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quarta-feira, 31 de julho de 2019

João de Barros - ALEGRIA

Para fechar o mês de Julho



Alegria! Alegria!
Ó céu do meu país
Onde as nuvens até são quase luminosas;
Ó sol de Maio a rir nos canteiros de rosas,
Ó sol alegre, ó sol vibrante, ó sol feliz,
Para quem o Inverno é um momento apenas;
Sol de ingénuas manhãs e de tardes serenas,
Ó sol quente de Julho, ó sol das romarias
Queimando e endoidecendo as multidões sadias;
Sol candente do Algarve; ó sol doce do Minho,
Florindo amendoais, ou a espumar no vinho;
Sol das searas de oiro e dos vergéis de Outono
Palpitantes de cor como um largo poente;
Sol que, ao dormir a terra o seu fecundo sono,
Lhe dás sonhos de luz, voluptuosamente;
Sol das eiras de milho e de roupa a corar,
Sol dos verdes pinhais e das praias trigueiras,
Ó sol moreno e forte a resplender no mar,
Tisnando as carnações mais as velas ligeiras;
Ó sol moreno, ó sol alegre, ó sol feliz,
Sendo ainda clarão na hora da agonia,
– Canta a glória da luz, canta a glória do dia,
Em todo o meu país!

João de Barros
In “Vida Vitoriosa”

domingo, 30 de agosto de 2015

Um poema de João de Barros

Na romagem ao poeta figueirense





AQUELE MAR

Aquele mar da minha infância,
bom camarada e meu irmão
a sua voz, o seu olor, sua fragrância
tanto os ouvi e respirei
que trago em mim o seu largo ritmo,
seu ritmo forte,
como se as praias onde espuma
quase me fossem
praias sem fim dentro de mim
ocultas praias, largas praias
do tumultuoso coração…

Aquele mar
meu confidente de horas idas
tudo escutava e adivinhava
do meu pueril e ingénuo anseio.
Nada sonhei que o não dissesse
– frémito de alma, grito ou prece –,
às madrugadas e aos poentes,
ao sol, às nuvens, ao luar,
ora nascendo, ora morrendo
nos longos, longos horizontes
em que se perdia o meu olhar…

Aquele mar
na calma azul, no temporal,
nunca mentia: era um só beijo,
hálito puro, largo harpejo
que me entendia e respondia
no seu inquieto marulhar…
Moço e menino, solitário,
rochas, falésias, areais
eu coroava-os de alegria
nos meus passeios matinais.
Ou nalgum barco pescador,
velas abrindo a todo o pano,
do oceano então era senhor,
largava a escota, navegava,
no vão desejo de aventuras,
que não chegava a realizar…
Mas era meu, e eu pertencia-lhe,
àquele mar,
era seu filho, escravo e dono,
sorria à sua Primavera,
amava a luz do seu Outono,
o vivo lume dos estios
a violência dos Invernos
longos clamores de temporais.
Aflito voo das gaivotas
junto das negras penedias,
também como ele me perdias,
nas tardes tristes e sombrias,
na bruma gélida das noites…
E a eternidade então ouvia
humano sonho sempre esquecido
na eterna voz que fala o mar.






NOTA: Edição de “Mar Alto” –  Figueira da Foz,
1 de Junho de 1969, no dia da Festa da Cidade ao poeta.



domingo, 17 de julho de 2011

Poema para este domingo



Figueira da Foz: Torre do Relógio


AQUELE MAR

Aquele mar da minha infância,
bom camarada e meu irmão
a sua voz, o seu olor, sua fragrância
tanto os ouvi e respirei
que trago em mim o seu largo ritmo,
seu ritmo forte,
como se as praias onde espuma
quase me fossem
praias sem fim dentro de mim
ocultas praias, largas praias
do tumultuoso coração…
Aquele mar
meu confidente de horas idas
tudo escutava e adivinhava
do meu pueril e ingénuo anseio.
Nada sonhei que o não dissesse
– frémito de alma, grito ou prece –,
às madrugadas e aos poentes,
ao sol, às nuvens, ao luar,
ora nascendo, ora morrendo
nos longos, longos horizontes
em que se perdia o meu olhar…
Aquele mar
na calma azul, no temporal,
nunca mentia: era um só beijo,
hálito puro, largo harpejo
que me entendia e respondia
no seu inquieto marulhar…
Moço e menino, solitário,
rochas, falésias, areais
eu coroava-os de alegria
nos meus passeios matinais.
Ou nalgum barco pescador,
velas abrindo a todo o pano,
do oceano então era senhor,
largava a escota, navegava,
no vão desejo de aventuras,
que não chegava a realizar…
Mas era meu, e eu pertencia-lhe,
àquele mar,
era seu filho, escravo e dono,
sorria à sua Primavera,
amava a luz do seu Outono,
o vivo lume dos estios
a violência dos Invernos
longos clamores de temporais.
Aflito voo das gaivotas
junto das negras penedias,
também como ele me perdias,
nas tardes tristes e sombrias,
na bruma gélida das noites…
E a eternidade então ouvia
humano sonho sempre esquecido
na eterna voz que fala o mar.

João de Barros

NOTA: Edição de “Mar Alto” – Figueira da Foz,
1 de Junho de 1969, no dia da Festa da Cidade ao poeta.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

PINTURA DE ZÉ PENICHEIRO

No CAE da Figueira da Foz, até 5 de novembro

Ainda fui a tempo...



Pintura de Zé Penicheiro está patente ao público no Centro de Artes e Espectáculos (CAE), da Figueira da Foz, até 5 de Novembro, precisamente na sala que tem o seu nome. A exposição foi inaugurada em 14 de Outubro e contou, decerto, com muitas visitas, ou não fosse o artista marcado por aqueles ares, onde passou a sua juventude. Fui ver e apreciar a exposição, quase na altura do encerramento, mas ainda fui a tempo. Gosto de ver a arte de Zé Penicheiro porque ela toca, com muita sensibilidade, o que nos diz respeito. O mar, a ria, a água, gente do povo, gestos e sombras, cores e traços que fazem parte do nosso quotidiano ali estão. Como convite a quem passa pelo CAE, há um excerto de um poeta figueirense, João de Barros, que reflecte um pouco o que está em exposição. Diz assim: 

“Aquele mar que vês além 
é sempre o mar da tua infância 
é sempre o mar da tua vida…” 

In “Eterno Mar” 

Quando aprecio a pintura deste artista, agora radicado em Aveiro, revivo cenas e acontecimentos de há muito, recordo silhuetas de pessoas e de barcos que povoam a minha imaginação, sinto o palpitar de tradições que podem perder-se. Por isso, sempre que se anuncia uma sua exposição, lá estou eu, na certeza de que vou gostar. Mesmo que haja uma repetição de temas e de figuras, de motivos e de cores. Afinal expressões da sua arte.

Fernando Martins