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quinta-feira, 1 de julho de 2021

"Vamos arriar com Deus”

O tom religioso presente em muitas das expressões usadas na pesca do bacalhau demonstra a relação entre as devoções populares portuguesas e as vivências de alto mar que marcam o temperamento dos pescadores. No mar o homem apela ao divino e os gestos repetidos diariamente são intercalados por breves ladainhas evocativas das suas devoções. Com apenas algumas horas de descanso os homens eram acordados por um camarada que ao som dos louvados anunciava um novo dia de trabalho. “Seja Louvado e adorado Nosso Senhor Jesus Cristo, olha são 6 horas, olha o almoço!”1 - Assim recorda «Paxita» o despertar de todos os dias. Numa outra versão dos louvados dizia-se: “Louvado e Adorado Santo Nome de Jesus, por causa de vós irmãos Jesus morreu na cruz. Jesus morreu na cruz e morreu para nos Salvar, ó de baixo salta acima que o de cima está acabar... ”2
Depois do almoço, assim apelidavam a primeira refeição do dia, preparavam o trole e os botes. Os louvados não eram a única ladainha que pela manhã se ouvia a bordo dos navios. Com a seguinte ordem do capitão - “Vamos arriar com Deus” - os dóris eram lançados à água, os pescadores içavam as velas e zarpavam para mais um dia de pesca.

1 «Paxita» alcunha de António Pereira da Silva, natural da Figueira da Foz
2 Louvados no filme ‘Terra Nova Mar Velho’ (1983), realização de Francisco Manso

Nota: 
 1. Da agenda  "Viver em Julho" da CMI
 2. Foto da Rede Global 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

OBJETOS QUE FALAM: Faca de Escala



As facas de escala nas mãos certas eram instrumentos de precisão e rapidez, vários escaladores afirmam também que nem todos eram capazes de ter a agilidade suficiente para ‘tratar do peixe’. 

Elmano Pio da Maia Ramos, que iniciou a sua vida no mar como piloto e mais tarde foi imediato e capitão, descreve como eram selecionados os homens para a função de escalador: 
"Todos os anos o Imediato escolhia ou perguntava quem é que tinha menos medo de trabalhar com a faca. Sim é preciso ter-se coragem, estar ali a trabalhar com uma faca bem afiada. Havia os que diziam ‘eu quero ser!’. Então eles iam praticar. É claro que o peixe ficava mal escalado, porque é natural. Mas depois de terem praticado começavam por substituir algum que adoecesse." 

"Um bom escalador tinha que conseguir fazer 16 peixes por minuto." afirma com um certo tom de satisfação o antigo escalador do arrastão "David Melgueiro", José Simões Marques. 

Com facas tão afiadas era usual ocorrerem acidentes. O cozinheiro Manuel Pinto recorda que chegou a ser enfermeiro e a realizar vários curativos aos colegas que na azáfama de escalar o bacalhau acabavam por fazer golpes nas mãos. 

NOTA: Transcrito da "Agenda Viver em..." da CMI

sábado, 6 de abril de 2019

Os ÚLTIMOS TERRANOVAS PORTUGUESES

O mais recente livro de Senos da Fonseca



Nota: Não li o livro de Senos da Fonseca que vai ser apresentado no próximo dia 22 de abril, pelas 17 horas, no Museu Marítimo de Ílhavo, mas vindo de quem vem, um profundo conhecedor destes temas, posso garantir que será uma obra para ler e para consulta obrigatória.

sábado, 17 de março de 2018

EGAS SALGUEIRO HOMENAGEADO EM AVEIRO



«Fez ontem 124 anos que nasceu Egas da Silva Salgueiro, que durante a sua vida deixou marcas em Aveiro e Ílhavo na sua actividade empresarial e cívica, e ontem foram inaugurados dois sinais que prolongam a memória da sua passagem, dando nome a uma rua, nas imediações da Av. Artur Ravara, e um busto, junto a esta placa, no relvado da Baixa de Santo António. Será possível conhecer mais sobre a sua vida numa biografia que Manuel Ferreira Rodrigues está a preparar. Para já, desde ontem estão na cidade aquelas duas marcas. O busto é da autoria de Helder Bandarra, posicionado para o lado do Museu e da Sé. Para o lado contrário, a alguns metros, fica o actual hospital junto ao antigo da Misericórdia, na qual Egas Salgueiro foi provedor. Para além da vida empresarial - fundou a Empresa de Pesca de Aveiro (EPA), na Gafanha da Nazaré presidiu à Companhia Aveirense de Moagens (onde atualmente se encontra instalada a Fábrica - Centro Ciência Viva), foi diretor do Banco Regional de Aveiro - a sua actividade cívica foi intensa.»

Li no Diário de Aveiro 

Texto e foto do Diário de Aveiro

NOTA: Congratulo-me com a homenagem prestada, em Aveiro,  ao industrial Egas Salgueiro, a quem a região muito deve pelo seu dinamismo e visão em várias frentes. 
Permitam-me que sublinhe o seu contributo para o desenvolvimento da Gafanha da Nazaré, em especial, onde instalou a célebre EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), que empregou centenas de gafanhões, tanto nos barcos de pesca como na seca do bacalhau e nas oficinas, destinadas, fundamentalmente, à  reparação dos seus navios e instalações.  Também por isso, entendo que lhe é devida uma homenagem, para além da rua que já ostenta, há muito, o seu nome.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

GIL EANES EM VIANA DO CASTELO





NOTA: Todos os naturais e residentes na nossa região, ligados direta ou indiretamente ao mar, e sobretudo à pesca do bacalhau, se identificam com o Gil Eanes, navio-hospital que prestava apoio aos pescadores e tripulantes dos navios bacalhoeiros. Hoje, terminada a safra dos bacalhaus, é um navio-museu que desenvolve variadíssimas ações culturais que importa sublinhar. Sei que há conterrâneos nossos, ílhavos e gafanhões, que estão ligados a algumas iniciativas, o que é muito meritório. Louvo-os por isso, porque, no fundo, prestam um serviço que simboliza gratidão. 

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Valdemar Aveiro: "Os políticos estão destruindo frotas de pesca"


«Os motivos estão cheias de peixe, mas dizem-nos que temos de ter cuidado porque ele está se esgotando", disse o Português especialista em pesca do bacalhau»
"Os motivos são cheio de peixes e ainda há aqueles que continuam a dizer -nos que devemos ter cuidado com o que pescar, porque vamos correr para fora das unidades populacionais de peixes."Tal confiança o convidado de ontem provou Clube de Faro , Valdemar Aveiro, Portugal especialista capitão na pesca do bacalhau, que analisou a história desta pescaria e falou sobre seu presente e seu futuro, um futuro que não augura nada de bom . "Os políticos e a União Europeia está destruindo frotas (pesca) e ainda dizer que temos que ter muito cuidado com taxas, se você não quer a correr para fora do peixe. E eu não posso compreender que dizer isso quando não são tantas pessoas desempregadas , " ele disse durante falando no Auditório Municipal do Areal, que foi apresentado por José Manuel Muñiz, presidente da Associação dos Diplomados Náutico-Pescas (AETINAPE).
Convidado da FARO clube disse que este aviso sobre a escassez de recursos marinhos é falsa. Além disso, de acordo Aveiro pesqueiros peixes estão cheios. "Há tantos peixes que estão comendo seus filhotes", disse o capitão de pesca Português, 83, acrescentando que este é um problema sério para o ambiente marinho. "Quem é você determinado a fazer-nos crer que não há peixe suficiente, também nos dizem que há um problema com o peixe pequeno, não. E não porque o peixe grande está comendo os pequenos", disse ele.
Também não é verdade, acrescentou, que o problema da escassez acima mencionado é devido a ciclos de reprodução de peixes. Não, pelo menos no caso do bacalhau. "É verdade que o bacalhau só jogar uma vez por ano. Além disso, o bacalhau feminina fica entre sete e oito milhões de ovos, mas não todos sobreviver, é claro", disse ele.»

Nota: Transcrição do jornal Faro de Vigo 

terça-feira, 6 de junho de 2017

A FROTA PORTUGUESA DO BACALHAU — UMA HISTÓRIA EM IMAGENS



Jean-Pierre Andrieux

A FROTA PORTUGUESA DO BACALHAU — UMA HISTÓRIA EM IMAGENS é um livro de Jean-Pierre Andrieux, com edição da Âncora Editora. Os patrocínios vieram da Câmara Municipal de Ílhavo e do Museu Marítimo de Ílhavo. 
Jean-Pierre Andrieux é um «Escritor de afetos e colecionador de imagens» que se deixou «arrebatar pela secular presença portuguesa nos grandes bancos, recolhendo fotografias, documentos e testemunhos de viva voz. A sua coleção de fotografias sobre a frota portuguesa e outras que competiram pela pescaria nos grandes bancos da Terra Nova é seguramente a mais extensa e completa que se conhece», garante no Prefácio Álvaro Garrido, Professor da Universidade de Coimbra e Consultor do Museu Marítimo de Ílhavo.  E adianta que o autor é «amigo pessoal de muitos capitães de navios portuguesas», visitando «regularmente Portugal para conviver com eles e para tirar partido da cultura portuguesa cuja gastronomia muito admira».
O livro é essencialmente uma mostra expressiva de fotografias de navios e homens do mar ligados à pesca do bacalhau nos grandes bancos, a preto e branco e legendadas a preceito. O texto, de apenas 22 páginas, está carregado de memórias elucidativas, oferecendo ao leitor uma panorâmica do que foi a Faina Maior e para além dela, com pormenores que deixam o pó do esquecimento para se tornarem vivos no dia a dia dos nossos contemporâneos e dos vindouros. 
Jean-Pierre Andrieux lembra que «Em grande parte do sul da Europa, o bacalhau passou a simbolizar a diferença entre a abundância ou escassez alimentar», mas também conhece e divulga legislação, armadores, navios da pesca à linha e arrastões, cujas características, a traços largos, nos mostram o essencial da frota portuguesa.
Debruçando-me sobre as imagens, constato que traduzem o quotidiano de oficiais e pescadores, cozinheiros e pessoal das máquinas, homens do leme, chegadas e partidas, icebergues, festas e religiosidade, momentos de lazer e de descanso, convívios à mesa e as homenagens aos que faleceram.
A FROTA PORTUGUESA DO BACALHAU — UMA HISTÓRIA EM IMAGENS é um livro que se apresenta em boa edição,  integrando a "Colecção Novos Mares", dirigida por Álvaro Garrido. Merece, sem dúvida, ser apreciado por toda a gente que transporta na alma o mar, as pescas e as nossas tradições pesqueiras. 

Fernando Martins

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Ílhavo é uma cidade fantasma e na Gafanha da Nazaré está tudo a falir

Em entrevista ao jornalista Miguel Souto, da Lusa,
o capitão Valdemar Aveiro diz que
«Ílhavo vive a “agonia” da pesca do bacalhau»



Valdemar Aveiro (foto do meu arquivo)
Valdemar Aveiro diz, nessa entrevista, que «A cidade de Ílhavo monopolizava a pesca do bacalhau. As classes dirigentes, tanto na oficialidade, capitães e imediatos, como nas mestranças, era tudo de Ílhavo, incluindo contramestres, cozinheiros e motoristas».
Refere que «A Gafanha da Nazaré, mais terra de pescadores e hoje igualmente cidade, assistiu no século XX ao crescimento de secas, armazéns, oficinas e estaleiros, primeiro, depois de câmaras frigoríficas e unidades industriais de transformação de pescado.»
Da sua cidade natal, Valdemar lembra que «Ílhavo era uma terra essencialmente marítima focada na pesca do bacalhau. Era uma cidade muito alegre e cheia de vida e hoje não tem nada. Começaram com o abate dos navios e hoje é uma cidade fantasma e na Gafanha está tudo a falir».
Ler reportagem de Miguel Souto aqui

NOTA: A destruição  da frota bacalhoeira foi, realmente, um crime. Um crime que os nossos governantes aceitaram ou foram obrigados a aceitar. Não houve firmeza nas negociações nem respeito pelas nossas tradições históricas no âmbito da pescas. Portugal foi na onda das promessas e dos dinheiros fáceis e o resultado está à vista. Mas admito que os nossos povos souberam dar a volta ao crime que lhes impuseram, voltando-se para outras atividades. Também me custa aceitar que Ílhavo não tenha nada  e que na Gafanha esteja tudo a falir.

sábado, 4 de julho de 2015

Navio-museu Santo André

Um museu a visitar 
durante as férias de verão


O Navio-museu Santo André, no Jardim Oudinot, também é ou deve ser visita obrigatória, por ser um testemunho vivo da pesca do bacalhau por arrasto. Construído em 1948, na Holanda, deixou os mares e a pesca do fiel amigo em 1997. Foi restaurado e hoje é uma lição expressiva para os amantes da nossa história da pesca do bacalhau. Está em exposição permanente, sendo a visita explicada ao pormenor por legendas e vídeos. Pode informar-se pelo telefone 234 329 990.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Valdemar Aveiro: A nossa vida parece ficção

A sua vida daria um romance



Valdemar Aveiro, 78 anos, natural de Ílhavo e residente na Gafanha da Nazaré desde que se casou, dois filhos e dois netos, oficial da Marinha Mercante e atual administrador da Empresa de Pesca S. Jacinto, é autor de dois livros, entre outros, com recordações da pesca do bacalhau. São eles “80 Graus Norte” (3.ª edição) e “Murmúrios do Vento”, onde evoca cenas do quotidiano a bordo dos navios, mas também pessoas que o marcaram indelevelmente. Sobretudo gentes ligadas às empresas de pesca, mas não só, em especial as que com ele enfrentaram trabalhos heróicos e mares bravios. 
Quem conhece o capitão Valdemar, como é mais conhecido na região, sabe que a sua vida, de sonhos realizados e por realizar, de lutas insanas, de canseiras teimosamente enfrentadas e de desafios constantes, daria um romance. De qualquer forma, os seus escritos, memorialistas na sua pureza literária, são o romance que pode ser apreciado como tal pelo leitor comum. 
Questionado sobre a eventualidade de escrever um romance, frontalmente afirma que «não é preciso», porque «a nossa própria vida parece ficção». E adianta, em jeito de explicação: «Falo daquilo que sei, não falo de ouvido; falo daquilo que posso provar; das pessoas com quem convivi e convivo; de gente de uma nobreza extraordinária.» 
Valdemar Aveiro caracteriza, com exuberância, os sofrimentos dos homens do mar na pesca do fiel amigo, «Todos, doentes, sofrendo do mesmo mal — a saudade pungente, o isolamento, a solidão, a ansiedade pelo dia do regresso sem data prevista, o trabalho esfalfante, o alívio do choro, as lágrimas silenciosas vertidas na escuridão do seu catre com a cortina corrida; todos igualmente condenados à abstinência prolongada que altera comportamentos, cria tensões, gera crises de agressividade traduzidas em destemperos explosivos a degenerar em conflito!». 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Um livro de Valdemar Aveiro: Murmúrios do Vento

Lançamento em 19 de dezembro,
pelas 21 horas, no Museu de Ílhavo



Do Prefácio

“Contrariando o esquecimento, essa espécie de entropia que tudo dissolve no nada, o capitão Valdemar Aveiro publica agora o seu terceiro livro, o último de um tríptico magistral, contado quase sempre na primeira pessoa, composto de tábuas pintadas de saborosa e colorida literatura.
Essas tábuas são as narrativas que formam, sem dúvida, o mais completo políptico sobre a gesta incomensurável da pesca do bacalhau, escrita até hoje por quem na verdade a viveu.”

“Estamos perante um livro de prodigioso apelo à memória.”

“À memória do tempo vivido por entre aventuras e histórias, que por vezes assume um tom narrativo confessional, para reconstituir um passado feito de retratos minuciosos de seres que existiram (muitos existem ainda, felizmente) e que marcaram o teu trajecto, quase sempre sobre as águas, que do planeta são ainda a parte incógnita.”

José António Paradela





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sábado, 23 de outubro de 2010

REVISTAÚNICA dedicada ao mar

Trabalho gráfico de Hugo Marques
Foto de Luís Efigénio/NFACTOS

Foto da Coleção do Museu Marítimo de Ílhavo

O MAR: UMA PRIORIDADE NACIONAL

A  REVISTAÚNICA do Expresso desta semana é dedicada ao mar. Quem gosta de tudo quanto diz respeito ao mar vai, decerto, guardar este número, para ler com mais calma.
Há muito que o mar anda longe das preocupações dos nossos políticos e empresários. A UE cortou as asas aos portugueses, que não puderam ou não souberam reagir. A nossa frota bacalhoeira, de tantas tradições entre nós, desde há séculos, foi obrigada a apodrecer nos cais. Muitos trabalhadores tiveram que dar asas à sua imaginação para se adaptarem a outras vidas. Foi, de alguma forma, um dos maiores desastres do nosso país.
A revista inclui textos do Presidente da República, Cavaco Silva, e de economistas, artistas, desportistas, historiadores e cientistas, à volta de uma grande questão: Portugal e o mar: saída à vista? Para ler e pensar. Tudo com ilustrações belíssimas a condizer.
Em entrevista, Maria Damanaki, comissária europeia com a pasta dos Assuntos Marítimos e Pescas, diz que «É um sonho ter fronteiras comuns no mar da União Europeia», garantindo que «Uma política marítima integrada traz valor acrescentado a todos». Refere ainda que «Portugal é um dos países mais cooperantes nas questões marítimas», porque «Tem tradição e vontade política».
Numa reportagem, intitulada O regresso dos bacalhoeiros, afirma-se que, «Após mais de uma década de ausência, os bacalhoeiros portugueses regressaram aos mares gelados da Gronelândia e da Terra Nova, mas o bacalhau continua a ser um bem escasso». Congratulemo-nos, ao menos, com o regresso.
Por sua vez, no texto que escreveu, o Presidente Cavaco Silva termina assim as suas considerações, que tiveram como ponto de partida «O mar: uma prioridade nacional»:
«Na conjuntura atual, talvez mais do que nunca, sente-se a falta de desígnios nacionais que contribuam para dar mais coesão e mais autoestima aos portugueses. O mar, despojado de messianismos, enquanto ativo estratégico e económico nacional, poderá consistir num dos desígnios que hoje nos faltam. Do que é que hoje estamos à espera?»

FM

Nota: Com Acordo Ortográfico

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Livros de Valdemar Aveiro vão ser apresentados na Biblioteca da Nazaré

Valdemar Aveiro, à direita, recebe cumprimentos de Miguel Veiga,
 que apresentou "80 graus Norte", em Aveiro.



No próximo sábado , 6 de Fevereiro, pelas 16 horas, vão ser lançados, na Biblioteca Municipal da Nazaré, dois livros de Valdemar Aveiro — “80 graus Norte” e "Histórias desconhecidas dos grandes trabalhadores do mar".
Os livros, levados à estampa pela Editoral Futura, são baseados em histórias reais. Contam como era a vida dos pescadores da pesca à linha do bacalhau, a “Faina Maior”, como é designada, e que envolveu muitos nazarenos, entre 1935 e 1974.
O autor dos livros, Valdemar Aveiro, nasceu em 1934, em Ílhavo, no seio de uma família de pescadores. Esteve, desde sempre, ligado ao mar e à pesca, fazendo, actualmente, parte do Conselho de Administração de uma empresa do sector.

sábado, 2 de janeiro de 2010

PÚBLICO: Quem ia pescar bacalhau sofria e chorava, mas só para dentro, que chorar para fora era feio

Após 11 anos de proibição, os arrastões portugueses vão poder voltar a pescar bacalhau na Terra Nova, o lugar mítico onde nasceu uma das mais arreigadas tradições gastronómicas nacionais. Enquanto o peixe não chega, fomos ouvir as histórias de quem já por lá andou a pescar e sofrer




Navio-Museu Santo André

Quando, em 1943, fez a primeira campanha do bacalhau na Terra Nova, João Laruncho de São Marcos, o capitão São Marcos, com 90 anos feitos no mês passado, liderava um comboio de embarcações no qual seguiam vários lugres navegando à vela e dois barcos a motor, o São Ruy e o Santa Maria Madalena. Era segundo piloto numa embarcação com 125 homens, o São Ruy, e sentiu-se "chocado" por, em pleno século XX, se andar "ainda a pescar daquela maneira, sem nenhuma evolução".

"Os pescadores dormiam três horas e passavam 20 no mar, ao frio. Primeiro as mãos calejavam e depois gretavam e ganhavam pus por todos os lados. Mas tinham de continuar a trabalhar. Aquilo nem era considerado doença, era trabalho. Lavavam as mãos com água oxigenada e continuavam", conta.
O capitão São Marcos já tinha andado no Mediterrâneo, onde viu de perto a metralha do mundo em guerra, mas, nas paragens geladas do mar canadiano, reinava uma paz relativa. "Em Génova passei um mau bocado, mas na Terra Nova nunca houve confusão, apareciam era muitos destroços de navios afundados", recorda. Dentro dos homens, porém, a batalha naval estava apenas a começar. Esperava-os a dureza das condições de pesca, os frequentes ciclones, as tempestades que "custavam a gramar". "Mas nunca pedi nada a deus. Não acredito. Habituei-me, isso sim, a chorar só para dentro. Os homens choravam com o sofrimento, mas só para dentro, que chorar para fora era feio."

Por Jorge Marmelo

Ler mais no PÚBLICO

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Valdemar Aveiro fala da Pesca do Bacalhau com paixão

A epopeia da Pesca do Bacalhau
não desmerece nada dos Descobrimentos 


Valdemar Aveiro, 75 anos, capitão da Pesca do Bacalhau, acaba de reeditar “80 Graus Norte – recordações da Pesca do bacalhau”, agora em formato clássico, com a chancela da Editorial Futura. Para além de capitão, “foi um grande pescador e um grande homem”, no dizer de um seu tripulante, que recordou, com emoção, conversas muito próximas com o seu amigo comandante, olhando o mar onde procuravam o fiel amigo com entusiasmo nunca regateado.
Tendo Aveiro por apelido familiar, nasceu em Ílhavo, mas habituou-se a conviver com gafanhões desde menino, com sete anos, quando acompanhava sua mãe, vendedeira, por terras da Gafanha. Depois casou na Gafanha da Nazaré e está na história da Pesca do Bacalhau à linha, e não só.
O seu gosto pela escrita remonta à sua juventude, quando os amigos lhe pediam que escrevesse cartas de amor para as suas namoradas. Contudo, nunca se arriscou a escrever ficção, porque a arte de criar personagens, como fazem os ficcionistas, não lhe está no sangue. Mas escrever e falar sobre a epopeia da Pesca do Bacalhau, “que não desmerece nada dos Descobrimentos”, é com ele. Para breve haverá um novo livro, onde recordará empresas, empresários, gente da nossa terra. Não se considera escritor, mas “um contador de histórias”
O seu entusiasmo pelas recordações de tudo quanto envolve a saga dos bacalhaus é paralelo à necessidade que sente pela preservação da nossa identidade, indissoluvelmente ligada ao mar, desde tempos anteriores à nossa nacionalidade.

sábado, 26 de dezembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 163

BACALHAU EM DATAS - 53
RUMO AO FUTURO

Caríssimo/a:


1975 - «Em 1975, já não seria armado qualquer navio de pesca à linha. O NOVOS MARES o único “navio de linha”que regressara dos bancos no ano a Revolução – seria transformado para a pesca com redes de emalhar.» [Oc45, 90]

1977 - «Portugal foi dos primeiros estados europeus a aderir ao conceito de “zona económica exclusiva” que seria vertida no Direito internacional a 28 de Maio de 1977. Acérrimo defensor do princípio da “liberdade dos mares” durante vários séculos, Portugal subscrevia pela primeira vez um conceito “estratégico” de “Estado costeiro” de todo incompatível com os interesses da pesca longínqua.» [Oc45, 104]

1983 - «Em 31 de Maio de 1983 são aprovados os novos estatutos da Obra do Apostolado do Mar;


Em 6 de Julho de 1983 é nomeada pelo Bispo de Aveiro, a Direcção da Obra do Apostolado do Mar, com sede no clube "Stella Maris" de Aveiro, sito na Rua dos Bacalhoeiros, da paróquia da Gafanha da Nazaré.


No dia 18 de Setembro de 1983, dia da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, foi possível celebrar a bênção e lançamento da primeira pedra da nova casa do Stella Maris.


Em 1982, graças a um subsídio do Governo, foi possível iniciar o processo de construção do actual edifício do Stella Maris, para substituir o antigo pavilhão pré-fabricado.


Esta primeira fase, que importou em 13 mil contos, foi inaugurada no dia 10 de Novembro de 1985. Presidiu à cerimónia da bênção do novo edifício o Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade.»[v. Galafanha]

sábado, 19 de dezembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 162

BACALHAU EM DATAS - 52




O FIM DA PESCA À LINHA

Caríssimo/a:

1974 - «Nos primeiros dias de Maio de 1974, tem lugar em Lisboa a última bênção dos navios e tripulações da frota bacalhoeira. Já se deu a revolução de Abril, a Organização Corporativa das Pescas começava a ser desmantelada, a explosão social chegava aos portos bacalhoeiros e a bordo dos próprios navios. A “bênção” de 1974 mantinha intactos os elementos cénicos e a evocação épica da “grande pesca”, mas estava longe da espectacularidade de outros tempos. Ao largo de Belém perfilavam-se uns poucos de navios embandeirados, pronos a largar para a Terra Nova. Cenário tão desolador e de tão nítido contraste com tempos idos que o “Jornal do Pescador” se coibiu de publicar as habituais fotografias. Nas palavras do bispo que presidiu à cerimónia, D. Maurílio Gouveia, o mundo marítimo passava naquele momento por profundas transformações que pareciam abalar as suas estruturas.» [Oc45, 91]

«Em 1974, o Gil Eanes amarrou ao cais em Lisboa. Depois de outra tentativa na área comercial foi definitivamente desactivado, aguardando a sua demolição. Foi salvo deste triste epílogo por uma comissão, os “Amigos de Gil Eanes”...» (v.1955) [HDGTM, 43]

domingo, 13 de dezembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 161

BACALHAU EM DATAS - 51




O PRINCÍPIO DO FIM ...

Caríssimo/a:

1964 - «O máximo de arqueação líquida (capacidade) da frota bacalhoeira [é] de 67.026 toneladas em 1964, quase sete vezes mais que em 1934. Ora, se nesse período, o número de unidade em laboração pouco mais que duplicou, o que supõe um crescimento de capacidade média de pesca por navio.» [Oc45, 101]

1965 - «A quarta e última novidade só se detecta em 1965. É então que faz a sua primeira viagem inaugural o primeiro arrastão pela popa da frota portuguesa, o MARIA TEIXEIRA VILARINHO, armado pela empresa José Maria Vilarinho, L.da, de Aveiro. Construído nos Estaleiros Navais de Viana, foi também o primeiro navio da frota dotado de porão congelado.» [Oc45, 100]

1966 - «Até 1966, os diversos tipos de navios de pesca à linha perfazem a maioria das unidades da frota, embora nessa data a capacidade global de pesca dos arrastões bacalhoeiros já supere a dos veleiros com e sem motor.» [Oc45, 95]

1967 - «... a liberalização do comércio do bacalhau aconteceu em 1967...» (v. 1934)[BGEGN, 1991, 7]

«O princípio do fim da “Campanha do Bacalhau” ocorreu aquando da liberalização do comércio do bacalhau, em 22 de Julho de 1967 (Portaria n.º 22790). No essencial, este diploma, assinado pelo Secretário de Estado do Comércio, Fernando Alves Machado, abolia a “tabela do bacalhau” em vigor desde meados de trinta e permitia aos armazenistas a importação de remessas a título individual (abolição do sistema de quotas de rateio).» [Oc45, 104 n. 3]