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sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

As tentações e o Diabo

Anselmo Borges 

1 - Também por influência do Papa Francisco, está-se a rever, em várias línguas, a tradução do "Pai Nosso". A tradução portuguesa, pedindo a Deus: "Não nos deixeis cair em tentação", está de acordo com a mudança que o Papa quer fazer. Noutras línguas - alemão: "führe uns nicht in Versuchung", inglês: "lead us not into temptation", francês: "ne nous soumets pas à la tentation" -, está o pressuposto erróneo de que Deus é responsável pelas tentações que levam ao pecado, pois seria ele que nos conduz ou submete à tentação. Ora, se Deus é amor, não tenta as pessoas. Na Carta de São Tiago lê-se: "Ninguém diga, quando for tentado para o mal: "É Deus que me tenta." Porque Deus não é tentado pelo mal, nem tenta ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e seduz." Deus nada tem que ver com o mal, pois é o Bem e o Anti-Mal.

2 - Fica a pergunta: é o diabo que nos tenta? O Papa Francisco disse recentemente que "Satã é uma pessoa, e muito manhosa, que entra com os seus modos sedutores". Ele tenta, pois é o seu ofício. Penso que, aqui, é I. Kant que tem razão, ao colocar na boca de um catequizando iroquês a pergunta: Porque é que Deus não acabou com o diabo? E: Se os diabos nos tentam, quem tentou os anjos, para, de anjos bons, se tornarem maus e demónios? Colocar o diabo ao lado de Deus, no quadro de um dualismo maniqueu, é uma contradição. O diabo não faz parte do Credo. O diabo não explica nada. O mal é inevitável por causa da finitude. Não é preciso o diabo para explicar as tentações. O ser humano, dada a sua natureza finita, carente, tensional, será sempre tentado, isto é, seduzido pelas "vantagens" aparentes do mal e pode cair na tentação e praticar o mal e o pecado. E o que é o pecado? Aquilo que, pelo mau uso da liberdade, nos faz mal, a nós e aos outros.