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domingo, 5 de maio de 2019

Anselmo Borges — O Pai Nosso e o Maligno

Anselmo Borges


Levantou-se de repente e de modo totalmente desnecessário uma celeuma à volta do Pai Nosso e de uma possível nova versão. 
Assim, a actual versão diz: “Pai nosso, que estais nos céus, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.” Na nova tradução, passaria a dizer: “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome, venha o teu reino, seja feita a tua vontade, como no céu, assim também na terra. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa-nos as nossas ofensas, como também nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos leves à provação, mas livra-nos do Maligno.” 
Fica aqui a minha oposição a esta nova versão, sobretudo se se quiser introduzir na liturgia. Apresento algumas reflexões sobre o assunto. 

1. Não tenho objecção especial a que se introduza o “tu” dirigido a Deus. Mas, mesmo assim, chamo a atenção para o perigo de uma possível banalização que se tornou corrente nos dias de hoje. É preciso perceber que Deus se revelou como Abbá, querido Papá, mas ao mesmo tempo perceber que Deus é Deus, infinitamente para lá do “tu cá, tu lá”, como alguns comentadores já chamaram a atenção, de modo agudo e até com alguma acidez. É como os pais e os professores. Alguns querem ser tão próximos e “amigos” e iguais dos filhos e dos alunos que, depois, perdem toda a autoridade e, de “amigos”, passam a ditadores brutais, sem honra nem glória. Porque não sabem ser pais nem professores. 

domingo, 6 de janeiro de 2019

Pai Nosso para 2019

Bento Domingues

O Pai Nosso exprime o mundo por que Jesus lutou. 
Nada acontece de forma mágica.

1. Dizem-me que ando distraído das estatísticas das religiões que, na Europa, manifestam um inquietante declínio. O cristianismo não revela qualquer estratégia adequada para inverter essa situação. A laicidade do Estado, mal entendida, teria conduzido a sociedade para os braços do maior adversário da fé cristã: a indiferença.
O Islão aposta nesse vazio. Estaria, ao que parece, cada vez mais dominado pelas correntes e organizações islamitas, que, a bem ou a mal, pretendem ser a religião europeia do futuro.
Por outro lado, invocar o nome de Deus em vão era considerado um pecado grave. Acaba de sagrar a tomada de posse do Presidente do Brasil. As chamadas “igrejas evangélicas” têm abundantes passagens do Antigo Testamento para apoiar a sua retórica banhada de propósitos guerreiros.
À primeira vista, violência e religião nunca deveriam poder andar associadas. A história mostrou e mostra que, por diversas loucuras, andaram e andam muito juntas.
A religião é, por natureza, a dilatação transcendente do ser humano. Mas também pode ser entendida como um mecanismo de autoprotecção. Um indivíduo ou um grupo sentem-se mais seguros se alguém superior – uma divindade, por exemplo – os proteger em todas as dimensões da vida: espirituais e materiais. Nesse sentido, defender a sua religião é defender todos os seus interesses. Quem a puser em causa ameaça toda a sua vida. Daí nasce o elo entre violência e religião: defender-se do inimigo. A melhor defesa é destruí-lo. Procura, por esse caminho, salvar a própria identidade. É uma explicação simples para a história da violência ligada ao fenómeno religioso e às suas expressões. Nessa perspectiva, a salvação de uns é a perda dos outros.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

A oração que Jesus nos ensinou

Reflexão de Georgino Rocha



O caminho de Jesus para Jerusalém constitui referência modelar para o itinerário de iniciação à vida cristã dos que pretendem ser seus discípulos missionários. Assinala com grande evidência os marcos principais do percurso e as atitudes fundamentais de quem o assume. Uma imagem expressiva chega-nos, hoje, dos que fazem o caminho de Santiago, na Galiza, e dos peregrinos a Fátima.
Lucas, o narrador de “serviço” assinala que “estava Jesus em oração em certo lugar”. Destaca assim a sua atitude orante, o local em que reza e o recolhimento em que permanece, apenas interrompido pela súplica dos discípulos. Causa a mais profunda impressão o seu modo de orar. E ainda mais quando se ouve a resposta dada a este pedido: O Pai Nosso e seus desejos.
A versão de Lucas é mais breve que a de Mateus. Possivelmente estará mais próxima da original. Nela, Jesus deixa-nos ver a sua relação com Deus Pai e transmite-a aos discípulos. A oração é entrar nesta relação filial, sentir-se envolvido pelo amor paternal, começar a ver as coisas com o olhar divino tão expressivamente cultivado por Jesus e apresentado nos Evangelhos e dispor-se a agir em coerência solidária.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Viver

Crónica de Anselmo Borges 


«No meio do rebuliço estonteante, 
é decisiva a pausa e o silêncio»

Numa recente viagem à Índia, a um dado momento, no meio daquele trânsito absurdamente caótico e ensurdecedor, quando se fecha os olhos para não ver o que parece iminente: um choque em cadeia de uma infinidade de carros, motos, motoretas, bicicletas, riquexós e quejandos, pessoas em multidão a pé, alguém perguntou: "O que é que toda esta gente anda a fazer?" Resposta pronta e sábia de um professor ilustre: "Andam a viver." É isso: a viver. O que é que andamos a fazer? Tão simples como isto: a viver. Melhor ou pior, material, espiritual e moralmente falando. Todos, a viver.
E são tantas as vezes em que se não dá por isso: o milagre que é viver! Assim, numa sociedade na qual o perigo maior é a alienação - viver no fora de si -, quando a política se tornou um espectáculo indecoroso, quando Deus foi substituído pelo Dinheiro e o mundo se tornou globalmente perigoso e ameaçador, o jesuíta Juan Masiá, que, durante trinta anos, ensinou Filosofia, um semestre em Tóquio e outro em Madrid, vem com um belo livro, precisamente com o título: Vivir. Espiritualidad en pequeñas dosis. "Deixo-me acariciar pela brisa, saboreio a experiência de estar vivo, sentir palpitar a minha vida. E penso: viver, que maravilha e que enigma! Paro em silêncio a saborear esta vivência. Estou vivo, mas a minha vida supera-me: não é só minha nem a controlo. Viver é ser vivificado pela Vida que nos faz viver." A Vida vive-te, vive na Vida!