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domingo, 12 de novembro de 2023

Sínodo: tentativa de balanço

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias


O Papa Francisco ficará na História por muitos bons motivos, mas estou convicto de que a razão principal tem a ver com a tentativa de avançar para uma "Igreja sinodal", uma Igreja na qual todos caminham juntos. Percebe-se a revolução que pode constituir, quando se lê este texto do Papa Pio X, que até foi canonizado, na encíclica Vehementer Nos: "A Igreja é por natureza uma sociedade desigual. É uma sociedade composta por uma dupla ordem de pessoas: os pastores e o rebanho, os que têm um posto nos diferentes graus da hierarquia e a multidão (plebs, plebe) dos fiéis. As categorias são de tal modo diferentes umas das outras que só na hierarquia residem a autoridade e o direito necessários para mover e dirigir os membros para o fim da sociedade, enquanto a multidão não tem outro dever senão o de aceitar ser governada e cumprir com submissão as ordens dos seus pastores."

sábado, 27 de agosto de 2022

Formação Sinodal — Nó górdio da Igreja

O nó górdio da Igreja está no desafio de desatar os nós da instituição para lançar as pontes de união indispensáveis para vivermos em comunhão missionária. Esta dinâmica passa necessariamente pela formação sinodal como tem sido atestado pelos relatos diocesanos.
“Que é isso? Questiona um canonista que com a sua jurisprudência se apressa a fazer uma leitura do que acontece na Igreja e acrescenta: Não se fala disso nem se manifesta alguma curiosidade.
Realismo? Distância crítica? Outras hipóteses são possíveis. Assumo neste artigo os relatos dos mencionados autores e proponho-me fazer um espécie de retrato da situação.

Renovar e restaurar a esperança

domingo, 30 de maio de 2021

Fazer acontecer

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Esta é a primeira vez que um Sínodo começa a partir da base. Isto pode significar que entrámos numa nova fase da vida da Igreja.


1. O Papa Francisco acaba de fazer oito anos de pontificado. Não é no espaço desta crónica que me atreveria a fazer o balanço do que representaram e representam esses anos no interior da Igreja católica, no movimento ecuménico, no diálogo inter-religioso, nas iniciativas para desenvolver uma nova ética económica, social, política e ecológica.
Teve de enfrentar resistências organizadas à reforma da Cúria romana, estancar os escândalos da banca do Vaticano e aplicar medidas drásticas para erradicar o cancro da pedofilia. Retomou de forma criativa as grandes intuições do Concílio Vaticano II. Mediante gestos, palavras, acções e iniciativas exemplares, mostrou o que deve ser uma Igreja de saída para todas as periferias. É a partir dessas periferias que a Igreja encontra o seu caminho e a sua missão no Mundo contemporâneo.
Os documentos que publicou abrangem as questões fundamentais do nosso tempo. Não é por acaso que vários líderes mundiais desejam que o Papa Francisco participe na Cimeira de Glasgow sobre a crise climática, em Novembro, pela “autoridade moral” da sua voz em relação à matéria e também por estar “acima da política e fora dos conflitos nacionais”.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Caminhar juntos

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO

"O sentido eclesial da palavra sínodo é muito belo: caminhar juntos. Serve para dizer que, na Igreja, o Papa não é um monarca absoluto."

1. A autenticidade dos sínodos tinha sido atraiçoada durante décadas, mesmo depois do Vaticano II. O Papa Francisco decidiu, por muito boas razões, revalorizá-los. Alguns já deram muito que falar como, por exemplo, o sínodo dos bispos sobre a família, sobre os jovens, sobre a Amazónia e agora, depois muitos debates e mal-entendidos, começou o da Igreja católica alemã.
As pessoas que abominam a democracia receiam agora a desgraça de ver a liderança da Igreja Católica meter por um caminho condenado no século XIX. Têm saudades do tempo em que tudo parecia sujeito à vontade e à voz infalível dos Papas orientados pelo Vaticano I, isto é, de alguém que resolvia tudo por uma suposta iluminação divina, sem ter de prestar contas a ninguém. Num momento em que uma onda autoritária está a ganhar força política em vários países, certos movimentos, de grande poder financeiro, alimentam a esperança militante de contrariar as iniciativas de Bergoglio, que julgam ter sido eleito num momento de distracção do Espírito Santo.

domingo, 27 de outubro de 2019

Bento Domingues - Sínodo Pan-Amazónico: o debate continua


Aconteça o que acontecer, 
o tabu em torno dos ministérios ordenados 
perdeu o seu prestígio, o prestígio da ignorância.

1. O Sínodo Pan-Amazónico começou no passado dia 6 e termina hoje. Já é possível o acesso ao resultado dos debates dos diferentes grupos que nele participaram. Também já foi comunicada a proposta do documento final. No momento em que escrevo, ainda não a conheço. A sua discussão foi o trabalho da passada semana.
Lendo os textos dos diversos grupos, fica-se com a sensação de que o sínodo não foi mais do mesmo. Houve livre, verdadeira e corajosa discussão, como tinha pedido o Papa. Por sua natureza, o Instrumentum laboris era um documento “mártir”, destinado a ser destruído nos debates sinodais. Poder-se-á dizer que as propostas mais novas já vinham sendo debatidas em vários grupos e movimentos, sobretudo depois do espaço aberto por João XXIII e pelo Concílio Vaticano II. O que agora parece óbvio e urgente, do ponto de vista teológico e pastoral, foi a cruz de alguns teólogos e, em especial, de Edward Schillebeeckx, O.P., desde os anos 80 até à sua morte. Considerava-se um teólogo feliz. Nunca o conseguiram condenar, mas o cardeal Ratzinger perseguiu-o até ao fim.
Os três temas mais salientes nos grupos de trabalho, para além da questão básica e incontornável da ecologia, são: a autorização de um rito católico amazónico para viver e celebrar a fé em Cristo; mais responsabilidades para as mulheres na comunidade eclesial; e a possibilidade de ordenar homens casados [1]. Quanto ao primeiro ponto, faz parte de um longo trabalho de inculturação da liturgia ensaiado, com mais ou menos êxito, em vários países, embora a pluralidade de ritos não seja uma novidade na história da Igreja. No entanto, a proposta é mais abrangente. Sublinha o aspecto espiritual, teológico, litúrgico e disciplinar para exprimir a riqueza singular da Igreja Católica na Amazónia. Quanto ao segundo, as propostas não são muito ousadas. Infelizmente, ficam pela possibilidade da ordenação de mulheres diaconisas, uma ocasião perdida para não se discutir, em sínodo, uma outra possibilidade: a da ordenação presbiteral de mulheres. Ainda nos dias 16 e 17 deste mês se reuniu, em Lisboa, um movimento mundial a exigir este reconhecimento [2]. No terceiro, discutiu-se a possibilidade de ordenar homens casados, o que não aconteceu para as mulheres, sejam solteiras ou casadas. Na Igreja dos primeiros tempos, a condição mais frequente já era a de homens casados. O que mais se teima em desconhecer é o que está mais claro nos textos no Novo Testamento: foram elas, as Mulheres, as encarregadas por Jesus ressuscitado de evangelizar os próprios apóstolos, desanimados com a morte horrorosa do Mestre.

domingo, 13 de outubro de 2019

Anselmo Borges - Sínodo para a Amazónia: um mini-Concílio Vaticano II


1. Começou em Roma no passado dia 6 e estará activo até ao próximo dia 27 o Sínodo para a Amazónia. Estão presentes 185 Padres sinodais, mas participam também membros da Cúria, religiosos e religiosas, auditores e auditoras, peritos, membros de outras confissões religiosas, convidados..., o que perfaz, em números redondos, 300 pessoas. 
Embora de modo expresso se dirija directamente só a uma zona determinada do planeta, ainda que extensíssima e tocando nove países (Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa), a sua temática -"Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral" - é universal e vai marcar este pontificado com um antes do Sínodo e um depois. Penso que estaremos num processo de recuperação da dinâmica do Concílio Vaticano II, um dos acontecimentos mais importantes, se não o mais importante, do século XX, para a Igreja e para o mundo. O Papa Francisco acentua que a sua missão fundamental é criar "processos" no tempo, irreversíveis, sem possibilidade de voltar atrás, a caminho de objectivos essenciais, que já vêm do Vaticano II. 

2. Destaco quatro desses pontos fundamentais, a debater no Sínodo e que influenciarão a Igreja universal. 

2. 1. Logo na terminologia. O Papa quer uma Igreja sinodal, isto é, na qual, como diz o étimo da palavra sínodo, se faça o caminho juntos. Repete constantemente: "a Igreja somos nós todos". Se é assim, o que é de todos deve ser partilhado por todos. Na véspera da abertura do Sínodo, aquando da imposição do barrete cardinalício aos novos cardeais, lembrou-lhes que não são príncipes, e pediu-lhes "lealdade" e "compaixão", também no sentido etimológico da palavra: partilhar as alegrias, as tristezas e as angústias de todos, a começar pelos "descartados", com os quais devem ser samaritanos, e que evitem ser "funcionários". Um desses novos cardeais, Cristóbal López, arcebispo de Rabat, sabe que assim deve ser, ao afirmar: "Os cristãos são todos iguais, o ser bispo ou cardeal não nos torna superiores a ninguém". Na Igreja, não pode haver duas classes: os clérigos e os leigos, pois toda a Igreja é uma Igreja de iguais, ministerial. 

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Igualdade, a novidade a que Jesus nos chama

Georgino Rocha

Jesus anda pela Judeia e vai a caminho de Jerusalém, cidade do embate final, da morte por crucifixão, ante-sala da feliz ressurreição. Anda apaixonado pelo anúncio da novidade do Reino de Deus, que desenha uma nova situação para todas e cada uma das pessoas, irmãs em humanidade. Quer aproveitar esta fase final do percurso para deixar claros os valores fundamentais da realização germinal do projecto de salvação na história; valores que contrariam certos princípios da ordem estabelecida alicerçada em interpretações redutoras da Palavra de Deus. (Mc 10, 2-16).
Marcos, o evangelista narrador, dedica o capítulo 10 a esses valores, designadamente à igualdade na dignidade do homem e da mulher, sempre, mas sobretudo quando unidos em casamento por opção  livre; vem depois a igualdade na sociedade, especialmente a partir dos esquecidos e marginalizados como são os que se assemelham a crianças no tempo de Jesus. São estes valores que queremos compreender bem, saborear, viver e, dentro do possível, na família e nos ambientes sociais em que vivemos e construímos.
A pergunta dos fariseus sobre a licitude do divórcio oferece uma boa oportunidade a Jesus para vincar a novidade de que portador. Não responde directamente à questão, mas faz remontar a relação do homem e da mulher ao sonho original do Criador. E reinterpreta a autoridade de Moisés, grande amigo de Deus e chefe do seu povo.
À solidão do homem, corresponde o Criador com a oferta da mulher, e a ambos é dada a regra de vida: Crescer em amor e companhia, em relação de mútuo enriquecimento e de fecundidade biológica e educativa, cuidar da terra, jardim da vida em harmonia e beleza, organizar a convivência humana, tendo em conta os ritmos da natureza e apreciando a entrega que lhes faz. E Deus viu que era tudo muito bom e belo, diz o texto das origens.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Papa rejeita moralismos no sínodo sobre os jovens

O sínodo sobre os jovens, 
iniciado hoje no Vaticano, 
prolonga-se até 28 de outubro

Papa com jovens (foto das redes globais)
«Lutai contra todo o egoísmo. Recusai dar livre curso aos instintos da violência e do ódio, que geram as guerras e o seu cortejo de misérias. Sede generosos, puros, respeitadores, sinceros. E construí com entusiasmo um mundo melhor que o dos vossos antepassados». E sublinhou: «Sabemos que os nossos jovens serão capazes de profecia e visão, na medida em que nós, adultos ou já idosos, formos capazes de sonhar e assim contagiar e partilhar os sonhos e as esperanças que trazemos no coração»

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sábado, 4 de outubro de 2014

DEBATES SOBRE A FAMÍLIA

Crónica de Anselmo Borges

«O Sínodo não pode não ter em conta os avanços da ciência com incidência neste domínio: por exemplo, o início da pessoa humana, as técnicas de reprodução assistida, o controlo da natalidade com métodos anticonceptivos proibidos pela Humanae Vitae. Espera-se uma palavra de abertura para que os casais divorciados e recasados possam aceder à comunhão. A formação terá de ser para a liberdade na responsabilidade, sem esquecer "o primado da consciência" que "deve guiar as decisões dos cristãos e cristãs adultos, muito especialmente na sua vida íntima e familiar".»

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Um sínodo para repensar a Igreja?

Carta demolidora ao Papa
Por Anselmo Borges

O autor da carta, Henri Boulad, 78 anos, é um jesuíta egípcio de rito melquita. Não é um jesuíta qualquer: há treze anos que é reitor do colégio dos jesuítas no Cairo, depois de ter sido superior dos jesuítas em Alexandria, superior regional, professor de Teologia no Cairo. Conhece bem a hierarquia católica do Egipto e da Europa. Visitou quarenta países nos vários continentes, dando conferências, e publicou trinta livros em quinze línguas. A sua carta, inspirada na "liberdade dos filhos de Deus" e a partir de "um coração que sangra ao ver o abismo no qual a nossa Igreja está a precipitar-se", funda-se, pois, num "conhecimento real da Igreja universal e da sua situação actual".
A carta tem três partes: a presente situação, a reacção da Igreja, propostas.