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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

António Aleixo — Quadras soltas



O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
— quando consigas fazer
mais pelos outros que por ti!

A esmola não cura a chaga;
mas quem a dá não percebe
que ela avilta, que ela esmaga
o infeliz que a recebe.

Tu que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes esqueceste
— tudo quanto prometias…

Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.

Gosto do preto no branco,
como costumam dizer:
antes perder por ser franco
que ganhar por não o ser.

António Aleixo
In “Este livro que vos deixo…”

Nota: Em memória da amiga Rosa Branca que há anos me enviou algumas quadras do poeta para o meu blogue. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Mais quadras de António Aleixo


P´ra que tentaste subir
tão alto, mulher vaidosa?
quem sobe assim vai cair
na lama mais vergonhosa...

Meu amor, vê se te ajeitas
a usar meias modernas,
dessas meias que são feitas
da pele das próprias pernas.

De te ver fiquei repeso,
em vez de ganhar, perdi;
quis prender-te, fiquei preso,
e não sei se te prendi.

Que feliz destino o meu 
Desde a hora em que te vi; 
Julgo até que estou no céu 
Quando estou ao pé de ti.

Vemos gente bem vestida,
no aspeto desassombrada;
são tudo ilusões da vida,
tudo é miséria dourada.

Para não fazeres ofensas 
E teres dias felizes, 
não digas tudo o que pensas, 
mas pensa tudo o que dizes.

Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei,
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.

Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.

Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.

Não me deem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!

Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.


António Aleixo

NOTA: Se repararem, aqui ao lado esquerdo há o registo das mensagens mais vistas no meu blogue. Na lista figura, como curiosidade, a procura das quadras de António Aleixo. Por isso, aqui publico mais algumas.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Mais quadras de António Aleixo





Olá amigo, adoro António Aleixo e essas quadras são maravilhosas. Linda homenagem ao poeta. Aqui vão algumas quadras do poeta e que eu adoro. Beijos com carinho

Rosa-Branca


Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado
O ribeirinho não morre
Vai correr por outro lado.

Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço,
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.

Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.

Uma mosca sem valor
Pousa co'a mesma alegria
Na careca de um doutor
Como em qualquer porcaria.

Sou um dos membros malditos
Dessa falsa sociedade
Que, baseada nos mitos,
Pode roubar à vontade.

Finges não ver a verdade,
Porque, afinal, tu compreendes
Que, atrás dessa ingenuidade,
Tens tudo quanto pretendes.

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que ás vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência.

Nós não devemos cantar
A um deus cheio de encantos
Que se deixa utilizar
P'ra bem duns e mal de tantos.

Veste bem já reparaste
Mas ele próprio ignora
Que por dentro é um contraste
Com o que mostra por fora.

Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.

António Aleixo

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