comunidade de crentes que mantêm viva a sua consciência de missão, nunca tiveram vida pacifica, embora em tempos e lugares concretos, as suas vidas tenham gozado de algum descanso e conforto. Esses tempos, porém, acabaram e hoje o convite é estarem acordados e vigilantes como as sentinelas, e activos como quem assumiu um compromisso de vida do qual vai depender a vida de tantos outros. Cada vez mais a catequese ou a formação cristã das crianças, jovens e adultos é um ensinamento para a vida e não uma ilustração doutrinal religiosa, ainda que também seja esta. Não se compadece com ser administrada por gente imatura ou não preparada, mas exige cada vez mais educadores da fé que sejam, ao mesmo tempo, testemunhas vivenciais da fé que professam e do valor vital do ensinamento doutrinal que propõem. Tudo na Igreja deve ser ensinamento para a vida dos crentes e proposta séria para todas pessoas de boa vontade que procuram caminhos consistentes e abertos para a sua vida e que são muitos milhares. Por isso, a Igreja tem de viver um processo contínuo de conversão evangélica. A sua natureza e identidade, assim como a sua missão permanente e singular, assim lho pedem e exigem, e não faltam pessoas de todos os quadrantes que esperam dela uma palavra viva. António Marcelino

PONTES DE ENCONTRO

O país do copo meio cheio ou meio vazio No programa “Prós e Contras”, da RTP1, emitido no passado dia 30 de Junho, o assunto proposto para debate dava pelo título “Que estratégias para Portugal”. Presente o Ministro da Economia, um Deputado do PSD, economistas e empresários. Como sempre, nestes tipo de programas, fazer perguntas não é garantia alguma de obter uma resposta precisa e clara e, muitas das vezes, quando esta é dada, nada tem a haver com a pergunta formulada, inicialmente. Estamos habituados a isso há imensos anos e, de algum modo, este tipo de atitudes faz parte do jogo das regras da argumentação democrática, desde que não se use e abuse deste expediente, como é, infelizmente, o comportamento de muitos políticos da nossa praça. Desde o início do programa, creio que foi evidente para os espectadores que o Ministro Manuel Pinho e o Deputado do PSD (de que não me recordo o nome) estavam a fazer marcação “homem a homem”, procurando cada um deles tirar os melhores proveitos possíveis em benefício do Governo e do PSD, respectivamente. A dado passo, entram os empresários no debate e, entre estes, há um que, virando-se para os dois políticos, diz-lhes, preto no branco: “Nós não temos tempo para ser enganados e o que se tem passado aqui é só retórica!”, para logo acrescentar que “o país está em campanha eleitoral permanente, na vez de o gerirem.” Ao mesmo tempo que o continuava a escutar, lembrava-me da baixíssima formação da generalidade dos empresários portugueses, a nível empresarial e de gestão, uma realidade que é reconhecida nacional e internacionalmente e que ajuda a explicar, em muito, a baixa produtividade dos trabalhadores portugueses, no seu próprio país, e a alteração, para bem melhor, quando estes vão trabalhar para empresas no estrangeiro, onde são respeitados e considerados pela sua dedicação ao trabalho. Absorvido com estes meus pensamentos e com as palavras que escutava, oiço, de repente, esta frase: “Os empresários portugueses precisam de um choque!” (sic), para logo dizer que: “Eles [os empresários portugueses] não podem querer ter lucros rápidos. Têm que ter paciência e organização”, dando a entender que o lucro rápido e fácil é o principal factor que mais contribui para a fragilidade de qualquer empresa. De facto, estas declarações fugiam ao discurso típico do miserabilismo e das lamentações, tão ao jeito de alguns empresários portugueses, que, sempre que possível, lá estão a pedir mais um subsídio a qualquer Governo, prestando-lhe vassalagem e usando o chamado tráfego de influências. Mas, afinal, quem é este empresário? É português, filho da pai húngaro e de mãe de ascendência inglesa e portuguesa. Chama-se Peter Villax e é o administrador da empresa Hovione. Naturalmente, fui procurar o que era a Hovione e logo descobri que é uma empresa portuguesa de topo, “especializada na área da ciência da saúde”, que investiga e fabrica produtos farmacêuticos de base de última geração, ou seja as substâncias activas que constituem os medicamentos. A Hovione é o maior investidor em Investigação e Desenvolvimento (I&D) na indústria farmacêutica portuguesa detendo 400 patentes no mundo inteiro. Com uma facturação anual, em 2006, de aproximadamente 93.7 milhões de dólares, a nível mundial. Mais palavras para quê? Ao contrário do que muitos pensam, não é preciso andar nas bocas do mundo para fazer parte da elite e da excelência. O que é preciso é saber trabalhar, investir, desenvolver e organizar, em equipa. Como dizia Peter Villax, nós somos um país do tipo “copo meio cheio ou meio vazio,” e não há nada pior do que isto, para dizer tudo e nada sobre a mesma coisa e fomentar a incerteza e a estagnação. É pena que Portugal tenha tão poucos empresários com esta visão e dimensão, porque não é fatalismo nem nenhum fado que nos torna piores do que os dos outros países desenvolvidos. A não ser, como dizia um dos economistas presentes: “O que os portugueses gostam é de serem bem enganados!”. Será mesmo assim ou já aprendemos a que não façam de nós uns permanentes distraídos, se não mesmo uns idiotas?
Vítor Amorim

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Um livro de Armando Tavares da Silva


D. Manuel II e Aveiro
– Uma Visita Histórica (27 de Novembro de 1908) 

Em curta conversa que mantive com Armando Tavares da Silva, professor catedrático aposentado da Universidade de Coimbra, percebi que se trata de um apaixonado pelos temas relacionados com a nossa História. O livro que teve a gentileza de me oferecer, “D. Manuel II e Aveiro – Uma Visita Histórica (27 de Novembro de 1908)”, reflecte isso mesmo. Mas também fiquei a saber que há outros trabalhos em carteira, que virão a lume com marcas da mesma sensibilidade e rigor com que cuidou de me oferecer este.
Li-o com gosto. Reli passagens que me despertaram mais curiosidade e apreciei, com redobrada atenção, as muitas fotografias da época da visita, quase a completarem um século. Em jeito de quem tenta descobrir nos rostos retratados sinais das nossas gentes.
Depois do regicídio, em que foram baleados D. Carlos e seu primogénito, D. Luís Filipe, impunha-se que o novo rei de Portugal, D. Manuel II, se aproximasse mais do povo, levando-o a acreditar e a identificar-se com a Monarquia. A visita foi memorável e disso nos dá conta, neste trabalho, Armando Tavares da Silva, pessoa de certo modo identificada com a nossa região, ou não tivesse casa na Praia da Barra.
Curiosamente, o autor, que sublinha a importância histórica da visita do rei, que Aveiro preparou com simpatia e carinho, acorrendo as suas gentes a vê-lo e a aplaudi-lo, também não ignora, neste seu escrito muito bem conseguido, os protestos dos republicanos descontentes, no exercício de uma liberdade que nunca lhes foi negada, tanto na autarquia aveirense como nos jornais. Por exemplo, enquanto “O Campeão das Províncias” e o “Districto de Aveiro” davam honras de primeira página à visita do rei, com textos laudatórios e fotos, “o Democrata” considerava, também na primeira página, sem qualquer ilustração, a visita de D. Manuel II como “Real bambochata”. Escusado será dizer que o autor buscou nas melhores fontes da época, a comunicação social, os reflexos da presença do rei em Aveiro, sem descurar a informação rigorosa de quantos muito se debruçaram sobre esse período da História de Portugal, com uma monarquia que não soube dar os passos certos para incrementar a democracia e para desenvolver o país. Daí que a República caminhasse a passos largos para acabar com um regime que construiu Portugal com rasgos de génio, desde os seus fundamentos. Com altos e baixos, obviamente. Sobre este acontecimento não se tem falado muito entre nós. Talvez a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, dois anos depois de D. Manuel II ter estado em Aveiro, tenha ofuscado aquela visita.
Como é próprio do povo, que reage com emoção inúmeras vezes pondo de lado a razão, frequentemente deixa-se manipular pelos políticos. Os mesmos que aplaudiram D. Manuel II, voltaram-se pouco tempo depois para o outro lado, para vitoriarem a República, como sublinha o autor. E com razão. Tal como aconteceu com o 25 de Abril. Muitos que batiam palmas a Salazar e a Marcelo Caetano acorreram em massa para saudar e cantar a revolução dos cravos, ao som da Vila Morena.
"D. Manuel II e Aveiro - Uma Visita História (27 de Novembro de 1908)" é um livro para ler e para guardar. As fotografias que o ilustram constituem uma mais-valia para curiosos e estudiosos. São de proveniências diversas, com destaque para Aurélio da Paz dos Reis e Joshua Benoliel. Ainda da Imagoteca da CMA e de outros arquivos.

 Fernando Martins

NB: Mais considerações e fotos, sobre o livro, num dia destes, onde a Gafanha da Nazaré também estará presente. Há curiosidades que vale a pena conhecer.

NA LINHA DA UTOPIA

Sentar à mesa
1. Os cenários socioeconómicos da actualidade continuam a merecer os mais variados comentários dos mais diversificados quadrantes. Todos observam a crise, e alguns até na sua estratégia carregam na tecla crisófila dizendo que ela continua para ficar e agravar; a lucidez das soluções é que parecem tardar, facto que também se comprova pela ausência de plataformas de encontro e entendimento a partir da realidade. Da União Europeia os ziguezagues, demonstrativos de um fosso em que os cidadãos estão e parecem querer estar (longe), reflectem a incerteza e indecisão de contornos históricos. E nestes contextos de transformação planetária são bem mais as mesas habituais da analítica comentada que as da procura das soluções a partir das práticas. 2. Não é fácil vislumbrar caminhos de saída da encruzilhada do mundo presente, e futurologia é tarefa que os humanos não dominam. Mas talvez o descortinar a justa medida do “copo meio cheio” precise de despertar aquelas mesas que podem apontar caminhos. Depois da II Guerra Mundial foi o tempo histórico da criação das grandes plataformas de encontro e da estruturação das grandes organizações que marcaria o tempo da qualificada modernidade: nesta a preocupação consistente pela Humanidade em geral foi uma imagem de marca, e daqui derivaram toda a multiplicidade de organismos enraizados na ONU – Organização das Nações Unidas. Entretanto verificámos em 1989 a queda do Muro de Berlim, que assinalou a abertura total da era da globalização já na pós-modernidade (esta mais individualista e indiferente) previamente esboçada. 3. Uma quantidade e qualidade de transformações sucedem-se (até no panorama da revolução internet), a que não é alheio o simbólico 11 de Setembro de 2001. A nova complexidade de relacionamentos planetários a par do emergir dos povos orientais como potências desmonta as “mesas” antigas, despertando para novas urgências sócio-político-educativas. O facto de quase tudo hoje ser transnacional, o que entre nós se reflecte no “país que se decide em Bruxelas”, torna clarividente que as respostas antigas agora colocadas seriam como «remendo novo em pano velho». O tecido social está todo em ebulição; não é efectivamente um mal (como por vezes se diz), é uma realidade nova que obriga ao reajustamento. Assistimos a grandes mudanças; não se trata de começar de novo (ninguém começa nada de novo), tratar-se-á de compreender para melhor agir… 4. Um dos principais sintomas da crise é a objectivação explícita que, muitas vezes, os variados sectores sociais têm andado a puxar uns para cada lado. Erro tremendo que se reflecte em tantas propostas sociais irrealistas e inconsequentes em relação à crua realidade. O flagelo da fome já é o julgamento da história pela incapacidade de entreajuda político-económica dos vários actores em cena. Há novas mesas a reinventar, há novos conhecimentos a joeirar e potenciar nessa causa decisiva da sobrevivência, o mesmo é dizer, do autêntico serviço à casa da humanidade. Inadiável!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Cruzeiros da Gafanha da Nazaré

A propósito dos Cruzeiros da Gafanha, o Padre João Vieira Rezende diz, na sua "Monografia da Gafanha", que o primeiro de que há memória “deveria ter existido em 1584, ‘perto da ermida de Nossa Senhora das Areias’ em S. Jacinto”, segundo reza um alvará régio, com data de 20 de Maio daquele ano. E acrescenta, talvez para espanto de alguns, que considera S. Jacinto, “por muitos motivos, pertencente à região da Gafanha”, porque “era-o realmente antes da abertura da Barra em 1808”.
Sobre os Cruzeiros da Gafanha da Nazaré, leia mais em Galafanha

Figueira da Foz – A Esplanada Silva Guimarães

Casa das Conchas Castelo Engenheiro Silva
Quem vai à Figueira da Foz ou ali passa férias, sobretudo no Verão, não resiste a ver o mar, com praia abundante e a perder de vista. A Esplanada Silva Guimarães, construída na década de 50 do séc. XX, é local obrigatório para passear e conversar por entre o tagarelar, de línguas várias, de quem deambula ao sabor do nada fazer. Dali avista-se quem teima em manter a linha, caminhando ou andando de bicicleta, mais em baixo, na marginal, onde cabe muita gente. Mas na esplanada, com bancos para o merecido repouso de quem caminhou muito, há três edifícios que reclamam a nossa atenção: a Casa das Conchas, com marcas da Arte Nova, bem patente nos azulejos decorativos de motivos vegetais; o Antigo Edifício do Turismo e o Castelo do Engenheiro Silva, que formam um belo contraste com a demais arquitectura envolvente. Para além de sugerir uma visita ao Bairro Novo, onde a presença da Arte Nova se faz sentir com mais acuidade, como marca de uma certa burguesia endinheirada, não posso deixar de lamentar o estado em que se encontra o Castelo do Engenheiro Silva. Há anos que o vejo com alguns sinais de obras para breve, que nunca avançam. Na realidade a decadência e o abandono empobrecem aquela esplanada.
FM

Peregrino do saber

José Leite de Vasconcelos,
nos 150 anos do seu nascimento O EXPRESSO evocou esta semana, no seu su-plemento "ACTUAL", o universalista José Leite de Vas-concelos, para celebrar os 150 anos do seu nascimento. O sábio que foi médico, mas que nunca desejou exercer tal profissão, dedicou-se, com paixão, à filologia, à etnografia e à arqueologia, viajando constantemente, porque defendia que “Nada nos educa e ilustra como viajar!”. Ao ler esta evocação, em textos de Mário Robalo, ocorreu-me sublinhar, neste meu espaço, que, nas suas fre-quentes andanças pelo País, José Leite de Vasconcelos também esteve na Gafanha, em 1919, onde colheu algumas informações que publicou na sua obra “Geografia tradicional das Beiras”. Posteriormente, esses apon-tamentos foram enriquecidos com outros que recebeu do Dr. José Pereira Tavares, seu antigo aluno na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na altura professor do Liceu de Aveiro, onde veio a ser reitor distinto. Segundo Leite de Vasconcelos, o seu antigo aluno era pessoa que conhecia bem a localidade e escritor erudito, o qual “o obsequiou com incessantes informações, e de mais a mais lhe ofereceu a parte por ora impressa da ‘Monografia da Gafanha’, do Rev. João Vieira Resende”, conforme leio na sua “Etnografia Portuguesa”, volume III. Leite de Vasconcelos diz, citando a referida “Monografia da Gafanha”, que antes de 1677 devia ter havido alguns cultivadores da Gafanha, e que, por esses tempos, continuavam a fazer-se “colonizações rurais”. Em 1813, fala-se, diz o sábio, “de uma fazenda que constava de casas, currais, palheiros, terras de pão, pinheiros e juncais”. “Grande porção do antigo areal adaptou-a pois o homem assim sucessivamente a cultura, com trabalho e suor, e os adubos que a Ria lhe ministrava”, refere, citando o geógrafo Amorim Girão. E como curiosidade, depois de frisar a cultura de batata, feijão, milho, centeio e algum vinho, diz: “Dá-se tal apreço à batata gafanhense, que no mercado todos a preferem à de outros sítios.”
FM Nota: Voltarei ao assunto.

NA LINHA DA UTOPIA

A inteligência das emoções
1. Sente-se (e justifica-se) que em certa medida exista uma desconfiança das emoções. Mas está estudado que são estas que comandam a vida e o mundo. As razões para o preconceito e não integração das emoções e afectos prendem-se mais com a história dos séculos passados que com a realidade presente. Especialmente desde o princípio da modernidade do séc. XVI as emoções dominaram as razões a tal ponto que originaram páginas de precipitação intolerante baseadas mais em intuições emocionais que em razões lógicas. Mas já desde os tempos clássicos que, no esforço de compreensão “organizada” do ser humano, se considerou que ele é corpo e espírito. Os séculos racionalistas acentuariam a objectividade material e experimental; os tempos mais voltados para as componentes espirituais sobrevalorizaram a face das ideias desprestigiando as noções terrenas. Agravaram-se algumas dictomias (ou uma coisa, ou outra) a ponto de haver nos quadros do pensamento quase (imaturas) incompatibilidades. 2. Para quem vive “preso” à história, neste terreno da profundidade humana as razões fundamentam os medos e, consequentemente, a prudência aconselha à desconfiança. Para quem vive nesses paradigmas do passado (cartesiano), mesmo nos terrenos científicos da maior vanguarda do conhecimento, esta fronteira é ténue, e prefere-se o rigoroso separar das águas entre corpo e espírito. Fala-se de progresso humano mas tem-se medo de incluir nele todas as formas de conhecimento; sabe-se que os grandes problemas da humanidade actual não têm solução tecnológica (mas sim humana), mas sobrevaloriza-se e exalta-se o patamar da ciência tecnológica, cortando asas aos horizontes das ciências filosóficas, humanas e religiosas, dos clássicos como das artes. No fundo, pelo arrastar desse passado histórico (que continua) de graves incompatibilidades, temos medo de no presente incluir em diálogo (transdisciplinar) todos os conhecimentos… 3. E, assim, verifica-se que quando o mundo designado de intelectual abandonou as razões de possibilidades desta harmonia “mente sã em corpo são”, então esta abordagem da unidade psico-somática transitou para a lógica, muitas vezes, da irracionalidade… Que o digam todos os exoterismos e misticismos que, em palcos não iluminados pela ordem razoável do ser, fazem o seu falacioso caminho. Talvez seja mesmo preciso, urgentemente, resgatar a pluri-unidade dos conhecimentos para um patamar da justa racionalidade, isto é da inteligência emocional. Obras como a de António Damásio (os estudos da neurobiologia da consciência) derrubam essa dictomias antigas, como se o ser humano fosse um encaixotado de gavetas frias. E tudo quando se sabe que as emoções lideram o mundo. Ou a presente crise internacional não demonstra cabalmente que: 1. temos de superar as limitadas abordagens metodológicas da história; 2. temos dialogado muito pouco em rede com os vários conhecimentos; 3. que as publicitadas “expectativas” que comandam as bolsas de valores e os preços do petróleo são o novo nome da “inteligência das emoções” (= do sentir). 4. Sabemos que estas são águas profundas, mas são elas que em novos paradigmas de abordagem podem oferecer o justo equilíbrio a uma desejada humanidade humana; tudo diante dos desafios / oportunidades da globalização.

Os milagres pagam-se

Em Novembro, o País soube que Ana Maria, de 44 anos, tinha uma cervicalgia degenerativa. Não sei bem o que é mas pareceu-me grave na foto. Sim, Ana Maria teve foto nacional: com colar cervical e cinta lombar. Pois apesar disso, a Caixa Geral de Aposentações obrigou-a a voltar ao trabalho - ela era funcionária de uma Junta de Freguesia, em Ponte de Lima - onde não ia há três anos. Uma daquelas histórias que nos fazem abanar a cabeça: só neste País! Agora, ficámos a saber que esta história era ainda mais deste País do que temíamos. Tendo de passar por uma junta médica, que devia pôr a coisa a limpo, Ana Maria foi antes ao Bom Jesus, em Braga. E aí sentiu um daqueles formigueiros que precedem os milagres. É, ficou boa. A Junta de Freguesia deveria convidar Ana Maria a devolver, em dobro, os três anos de salário que recebeu sem trabalhar. Não para repor a justiça, isso temo que Ana Maria não compreenda. Mas, em linguagem que ela entenderia, para pagar uma promessa.
Ferreira Fernandes, no DN

Uma porta para o Evangelho

O Evangelho nunca entrou, onde quer que fosse, apenas com o tesouro das palavras. Sempre delas precisou para compor a grande Palavra, o Verbo, que desde o princípio estava em Deus e era Deus. Mas logo a seguir acontecia a grande viagem: encarnar e habitar no meio de nós. E assim se estabelece o elo entre o Infinito e o finito, entre Deus e o homem. E assim foi no princípio e pelo tempo fora. Palavra, acto e gesto como que se fizeram um só nesta aproximação de Deus e na habitação com os homens. Em Jesus se reforçou o gesto e o símbolo. A palavra aliou-se à caridade como sendo um só. E o pão foi servido á mesa de Deus e do homem, do corpo e da alma. Desde o início que evangelizar foi dizer que Jesus é o Pão da vida que mata a fome para a vida eterna. Exemplo disso foi a multidão faminta sentada na relva que sentiu saciada a sua fome e entendeu que outras fomes havia a saciar. A história da missão é a partilha fraterna deste pão eucarístico, na celebração do mistério envolto na partilha do pão da Palavra e das palavras, na mesa de cada lar, na escola de cada comunidade, na urgência de cada hospital, no ensino dos pequenos gestos que constroem e vida das famílias e da sociedade. E na aprendizagem da justiça de Jesus que nunca deixa para o fim os que mais carecem de amor e de pão. Foi esta a glória da Igreja missionária. Longe, nos Continentes abandonados, e aqui, nas cidades, periferias e aldeias mais esquecidas dos poderes. E os gestos de acolher em creches, jardins-de-infância, escolas vocacionadas na atenção a cada um, centros de dia, lares de abandonados pela idade ou doença. A Igreja, com a entrega de tantos voluntários, serviços apoiados pelas comunidades, criou uma escola de caridade onde se aprendeu num compêndio único – o Evangelho – a palavra e a partilha. Novos tempos se vivem. O Estado cada vez mais ocupa estes espaços e copia este estilo. Que mal há nisso? Nenhum. Se, com isso, não pretender transformar o serviço em poder. Quando na realidade dum dever se trata. Que não sirva para roubar missão e afecto. António Rego

PONTES DE ENCONTRO

Trabalho: uma afirmação de liberdade e responsabilidade! A propósito da proposta directiva, aprovada pela União Europeia, em 10 de Junho de 2008, e sobre a qual escrevi um texto de partilha, no passado dia 23 de Junho, com o título “A exploração, a dignidade do trabalho e o lugar do homem”, que permite alargar o limite do horário de trabalho até às 65 horas semanais, já muito se escreveu e disse. Nestes assuntos, que colocam de um lado empresários e do outro lado trabalhadores, a unanimidade é quase impossível, pois os interesses, das duas partes, raramente são os mesmos. Seria bom que todos estivessem do mesmo lado e ainda não perdi a esperança, sinceramente, de que, um dia, tal objectivo seja atingido, para o bem das empresas, dos empresários, dos trabalhadores e da sociedade em geral. Sei que não é fácil fazer destes desejos realidades, pelo que muito tem que mudar a nível de mentalidades, atitudes e comportamentos de todos os intervenientes, a não ser que, mais ano menos ano, o desespero tome, de vez, conta do homem, e a selva, em que o mundo se está a transformar, faça sobressair o lado mais negro e sombrio do ser humano, do qual a violência é a expressão mais sinistra e desumanizante! Contudo, não posso nem devo calar-me perante as palavras de um alto dirigente da sociedade portuguesa, a propósito desta directiva da UE, ao afirmar que os trabalhadores se devem preocupar mais em preservar os seus postos de trabalho do que estarem a pensar em questões de legislação laboral. Sem comentários! As múltiplas crises que estão espalhadas um pouco por todo o lado dão-nos sinais claros de que o limite da capacidade de compreensão do cidadão comum está a ser atingido. Ora, quando assim é, o passo para a irracionalidade humana é rápido e de consequências imprevisíveis, pelo que tudo tem que ser repensado e refundado, já não só a nível dos conceitos económicos ou das políticas que vão gerindo (mal) o mundo, mas do próprio conceito de liberdade. As crises são cada vez muito mais profundas (e disso já não vale a pena duvidar) e radicam nos estímulos pessoais e sociais com que avaliamos tudo o que nos cerca, em todos os tempos e lugares. Trata-se, portanto, de uma crise de valores, sejam eles históricos, culturais ou absolutos, ainda que os dois primeiros nunca se devam sobrepor aos valores do próprio individuo (os absolutos), desde que este os exerça no uso pleno e sadio de todas as suas faculdades mentais e tenha como objectivo não só o seu próprio bem, mas igualmente o bem-estar dos outros. Uma sociedade, qualquer que seja, só é doente na medida em que os homens que mais responsabilidades têm na sua liderança, seja da coisa pública ou não, também padeçam da mesma doença e a transmitem aos seus concidadãos como se de uma epidemia silenciosa se tratasse. Homem saudável é aquele que sabendo que, livremente, pode fazer mal opta, também de forma livre, por fazer o bem, pois esse é o primeiro desejo que ele tem para si mesmo, pelo que ele não se pode contradizer na sua pessoa. Deste modo, cada homem é, em grande parte, a medida do bem ou do mal dos outros, através da forma como exerce a sua liberdade e a sua responsabilidade em si mesmo e com quem interage activamente. Infelizmente, não falta por aí quem procure separar a responsabilidade da liberdade, dando mesmo a entender que a primeira limita a segunda. Nada mais falso e perigoso! O homem deve entender que a responsabilidade não limita a liberdade, antes faz parte dela, na medida em que é através dela que a liberdade não passa de um conjunto de instintos e impulsos incontrolados, ao sabor das circunstâncias e dos caprichos de momento. De outro modo, o risco da manipulação, por parte dos que teimam em propagar as suas próprias doenças aos outros, é constante e, muitas das vezes, uma necessidade para que se julguem ou finjam felizes. E isto já está a acontecer, infelizmente!
Vítor Amorim

terça-feira, 1 de julho de 2008

Um livro de Senos da Fonseca

O LABAREDA Li, num repente, o último livro de Senos da Fonseca, “O LABAREDA”. Com muito prazer o traguei, página a página, quase sem mastigar. Depois, para saborear ideias e poemas que me fizeram retroceder no tempo, voltava atrás, relia, parava, e o filme corria lento à espera que eu recordasse mais cenas da minha meninice. Figuras de homens e mulheres, que o autor tão bem retrata, fizeram-me rir, e trouxeram-me saudades que me comoveram. Da ria, da borda d´água, dos mercantéis e moliceiros, do linguajar dos pescadores e peixeiras, dos namoricos, dos jaquinzinhos de escabeche, da barca que na “Bruxa” esperava, pachorrentamente, que passageiros chegassem. O autor, conhecedor profundo da laguna, das marés e das artes de velas e lemes, ofereceu-nos, com sensibilidade e poesia, a estória de uma mulher d´ Ílhavo, Maria, “símbolo de sacrifício, denodo e perseverança, à volta da qual cirandava todo o agregado familiar, girando em torno dos seus desejos, das suas aspirações e da sua indomável vontade”, que se apaixonou pelo Labareda, um murtoseiro que nestas bandas encontrou amor e novos horizontes. Senos da Fonseca, apaixonado desde há muito pela nossa terra e pela nossa gente, soube encadear, neste livrinho, nacos dos quotidianos dos ílhavos de antanho com evocações de pessoas que fizeram história, ora ficcionando ora recordando o pouco que se sabe da Joana “Maluca”, que recebia em sua casa o José Estêvão e outros fidalgotes, enquanto fumava o seu charuto. Uma das riquezas deste livrinho está no registo do linguajar do povo, a cair em desuso. São 356 palavras ou expressões, traduzidas em pé de página, que urge ampliar, em dicionário, para estudo dos povos que deram vida, expressiva, ao concelho de Ílhavo e daqui se espalharam pela costa marinha do país. Para se guardarem como marcas indeléveis do povo que nos deu lições de vida, iletrado mas cheio de humanidade. Também rico de conhecimentos alicerçados na escola do trabalho agreste e que os livros nem sempre sabem dar. “As atracações ‘À LABAREDA’, que todos pretenderam – mesmo depois da sua morte – imitar, ficaram na história da laguna. Ninguém as conseguiu igualar. Tornaram-se lenda na história da Costa Nova no dealbar do Séc. XX, e ainda hoje perdura na rapaziada, o hábito de gabar uma ousada manobra de embarcação, pronunciando: essa foi ‘à Labareda’.” “O LABAREDA” apresenta-se em edição cuidada, com ilustrações de J. António Paradela, que são uma mais-valia para a obra, num formato A5 deitado, cartonado, em bom papel. Trata-se de uma livro que merece ser divulgado junto de toda a gente, em especial dos jovens. É imperioso estimulá-los, para que busquem as nossas raízes com afinco, amem as nossas tradições e preservem a riqueza da nossa história local. Fernando Martins

NA LINHA DA UTOPIA

A fasquia dos modelos
1. Falar-se de rigor e exigência são ideias que estão na moda mas num patamar marcadamente económico. É, naturalmente, bem que assim seja, que o proclamado rigor percorra esses caminhos; mas que bom seria que esta fosse a medida padrão de tudo quanto são as relações humanas e sociais. Por vezes parece que um contraditório gritante paira sobre a vida social, em que a lógica do interesse comanda aquilo que são os caminhos diários das sociedades. Exige-se “exigência” economicamente, mas desprestigia-se o rigor ético; quer-se fazer da empresa ou da equipa de futebol uma família para ver se se chega ao triunfo, mas pouco valor parece dar-se efectivamente, como modelo de referência, à “família familiar” na sua essência e verdade. 2. Dos escaparates das revistas de imprensa, de cor de rosa ou de outra cor, os modelos sociais de pessoas e vidas estão aí apresentados, como poder de atracção para as camadas mais jovens. Mas que fasquia de valores eles contêm? Que generosidade de vida e resistência nos princípios apregoam? Será que são publicados porque têm mesmo leitores garantidos que preferem a intriga do “casa / separa” às virtudes para uma vida rica de sentido? Que lugar nessas páginas ocupam as famílias felizes, os filhos amados, os idosos amparados, a generosidade que brota da comunidade (familiar) mais importante do mundo? Com toda essa panóplia e com a péssima ideia (subdesenvolvida) de que tudo o que se diz ou o que vem na revista é verdade…que futuro, efectivamente, queremos para a sociedade em geral. 3. Já são muitos os estudos publicados que demonstram que sem famílias e comunidades enraizadas em valores de pertença a sociedade em geral não tem a sua rede de sustentabilidade. A verdade é que os modelos novelísticos são propostos continuamente e normalmente (no realismo da observação) eles têm pouco de fidelidade e de verdadeira felicidade. Talvez também aqui precisemos de um “choque ético de imprensa” que seleccione e faça a opção pelo que merece ter visibilidade em valores positivos no cumprir da sua missão de “educabilidade” social. Vale a pena salientarmos, neste patamar, o caso excepcional da Revista XIS, que vinha aos sábados com o jornal Público. Fez um caminho de cerca de cinco anos; acabou, já há alguns. Nada de novo e estimulante veio ocupar um lugar popular e social idêntico, nesse esforço de divulgação valorativa dos exemplos de alta fasquia de valores e generosidade. 4. Como em tudo, não são os grandes momentos que educam e transformam. É na simplicidade do dia-a-dia que a mensagem passa (ou não). A fasquia das mensagens dos modelos famosos é, hoje, um verdadeiro espectáculo pobre de valores; falam de um amor que não o é, sem futuro, porque é bem mais interesse que generosidade e abdicação. E é esta a mensagem que, silenciosamente, vai passando… Como também, e essencialmente aqui, despertar o rigor e a exigência como valores gratificantes ao sentido da vida? Alexandre Cruz

Diocese de Aveiro: cinco anos ao serviço da caridade

A diocese de Aveiro estará nos próximos cinco anos voltada para o serviço da caridade. Este anúncio foi feito por D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro, por ocasião do dia da Igreja Diocesana, que teve lugar no domingo, no Santuário de Santa Maria de Vagos. O actual ano pastoral foi voltado para “O serviço aos mais pobres é sinal visível e expressivo da verdadeira Igreja de Jesus Cristo”. Mas porque “servir os pobres com uma solicitude permanente” e caridade “não se esgota nunca”, a igreja de Aveiro sente que “o trabalho pastoral ao longo do ano realizado deve ampliar-se, alargar-se e consolidar-se”. Na homilia que o Bispo de Aveiro dirigiu aos diocesanos, assinalando também o início do ano Paulino, D. António Francisco dos Santos referiu que a igreja diocesana quer “aprender com Paulo a paixão pelo Ressuscitado, o gosto pela sabedoria do Evangelho, a abertura aos novos caminhos da renovação, a determinação para ir ao encontro de todos na imensa vastidão do mundo a evangelizar”. “Temos tanto a aprender com estes Apóstolos (Pedro e Paulo) para não fecharmos o anúncio do Evangelho e a missão da Igreja àqueles que já conhecem Deus, que já vivem d’Ele”. D. António Francisco dos Santos indica que espera “uma sociedade nova a nascer de uma civilização em mudança, onde a procura de Deus é silenciosa e complexa, onde as praças já não têm lugares para o Deus desconhecido, mas onde no coração humano continua a haver espaço para o Deus necessário”. “Esperam crianças sem baptismo, jovens desejosos de encontrar certezas de fé e razões de esperança, famílias que querem ver o seu amor abençoado e os seus filhos a crescer com critérios de dignidade e de valor, idosos a braços com provações trazidas pelo peso da idade, pela doença e pela solidão”, pois são muitos os que aguardam “sinais concretos de acolhimento da Igreja” para regressar a uma descoberta da fé, numa missão confiada a todos. “Todos somos chamados e convocados para a missão: bispo, presbíteros, diáconos, consagrados(as) e leigos(as)”.
Fonte: Ecclesia

QUANDO FALAR...

Quando falar... sobre amor, finja nada conhecer, para absorver cada frase que brote do coração. Quando falar... sobre a dor, deixe abertas as janelas da alma para compreender que amor e dor são tão parecidos que até os confundimos, ao vê-los bem de pertinho. Quando falar... sobre a paz, faça-o no rumor da guerra, para ser ouvido na mais alta voz. Quando falar... sobre sonhos, acorde para vivê-los na melhor lucidez do seu dia. Quando falar... de amizade, estenda a mão aos seus inimigos, para que possa provar a si mesmo aquilo que gosta de dizer aos outros. Quando falar... de fome, faça um minuto de jejum, para lembrar daqueles que jejuam todos os dias, mesmo sem querer... Quando falar... de frio, abrace alguém. Quando falar... de calor, estenda a mão. Quando falar... de felicidade, acredite nela. Quando falar... de fé, cerre os olhos para encontrar a razão daquilo em que crê. Quando falar... de DEUS, faça-o pelo silêncio do seu testemunho. Quando falar... de si mesmo, aprenda a calar, para entender o amor, a dor, a paz, os sonhos... Glácia Daibert
Poema enviado pelo João Marçal