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terça-feira, 22 de novembro de 2022

Um poema de Sophia

As rosas

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.

In "Cem poemas de Sophia"

domingo, 6 de novembro de 2022

SOPHIA nasceu neste dia

 ESCUTO

Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou Deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita

Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

In "Cem Poemas de Sophia"

Sophia de Mello Breyner Andresen 

 (Nasceu em 6 de novembro de 1919  e faleceu  em  2 de Julho de 2004)

quarta-feira, 20 de abril de 2022

SOPHIA: MAR SONORO




MAR SONORO

Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.


In CEM POEMAS DE SOPHIA

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

O Natal que não passa

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

"Jesus não nasceu feito, foi-se fazendo como ser humano, na relação com Deus e com o mundo."

1. Desde o século XVIII, foram muitas as pesquisas sobre o Jesus da história e o Cristo da fé. Hoje, já não estamos habitados pela fúria historicista. A grande questão actual é a da significação do itinerário de Jesus espelhado no Novo Testamento, quer seja nas epístolas, mas sobretudo nos quatro Evangelhos. Podemos sempre perguntarmo-nos: que sentido, que beleza, que responsabilidade, que alimento a sua presença viva traz à nossa vida quotidiana? Jesus é uma presença que alimenta a vida do amor, da esperança, da fé num mundo que, muitas vezes, parece absurdo. É a adesão à pessoa e à mensagem de Jesus Cristo que se torna a alma da nossa alma.
É verdade que a referência essencial do Natal é Jesus que “nasceu durante o reinado do imperador romano Augusto, certamente antes da morte de Herodes, o Grande, porque teve lugar na Primavera do ano 4 a. C. Não é possível precisar mais a data exacta do seu nascimento. Os historiadores coincidem em situá-la entre os anos 6 e 4 antes da nossa era. Provavelmente, nasceu em Nazaré, embora Mateus e Lucas falem de Belém, por razões teológicas. De qualquer maneira, Nazaré foi a sua primeira pátria. Os seus pais chamavam-se Maria e José”[1].

sábado, 28 de novembro de 2020

AS ROSAS DE SOPHIA


As rosas 

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.

Sophia

Publiquei em Dezembro de 2004 no meu blogue 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

RECORTES: Mia Couto

Do romance Jesusalém

                                                   

                                                                          

Livro Um 

                                                                    A HUMANIDADE

                                                Sou o único homem a bordo do meu barco.
                                                Os outros são monstros que não falam,
                                                Tigres e ursos que amarrei aos remos,
                                                E o meu desprezo reina sobre o mar.

                                                […]
                                                E há momentos que são quase esquecimento
                                                Numa doçura imensa de regresso.

                                                A minha pátria é onde o vento passa, 
                                                A minha amada é onde os roseirais dão flor, 
                                                O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
                                                E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.


                                                    Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 27 de março de 2020

UM POEMA DE SOPHIA PARA ESTE TEMPO


Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

(Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto')[1]

Li aqui 

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Nos 100 anos de Sophia





PORQUE

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não. 

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

In “Cem Poemas de Sophia”

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Lembrar Sophia, lembrar Maria Cecília Correia...

Texto de Sara Reis da Silva 

Sara Reis da Silva 

Além de uma vida familiar intensa entregaram-se ambas à escrita, a uma escrita singular, dedicada, apurada, harmoniosa e reveladora de uma atenção ao outro, de uma sensibilidade muito pessoal. 

Em boa hora e muito por acaso, encontrei-me com a obra Femmes oubliées dans les arts el les lettres au Portugal (XIXe-XXe siècles) (Indigo & Côté-Femmes éditions, 2016), coordenada por Maria Graciete Besse e Maria Araújo da Silva, volume decorrente do Colóquio Internacional homónimo, realizado em Outubro de 2016, na Universidade Paris-Sorbonne (Paris IV) e na Fundação Calouste Gulbenkian-Paris. Em boa hora, sublinho, pela variedade de olhares aí oferecidos, pelos nomes aí evocados, pelas memórias (contra o esquecimento) que aí se registam e pelas reflexões que, a partir das abordagens coligidas, pude encetar e, pouco a pouco, expandir.

2019 é ano de recordar, de acordar a memória, de homenagear e voltar a ler a obra de duas autoras que, por razões distintas, não foram contempladas nos estudos compilados no volume referido: Sophia de Mello Breyner Andresen (2019–2004) e Maria Cecília Correia (1919-1993). Naturalmente e para contento geral, Sophia, escritora distinguida, por exemplo, em 1992, pelo conjunto da sua obra, com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças e, em 1999, com o Prémio Camões, não é uma das “femmes oubliées”. O mesmo, porém, não sucede com Maria Cecília Correia.

Nascidas em 1919, Sophia e Maria Cecília têm percursos de vida e traços literários algo próximos. Além de uma vida familiar intensa, acompanhando sempre os seus maridos (no caso de Maria Cecília, vivendo até um período em África) e os seus filhos (Sophia foi mãe de cinco filhos e Maria Cecília de seis), entregaram-se ambas à escrita, a uma escrita singular, dedicada, apurada, harmoniosa e reveladora de uma atenção ao outro, de uma sensibilidade muito pessoal.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

AVEIRO: Feira do Livro dedicada a Sophia


A Feira do Livro vai realizar-se, em Aveiro, pela 44.ª vez, sinal de que se continua a apostar na promoção da leitura e da venda de bons livros, que podem, até, ser edições muito antigas. Embora tenha por casa livros, comprados ou oferecidos, à espera de vez e de tempo, que os meus olhos precisam de ser poupados, é certo e sabido que passarei por lá. Porque é nas feiras que frequentemente encontramos obras de autores menos conhecidos ou menos lidos, por não estarem integrados nas redes de publicidade organizadas para lançarem escritores que, suposta ou garantidamente, dão mais lucros às empresas editoras.

F.M.

Um Poema de Sophia

A Paz sem Vencedor e sem Vencidos

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

In "Cem poemas de SOPHIA"

quinta-feira, 25 de abril de 2019

25 de Abril

25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen,

In "O nome das coisas"

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Um poema de Sophia para este tempo


O mar dos meus olhos

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Nota: Por sugestão de "Portos de Portugal" 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A Noite de Natal




« (...) Então Joana foi ao jardim. Porque ela sabia que nas Noites de Natal as estrelas eram diferentes. Abriu a porta e desceu a escada da varanda. Estava muito frio, mas o próprio frio brilhava. As folhas das tílias, das bétulas e das cerejeiras tinham caído. Os ramos nus desenhavam-se no ar como rendas pretas. Só o cedro tinha os seus ramos cobertos.
E muito alto, por cima das árvores, era a escuridão enorme e redonda do céu. E nessa escuridão as estrelas cintilavam, mais claras do que tudo. Cá em baixo era uma festa e por isso havia muitas coisas brilhantes: velas acesas, bolas de vidro, copos de cristal. Mas no céu havia uma festa maior, com milhões e milhões de estrelas. (...)»

Sophia de Mello Breyner Andresen (1989).
A Noite de Natal. Porto: Figueirinhas (4ª ed.; il. de Júlio Resende)
(1ªed. - 1959; il. de Maria Keil).

NOTA: Por gentileza de Sara Raquel da Silva

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Evocando Sophia no dia do seu nascimento


“Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.”

Um poema de Sophia

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Um poema de Sophia: Fundo do Mar



No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.



Sophia de Mello Breyner Andresen


domingo, 30 de abril de 2017

Um poema de Sophia para este domingo




NAVIO NAUFRAGADO

Vinha de um mundo
Sonoro, nítido e denso.
E agora o mar o guarda no seu fundo
Silencioso e suspenso.

É um esqueleto branco o capitão,
Branco como as areias,
Tem duas conchas na mão
Tem algas em vez de veias
E uma medusa em vez de coração.

Em seu redor as grutas de mil cores
Tomam formas incertas quase ausentes
E a cor das águas toma a cor das flores
E os animais são mudos, transparentes.

E os corpos espalhados nas areias
Tremem à passagem das sereias,
As sereias leves de cabelos roxos
Que têm olhos vagos e ausentes
E verdes como os olhos de videntes.

Sophia de Mello Breyner Andresen

In “Dia do Mar”

Nota: Por sugestão do Caderno Economia do EXPRESSO

terça-feira, 1 de julho de 2014

SOPHIA VAI PARA O PANTEÃO



"Era mais importante estar nas escolas do que no Panteão"

Confesso que não valorizo muito o Panteão, precisamente porque não concordo com o privilégio dado a alguns portugueses que lá estão. Muitos outros poderiam estar no Panteão Nacional, tão heróis, artistas, santos e sábios como os até agora escolhidos. Tanto quanto sei, não há critérios claros sobre o assunto. Por isso, concordo em absoluto com a opinião supracitada. Sophia ficaria muito melhor nas escolas do que no Panteão.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Um poema de Sophia para este dia




A estrela



Eu caminhei na noite
E entre o silêncio e frio
Só uma estrela secreta me guiava.

Grandes perigos na noite me apareceram:
Da minha estrela julguei que eu a julgara
Verdadeira sendo ela só reflexo
Duma cidade a néon enfeitada.

A minha solidão me pareceu coroa.
Sinal de perfeição em minha fronte.
Mas vi quando no vento me humilhava
Que a coroa que eu levava era dum ferro
Tão pesado, que toda me dobrava.

Do frio das montanhas eu pensei:
“Minha pureza me cerca e me rodeia”.
Porém meu pensamento apodreceu
E a pureza as coisas cintilava
E eu vi que a limpidez não era eu.

E a fraqueza da carne e a miragem do espírito
Em monstruosa voz se transformaram:
Pedi ás pedras do monte que falassem
Mas elas como pedras se calaram.
Sozinha me vi, delirante e perdida.

E eu caminhei na noite; minha sombra
De gestos desmedidos me cercava
Silêncio e medo
Nos confins dos desertos caminhavam:
Então vi chegar ao meu encontro
Aqueles que uma estrela iluminava
E assim me disseram: “Vem connosco
Se também vens seguindo aquela estrela”.
Então soube que a estrela me seguia.

Era real e não imaginada.
Grandes e humanas miragens nos mostraram
Em direcções distantes nos chamaram
E a sombra dos três homens sobre a terra
Ao lado dos meus passos caminhava.
E eu espantada vi que aquela estrela
Para cidade dos homens nos guiava.

E a estrela do céu parou em cima
duma rua sem cor e sem beleza
Onde a luz tinha o mesmo tom que a cinza
Longe do verde-azul da Natureza.

Ali não vi as coisas que eu amava
Nem o brilho do sol nem o da água.
Ao lado do hospital e da prisão
Entre o agiota e o templo profanado
Onde a rua é mais negra e mais sem luz
E onde tudo parece abandonado
Um lugar pela estrela foi marcado.

Nesse lugar pensei: Quando deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens tão perto.

Sophia de Mello Breyner Andresen


Li aqui 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Poesia para este tempo


Carta de Natal a Murilo Mendes

 Querido Murilo: será mesmo possível
Que você este ano não chegue no verão
Que seu telefonema não soe na manhã de Julho
Que não venha partilhar o vinho e o pão

Como eu só o via nessa quadra do ano
Não vejo a sua ausência dia-a-dia
Mas em tempo mais fundo que o quotidiano

Descubro a sua ausência devagar
Sem mesmo a ter ainda compreendido
Seria bom Murilo conversar
Neste dia confuso e dividido

Hoje escrevo porém para a Saudade
— Nome que diz permanência do perdido
Para ligar o eterno ao tempo ido
E em Murilo pensar com claridade —

E o poema vai em vez desse postal
Em que eu nesta quadra respondia
— Escrito mesmo na margem do jornal
Na Baixa — entre as compras do Natal

Para ligar o eterno e este dia

Sophia de Mello Breyner Andresen 

Lisboa, 22 de Dezembro de 1975

Em  "O Nome das Coisas", 1977

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Neste dia nasceu Sophia

6 de novembro de 1919







Com Fúria e Raiva

Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen,
junho de 1974

Em “Poemas escolhidos”