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domingo, 7 de junho de 2020

Viver é muito perigoso

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO


1. O título desta crónica anda comigo desde 1962. Quando o dominicano brasileiro, Frei Mateus Rocha, foi a Toulouse convidar-me para ir trabalhar no Instituto de Teologia da Universidade de Brasília, falou-me apaixonadamente do Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa [1]. Deixou-me o exemplar que trazia consigo, com o aviso: vais conhecer a obra-prima da literatura brasileira e uma das mais belas expressões da teologia literária. Tinha razão.
O projecto de Brasília era do grande antropólogo, Darcy Ribeiro, ministro da Educação no governo de João Goulart, derrubado por um golpe militar em 1964. A ditadura durou 21 anos. Não fui para Brasília, mas o Grande Sertão nunca mais me largou.
Viver é muito perigoso é um dos refrões que ritma a poderosíssima escrita do Grande Sertão. Que viver é mesmo perigoso já Siddhartha Gautama, chamado Buda, o iluminado (nascido em 560 a.C.), o tinha verificado quando, ao sair para fora da sua zona de grande conforto e prazer, encontrou um velho, um doente, um cadáver e um monge pedindo esmola. A doença, a velhice e a morte foram o começo do seu despertar para a descoberta das causas do sofrimento e das quatro nobres verdades que conduzem à sua superação, mediante o nobre caminho das oito virtudes.
Sem a vitória sobre o desejo, sobre a vontade de viver, não é possível a perfeita iluminação libertadora do medo. Seja qual for a história e a fantasia dessas narrativas, a verdade é que provocaram, ao longo dos tempos, diversas escolas de sabedoria: o Budismo forma uma constelação ou uma nebulosa impressionante de ensaios de sabedorias de viver, sobretudo nas áreas culturais asiáticas.
O monaquismo ocidental, de inspiração cristã, teve muitas expressões. S. Bento superou a acusação de parasitas do trabalho alheio, com a regra norteada pela sabedoria de ora et labora, reza e trabalha. S. Paulo tinha sido mais sintético: quem, podendo trabalhar, não trabalha, não coma [2]​.

2. O Grande Sertão situa a sua religiosidade no âmbito cristão, da forma mais ecuménica que se possa imaginar e capaz de beber em todas as fontes. Riobaldo, o fervoroso teólogo jagunço, tem uma experiência terrível de como é mesmo perigoso viver, mas nunca desiste de pensar e repensar a sua fé e as suas crenças, para não perder a esperança de tornar o homem humano. Para ele, “o existir da alma é a reza… Quando estou rezando, estou fora da sujidade, à parte de toda a loucura. Ou o acordar da alma é que é?”.

domingo, 24 de maio de 2020

VIVER E AJUDAR A VIVER

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO

«É tempo de acabar com todas as guerras: as guerras contra a natureza e as que nos destroem mutuamente. Há quem diga que têm proporcionado grandes avanços científicos e tecnológicos. Parece que ninguém está interessado numa vacina contra a guerra e ela existe: mudar de vida.»

1. Gostei muito, por várias razões, da entrevista a Ben Ferencz, o único procurador vivo do célebre tribunal de Nuremberga, publicada na Revista Expresso [1]. Quando participou nesse tribunal tinha 27 anos. Atingiu, agora, os 100, cheio de vigor, de humor e de esperança. Não resisto a deixar aqui, num breve apontamento, o eco deste testemunho.
Foi confiada a Ben Ferencz, pelo referido tribunal, a tarefa de investigar os crimes dos Esquadrões da Morte dedicados a procurar e matar todo o judeu que encontrassem – homem, mulher ou criança – e fazer o mesmo aos ciganos e a todos os inimigos do Reich.
Nesta entrevista, sem negar a importância do dever da memória, confessa que não quis ficar colado a esmiuçar o horror desse passado. Voltou-se para o futuro e dedicou a sua vida a lutar para erguer leis e tribunais, para que os crimes de guerra, crimes contra a humanidade, não possam ficar impunes.
Quem começa as guerras são pessoas e os crimes são cometidos por indivíduos que devem ser responsabilizados pelas suas acções. Quando foi procurador do tribunal de Nuremberga, o genocídio ainda não estava nos códigos. Usou esse termo, mas verificou que os nazis não podiam ser julgados por esse crime, enquanto tal, por falta de lei aplicável.
Não desistiu e, em 1948, a Convenção sobre Genocídio foi adoptada pelas Nações Unidas. Comenta: “É uma vergonha que os EUA tenham demorado 40 anos para assinarem essa Convenção. Só aconteceu em 1998.” Desde 2002, existe o Tribunal Penal Internacional, mas os EUA ainda não o reconheceram!
Adianta, no entanto, que Trump devia ser julgado nesse tribunal. Este Presidente dos EUA, no seu primeiro discurso, na ONU, atreveu-se a dizer acerca da Coreia do Norte: “Se nos ameaçarem, destruir-vos-emos totalmente.”
Como se atreve a ameaçar com a destruição um país inteiro e toda a sua população? Foi precisamente isso que os alemães fizeram com os judeus. Agora, ao levantar um muro nas fronteiras com o México, separa as mães dos seus próprios bebés! Não é isto um crime contra a humanidade?

quarta-feira, 21 de junho de 2017

VERÃO — TEMPO DE VIVER E DE SONHAR


Hoje, de madrugada, chegou o verão. Ainda bem que chegou porque estava a fazer falta, não obstante o calor carregar em si as ameaças dos fogos florestais. Este ano, uns dias antes do verão, aconteceu entre nós o que todo o mundo já sabe. As tragédias nesta quadra de tempos escaldantes são, infelizmente, habituais em Portugal. De todos os portugueses se espera a solidariedade para acudir a tantos que perderam tudo. Que em horas de imensos supérfluos nos lembremos deles com os nossos contributos possíveis, de acordo com as capacidades de cada um.

De estações que não honram o seu carisma estamos nós fartos. Agora, com o verão, até vamos ter oportunidades de vestir roupas mais ligeiras. E os mais idosos, que é o meu caso, rejubilam com o prazer de gozar um tempo saboroso. Um tempo que permita uns passeios, uma busca de ares que reconfortem o corpo e a alma, um sentido de amplitude que a liberdade de sair de casa suscita em toda a gente. 
Na minha idade, e não só, o verão é calor, luminosidade envolvente, alegria, paixão de viver e de conviver, mas também de sonhar. E se o sentirmos e absorvermos com intensidade, até poderemos entrar no outono do tempo e da vida com mais confiança.
Bom verão para todos!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Viver

Crónica de Anselmo Borges 


«No meio do rebuliço estonteante, 
é decisiva a pausa e o silêncio»

Numa recente viagem à Índia, a um dado momento, no meio daquele trânsito absurdamente caótico e ensurdecedor, quando se fecha os olhos para não ver o que parece iminente: um choque em cadeia de uma infinidade de carros, motos, motoretas, bicicletas, riquexós e quejandos, pessoas em multidão a pé, alguém perguntou: "O que é que toda esta gente anda a fazer?" Resposta pronta e sábia de um professor ilustre: "Andam a viver." É isso: a viver. O que é que andamos a fazer? Tão simples como isto: a viver. Melhor ou pior, material, espiritual e moralmente falando. Todos, a viver.
E são tantas as vezes em que se não dá por isso: o milagre que é viver! Assim, numa sociedade na qual o perigo maior é a alienação - viver no fora de si -, quando a política se tornou um espectáculo indecoroso, quando Deus foi substituído pelo Dinheiro e o mundo se tornou globalmente perigoso e ameaçador, o jesuíta Juan Masiá, que, durante trinta anos, ensinou Filosofia, um semestre em Tóquio e outro em Madrid, vem com um belo livro, precisamente com o título: Vivir. Espiritualidad en pequeñas dosis. "Deixo-me acariciar pela brisa, saboreio a experiência de estar vivo, sentir palpitar a minha vida. E penso: viver, que maravilha e que enigma! Paro em silêncio a saborear esta vivência. Estou vivo, mas a minha vida supera-me: não é só minha nem a controlo. Viver é ser vivificado pela Vida que nos faz viver." A Vida vive-te, vive na Vida!

domingo, 6 de setembro de 2015

Saber envelhecer

"Saber envelhecer é a obra-prima da sabedoria 
e um dos capítulos mais difíceis na grande arte de viver"

Hermann Melville (1819-1891), 
escritor, poeta e ensaísta norte-americano

Li no Público de hoje

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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Aprender a viver; aprender a morrer

"Quando eu pensar que aprendi a viver, terei aprendido a morrer."

Leonardo da Vinci 
(1452-1519)


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