Mostrar mensagens com a etiqueta Karl Rahner. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Karl Rahner. Mostrar todas as mensagens

sábado, 7 de agosto de 2021

O Cristo pensador

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 


Karl Rahner, talvez o maior teólogo católico do século XX, deixou escapar um dia, numa aula, uma daquelas observações que nunca mais se esquecem: na Igreja católica, é obrigatório confessar os pecados graves e mortais, mas ele não estava a ver que algum bispo ou padre ou superior religioso, ministro ou professor católico se tenha alguma vez confessado do pecado grave e, frequentemente, mortal, da ignorância culpada, da incompetência fatal, da inteligência irresponsavelmente menorizada.
Em geral, nas igrejas, faz-se pouco apelo à razão, à reflexão crítica, à pergunta. Como se a fé não tivesse de conviver com a inteligência, com a dúvida e com a pergunta. Os cristãos - mas isso acontece em todas as religiões - parece que ficam tolhidos na sua capacidade de perguntar. No entanto, Jesus morreu a rezar esta pergunta infinita que atravessa os séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?", e o filósofo Martin Heidegger, um dos maiores do século XX, escreveu que "a pergunta é a piedade do pensamento".
Na catequese e nas pregações da Igreja, parte-se, desgraçadamente, de um Cristo definido dogmaticamente e concebido à maneira de um robô, que chegou a este mundo já pré-programado e que não fez senão cumprir esse programa. Por isso, não precisou de pensar, não teve hesitações, não passou por tentações, não teve de decidir ele mesmo o que devia fazer para realizar a vontade de Deus, a quem chamava com ternura Abbá, querido Papá.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A forma do cristianismo em mudança


Por José Tolentino Mendonça

«Em tantas situações, nesta diáspora cultural onde estamos semeados, a única palavra verosímil é a do testemunho de uma vida vivida com simplicidade e alegria no seguimento de Jesus.»

Karl Rahner

O teólogo Karl Rahner escreveu que “A Igreja tem sido conduzida pelo Senhor da história para uma nova época”. Não se trata só de baixas drásticas nos indicadores estatísticos quando se compara a atualidade com aquele que já foi o quadro da vivência da Fé. A questão é bem mais complexa. Talvez o que o nosso tempo descobre, mesmo entre convulsões e incertezas, seja um modo diferente de ser crente, traduzido de formas alternativas nas suas necessidades, buscas e pertenças. Não estamos perante o crepúsculo do cristianismo, como defendem aqueles que se apressam a chamar pós-cristãs às nossas sociedades. Quem não se apercebe que o radical lugar do cristianismo foi sempre a habitação da própria mudança não o colhe por dentro. Mas há eixos que se vão tornando suficientemente claros para que seja cada vez mais um dever os enunciarmos e contarmos com eles. Podem-se apontar três: