quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

Efemérides aveirenses

19 de Janeiro 1941 – Ao regressar a Aveiro, depois de restabelecido de um gravíssimo e nefando atentado, de que foi alvo em Lisboa e que o opôs às portas da morte, o saudoso arcebispo D. João Evangelista de Lima Vidal teve o acolhimento de uma invulgar manifestação pública de simpatia. 1970 – A Mesa Directora da Fraternidade da Ordem Terceira de S. Francisco de Assis, de Aveiro, após séria reflexão sobre o modo como se vinha fazendo nos últimos anos a procissão das Cinzas, decidiu suspender a realização deste acto litúrgico. Fonte: Calendário Histórico de Aveiro

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

POBREZA QUE MATA

Um relatório das Nações Unidas, ontem divulgado, denuncia que um sexto da população mundial, mais de mil milhões de pessoas, vive na miséria absoluta. Gente que não tem água nem alimentação adequada, e muito menos cuidados básicos de saúde. Seis milhões de crianças morrem, por ano, antes dos cinco anos de idade, com fome, e mais de 800 milhões de pessoas deitam-se, à noite, sem comer seja o que for. A lista das carências humanas, ao nível da alimentação, da saúde, da habitação e da educação, seria interminável, para escândalo de tanta gente que vive na abundância. Quando tantos têm tudo, exibindo sinais exteriores de riqueza por todo o lado, há um milhão de pessoas que tem menos de um dólar por dia para sobreviver, enquanto mais de 2,7 mil milhões tentam viver com menos de dois dólares diários. Para combater a pobreza endémica, os técnicos das Nações Unidas, através daquele relatório, sugerem que os Governos dos países ricos devem abrir os seus mercados às exportações de produtos agrícolas dos países em desenvolvimento e comprometer-se a abolir, até 2010, os impostos sobre estes produtos. As nações ricas têm de estudar a hipótese de duplicar as suas ajudas aos países mais pobres, ao mesmo tempo que têm de disponibilizar 150 mil milhões de euros, por ano, até 2015, para projectos de desenvolvimento e de ajuda aos que mais precisam. Por outro lado, os habitantes dos países pobres devem ter a oportunidade de trabalhar, ainda que temporariamente, nos países desenvolvidos. Entretanto, os Governos devem reconhecer que os pobres também são gente e não apenas beneficiários do desenvolvimento. Quando falamos da pobreza no mundo, não podemos ignorar que Portugal também faz parte desse mundo. Aqui também há mais de um milhão de pessoas que passam fome e um número indeterminado que está no limiar na pobreza. A maioria das vezes com a nossa indiferença. Um dia, Madre Teresa respondeu a quem lhe perguntou como é que se podia erradicar a fome do mundo: "repartindo o teu pão pelo primeiro pobre que encontrares no caminho." Aqui está uma boa receita, para começar. F.M. Posted by Hello

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos

De hoje até 25 próximo, vai decorrer em todo o mundo a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, este ano subordinada ao tema "Cristo único fundamento da Igreja". Cristãos das diversas denominações vão ter uma preciosa oportunidade de orar para que todos se amem e testemunhem, no dia-a-dia, que Jesus Cristo é, de facto, o único Salvador. O diálogo ecuménico precisa, realmente, de gestos significativos, como recomendou o Santo Padre, que frisou a urgência de se "implorar de Deus o dom da plena unidade de todos os discípulos de Cristo". Mas se é verdade que o caminho da plena unidade tem de contar com a oração, também é correcto pensar que os cristãos podem ensaiar a aproximação organizando e participando em iniciativas conjuntas, salutar forma de mostrar vivências fraternas, nomeadamente, na resposta à pobreza ofensiva da dignidade humana, na defesa de valores perenes que o cristianismo nos ofereceu, em especial a justiça, a verdade, a paz, a liberdade e o amor. Durante esta Semana, por todo o mundo cristão, não hão-de faltar celebrações, com promessas de que vamos ser mais irmãos e de que no dia-a-dia todos saberão mostrar isso mesmo, tanto em gestos simples como em realizações concretas levadas à prática de mãos dadas. Aliás, isso mesmo vai acontecendo, como o provam os testemunhos da Comunidade Ecuménica de Taizé, onde monges de várias Igrejas cristãs conseguem rezar e viver juntos, tal como foi visto e sentido no recente Encontro de Lisboa, que contou com a participação de mais de 40 mil jovens da Europa. Um outro bom testemunho de unidade e de solidariedade mundial está no esforço de ajudar as vítimas do maremoto que massacrou o sudeste asiático. É premente, porém, fazer-se mais, tanto nas respostas aos grandes problemas das comunidades como na defesa de causas comuns, sem proselitismos nem demagogias, mas convictos de que assim estaremos a caminhar em trajectos convergentes, cujo fulcro único é Jesus Cristo. A celebração mundial deste tempo de oração começou na Igreja Episcopal [anglicana], nos EUA, em 1908, por iniciativa do Reverendo Padre Paul Wattson. Actualmente, a Semana de Oração é celebrada por milhões de cristãos no mundo e o decreto sobre o ecumenismo, saído do Vaticano II e promulgado em 1964, considerou a oração como a "alma" do movimento ecuménico. Contudo, não podemos ficar somente pelas celebrações, sendo imperioso aproveitar oportunidades como esta para educar as comunidades cristãs, no caminho da reconciliação, planeando acções ecuménicas durante todo o ano. Mas isso implica a necessidade de todos nos envolvermos nelas, cada um à sua medida. O contributo de cada um é fundamental. A nossa indiferença e falta de oração torna-nos cúmplices da separação escandalosa que há séculos alimentamos. E nunca como hoje o "vede como eles se amam", do evangelho, se mostra tão urgente. Fernando Martins Posted by Hello

No fim do dia

No fim do dia, cá estarei para duas curtas reflexões: Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e Pobreza no Mundo. E algo mais que seja boa notícia. Fernando Martins

segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Um poema de MIGUEL TORGA

Êxtase Terra, minha medida! Com que ternura te encontro Sempre inteira nos sentidos, Sempre redonda nos olhos, Sempre segura nos pés, Sempre a cheirar a fermento! Terra amada! Em qualquer sítio e momento, Enrugada ou descampada, Nunca te desconheci! Berço do meu sofrimento, Cabes em mim, e eu em ti! Monforte do Alentejo, 28 de Dezembro de 1968 In Diário XI

MIGUEL TORGA morreu há dez anos

Miguel Torga morreu há dez anos, precisamente no dia 17 de Janeiro de 1995. No dia seguinte, foi sepultado em campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta, sua terra natal. O autor de "A Criação do Mundo", dos "Contos da Montanha", do "Senhor Ventura", das peças de teatro "Mar" e "Terra Firme", do "Diário" e de tantas outras obras, marcadas todas elas por um sentido poético raro e pela dureza da montanha agreste que viu nascer Torga e que ele tanto amou e cantou, enriqueceu a literatura portuguesa e universal como poucos. Eterno indigitado ao Prémio Nobel da Literatura, nunca o recebeu, porém, por lhe faltar, decerto, o lóbi de grupos e de correntes literárias e políticas a que sempre foi avesso. Neste dia em que os seus admiradores lembram a sua morte, mas também a sua extensa e riquíssima obra, que se estendeu da poesia ao romance, passando pelo conto, pelo teatro e pelo ensaio, mas ainda pelas memórias que tão expressivamente registou sob a forma de diário, vale a pena ler ou reler "MIGUEL TORGA - FOTOBIOGRAFIA", obra organizada por sua filha Clara Rocha, com prefácio de Manuel Alegre. E se é justo sublinhar o texto com que Manuel Alegre homenageou Miguel Torga, por tão rico ele ser, e que tem por título "O rosto de Viriato", outros há, não menos singulares, nesta FOTOBIOGRAFIA, sob a forma de depoimentos. São eles de António Almeida Santos, António Arnaut, Claire Cayron, Jorge Amado, Mário Soares e Sophia Mello Breyner Andresen. "MIGUEL TORGA - FOTOBIOGRAFIA" é um livro obviamente cheio de fotos que retratam a vida do poeta, bem enquadradas por textos de sua lavra e por legendas que nos ensinam os caminhos que ele percorreu e que nos ajudam a compreendê-lo melhor. "O espírito de Torga não é só o que está nos textos, não é só o verbo que se fez obra, como corpo, como terra, como língua, como pátria. Quando o poeta morreu, quando o seu caixão baixava à cova no cemitério de S. Martinho / Agarez, eu disse que era um pedaço de Portugal que estava a ser enterrado. Talvez o que procuro sempre que volto a Torga seja este pedaço de Portugal ressuscitado, esse espírito de fidelidade à raiz, esse modo inconfundível de ser do mundo sem trair o berço e de ser tanto mais universal quanto mais coerentemente e profundamente português." Assim fechou Manuel Alegre o texto "O rosto de Viriato", com que abriu a FOTOBIOGRAFIA do poeta. E assim, também, nos abriu a porta a um livro que deve ser lido pelos portugueses que amam os poetas lusos. Fernando Martins Posted by Hello

LIVRO: porta aberta para o conhecimento

A Associação de Professores de Português (APP) lançou um convite a todos os docentes e a todas as escolas do País, para que incentivem a leitura. Assim, por proposta daquela Associação, de 14 a 18 de Março, haverá sessões de leitura nas aulas de Português (E por que não nas outras?) para promover, junto dos alunos, a ideia de que ler e saber ler bem é muito importante. Aliás, um livro é, normalmente, uma porta aberta para o conhecimento, para a descoberta, para o encontro com os outros, em suma, para a formação integral da pessoa. A campanha organizada pela APP, denominada "Ler Consigo", pretende, também, que os professores e escolas convidem pais e encarregados de educação, vizinhos e amigos dos alunos, bem como personalidades relevantes das comunidades, a visitarem a sala de aula e a lerem um texto por si escolhido. Num país como o nosso, que é conhecido por ocupar os lugares mais baixos da tabela, na Europa, quanto a índices de leitura e de literacia, embora se editem boas obras, torna-se mesmo importante, direi mesmo indispensável e urgente, que algo se faça para que o povo português comece a ler mais. E a melhor maneira de o fazer será, sem dúvida, começando pelos alunos das nossas escolas, de qualquer grau de ensino, e pelos seus professores, muitos dos quais, como por vezes se percebe, também não gostam de ler nem lêem com frequência. Para mais informações, consultar www.app.pt/lc , onde há textos de apoio disponíveis e propostas de actividades. F.M. Posted by Hello

V ENCONTRO NACIONAL DE APOIO AO IMIGRANTE

Abertura maior às comunidades estrangeiras mais fechadas Terminou ontem, domingo, em Fátima, o V Encontro Nacional de Apoio ao Imigrante. Foi uma iniciativa que procurou descortinar os problemas sentidos e vividos pelos imigrantes que trabalham e vivem entre nós, bem como chamou a atenção para as respostas urgentes que a comunidade nacional tem a obrigação de dar, na linha do que recomendou o Papa João Paulo II: “Aquele que bate à tua porta é Jesus Cristo – dá-lhe abrigo.” Do conjunto das intervenções e dos testemunhos apresentados, podemos destacar que a habitação é um direito para todos e que urge eliminar algumas burocracias exigidas aos imigrantes na hora da aquisição de casa. A este nível, ainda for recomendado que é preciso pressionar as autarquias para que implementem políticas mais adequadas ao realojamento. Por outro lado, foi sublinhada a importância de os imigrantes respeitarem as normas e deveres de cidadania, pois, muitas vezes, essa não observância é potenciadora de maior exclusão social. Apontou-se a premência de lhes serem proporcionados espaços de culto, mas também foi dito que é preciso facilitar as visitas às suas famílias e incentivá-los a cumprirem os deveres de cidadania e a experimentarem boas práticas de economia. Neste V Encontro foi frisado que os portugueses têm de usar formas de acolhimento não discriminatórias, já que os imigrantes são seres iguais a nós, envolvendo toda a comunidade e não só a Igreja Católica no trabalho com os estrangeiros que se radicaram entre nós, sempre em parceria com as Associações ligadas a este sector soicial. Ainda foi salientado que urge fazer uma aproximação amiga às comunidades estrangeiras mais fechadas. F.M.

domingo, 16 de janeiro de 2005

INCRÍVEL

Por incrível que possa parecer, há médicos e doentes que fumam nos hospitais. Daí que a Sociedade Portuguesa de Pneumologia esteja a estudar planos antitabágicos, para combater, de forma convincente, tal hábito pernicioso, conforme revelou o PÚBLICO. Em Portugal ainda não existe nenhum hospital livre de tabaco, apesar de a legislação proibir o fumo nas unidades de saúde, o que não deixa de ser lamentável, tanto mais que a classe médica é, ou devia ser, a que tinha obrigação de lutar contra o uso do tabaco, como um dos grandes causadores do cancro do pulmão. Argumenta-se que os médicos fumam porque a sua profissão é de grande desgaste e está muito sujeita ao stresse, sendo o tabaco, dizem alguns, uma das formas de o mitigar. Mas será mesmo assim? Ora acontece que, apesar de se fumar nos hospitais, é neles e nos centros de saúde que há centenas de consultas que podem ajudar o fumador a pôr de lado o tabaco. Mas com médicos a fumar, a darem um exemplo tão negativo, como será possível que as consultas sejam convincentes? F.M. Posted by Hello

A CASA GAFANHOA

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré concretizou, há anos, um sonho, quando montou uma casa-museu - "A casa gafanhoa" -, não só para recrear o lar tradicional dos nossos avós, com todos os seus pertences, mas também para tudo depois poder mostrar aos actuais e futuros gafanhões e, ainda, aos turistas mais interessados em conhecer de perto a vida dos nossos antepassados. 
A casa antiga, que foi do senhor Vergílio Ribau e de esposa, D. Maria Merendeiro, foi preservada com muitos dos seus haveres e enriquecida com outros, oferece aos visitantes um conjunto agradável de ver. Vale a pena, por isso, ser visitada, para se ficar a conhecer um espaço museológico com muitos sinais do princípio do século XX. 
Da nossa memória, respigamos algumas lembranças da casa gafanhoa, que aqui registamos como subsídios para a História da Gafanha. Muito do que podemos recordar está em "A casa gafanhoa" para poder ser apreciado, com atenção. Desde a cozinha com a sua trempe de ferro, às panelas de três pés, aos aparadores, mesa e bancos toscos, até aos talheres de ferro e talvez de cabo de osso, passando pela cantareira com a respectiva cântara de ir à fonte buscar água, junto à mata da Gafanha, que dava gosto beber pela sua limpidez e frescura (que lhe era dada pela cântara de barro), sem esquecer o chão de junco, na cozinha de fora, mais modesta, e às vezes na principal, de tudo um pouco ali encontraremos para regalo dos olhos e da alma e encanto da nossa imaginação tão sofistica nos dias que correm pelo que quase todos possuímos. Sem esquecer, como é óbvio, na cozinha de fora, o forno onde se fabricava a sempre apetecida boroa de milho (e com que apetite era esperada a bola - boroa pequena e achatada - para comer com chouriço ou alguma carne de porco, mesmo gorda) e, por vezes, embora raramente, de outros cereais. E também a salgadeira que guardava, no sal, o porco, governo de todo o ano. 
Os quartos, sempre pequenos, onde mal cabia uma cama e a respectiva mesa de cabeceira, com a mala do enxoval da casa, quantas vezes sem guarda-fatos e sem outros móveis, que o dinheiro e os hábitos não davam para mais, também hão-de ser motivo de admiração. 
Sobre a cama não faltarão as mantas de tiras, que as tecedeiras fabricavam com farrapos e restos de roupa velha, tiras essas cortadas nas noites de Inverno, ao serão, sobretudo pelas mulheres da casa. Mas ainda se hão-de admirar cobertores grosseiros de lã, lençóis de linho churro e a um canto o lavatório, normalmente só usado aquando da visita do médico a algum familiar doente. 
A sala do senhor, à frente, que se abria na Páscoa ou em dias de casamento ou baptizado, com um crucifixo sobre uma toalha alva, em cima da cómoda, onde se guardavam as roupas brancas e de festa. Havia cadeiras à volta, retratos nas paredes, principalmente dos casamentos, ampliados, que são actualmente grandes e importantes fontes de conhecimento da maneira de vestir e de ser das pessoas dos tempos antigos, sobretudo desde que a fotografia começou a marcar presença e a registar os principais acontecimentos das famílias. Aliás, em cima da cómoda, onde dois castiçais suportavam outras tantas velas para acender em dias de trovoada e, ainda, quando havia a visita das “almas” e quando se velavam os mortos, podiam ver-se algumas fotos de datas marcantes da família, a par das jarras de flores, renovadas semana após semana. 
Fora da casa principal podia ver-se a cozinha do forno, com chão de junco e panelas e tachos exteriormente cobertos de sucessivas camadas de fumo, que era sempre muito quando se cozinhava, já que se fazia o aproveitamento total de tudo o que pudesse arder, mormente talos de couves, gravetos de árvores, bicas, pinhas, caroços de milho e serrim, entre outros combustíveis sólidos. Era preciso poupar e tudo servia para evitar a compra de madeira. 
Com o serrim, que era fornecido pelas serrações e pelos estaleiros, utilizava-se o "sarico" (não sei de onde vem o nome), formado de uma lata de tinta, vazia, com um furo lateral por onde se chegava o lume. Enchia-se de serrim, havendo o cuidado, primeiro, de lhe introduzir duas garrafas: uma na horizontal, que dava para o tal furo, e outra na vertical, que pousava sobre a primeira. Assim ficava uma parte oca, entre o serrim, por onde ele começava a arder, para cozinhar o apetitoso caldo de feijões das nossas avós, onde não faltava nada, desde os indispensáveis feijões, que lhe emprestavam o nome, até às batatas, passando por couves, nabos, arroz, massa, toucinho, chouriço e morcela, entre outras carnes de porto. Era o tal caldo onde, depois de frio, se podia espetar uma colher que ela não caía. Tudo isto e muito mais se há-de ver, para crer, na casa gafanhoa, que fica ali perto da igreja, na rua S. Francisco Xavier, no canto "das Vinagres". 
No pátio interior não faltarão as padiolas, os carros de mão e de vacas ou bois, com todos os seus apetrechos, as várias alfaias agrícolas, encabadas com paus toscos, a charrua e o arado, a um canto o galinheiro para as galinhas e galos, sobretudo, se refugiarem à noite, pois que de dia andavam, normalmente, a campo, comendo sementes, restos de comida e bicharada, quando não comiam outras coisas bem piores. E também não faltará a retrete, pequena e de tampo de madeira, com o indispensável buraco a meio, que quarto de banho era coisa que não existia. E porque falamos de quarto de banho, o tal que só apareceu muito mais tarde, talvez na década de 50 para o grosso da população, que os mais ricos já o tinha havia algum tempo, se não nos falha a memória, perguntar-se-á onde tomavam banho os gafanhões. 
Ao que nos têm dito, tomavam-no na cozinha, geralmente ampla e que dava para o viver do dia-a-dia, numa grande bacia de lata, com água aquecida nas panelas de ferro de três pernas. A água estava sempre quente, para o que fosse preciso, porque se cozinhava em panelas mais pequenas. Para o que fosse preciso, significa para lavar a loiça e para se lavarem, antes de se deitarem, especialmente os pés, que nem tudo podia ser lavado todos os dias, talvez por falta de hábito. 
Para o pátio interior ainda davam os currais dos porcos e das vacas ou bois, que sempre berravam acusando a falta da lavagem, os primeiros, e da erva ou palha seca, de milho, os segundos. O celeiro também tinha uma porta para este pátio e às vezes para o exterior. Nos beirais dos telhado viam-se as abóboras a secar e à espera do Natal, para fazer os bilharacos. 
No pátio de fora não faltava a eira, onde se malhavam e secavam os cereais, cobertos de noite pelo tolde, feito de palha de centeio, a estrumeira (quando não era no pátio interior), para onde se deitava tudo o que pudesse transformar-se com o tempo em esterco, tão necessário à fertilização dos solos, a par do moliço e de mistura com ele. Viam-se as medas de palha e o "cabanéu" (prisma triangular, feito de uma armação de troncos de eucalipto e de ripas, e deitada sobre uma face), onde se arrumavam lateralmente e num dos topos, bem apertadas para não entrar a chuva, as palhas de milho, secas, para no Inverno servirem para alimento do gado.
No interior guardavam-se alfaias agrícolas, menos usadas no dia-a-dia, e também ali dormiam, em especial os filhos da família, quando havia milho na eira, para o guardar dos ladrões que às vezes deixavam o lavrador sem nada do que granjeou durante todo o ano agrícola. Claro que não podemos esquecer, o poço, de onde se tirava a água para os usos domésticos, e um outro, o de rega, com o seu engenho puxado por vaca ou boi, que servia para regar o aido.

Fernando Martins

rochamartins@hotmail.com (dê a sua opinião ou apresente sugestões) Posted by Hello

Efeméride aveirense

16 de Janeiro 1940 - D. João Evangelista de Lima Vidal foi nomeado Bispo de Aveiro, conservando o título pessoal de Arcebispo, mas sendo desligado das obrigações de Superior-Geral da Sociedade Portuguesa das Missões Católicas Ultramarinas, conforme lhe foi comunicado, no dia 12 deste mesmo mês, pelo Cardeal Secretário de Estado do Vaticano. 1984 - A Câmara Municipal de Aveiro adjudicou, pela importância de 2 517 000$00 o arranjo do largo envolvente da Capela do Senhor das Barrocas. Fonte: Calendário Histórico de Aveiro Posted by Hello

sábado, 15 de janeiro de 2005

A CAUSA DO ABORTO

O EDITORIAL do "Expresso" desta semana tem por título "A causa do aborto". Escrito, como sempre, de forma sintética e simples, consegue dizer muito em poucas palavras. Não vamos aqui transcrevê-lo, porque pode muito bem ser lido na edição escrita. Vale a pena. Diz o editorialista que "As declarações dos políticos favoráveis ao aborto têm imenso destaque na comunicação social", havendo "uma febre, uma excitação, uma pressão enorme para se liberalizar o aborto". E logo refere que "o caso é tanto mais estranho quanto é sabido que o aborto é uma prática muito traumatizante para a mulher", deixando quase sempre "marcas fundas para toda a vida". Depois, garante que as mulheres que fizeram os abortos têm muito mais problemas do que as que decidiram levar a gravidez até ao fim. E mais adiante diz que o aborto é uma "prática bárbara" e que "só por equívoco pode ter sido erigida à condição de 'sinal de progresso'". E acrescenta: "Eliminar uma semente de vida (ou mesmo uma vida) não poderá nunca ser um sintoma de civilização." No EDITORIAL daquele semanário frisa-se, ainda, que, "sendo o aborto reconhecidamente indesejável, facilitar o aborto, dar-lhe melhores condições, é dizer implicitamente: 'Agora já se pode abortar sem risco, portanto ninguém hesite.'" Por fim, sublinha-se que nos países em que despenalizaram o aborto, "o número de abortos aumentou". E com o aumento do número de abortos, aumentou, também, "exponencialmente, o número de mulheres que carregam problemas psicológicos e traumatismos graves pelo facto de terem tomado a decisão de abortar". F.M. Posted by Hello

OS HOMENS NUNCA CHEGARAM TÃO LONGE

A sonda Huygens está a cumprir, com eficiência, as suas funções, enviando fotografias e outras informações que os cientistas já começaram a estudar. Dizem que mostram canais e desfiladeiros do maior satélite natural de Saturno, o Titã, o que pode querer dizer que há ou houve líquidos. Ao referir-se a uma foto, o Director-Geral Agência Espacial Europeia (ESA), Jean-Jacques Dordain, sublinhou até que "É uma imagem absolutamente magnífica, que revela um mundo novo". E acrescentou: "Somos os primeiros visitantes de Titã. Este é um sucesso fantástico para a Europa e para a indústria europeia e é o resultado de muitos anos de trabalho em colaboração e em equipa. " Por sua vez, David Southwood, responsável científico da ESA, afirmou que se trata de "um acontecimento histórico. Os dados que recolhemos pela primeira vez deste mundo tão distante são para a eternidade". Depois de muitos anos de estudos, a sonda Huygens descolou da Terra em 15 de Outubro de 1997, devendo pousar tranquilamente no solo de Titã para mostrar que a capacidade humana é eternamente insatisfeita. Posted by Hello
O silêncio faz falta O ruído ensurdecedor de todos os dias é um convite à procura de silêncio. Onde quer que estejamos, se quisermos, podemos olhar para o nosso interior para contemplarmos o silêncio que ainda podemos construir. Mas há locais que podem ser uma ajuda preciosa. O Santuário de Schoenstatt é um desses locais onde é possível descobrir a paz e o encontro com Deus. O Santuário de Schoenstatt fica situado na secular mata da Gafanha. Quem vem rumo às Praias, facilmente vê as placas que indicam o caminho para esse espaço aprazível, criado há mais de um quarto de século, onde uma pequena capelinha convida à meditação, à oração e à descontracção. O Santuário, que é uma réplica do original, que se encontra na Alemanha, em Schoenstatt, pertence ao Movimento Apostólico de Schoenstatt, fundado em 18 de Outubro de 1914, pelo padre José kentenich. Nele se venera Nossa Senhora, com o título de Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, com quem as pessoas podem estabelecer uma Aliança de Amor, passo fundamental para a construção de um homem novo para uma nova sociedade. O local, sempre bem cuidado, como que nos liberta do stresse. Por ali respira-se um ar diferente, acolhedor, tranquilizador. O Santuário, sempre bem cuidado, é um sítio onde é bom estar. As Irmãs de Maria e os Padres de Schoenstatt podem dar uma ajuda. Eucaristias e outras cerimónias estão anunciadas nos locais. Passe por lá e verificará que vale a pena. F. M. Posted by Hello

sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

A sonda Huygens já chegou a Titã A sonda Huygens já chegou à superfície de Titã, o maior satélite do planeta Saturno, o que levou o director da Agência Espacial Europeia, Jean-Jacques Dordain, a afirmar tratar-se de "um sucesso científico". A sonda transporta um sistema de câmaras digitais que deverão tirar fotografias das nuvens e da estrutura da superfície, enviando-as para a Terra, o que deverá acontecer ainda hoje, durante a noite, se tudo correr como está previsto. Um dos objectivo da missão Huygens é descobrir a fonte de origem do metano, um composto muito abundante na atmosfera de Titã e associado à actividade biológica da Terra. Posted by Hello

Um texto de Anselmo Borges

O mistério de um rosto Um rosto é um milagre. Há hoje no mundo 6200 milhões. Nenhum igual a outro: cada rosto é único. Um rosto é a visita do infinito e a sua manifestação viva no finito. Um rosto é uma intimidade visível, ao mesmo tempo manifesta e velada - os psicólogos sabem que, nas suas várias fases de desenvolvimento, o sinal de que o bebé distingue entre o Si e o não-Si é a sua capacidade de diferenciar um rosto. Esse rosto concentra-se no olhar. E o que é o olhar senão a luz que se acende na noite do mistério? Nunca ninguém viu o seu rosto e o seu olhar a não ser num espelho e sobretudo no olhar de outro rosto. Para rosto há muitos nomes: rosto, cara, face, aspecto, máscara-pessoa. De um modo ou outro, todos indicam a visibilidade de alguém. Que é um rosto senão alguém que se mostra na sua aparição? O rosto é a nossa exposição, o nosso estar voltados para os outros e para a frente, para diante. O que vai na alma vem ao rosto. Há o rosto sereno, ou amargurado, ou alegre, ou rancoroso, ou triste, esfarrapado, revoltado, suplicante, pensativo, esfomeado. De homem, criança ou mulher. Um rosto estoira em riso; um rosto desfaz-se em lágrimas. A criança tem o rosto da manhã; nas rugas do rosto velho, está escrito o trajecto de uma história. A beleza estonteante do riso num rosto nunca será explicada pela física. A química nunca há-de explicar as lágrimas de alegria, de dor, de horror, de compaixão, que nascem da fonte do olhar e descem por um rosto. Como é que foi possível o dinamismo do universo ir-se configurando ao longo de milhares de milhões de anos até á sua concentração na forma de um rosto enquanto divino visto? É nele que Deus nos visita e interpela. No rosto, há uma pessoa que se apresenta e é vista. Por isso, o mistério de um rosto morto é que nele o que se mostra é a ausência definitiva de um alguém. Para sempre. Para sempre? A arte é a vitória da vida sobre a morte. A beleza gera e materializa a esperança de presença eterna. Mas só a esperança. Por isso, a arte não é o final. Final mesmo é a convocação por Deus de todos os rostos da história do mundo, transfigurados pelo esplendor divino da eternidade. Já não haverá lágrimas nem dor nem sofrimento nem morte. Como diz o Apocalipse: "Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: 'Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.' O que estava sentado no trono afirmou: 'Eu renovo todas as coisas.'" O que a Páscoa faz é antecipar em Jesus Cristo a concretização dessa esperança de todos e para todos. In RELIGIÃO - Opressão ou libertação? Posted by Hello
Carnaval da Glória não vai animar a cidade A paróquia da Glória não vai este ano organizar o Carnaval, com tradições desde 1979. A triste notícia veio para a praça pública com o selo da falta de apoios das entidades oficiais e do comércio e indústria locais, o que não se compreende, já que a iniciativa tem sido considerada uma mais-valia para a própria comunidade, considerando a cidade e região de Aveiro. O Carnaval da Glória, que tem contado, desde a primeira hora, com o entusiasmo do pároco, padre João Gonçalves, e de muitos paroquianos e colaboradores, não tem sido mera diversão. Ele procurou sempre, como projecto da comunidade paroquial, propor a todos a vivência da fraternidade, através de uma alegria sadia, ao mesmo tempo que tem procurado congregar a população aveirense, católica ou não, em torno de uma iniciativa que nunca pretendeu ofender ninguém. Esta festa, que tem atraído a Aveiro multidões, da região e não só, foi sempre organizada tendo em conta o respeito pela dignidade das pessoas, brincando sem ferir quem quer que fosse, enquanto movimentava centenas de figurantes que partilhavam saberes, arte, alegria, boa disposição e optimismo. Mostrava, ainda, que os cristãos também sabem rir e folgar, que sabem divertir-se sem fugir do mundo, sem nunca esquecerem as bases e os valores da sua fé. Por tudo isto, é pena que o Carnaval da Glória tenha sido suspenso este ano. Mas pode ser que o povo de Aveiro, com autarquias, comércio e indústria, venha a dar as mãos para que a tradição volte a animar a cidade. F.M. Posted by Hello
Amálgama humana em paredes de tijolo V Encontro Nacional de Apoio ao Imigrante “Imigração com Abrigo” é o tema do V Encontro de Apoio Social ao Imigrante, a realizar dias 14, 15 e 16 de Janeiro, em Fátima. Para auscultar e reflectir experiências de habitabilidade e integração é organizado pela Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) e a Cáritas Portuguesa, em parceria com a Agência Ecclesia, Comissão Justiça e Paz dos Religiosos e o Centro Social Bairro 6 de Maio.Reflectir para agir, sobre a “experiência de quem dorme em cama quente por a dividir em horários diferentes, o subarrendamento, sem esquecer os doentes migrantes que não podem ter alta nos hospitais, porque não têm família ou centro de acolhimento que os receba” é a expectativa de Eugénia Costa, da Acção Social da OCPM. As embaixadas, mesmo de países ricos, encontram solução em pequenos quartos de pensões, numa amálgama de idosos e crianças, doentes e saudáveis, muitos em condições sub-humanas, sem janelas e com W.C. comum.A habitação é um direito que condiciona outros. “O acesso à saúde, à educação e a apoios sociais” dependem de um endereço. Entre imigrantes, os sem abrigo estão mais desprotegidos que os irregulares.O sucesso dos realojamentos está no projectar do espaço e das condições mínimas de habitabilidade, mas sobretudo no atender à teia de relações humanas estabelecidas. Os tijolos são secundários à solidez relacional da afinidade familiar e afectiva. O preconceito estigmatiza os bairros e gera “novas segregações, na integração no mercado de trabalho”. A “marginalidade periférica” do endereço é passaporte para a desconfiança e desintegração laboral. No ascender por meios legítimos, “vontade de trabalhar e um curso não são suficientes” para a afirmação social.Os “realojamentos camarários” não têm valor acrescentado, quando “reproduzem o modelo do bairro de lata”, numa “discriminação negativa”, pois os habitantes “não precisam sair de lá!” – e cita o exemplo do Bairro da Cabrinha, em Lisboa “com esquadra e serviços integrados”. Os condomínios fechados são paradigma da “segregação opcional”, por contraste à involuntária – contrapõe de forma provocativa um dos painéis do Encontro Nacional.A aprendizagem intercultural é fundamental no projectar dos espaços, num respeito integrador. Há que “aprender a lidar com as alturas quando viveram sempre em espaço térreo e horizontal!. Há casas de banho frente a cozinhas! É escandaloso assistir a novas formas de guetização com casas de tijolo, escondidas dos acessos e transportes. Não basta dar-lhes uma casa!”. Há culturas que “não damos por elas! Descobrem o seu espaço” mas também se isolam, como os “chineses e paquistaneses”.A indignidade e a precariedade afecta portugueses, imigrantes e refugiados, no mercado de trabalho e na compra de casa. Experiências de vida árdua contrastam com casos de sucesso, visões institucionais e camarárias, com as de Igreja e CLAI’s à sua responsabilidade, na descoberta de microcosmos silenciosos da cultura. Cidália Calisto, Gabinete de Imprensa da OCPM

quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

Tolentino Mendonça - Se me puderes ouvir



Se me puderes ouvir

«O poder ainda puro das tuas mãos
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui

à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer segredamos

mas se hoje me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo.

Tolentino Mendonça


Fumadores com restrições O Governo prepara-se para estabelecer um conjunto de restrições dirigidas aos fumadores. Sobretudo aos que, sabendo que o fumo faz mal e incomoda muita gente, teimam em fumar em recintos fechados, nos empregos, nos restaurantes, nas escolas e nas mais diversas repartições e instituições, mesmo do âmbito da saúde. Assim, e segundo o ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, o diploma antitabaco será levado ao Conselho de Ministro até ao fim do mês, esperando-se que seja aprovado. E segundo foi anunciado, a última redacção do diploma contempla apenas a proibição de fumar nos locais de trabalho fechados, nos lares e cantinas de entidades públicas ou de empresas, nas escolas, nos meios de transporte e nos hospitais. Podem, no entanto, fumar em lares e locais de trabalho, em áreas destinadas aos fumadores. De fora, ficam as restrições inicialmente previstas para os restaurantes, bares e discotecas. Que os frequentadores de bares e discotecas possam fumar, de preferência em espaços que lhes sejam destinados, ainda se aceita, mas em restaurantes, sem áreas limitadas a fumadores, não acho bem. Como é possível que uma pessoa, enquanto está a tomar uma refeição, tenha de misturar ao que come e bebe o fumo do vizinho ou da vizinha da mesa do lado? F.M. Posted by Hello