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sábado, 13 de julho de 2019

Mais aconchegado pela natureza

Igreja matriz que se vê do meu alpendre
Apesar do ventinho frescote, gosto de me instalar no alpendre voltado para o quintal. Sinto-me muito mais aconchegado pela natureza envolvente, que vai para além dos meus domínios. Olho a torre da igreja matriz que sobressai entre o casario térreo e evoco tantas vivências que moldaram o meu caráter e a forma de ver o mundo com sentido otimista. E nestas recordações, torno presente tanta gente que conheci: vizinhos, gente da lavoura que labutava nas campos ao frio ou à torreira no pino do verão, passantes que me saudavam, amigos que paravam para um dedo de conversa. 
As couves precisam de água, o batatal carece de sulfato, as (poucas) árvores esperam por uma poda a preceito — atiravam os amigos que gostavam de conversar e de dar conselhos. E com todos (e foram tantos!) me relacionei e aprendi. Fotografias deles não as possuo, mas todos moram mesmo na minha alma. 
Um amigo e vizinho disse-me um dia: — O  teu quintal, Manuel Fernando (era assim que me chamava),  está subaproveitado: faltam as laranjeiras e os limoeiros. Se for preciso, eu posso dar uma ajudinha. E assim foi. Mas disso falarei um dia destes. 

F.M.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Notas do meu diário — Três momentos




Três aspetos da Serra da Boa Viagem: O longe fez-se perto
1. Esperada há muito, na precisa hora da partida para a Figueira da Foz chega-me a revista LER com as habituais novidades do mundo literário. Publicada nos princípios de cada estação do ano, desta feita trás o registo de Inverno|Primavera. Pelo telefone, explicaram-me há tempos os motivos: os colaboradores nem sempre respeitam os prazos estabelecidos. Está perdoada a demora porque gosto da revista.

2. E da revista transcrevo um poema, o primeiro texto deste número, na esperança de que me seja perdoada a ousadia de o fazer. O intuito é tão-só para saudar a LER e quem a faz trimestralmente. Mas ainda quem torna o mundo mais belo com a literatura, de que faz parte essencial a poesia: E aqui ofereço um poema de João Luís Barreto Guimarães, que acolhe os leitores na badana da capa.

Nómadas

Só o amor pára o tempo (só
ele detém  a voragem)
rasgámos cidades a meio
(cruzámos rios e lagos)
disponíveis para lugares com nomes
impronunciáveis. É preciso percorrer os mapas
mais ao acaso
(jamais evitar fronteiras
nunca ficar para trás)
tudo nos deve assombrar como
neve
em Abril. Só o amor pára o tempo só
nele perdura o enigma
(lançar pedras sem forma e o lago
devolver círculos).

Do livro Nómada (2018)
Incluído na antologia  O Tempo Avança por Sílabas.
Publicado pela Quetzal em 2019.

3. Depois, fui à varanda olhar a paisagem da serra da Boa Viagem, um desafio para quem vem ou passa por aqui. Gosto do sussurro do arvoredo, aqui e ali com mar à vista, do casario disperso com acessos sinuosos, com vida de quem aprecia a beleza da solidão, beleza esta que não será para todos, mas apenas para os que sentem prazer em olhar para o seu interior, irradiando paz para o mundo sôfrego de compreensão e solidariedade.

Fernando Martins

domingo, 14 de outubro de 2018

Notas do Meu Diário – O mundo e nós


1. Com a minha idade, já vi e senti tantas voltas e reviravoltas no mundo que nada me espanta. E de todas essas voltas e reviravoltas sempre aprendi e desaprendi tanta coisa, que não me canso de perceber que o povo, na sua felicidade e na sua revolta, terá motivos para mostrar que é ele quem manda. Tão depressa vive a democracia como de repente, por raiva, ameaça e leva à prática dar o seu voto a malandros e a eventuais ditaduras. O mundo até parece que está a virar de escota, porventura sem norte seguro. Temos de exercer um papel pedagógico no sentido de alertar para os inconvenientes de políticas racistas, xenófobas e antidemocráticas? Temos. 

2. A tempestade que esta noite nos assustou, entre as 23 horas e as quatro da manhã, motivada por fenómenos raros neste recanto à beira mar plantado, no dizer do poeta, deixou devastações dolorosas com prejuízos ainda incalculáveis. Dizem os entendidos, que ouvi durante a noite, que as profundas ofensas ao ambiente, provocadas pela ganância industrial e por comportamentos humanos desregrados, estão na origem desta revolta da natureza. E como restabelecer a harmonia neste mundo em correria desenfreada para o abismo?

3. Ontem à noite participei num encontro-convívio promovido pela ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha), que muito me agradou, fundamentalmente pela participação de diversas associações da nossa terra. Na hora certa, o presidente daquela associação, Humberto Rocha, frisou a importância da união de todos na luta pela qualidade de vida das nossas terras e gentes. A união faz a força, disse. Mas desse encontro-convívio hei de escrever um dia destes.

Fernando Martins

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Notas do Meu Diário – O Porto

A Aidinha no terraço da sua  casa no Porto

Ontem, passei pelo Porto, a correr, que o destino era a festa de aniversário da minha filha Aidinha. Uns percalços, com avaria no carro, ensombraram a nossa pressa de chegar ao “Parabéns a você nesta data festiva”. A gentileza dos convidados que nos aguardaram tranquilamente mostrou o sentido de proximidade que nos une. Mas chegámos e saboreámos a alegria da aniversariante, da família e amigos. À volta da mesa, os percalços foram atirados para trás das costas. Pena foi, sentida por todos, a ausência do nosso Fernando, que teve de regressar a casa com o reboque da Assistência em viagem, para assinar a declaração da entrega do veículo na Gafanha da Nazaré. Obrigado, Fernando, pela tua boa disposição, posta à prova na hora própria, sem hesitações. Na próxima vez, se é que haverá uma próxima vez (para longe vá o agoiro!), sou eu quem se sentará ao lado do condutor para, no final da corrida, assinar o documento de entrega do carro no sítio certo. 
Nos intervalos dos comes e bebes e das conversas normais nestes casos, onde a boa disposição reinou, saltaram do meu subconsciente os anos que vivi no Porto, na juventude, com ruas e ruelas calcorreadas nas horas vagas. Gente que corre, conversa, ri e trabalha, e que fala do seu Porto, o FCP, com paixão. De cada canto se via a Torre dos Clérigos, a Câmara ao fundo da larga avenida. A Estação de São Bento, o trânsito, a meus olhos caótico, sem nunca registar qualquer acidente.  E os cinemas de tantos e tão variados filmes, e o Coliseu de grandes espetáculos, e os concertos para a juventude dirigidos pelo maestro Silva Pereira, e as livrarias modernas, e os alfarrabistas que visitava regularmente, e a Ponte da Arrábida a cujo fecho do arco assisti espantado, com manobras de alto risco sob comando de um aveirense, o Eng. Zagalo. 
O Porto onde encontrei grandes amigos que o tempo fez esmorecer. O Porto de sonhos, o Porto do São João, em cuja noitada nem tempo há para dormir. Na única festa em que participei, sentei-me, esgotado ao máximo, na soleira de uma porta. Meio acordado meio a dormir assisti ao entusiasmo do povo com o alho-porro para acariciar cabeças loiras ou morenas, penteados de risco-ao-lado ou carecas, sem zangas que incomodassem o Santo Popular do Porto e de outras bandas. 
Vejam lá o que uma simples passagem pela Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta cidade do Porto me fez recordar. 

Fernando Martins 

24 de setembro de 2018

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Notas do meu diário – Liberdade pura


Tenho andado muito ocupado. Sou um tanto ou quanto desarrumado e de repente atiro-me ao trabalho para pôr ordem nas coisas que me rodeiam. Leva tempo, porque encho sacos da papelada inútil… depois começa o tira e põe, sem nunca acertar devidamente com o sítio certo. 
Nesse tira e põe dou de caras com livros e livretos que já tinham fugido da minha memória. Interrompo a ordenação e limpezas e ponho-me a ler ou reler. O tempo passa e assim tenho saboreado os últimos tempos, sem incomodar ninguém. Gosto deste cirandar e gosto imenso de estar em casa a falar com o meu passado e sem grandes preocupações com o futuro. Chamo a isto a liberdade pura. 
Eu sei que tenho de estar no mundo com as pessoas de casa, da família, dos amigos. Gosto de sentir o palpitar da vida, com todas as nuances. Gosto de conversar como os meus botões e com quem está ou chega. 
Quando editar pouco nos meus blogues, o que acontece frequentemente, não estranhem. Estou a descansar trabalhando. 
Bom fim de semana. Está mesmo a chegar. Usufruam a vida que eu por cá vou fazendo o mesmo. E estou a pensar no Acordo Ortográfico. Continuo com ele ou volto ao antigo? Ando a remoer a coisa. Há tempos estive a conversar com uma jovem amiga, docente universitária, que escreveu um texto para o PÚBLICO com a seguinte nota: "Por vontade expressa da sua autora, este texto encontra-se escrito segundo a norma ortográfica da Língua Portuguesa anterior ao Novo Acordo Ortográfico." E garantiu-me que não o segue, dizendo claramente: “Nem que me matem."

Fernando Martins

21 de setembro 

sábado, 14 de julho de 2018

Aquele rádio é antigo?


Há tempos, perguntaram-me se o rádio que está a ocupar o espaço de alguns livros é antigo. Respondi que sim, mas a razão da sua existência em lugar de destaque só tem a ver com as recordações a que me transporta. Não sou colecionador de nada, nem jeito tenho para isso. Muito menos poderei dispor de fundos económicos que me permitam comprar peças decorativas, mobílias ou livros antigos que gostaria de ter nas minhas estantes. O que temos foi herdado de familiares. Uma ou outra coisa foi adquirida a quem tinha muito e muito atirou para o lixo para se livrar de "inutilidades", na sua perspetiva. 
Vamos ao rádio que na imagem se vê. 
Como já disse, foi comprado pelo meu pai para me fazer companhia na doença da minha juventude, na década de 50 do século passado. Nele ouvi música, notícias e entrevistas, em Onda Média. Na Onda Curta, ouvia a comunicação entre navios em pleno mar alto, mas não tão alto quanto seria de desejar. 
Ao largo, os mestres das traineiras e de outros barcos de pesca conversavam entre si, via rádio, para indicarem os pesqueiros mais abundantes. Outros lamentavam-se com a pobreza das pescarias. Dizia-se que usavam códigos e tiques para enganar os concorrentes, dando indicações preciosas, contudo, aos colegas de empresa. Também ouvia comandantes bacalhoeiros que vinham de regresso ou partiam para os mares da Terra Nova e da Gronelândia. 
Depois, o meu rádio passou à história. A Frequência Modulada destroçou a sua utilidade. E foi para o sótão das coisas inúteis. Quando o via, lá se desprendiam as recordação. 
Há anos, entrevistei o prof. António Rodrigues, ele, sim, colecionador de rádios antigos, cada um com a sua história. O colecionador autêntico é assim. Tudo catalogado e estudado, tudo procurado e adquirido com critério. E no decorrer da conversa, veio à baila o meu rádio, que ele fez questão de ver e de o preparar para funcionar. E ali está. Devo-lhe essa atenção estimulante. E o rádio deixou o sótão e regressou ao meu convívio diário. No sótão também estaria bem, agora que o elevei à categoria, embora humilde, de meu refúgio caseiro. 

Fernando Martins

quinta-feira, 14 de junho de 2018

O rádio da minha doença



Na minha infância e juventude estive doente diversas vezes. Doenças que me obrigavam a tratamentos constantes, onde pontificavam as injeções. Durante alguns períodos, as injeções eram diárias. Mas o mais grave veio depois, em plena juventude, com os pulmões a obrigarem-me a ficar acamado, alternativa a seguir para o Caramulo. «Se fizer o que lhe mando, não será preciso ir para um sanatório, no Caramulo», disse o Dr. Ribau à minha mãe. E ela comprometeu-se. 
Mais de dois anos na cama, sem TV, que nem era sonhada, e sem rádio. Vingava-me na leitura, ajudado pelos meus amigos Ribaus, que me emprestavam os livros dos seus tios, já então falecidos, Dr. Josué Ribau e Padre Diamantino Ribau. Mas também do avô materno, Manuel Ribau Novo, lavrador e grande impulsionador e responsável pela construção da nossa igreja matriz. 
Quando o meu pai chegou da viagem,  passou pela porta do meu quarto. Não entrou e estranhei. A minha mãe apressou-se a informar-me que o meu pai estava a chorar por eu estar acamado. Dizia-se, assegurou-me ela mais tarde, que eu estaria condenado ao destino de tantos outros doentes pulmonares, que morreram na altura. 
Quando o meu pai chegou junto de mim já vinha a sorrir com os olhos vermelhos. E dias depois comprou este rádio para eu passar o tempo. Ficou instalado na mesa de cabeceira e só mais tarde é que ocupou o seu lugar definitivo na sala, ligado a uma antena amarrada no telhado de uns vizinhos amigos. Mas do rádio  falarei mais um pouco, um dia destes. 

Fernando Martins

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

NOTAS DO MEU DIÁRIO: Hoje acordei assim...

Do meu quintal

Hoje acordei tarde. Incómodos de saúde próprios da idade. O sol coado pela vidraça e pelas cortinas inundou o meu quarto, voltado para o astro rei, desde o despontar da aurora até ao seu mergulho no oceano. 
Uma volta pelo quintal, galinhas à cata de tudo, árvores de folha caduca ainda adormecidas, um sol acalentador, nada de ventanias, enfim, tudo dentro da normalidade esperada, mostrando que a vida, bonita quanto baste, me enche a alma, animando-me para a luta quotidiana. 
É muito agradável cirandar por aqui, sem preocupações de maior, ouvindo cães a ladrar como que a avisar que gostariam da liberdade plena, que isto de morar numa varanda fechada não dá alegria a ninguém, nem mesmo aos animais. 
A liberdade é uma sensação muito bonita, que os homens souberam conquistar ao longo de séculos, mas ainda há quem lute por ela sem êxito. Os tiranos, sádicos por natureza, ainda hoje bloqueiam os sonhos de quem quer voar para lá das fronteiras, físicas ou ideológicas, criadas com muros intransponíveis. 

08-II-2018

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

NOTAS DO MEU DIÁRIO – O MEU PAI


No silêncio natural da minha tebaida, ouve-se o zumbido do vento a confirmar o inverno que persiste. Já choveu com frio à mistura, e as notícias afiançam que é imperioso aquecimento para o corpo e para a alma. À minha frente crepita a lenha que arde na salamandra. As chamas aquecem o ambiente enquanto alinhavo esta nota, mas também iluminam sonhos e recordações da minha meninice. Parece-me que é sina da velhice que se instala no meu ser. E imaginei o meu pai sentado à conversa comigo, cigarro entre os dedos amarelecidos pela nicotina, sorriso sóbrio permanente, olhar perdido por vezes, decerto a reviver interiormente momentos  de mar bravo que tantas vezes enfrentou. 
O meu pai não era pessoa de grandes falas, gostava mais de ouvir, mas quando encontrava uma nesga ditava sentenças. Sinto a falta dele, sim senhor, porque a sua serenidade me impressionava, deixando marcas indeléveis na minha personalidade. Se aqui estivesse, como eu gostaria!, era ele que ateava a fogueira, que aconchegava a lenha, que alimentava a conversa, mesmo falando pouco. E até gostava que ele tivesse a minha idade. Seria o parceiro ideal para estas noites à lareira. 

FM

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Notas do meu diário: O mundo será aquilo que nós quisermos



1. Gosto do Natal pelo estímulo que nos dá para sermos bons. Tudo aponta nessa linha, tanto o ar que se respira como as melodias que nos envolvem, tanto  as mensagens enviadas e recebidas por parentes e amigos, tanto, ainda, para crentes como eu, pela ternura que se desprende do Menino-Deus dormindo tranquilo nas palhinhas da manjedoura, como nos ensinaram quando éramos menino como Ele. E, curiosamente, mesmo depois de desfeita a magia das prendas do Menino Jesus, a candura do presépio permanece inabalável na nossa vida, tornando-nos brandos e solidários uns com os outros. Somos meninos imensas vezes nos caminhos da nossa existência, que tão depressa se esvai. 

2. Ao darmos conta das notícias com que somos bombardeados durante as 24 horas do dia, não podemos ignorar que o mundo parece desfazer-se minuto a minuto com ódios, guerras, cataclismos, terrorismos, injustiças, fomes e perseguições atrozes. O que nos vale, e por vezes nem damos conta disso ou fingimos que somos ceguinhos, é que, com o horror, a bondade e a caridade são constantes, a verdade sobressai, a beleza tem lugar garantido, a justiça tem quem a defenda, a solidariedade e a paz têm quem as promova. E a terra, afinal, continua a girar em torno do sol há milhões e milhões de anos. O otimismo tem realmente razão de ser.

3. Celebrado o Natal, também festa da família, temos à porta o novo ano, alimentado pela esperança que brilha em cada um de nós. Esquecidas as agruras de 2016, agruras porventura provocadas pelas nossas inaptidões, pessimismos ou indiferenças, há que enfrentar 2017 com votos do nosso maior envolvimento naquilo que a todos diz respeito. Quer queiramos quer não, o mundo será aquilo que nós quisermos. Só que, frequentemente, deixamos que outros se antecipem aos nossos sonhos e projetos, tornando agrestes os trilhos de desejadas caminhadas, impedindo-nos assim de pensar e de agir em conformidade com a nossa vontade.

Bom Ano Novo para todos.

Fernando Martins

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Notas do meu diário: Hoje volto à liça

22 de dezembro



1. Já não ando por aqui, com textos próprios, desde 14 de dezembro. Alguns incómodos de saúde, felizmente não muito graves, impedem-me de seguir o meu ritmo normal. Hoje, porém, dei uma sapatada nesse incómodo e volto à liça habitual, que parar é morrer.

2. A época natalícia é, porventura, a que mais me toca. Sempre senti isso desde menino, desde quando a minha saudosa mãe me falava do nascimento do Menino Jesus, com o olhar repassado de ternura pelo Deus-Menino que haveria espalhar bondade, alegria, paz e fraternidade. De teologia, a minha mãe nada saberia. Muito menos seria capaz de me explicar por que razão quis Deus fazer-se homem há mais de dois mil anos. Mas sabia que era sua e nossa obrigação acolhê-Lo neste mundo maravilhoso, quiçá um vale de lágrimas para muitíssima gente. E depois, anunciava que no dia 25 de dezembro, começos do inverno, teríamos a grande noite, na qual não faltavam os presentes que o Menino se encarregaria de distribuir por todas as crianças do mundo. E assim era… 

3. Tenho por princípio ouvir música natalícia há muitos anos nesta quadra. É música diferente. Desde a popular que os simples criaram e nos ensinaram a cantarolar até à mais elaborada com fonte garantida nos grandes músicos. Toda ela é bela. E é curioso como por ela nos elevamos às alturas, tentando abafar mágoas das guerras e dos terrorismos, mesmo sabendo que não há milagres para que os homens se entendam se eles não quiserem nem souberem entender-se. 
Bom Natal para todos. 

domingo, 29 de maio de 2016

Notas do Meu Diário — Praia de Mira


Quando passo um fim de semana sem grandes preocupações dou-me conta de que à minha volta, bem perto de casa, o mundo gira carregado de emoções. Leio os jornais, online e em papel, e fico com remorsos de não ter saído ao encontro da vida das comunidades. Depois já é tarde. 
O PÚBLICO explicou ontem por que razão a Praia de Mira ostenta com vaidade e lógico orgulho a Bandeira Azul há 30 anos, a única praia portuguesa campeã nesta área. E até do mundo, alvitra o repórter Luciano Alvarez. As fotos são de Paulo Pimenta. 
Na reportagem sublinha-se que o segredo está nas pessoas e toda a população se sente corresponsável pelo galardão merecidamente atribuído ininterruptamente durante três décadas. 
Já fui vezes sem conta à Praia de Mira e gosto do que vejo. Mas esta reportagem do PÚBLICO vai obrigar-me a voltar lá, agora com outros olhos e de espírito aberto para perceber melhor o porquê desta beleza ao pé da porta. Depois direi.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Feira de Março

A animação é mais à noite
Para quem gosta das alturas
Para quem gosta de chegar às nuvens
Que grande verdade. A nossa região é assim
As inevitáveis farturas da Família Armando
Passei hoje pela Feira de Março. Foi a correr por impulso de consciência. O tempo foi passando e o encerramento está prestes a acontecer. Apesar de um pouco incapacitado, com dores nas dobradiças do esqueleto, arrisquei. Contudo, tive azar. Agora, a Feira de Março, com cerca de meio milénio de vida, adotou os horários do comércio citadino. De modo que os pavilhões, grandes e pequenos, mais dedicados ao comércio e indústria de maior porte e instituições, estavam encerrados. Apenas disponíveis as bugigangas, comes e bebes e as tradicionais farturas. 
Comidas as farturas, apenas duas para cada um, eu e minha mulher, regadas com água fresquinha e leve, uma voltinha que as pernas não dão para muito, umas fotos para treinar (estou sempre nessa fase), as aquisições da Lita para renovar algumas peças do trem da cozinha, e regresso a casa. Hoje contei com o apoio da bengala. Ao que chega um homem. Mas não me arrependi de ter ido.

sábado, 16 de abril de 2016

Notas do meu Diário: Papa com refugiados

Papa com refugiados 
Não há coração, por mais empedernido que seja, que não se comova com as cenas verificadas durante a visita que o Papa Francisco fez aos refugiados “encurralados” numa ilha grega. Eu confesso que me doeu imenso o sofrimento de tanta gente desesperada por não vislumbrar saída para um futuro feliz. Mundo de paz, de trabalho, de alegria e de felicidade. 
As crianças são as que mais sofrem. Olhares parados num infinito sombrio, olhares arregalados perante a indiferença da comunidade internacional, olhares de fome, olhares de fugitivos sem eira nem beira. 
O Papa Francisco foi lá. Falou, indicou caminhos, suplicou atenção para a maior catástrofe humanitária depois da II Grande Guerra Mundial. Levantou quem se prostrou a seus pés, recebeu um desenho de criança que quis guardar no seu gabinete de trabalho, agradeceu ao povo grego a solidariedade manifestada no acolhimento a milhares de refugiados. E o mundo viu tudo quase em direto, e compreendeu os alertas do Papa, e condoeu-se com a dor de quem deixou a sua terra massacrada pela guerra em busca do acolhimento que tarda.
Depois disto, das denúncias e dos apelos, já sabemos como é: os países e os seus líderes têm mais em que pensar…

Fernando Martins

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domingo, 27 de março de 2016

Notas do Meu Diário: Figueira da Foz


Forte de Santa Catarina 
A Figueira estará a mudar? Penso que sim. Há anos, nas férias da Páscoa, a Figueira da Foz era positivamente invadida por turistas nacionais e estrangeiros. Não tenho dados estatístico, mas é essa a minha perceção. Os restaurantes não enchem, o trânsito flui com regularidade, os estacionamentos não oferecem dificuldades. Junto da minha residência, nas Abadias, tudo parece calmo. Os apartamentos não dão sinais de moradores. 
Num restaurante que costumo frequentar, uma responsável dizia, para quem a queria ouvir, que o turismo tem merecido pouca atenção dos autarcas. Daí, dizia, o reduzido afluxo de visitante.
Este fim de semana, contudo, a Feira Medieval, que decorreu junto ao Forte de Santa Catarina, com tendas a condizer, desde artesanato a “cousas para beber” e comer, ofereceu alguma animação à cidade. Registos históricos, música, danças, gente vestida à moda de tempos de há séculos, burros de carga para miúdos aprenderem a arte de bem cavalgar toda a sela, teatro e cenas do quotidiano da Idade Média. 
Também por lá passámos, não para matar saudades, que somos desta época da União Europeia, agora de crise económica, social e política, mas que outrora se massacrava com guerras intestinas, com razões complicadas para o entendimento do pensar dos nossos dias. Se calhar, as mesmas razões dos conflitos de hoje, pautadas por interesses pessoais, regionais, invejas, ódios, vinganças, ânsia de poder, “glória de mandar” e “vã cobiça”, da tal  "vaidade a que chamamos fama”, como disse Camões.

Páscoa de 2016

domingo, 27 de dezembro de 2015

Notas do meu diário — Natal de 2015


1. Perdi a conta aos textos que escrevi por encomenda sobre o Natal. Há anos tive a coragem de declinar os convites que me chegavam nesta quadra talvez por recear repetir-me nas ideias, nos conceitos, na forma e no estilo. Julgo, porém, que podia e devia ter evitado a indelicadeza de dizer não, sobretudo a pessoas que muito estimo, mas na realidade fi-lo por receio de não dizer coisa de jeito. Contudo, gosto de escrever quando a vontade de o fazer me aperta ou quando sinto uma razão motivadora. Foi o caso deste ano...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Albufeira, espaço lendário




Os desdobráveis e brochuras dizem que Albufeira é um espaço lendário. Por aqui se foram fixando, através dos séculos, as mais variadas gentes, nomeadamente, visigodos, romanos, muçulmanos e outros, todos eles deixando as suas marcas na região, que ainda perduram no quotidiano deste povo, para não falar dos sinais do paleolítico, datados do VI milénio antes de Cristo, como pode ser confirmado no Museu Municipal de Arqueologia.
Com um clima privilegiado, acentuadamente mediterrânico, tornou-se nas últimas décadas um extraordinário pólo de desenvolvimento turístico, atraindo gentes dos mais variados quadrantes. Pelas suas ruas e ruelas, cirando pessoas que buscam descanso, calor e paz de espírito, que as águas cálidas do oceano proporcionam.
Vocacionada a região algarvia para o turismo, Albufeira assumiu o seu papel, voltando-se para quem chega, na mira de oferecer o que os veraneantes precisam e procuram. Comércio variegado, para todas as bolsas, mostra de tudo, desde o banal ao mais requintado. Ruas e esplanadas, largos e praias amplas, com pessoas a banhos de mar e sol, neste mês de Abril, dão-nos a sensação de um Verão antecipado, E se assim é nesta altura, em Primavera de nuvens por vezes carregadas e de ventinhos frios, como não será daqui a uns meses?

FM

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Um Alentejo mais verde

Ontem atravessei o Alentejo, região do nosso País tão expressiva. Dele se fala tanto com histórias que nos transportam a fantasias que não cansam. No horizonte, uma viagem até ao Reino dos Algarves, onde se acomoda mais o sol com uma temperatura amena. O Alentejo que ontem vi, por onde passei, deu-me a sensação de estar mais verde. Planície a perder de vista, como sempre, aqui e ali os meus olhos fixaram-se em oliveiras plantadas com planos previamente traçados, A simetria indiciava cuidados especiais. Grandes extensões de terra agricultada. Pastos verdejantes, com sistemas de rega operacionais. Gado que tosa a erva macia entre arvoredo ou no descampado. Montes abandonados também havia, mas a ideia com que fiquei garante-me que o Alentejo pode recuperar a vitalidade que já teve. Faço votos para que isso seja possível.
FM