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sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Não murmureis. O nosso futuro é a vida plena

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XIX do Tempo Comum



«Nós somos enviados! Somos enviados para além do local e podemos usar todos os recursos da Internet para nos comunicarmos com pessoas que nunca encontraremos pessoalmente.»

A narração da leitura do Evangelho de hoje apresenta um novo passo de Jesus no seu discurso sobre o pão da vida. Jo 6, 41-51. E nos próximos domingos, também. São passos que conduzem à pergunta decisiva: “Também vós quereis deixar-me?” E a resposta pronta de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna”.
Hoje, vemos que os judeus caem em si. A condição social de origem não condizia com o reconhecido estatuto de Mestre e, menos ainda, com o seu discurso após a multiplicação dos pães. E, coerentemente, interrogam-se sobre o que está a acontecer: Um artesão de Nazaré da Galileia ser o enviado de Deus? O filho de José e de Maria, bem conhecidos na terra, declarar-se pão da vida? O deslocado de Cafarnaum ensinar, com linguagem dura, “coisas estranhas” na sinagoga? Donde lhe vem tal autoridade? Jesus não entra “no jogo” de pergunta-resposta. Os factos estão à vista, são públicos. A explicação é clara, persuasiva e respeitadora. Em vez de se deixarem atrair por Deus e entrar na novidade que o ensinamento de Jesus comporta, começam a murmurar e “estancam” no seu rígido pensar.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Jesus atravessa connosco o mar da vida

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XII do Tempo Comum

Lago de Tiberíades

Georgino Rocha
Após um dia de trabalho cansativo, Jesus deixa a multidão que o acompanhava e ordena aos discípulos para fazerem a travessia do lago de Tiberíades. Era ao entardecer. A viagem ia fazer-se durante a noite favorável. Acomodado à popa, rapidamente adormece. Pouco tempo depois, as águas começam a agitar-se fortemente, os ventos a soprar, a tormenta a crescer a ponto de meter medo àqueles homens habituados às lides da pesca. Jesus não dava por nada; dormia profundamente. É acordado pelos discípulos que lhe gritam: “Mestre não te importas que pereçamos”? Mc 4, 35-41.
Luciano Manicardi, prior da comunidade monástica de Bose, afirma que: “A inação de Jesus é como que o eco do silêncio de Deus muitas vezes denunciados nos salmos, e os gritos alarmados dos discípulos fazem eco do desespero do homem que clama a Deus para que intervenha no momento de necessidade e angústia”. E menciona “situações de angústia e de morte evocadas simbolicamente pelo entardecer, pelo mar, pela tempestade, pelo risco de naufrágio, pelo sono”. E lembra a “angústia que nasce também da sensação de precariedade, de instabilidade, de fluidez em que acontece a travessia da vida. E ali a fé configura-se como passagem do medo à confiança, do estar centrado em si à abertura a Cristo Senhor, do temor paralisante da morte e da perda à confiança que suscita esperança mesmo na maior angústia e do abismo da morte…

sábado, 22 de maio de 2021

Tudo e todos interligados. 1

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Se algo se nos impôs de modo claro, com esta terrível pandemia, é que tudo e todos estamos interligados.

1. Constatámos que nos contagiamos uns aos outros, de tal modo que até foi e, por vezes, ainda é (por quanto tempo?), necessário desviarmo-nos uns dos outros, usar máscara, ficar confinados. Percebemos que precisamos de nos proteger uns aos outros: ou nos salvamos juntos ou podemos perder-nos todos. Aí está o exemplo das vacinas: basta um pouco de egoísmo esclarecido, para se perceber que elas têm de ser distribuídas por todos, pois enquanto houver alguém não vacinado no mundo a ameaça continua e tanto mais grave quanto irão surgindo variantes do vírus...

2. Cada uma de nós, cada um de nós é ela, é ele, único, única (cada uma, cada um diz "eu" como mais ninguém pode ou pôde alguma vez dizer). O enigma, o milagre espantoso do eu, ser autoconsciente, consciente de si, alguém como nunca houve outro ou outra!
Será que deste modo se está a afirmar o individualismo? De modo nenhum. Porque cada um de nós é um eu único, mas sempre na relação constituinte. Uma das características essenciais que nos distinguem dos outros animais é a neotenia (nascemos prematuros), que faz com que, vindos ao mundo por fazer, tenhamos de fazer-nos. O que andamos a fazer na vida? A fazer-nos, a partir de outros e uns com os outros. Quando olhamos para a neotenia, temos de concluir: ou a natureza foi madrasta para nós e não nos deu o que devia dar, como fez com os outros animais, ou esta é a condição de possibilidade de sermos o que somos: humanos, tendo de receber por cultura e produzindo cultura o que a natura nos não deu, sendo inventivos, criando o novo.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

A beleza da vida e dos sonhos

Flores do nosso quintal

Azeda-flor

Jasmim

Jarro

Orquídeas 

Acordei assim-assim. Não descortinei razões plausíveis para tal. Olhei à volta e saí até ao quintal. O sol, que tem andado amorfo e arredio, surgiu e iluminou tudo. A natureza até parecia outra. Tudo brilhava, nem vento incomodava. E fotografei umas flores, mas um gatinho preto e branco escapuliu-se. Vadio que é, come cá por casa, mas não admite aproximações. Até ver.
Quem está obrigado a ficar por casa, limitado nos horizontes terrestres, terá tempo para sondar o infinito e o divino. Mas é preciso esperar a maré. Tenho cá um palpite que o dia acabará por me dar ânimo para me sentir mais humano e mais aberto à beleza da vida e dos sonhos.
Bom fim de semana para todos.

Fernando Martins

sábado, 6 de fevereiro de 2021

O sentido da vida. 4. A morte e a esperança

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

"Deus é o Bem", que não nos será tirado. E há uma dívida da História para com as vítimas inocentes; sem Deus, quem pagaria essa dívida?


1 A morte é o choque mortal com o sentido. Ela é a barreira inultrapassável, definitiva. Significativamente, os antropólogos são unânimes em reconhecer na sepultura, portanto, na consciência da morte e na procura de transcendê-la, o sinal decisivo, indesmentível, de que, na história gigantesca da evolução, estamos em presença do ser humano, de alguém, da pessoa. Essa consciência é sempre acompanhada da religião e, de um modo ou outro, da filosofia, como reconhece a história, de Platão - a filosofia é "o exercício de morrer e estar morto" - a Schopenhauer, que via na morte a "musa da filosofia", ou Martin Heidegger.
Perante a morte, quando tudo desaba e se afunda, erguem-se, mais dramáticas, esmagadoras, as perguntas essenciais: Donde vimos?, Para onde vamos? Qual o sentido de tudo? O que vale a existência? Perguntas inevitáveis para todos, pois, como dizia Ernst Bloch, no regresso a casa após o funeral de um amigo, nem mesmo o maior capitalista pensa apenas na sua conta no banco. Aí está a razão por que, para conhecer uma sociedade, talvez mais importante do que saber como é que nela se vive, é saber como é que nela se morre e se trata os mortos. A maior prova do profundo mal-estar da nossa sociedade é que teve de fazer da morte um tabu.

sábado, 12 de dezembro de 2020

O SENTIDO DA VIDA. 2. A ÉTICA

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 



1. Quando demos por nós, já lá estávamos, claro, mas ainda sem consciência de estarmos. Foi um tomar consciência lento, gradual. Mas houve um dia, dias, em que se nos impôs ou foi impondo claramente que nos pertencemos, que somos livres, que somos donos e senhores de nós próprios e das nossas acções, com a responsabilidade de nos fazermos a nós mesmos no mundo com os outros. De qualquer forma, percebemos que já somos, mas ainda não somos e temos de escolher o que queremos ser. Abateu-se sobre nós, gigantesca, decisiva, a única tarefa que temos: fazendo o que fazemos ou não fazemos, por acção, por omissão, estamos a fazer-nos e, no fim, resultará uma obra de arte ou uma vergonha... 
Assim, torna-se claro que a nossa vida, para se erguer num projecto digno, tem de se ir vendo do presente para o futuro e do futuro para o presente continuado, se se quiser, numa imagem mais visual, tem de ver-se de cá para lá e, por antecipação, de lá para cá. Para que lá, no fim, olhando para trás, não nos arrependamos do que fizemos ou não fizemos, não tenhamos vergonha, não tenhamos pena de não termos feito o que poderíamos fazer e não fizemos. É que — isto é abissal — só vivemos uma vez. 

domingo, 22 de novembro de 2020

IREMOS A TRIBUNAL

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO



Quem procura desqualificar as ousadias do Papa Francisco diz que ele não é apenas um ingénuo, mas um atrevido ignorante: fala do que não sabe e faz o que não deve. Mas que irão dizer, agora, com o que aconteceu na semana passada?

1. Para o pensador alemão Peter Sloterdijk, os factos da vida científica e da criação artística nos tempos modernos provam, sem a menor ambiguidade, o fim da era das revelações puramente passivas. Os devotos à antiga têm como missão compreender até que ponto sobrestimaram a revelação religiosa, fazendo dela a chave da essência de todas as coisas e subestimando a iluminação do mundo pela vida desperta, a ciência e as artes. Esse dado coloca a teologia sob a obrigação da aprendizagem, pois ela não tem o direito de deixar romper a ligação com o mundo do saber do outro campo.
Termina o seu livro sobre A loucura de Deus [1] com um credo: “A globalização significa que as culturas se civilizam umas às outras. O Juízo final desemboca num trabalho quotidiano. A revelação torna-se a relação com o ambiente e o relatório sobre a situação dos direitos do homem. Volto assim ao leitmotiv desta reflexão, que se funda na ética da ciência universal da civilização. Repito-o, como um credo, e desejo que tenha suficiente energia para se propagar mediante línguas de fogo: o caminho da civilização é o único que ainda está aberto.”
Escreveu isto em 2007. Não perdeu actualidade, embora a alternativa à velha arrogância teológica não pode ter agora uma simétrica arrogância na ciência que seria, por natureza, pouco científica. Mas o seu desejo está a cumprir-se onde, talvez, menos o esperasse. O alegado obscurantismo dos três monoteísmos já não se apresenta como um bloco impenetrável com medo das dúvidas. Algumas manifestações de diálogo entre religiões começam a focar-se na condenação da violência e da guerra em nome de Deus.

domingo, 1 de novembro de 2020

A vida é um exercício de esperança

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO



Neste doloroso tempo de pandemia, 
as bem-aventuranças estão a ser vividas 
por crentes e não crentes que ajudam 
a resistir à sua cruel devastação.

1. Segundo o grande historiador das religiões, Mircea Eliade, a crença na vida para além da morte está demonstrada desde os tempos mais remotos. As primeiras sepulturas conhecidas confirmam a antiguidade dessa crença. Os enterros direccionados para Oriente – e os usos dos seus rituais – indicavam a intenção de conectar a sorte da alma com o curso do sol, ou seja, a esperança num “renascimento”, a existência num outro mundo com marcas e utensílios das ocupações da vida anterior. Daí a sua conclusão: o homo faber era também homo ludens, sapiens e religiosus [1].
A festa de Todos os Santos e a celebração de Todos os Fiéis Defuntos podem ser estudadas como fenómenos internos do cristianismo, mas também em ligação com outra história subjacente: a história da cristianização de festas e mitos pagãos.
O desejo de viver e de renovar a vida parece fazer parte de qualquer ser humano. Para uns, a morte apresenta-se como o fim dessa utopia. Para outros, é inconcebível que esse desejo natural possa ser frustrado e acreditam, de modos muito diferentes, que a morte não é a última palavra.
Diz-se que a biomedicina actual promete a imortalidade do corpo neste mundo [2]. Veremos, como dizia o ceguinho.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

UMA FLOR COM VIDA


Uma flor do nosso jardim para este dia...Simplesmente. Adormece com a noite e acorda com a luz do sol.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Mudar de vida


Tenho andado com vontade de mudar de vida. O confinamento acorda-me para essa necessidade. Então, vem à tona da razão a pergunta: — Mas que fazer e como fazer? 
Penso um pouco, imagino-me a caminhar pelas ruas da Gafanha à cata de assuntos...  e não registo nada de jeito. O mesmo casario com poucas inovações dignas de nota... as ruas, como teia de curvas e contracurvas sem avenidas dignas desse nome, os mesmos rostos fechados, apressados e tensos. Paro e encosto-me à bengala para sentir o calor que veio forte e depressa se escapou... e dou por mim a caminho do ponto de partida, desolado por nada de nobre ter achado. 
Com quem me cruzo, a maioria, garantidamente, já nada diz... e não me diz nada. Vivos com cara de enterro, em jeito de quem procura horizontes de futuro que tardam. Não alimento nem proponho pessimismos. E concluo que o culpado de tudo está no medo em que me sentei pensativo. Amanhã será diferente. Depois direi. 

Fernando Martins

segunda-feira, 4 de maio de 2020

HOJE FOI O PRIMEIRO DIA...


Estava cansado de andar por casa, as mais das vezes sem saber que fazer. Sim! É tudo muito bonito, mas depois vem o cansaço do mais do mesmo. Ler, escrever, conversar, ouvir música, olhar já saturado para a TV e rádios do coronavírus de trás para a frente e vice-versa, pensar, imaginar o dia a dia depois do confinamento... e tudo repetir semana após semana. Porque a vida económica e não só não pode estagnar nas malhas do medo e da prudência, seria necessário saltar para a vida com os cuidados indispensáveis. E assim foi. Hoje foi o primeiro dia do resto dos nossos dias. 
Manhã cedo, pulei da cama porque era preciso arejar e comprar o indispensável. Assim foi. O mundo que me rodeia senti-o diferente. Não muito trânsito. Pessoas com  máscaras, umas bem encaixadas  e outras nem por isso. Nos espaços comerciais, recebemos honras de um acolhimento gentil e cuidado. Higienização em curso permanentemente, indicações precisas, atendimento rápido. Perdi o medo. E a vida vai continuar... com máscaras. 

F. M.

domingo, 19 de abril de 2020

A VIDA TEM DE VOLTAR À NORMALIDADE


Habituados que estamos ao confinamento, nem sei como vai ser quando retomarmos a normalidade, isto é, quando pudermos fazer uma vida com liberdade, dentro dos parâmetros estabelecidos há tantas décadas, como é o meu caso. A ideia que já expressei de que tudo será diferente depois do Covid-19 não me sai da cabeça e tenho dificuldades em compreender como é possível aceitar uma vida sem liberdade plena de sair de casa, de passar por um café, entrar num restaurante, assistir a um espetáculo, visitar amigos ou participar numa cerimónia religiosa... 
Diz-se que a máscara passa a ser peça obrigatória do nosso dia a dia, que evita males maiores, que é fundamental para impedir contágios ou para os provocar... Também se diz que é complicado visitar ou receber amigos porque desconhecemos quem é portador de vírus ou de doenças facilmente transmissíveis. 
Realmente, o futuro é uma incógnita, mas a inteligência humana, que tem resolvido obstáculos aparentemente intransponíveis, saberá dar a volta por cima... E a vida tem de voltar à normalidade. Temos mesmo de acreditar e lutar por isso. 
Bom domingo. 

F. M.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Da aparente morte, brotará a esperança




Da aparente morte de um cato, brotará a esperança da sua luta pela vida com dignidade. E vai acontecer... Será a sua ressurreição. O tronco, com ramificações, espera tão-só, creio eu, que de botânica pouco sei, sinais de primavera. Da primavera, que já está nos horizontes de cada um nós, virá a seiva da vida rejuvenescida. Daqui a uns três meses falaremos.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Seguir Jesus nos caminhos da vida

Georgino Rocha

"Seguir Jesus, o peregrino da proximidade e do bem-fazer, o companheiro e confidente de todas as horas, alegrias e dores, o guia que ilumina a tocha da nossa consciência e o farol da nossa liberdade, o homem tão humano que só pode ser Deus no amor de entrega e na coragem da confiança filial."

Jesus vai a caminho de Cesareia de Filipe, local distante do mar da Galileia uns 25 Km. Aqui se encontra uma das maiores fontes que alimentam o rio Jordão e, com a abundância da sua água, geram uma vegetação fértil e atraente. Outros motivos teria Jesus para se dirigir para lá, motivos de que faria parte o simbolismo da fonte e da abundância, da fertilidade e atracção, simbolismo que fica plasmado no diálogo com os discípulos, sobretudo com Pedro. Mc 8, 27-35.

No caminho, conversa-se sobre o que a experiência vivida na companhia de Jesus lhes proporciona, a esperança a despertar nos corações, a aventura em que se vêem envolvidos, o convívio amigo entre todos sempre animado pelo exemplo do Mestre. Também surgiriam os ecos dos comentários populares e das críticas, que iam surgindo, da parte dos fariseus e escribas. E as pretensões veladas de cada um vir a ocupar um lugar importante na organização futura que já se desenha em embrião.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O PÃO DE JESUS GARANTE A VIDA ETERNA

O escândalo agrava-se. As afirmações de Jesus são demasiado claras e contundentes para os judeus. Jo 6, 51-58. Não conseguem suportá-las. E, sem um novo modo de ver – a fé que brota do amor de Deus Pai – quem pode conformar-se? Como é possível “dar-nos a sua carne a comer”?, interrogam-se com lógica natural e ética religiosa, condensando perplexidades que os afligiam e espelham muitas outras que, ao longo dos tempos, virão a desafiar a razão humana, ainda que iluminada pela fé. 
Face à estranheza do “assunto” e ao agravamento das dúvidas, não tardam a evoluir na sua atitude: do entusiasmo precedente, pela multiplicação dos pães, das expectativas decorrentes e das interrogações fundadas à crítica aberta, da recusa frontal ao abandono. Em breve, chegará a vez de Jesus questionar os próprios Apóstolos/discípulos fiéis: “Vós também vos quereis ir embora? Pedro, espontâneo e ousado, responde pelo grupo: “A quem iremos, Senhor?!. Tu tens palavras de vida eterna”.
Jesus não dá explicações. Faz afirmações. O modo há-de surgir oportunamente. E o anúncio passa a realidade na ceia de despedida, no lava-pés, no mandamento novo do amor. Modo que surge narrado por Paulo na 1.ª carta aos coríntios 11, 23-26.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

JESUS, O PÃO DE DEUS, A VIDA DO MUNDO

Georgino Rocha

No mar da Galileia, próximo a Cafarnaúm, barcas vão e barcas vêm (Jo 6, 24-35). É a multidão que se agita ao ver que Jesus tinha deixado o local onde lhe dera alimento. É o coração humano, inquieto peregrino e incansável buscador de quem pode saciar as suas fomes e sedes. É a ousadia itinerante que não se detém enquanto não alcançar a fonte da alegria dos seus desejos profundos.
Que radiografia do nosso ser pessoal ressalta neste quadro singelo com uma moldura tão singular! Vale a pena apreciar. Pode ajudar-nos o pensamento de Pascal: “O coração tem razões que a inteligência não conhece”. E perguntar: Hoje, que buscam as multidões no frenesim das suas correrias?!
“A multidão procura Jesus, adianta o comentário da Bíblia Pastoral, desejando continuar na situação de abundância, isto é, governada por um chefe político que decide e providencia tudo, sem exigir esforço. Jesus mostra que essa não é a solução; é preciso buscar a vida plena, mas isso exige o empenho do homem. Além do alimento que sustenta a vida material, é necessária a adesão pessoal a Jesus para que essa vida se torne definitiva”.
A abertura à vida plena surge como a grande mensagem que Jesus, pedagogicamente, vai provocar em quem o procura. Em diálogo de pergunta e resposta. Em círculos cada mais concêntricos, mas progressivos. Com apoio nas lições do passado, dos nossos pais no deserto, e a novidade que está a emergir no presente promissor de um futuro em plenitude. Vamos acompanhar alguns passos deste percurso exemplar.

sexta-feira, 30 de março de 2018

SEXTA-FEIRA SANTA

Anselmo Borges 


1 Estava já sentado para escrever este texto, quando me telefonam da portaria: que estava lá uma senhora, já de idade, que precisava muito de falar comigo. A senhora: "Como é que se pode acreditar em Deus que enviou o seu Filho para ser crucificado?" E eu: "Não se pode, minha senhora." Porque esse seria um deus bárbaro.
Em termos simples, foi assim. Pregou-se o pecado original - chamo a atenção para o facto de Jesus nunca ter falado em pecado original. De qualquer modo, pressupondo o pecado original, pensou-se que ele constituiu uma ofensa infinita a Deus, ficando uma dívida infinita para com Ele, que o ser humano não podia pagar. No contexto do direito feudal, Santo Anselmo teorizou sobre a doutrina da satisfação: Deus enviou então o seu Filho, que, sacrificado na Cruz, pagava a dívida, aplacando a ira de Deus e reconciliando-o com a humanidade.
Aí está um Deus sádico, pior do que um pai normal, sadio, um Deus que aliás contradiz o núcleo da mensagem de Jesus, que revelou que Deus é Pai-Mãe, de tal modo que a Primeira Carta de São João, a partir da experiência que os discípulos fizeram com Jesus, escreveu, na tentativa de dizer quem é Deus, que "Deus é amor incondicional". Este é o único Deus que é Evangelho, isto é, literalmente, notícia boa e felicitante, em quem se pode acreditar, entregar-se a Ele confiadamente na vida e na morte. O outro deus, tão frequentemente pregado e que tolheu e envenenou a vida de tantos, seria um deus sádico, em relação ao qual, portanto, só haveria uma atitude humanamente digna: ser ateu.

2 Jesus não foi vítima de Deus, mas dos homens. O cristianismo constitui a maior revolução na história da humanidade: uma revolução de e para a liberdade, a mais humanizadora. E tudo com fundamento na nova compreensão de Deus. Jesus fez a experiência filial de Deus, que não é omnipotente no sentido da omnipotência enquanto dominação e arbítrio, mas Força infinita de criar. Deus tudo criou e cria por amor e o seu único interesse é a alegria, a felicidade, a realização e a plenitude de vida de todos os homens e mulheres. A partir desse encontro com Deus Pai-Mãe, Jesus fez o que Deus faz: amou a todos, por palavras e obras, a começar pelos mais frágeis, os excluídos, os tristes, aqueles e aquelas que ninguém ama. E ousou transgredir as leis religiosas, como o Sábado, porque "o Sábado é para a pessoa e não a pessoa para o Sábado". E enfrentou os sacerdotes e as leis, curando ao Sábado. E disse que o núcleo da religião na sua verdade essencial passa pelo compromisso a favor dos abandonados e não pelos rituais religiosos: "Eu tive fome e destes-me de comer, eu tive sede e destes-me de beber, eu estava nu e vestistes-me, estava na cadeia e no hospital e fostes ver-me." "E quando é que o fizemos, Senhor?" "Sempre que o fizestes a um destes mais pequeninos foi a mim que o fizestes." Nada de explicitamente religioso nem confessional. O combate religioso essencial trava-se na luta pela justiça, pela dignidade de todos.

domingo, 18 de março de 2018

QUANDO PERDER É GANHAR

Frei Bento Domingues 

Bento Domingues
"É perdendo o poder de dominar
que se ganha o gosto da vida como dom,
a alegria verdadeira."


1. Não fui eu que inventei o título desta crónica. Vem direitinho do Evangelho segundo S. João, com paralelo em S. Lucas, escolhido para ser proclamado na Missa deste Domingo. Quem, dentro ou fora dessa celebração, gastar algum tempo a meditar e a confrontar a sua vida com este texto, absolutamente espantoso, só tem a ganhar. A sua lógica é estranha, mais acertada, porém, do que qualquer outra lógica mundana, religiosa ou eclesiástica.
Começa numa conversa e vai acabar noutra. O contexto já é o da Páscoa judaica: seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde estava Lázaro que Jesus tinha arrancado da morte. Por esse motivo, a família de Lázaro ofereceu um jantar em sua casa. Pelos vistos, os discípulos também foram convidados.
Marta, como de costume, estava a preparar tudo e a servir à mesa. Maria, a irmã, era mais para o louco e foi buscar o melhor perfume para lavar os pés de Jesus. Enxugou-os com os seus cabelos. O seu reconhecimento por ver o irmão vivo era sem medida. Toda a casa ficou perfumada por aquela alegria.
Judas Iscariotes não gostou dessa extravagância. Aproveitou a cena para se mostrar o defensor dos pobres e marcar pontos aos olhos do Mestre: porque não se vendeu este perfume por trezentos denários — eram 300 dias de trabalho normal — para os dar aos mendigos? O narrador observa com malícia: ele disse isto, não porque se preocupasse com os mendigos, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa comum, metia a mão na massa; o “pobre” a beneficiar com a poupança seria ele próprio. Jesus cortou essa conversa e disse algo que teve consequências dramáticas: mendigos tendes sempre entre vós. Esta fala foi usada pelos exploradores para não se tocar nas injustas estruturas da sociedade. Jesus teria consagrado a desordem social. Se lermos bem, descobrimos que essa não era e não é o sentido da fatídica sentença. Verificaremos que Judas estava numa onda e Jesus noutra totalmente diferente. Pobres, desgraçadamente, nunca faltam. O que continua a faltar é a vontade de acabar com as causas da pobreza imposta.

domingo, 4 de março de 2018

HORA DE VOLTAR



Está provado à saciedade que o descanso é necessário. Há uma quebra abrupta no ritmo de trabalho e reocupações, e o stresse deixa-nos em paz. A leitura foi mais intensa e serena, a harmonia com a vida restabeleceu-se, as ideias quanto ao futuro, que só Deus conhece, terão rejuvenescido, e a hora de voltar aconteceu. 
Durante as curtas férias, acertei o passo com o dia a dia normal. Fixei os horizontes na esperança de os alcançar e reconheci, como imensas vezes o fiz, que a vida vale mesmo a pena ser vivida. 
Aqui fica uma saudação especial para todos os meus amigos. 

Fernando Martins