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sexta-feira, 7 de abril de 2023

SEXTA-FEIRA SANTA



Traído pelo seu discípulo Judas, Cristo é preso, sob a acusação de semear desordem pública por causa dos seus ensinamentos e, especialmente, “porque se fez Filho de Deus”, como dizem os responsáveis judaicos. Interrogado por Pôncio Pilatos, governador romano da região, açoitado por soldados, é condenado à morte na cruz, pena reservada a criminosos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

A escolha: As riquezas ou seguimento de Jesus

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XXVIII do Tempo Comum

Vem e segue-me

«A escolha é uma regra da vida que nos brinda vários caminhos para satisfazer as aspirações profundas do coração. Preferir é dizer sim ao que corresponde e dizer não ao que lhe é contrário.»

“Que hei de fazer para alcançar a vida eterna”?, pergunta um jovem galileu que apressado sai ao encontro de Jesus no caminho para Jerusalém. Cumpre os mandamentos, responde. Já o tenho feito. Sim, rememora Jesus os que se referem à relação com os outros e olha-o com simpatia, acrescentando: Uma coisa te falta, vende os teus bens e dá o resultado aos pobres. Assim terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me. O jovem fica triste e retira-se porque era muito rico.
A escolha é uma regra da vida que nos brinda vários caminhos para satisfazer as aspirações profundas do coração. Preferir é dizer sim ao que corresponde e dizer não ao que lhe é contrário. Salomão opta pela sabedoria em vez do poder, das riquezas e de uma longa ( 1ª leitura); a Palavra de Deus, ajuda a discernir e a fazer a escolha certa (2ª leitura). No Evangelho, Jesus propõe ao jovem (a nós) que faça livremente a escolha que lhe proporciona o que buscava.

sábado, 25 de setembro de 2021

Gafanha da Encarnação - Igreja Matriz

 

Estive, há dias, na Igreja Matriz da Gafanha da Encarnação. Já por lá passei várias vezes e não me canso de apreciar este belo espaço que acolhe os que chegam, convidando-os ao silêncio e à contemplação. Aquele Cristo sai da cruz ressuscitado e salta para o mundo ao encontro de cada um de nós. Está vivo e de braços bem abertos para nos  abraçar e aconchegar.

domingo, 4 de abril de 2021

Não somos para a morte

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO
 
O que haverá de original naqueles que fazem da Ressurreição de Cristo um princípio de vida pessoal e de intervenção social?

1. Por causa da crónica do passado domingo, um velho conterrâneo telefonou-me para me dizer o seu desconsolo com a Páscoa de agora, que já não tem graça nenhuma.
Não se referia às missas mascaradas. Manifestou-me simplesmente as saudades da maior e mais antiga festa da sua aldeia, onde agora raramente vai, testemunhando a sua progressiva desertificação. O tempo dos foguetes, acompanhados com os sinos alegres da Igreja, a banda de música entusiasmada a levar, em cortejo, a cruz enfeitada e luminosa a todas as casas, por caminhos transformados em tapetes de verdura e flores, para levar a todos a espantosa notícia – Aleluia, Cristo ressuscitou, aspergindo a família e a casa com água abençoada –, é um tempo que já só existe no museu da sua memória!
O mundo rural da nossa infância não tem grandes hipóteses de transfiguração religiosa. Para as comunidades católicas urbanas, é preciso escutar e interrogar o Prof. Alfredo Teixeira. É um antropólogo, músico e teólogo que não se alimenta de lamúrias, mas de criações, no seio da contemporaneidade, estimulado pelos contributos pioneiros da linguagem litúrgica do saudoso dominicano, Frei José Augusto Mourão.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Morte de Jesus - primeiro e definitivo passo para a nossa redenção

Museu de Santa Joana. Cristo que muda de expressão

Três horas da tarde. À mesma hora, numa sexta-feira,  há mais de dois mil anos, Jesus Cristo morreu na cruz. Morte infamante que o Filho do Homem aceitou para remir todos os pecados da humanidade. Daquele tempo, de hoje e de sempre. Jesus aceitou as acusações da hierarquia judaica e a sentença decretada por um político romano covarde, sem protestos e sem revoltas. Sem reivindicações e sem testemunhas que abonassem o Seu bom comportamento na sociedade. Também sem advogados que pudessem falar do seu amor à justiça, à verdade, à paz e ao amor. Sem o testemunho de cegos a quem Ele deu a possibilidade de ver, de surdos a quem Ele deu o dom de ouvir. De leprosos que Ele limpou, de mortos que Ele fez regressar à vida. De gente a quem deu de comer, quando pouco havia para repartir por milhares de pessoas que deixaram tudo para O escutar.
Jesus, com a Sua entrega ao suplício por nós, quis assumir o sacrifício, séculos antes profetizado, para redimir os pecadores, oferecendo-lhes, como caminho de libertação, um mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.” O fundamento da civilização do amor, que ainda não soubemos construir.
Com o Seu sacrifício supremo, Deus feito Homem veio mostrar a cada um de nós e a todos que até a morte pode ter sentido. Pela Sua morte, veio a garantia de uma vida nova para todos, assente na certeza da ressurreição que Ele próprio experimentou três dias depois. É por isso que os crentes, os que acreditam que Jesus é o Redentor da humanidade, veem na Sua morte de cruz, ao lado de dois criminosos, o sinal de resgate que nos faz filhos de Deus e herdeiros da vida eterna.
A nossa tristeza desta hora, humanamente compreensível, vai passar muito em breve pela alegria da vitória de Cristo sobre a morte. Com a ressurreição de Cristo, na Páscoa da libertação, culminam todas as tristezas, todas as dúvidas, todas as hesitações. E todos então poderemos cantar aleluias.
A morte de Jesus Cristo é, verdadeiramente, o primeiro e definitivo passo para a nossa redenção.

Fernando Martins

domingo, 3 de março de 2019

Bento Domingues: Vita Mutatur Non Tollitur (1)

Frei Bento Domingues

"O importante não é saber se o Papa vai vencer ou vai ser derrotado, mas se vamos ter ou não quem se apaixone pela paixão do Nazareno"


1. Para o filósofo L. Wittgenstein, acreditar em Deus significa reconhecer que a vida tem sentido. Hoje, vivemos obcecados pelo futuro que a ascensão da inteligência artificial e a biotecnologia nos desenham. O filósofo tem uma observação que, segundo me parece, conserva toda a pertinência: "sentimos que, mesmo que todas as possíveis questões científicas obtivessem resposta, os nossos problemas vitais não teriam ainda sido sequer tocados".
Concelebro, muitas vezes, a Eucaristia. Para mim, não é uma rotina devocional nem uma obrigação. Implica uma comunidade agradecida por acreditar que a morte não é a última palavra sobre o itinerário de uma existência humana. Essa convicção não é da ordem da razão, não é a conclusão de qualquer elaboração científica. Muitos chamam-lhe “fé na ressurreição”. São tantos os equívocos acerca do uso dessa palavra que não insisto muito nela.
Jesus Cristo teve um percurso breve, atribulado e que terminou cravado numa cruz, a morte mais cruel da antiguidade. Não morreu, foi assassinado mediante um julgamento iníquo. Sentiu-se abandonado pelo céu e pela terra e, sobretudo, sentiu o fracasso da sua luta. No entanto, teve folgo para perdoar aos autores da sua morte e para prometer o paraíso a um companheiro de infortúnio. Foi morto, mas, se estivermos atentos às narrativas da Paixão, a sua morte ia carregada com a vida de todos, com esperança para os próprios inimigos. Queixando-se do abandono de Deus, foi nas Suas mãos que lhe entregou o seu destino. A esperança contra toda a esperança foi o seu último suspiro.
Depois, as mulheres vieram dizer, não apenas que ele não estava no sepulcro, onde fora colocado, mas que as convocou para anunciar aos discípulos que estava vivo e era preciso continuar o caminho por ele aberto. As mulheres estão na origem do movimento cristão. São elas as pregadoras do Evangelho na sua novidade contra a morte.
Frei José Augusto Mourão escreveu um belo poema para uma música do Convento de La Tourette, o célebre convento de Corbusier. É cantado muitas vezes na minha comunidade dominicana: "…Ao pé de Deus hei-de sempre viver/ com Deus cheguei e com ele vou partir" (2.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Reflexão de Georgino Rocha: Olhos fixos em Jesus

"O Evangelho é a proclamação do amor 
com que somos amados"


Jesus regressa a casa, após a sua primeira viagem missionária na Galileia. Fora uma experiência rica, de que se destaca a visita a aldeias e o encontro sanador com pessoas, o baptismo no rio Jordão e a permanência no deserto, onde se debate com tentações diabólicas que “atingem” as suas opções para realizar a missão de que se sentia portador. A reacção popular fora muito positiva. O seu nome torna-se conhecido e a fama apreciada. “Era elogiado por todos”. Jesus volta da Galileia, com a força do Espírito, que se havia manifestado no seu baptismo.

Lucas, o autor do relato, não nos deixa referências à partilha de episódios e de vivências com a família. Quer centrar a narração na ida à sinagoga de Nazaré, evitando essas curiosidades. Por isso refere a abrir a cena: “Segundo o seu costume, entrou na sinagoga a um sábado e levantou-se para fazer a leitura”. Vamos seguir o desenrolar da celebração protagonizada por Jesus, detendo-nos em pontos-chave para a nossa participação litúrgica.

As leituras de hoje trazem-nos à memória com grande vigor e clareza a realidade admirável da assembleia do povo reunido para celebrar a fé e viver a missão. A primeira relata a que se realizou no tempo de Esdras e Neemias, em Jerusalém, no largo em frente da Porta das Águas, cinco séculos antes da nossa era; a segunda é de uma beleza rara e descreve o que é a Igreja, visualizando a função de cada de nós e recorrendo à composição do corpo humano. “Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros do corpo, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede em Cristo”. E São Paulo exorta os cristãos a que reconheçam os dons recebidos e os coloquem ao serviço de Deus na comunidade e nos espaços onde vivem.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Natal para um mundo novo



A expectativa de quem sonha um mundo novo, assente n’Aquele que é Caminho, Verdade e Vida, pode gerar a alegria que nos enriquece. O saber que Jesus Cristo vem sempre a caminho e ao nosso encontro, para secar lágrimas, acalentar sonhos de paz e ensinar fraternidade, mais valorizará a esperança que nos envolve e nos entusiasma neste Advento. Tanto mais, quanto é certo que o mundo perdeu o Norte da justiça e teima em não encontrar caminhos de paz e de amor solidário, onde todos se comportem em conformidade, não havendo lugar para mentiras, hipocrisias e indiferenças em relação a quem nunca experimentou a ternura do natal da fraternidade.
A expectativa que nos anima, que é certeza da alegria que vem com hinos de glória ao Deus-Menino, dá-nos vitalidade e coragem para lutar, com as armas da bondade e da compaixão, pelo Reino de Deus que pode estar, se quisermos, ao alcance de toda a gente que labuta na terra que nasceu com ânsias de paraíso.
Bom Natal para todos, são os meus votos muito sinceros.

Fernando Martins

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Jesus premeia o desejo do cego mendigo

Georgino Rocha

 Santo Agostinho, adianta por sua vez: “Que pode a alma desejar mais ardentemente que a verdade? De que outra coisa pode o homem sentir-se mais faminto? Para que deseja ele o paladar interior, senão para discernir a verdade, para comer e beber a sabedoria, a justiça, a verdade, a eternidade?"

Jesus vive um dia normal da sua missão. Acompanhado da multidão, atravessa Jericó, a cidade onde Zaqueu se empoleirou para o ver e onde já havia curado um cego. Cidade cheia de vida, próspera na agricultura e no comércio, onde sobressaem palmeiras e árvores aromáticas. Estava situada junto ao rio Jordão, a uns escassos 27 quilómetros de Jerusalém. Jesus, calado, dá sinais de fazer um exercício de memória da viagem percorrida e de antevisão do que lhe pode acontecer na cidade capital. Avança como que embalado pelo ritmo da multidão. À saída, depara-se com a surpresa do dia que fica para a história. Alguém, de modo pouco cortês, grita de longe: “Jesus, Filho de David, tem piedade de mim”. E Jesus, de agora em diante, assume o comando da acção, narrada por Marcos sem floreados (Mc 10, 46-52). Em cena ficam apenas duas pessoas: Jesus e Bartimeu. E o que se segue vai ser a nossa reflexão dominical.

O narrador fornece dados precisos do ocorrido: Jesus está na periferia da cidade, símbolo de tantos lugares onde vivem os menos endinheirados, os mais empobrecidos. (Não são os provocantes bairros de luxo, com cerco e segurança privada). Aqui, está sentado Bartimeu, cego e mendigo. Outro símbolo de grande alcance, onde se podem rever milhões e milhões de seres humanos, nossos contemporâneos. Símbolo dos portadores de cegueira a todos os níveis, também religiosa. De quem quer começar a ver com os olhos de Jesus Cristo. A nós, portanto.

domingo, 23 de setembro de 2018

Não varrer a casa ao diabo (1)


"O Papa não é o diabo como os tradicionalistas pensam, 
nem vai deixar o diabo à solta na Igreja, como desejam."

1. As narrativas do Novo Testamento insistem em dizer que a linguagem que o Nazareno preferia era a das parábolas. É muito incómoda porque não se lhe pode fixar um sentido único. Muitos cristãos lamentaram, e ainda lamentam, que os autores dos textos dos Evangelhos tenham perdido tempo com histórias enigmáticas. Seria preferível um catecismo, com uma mensagem bem precisa e um catálogo de deveres e proibições, válidos para todos os tempos e lugares. A história da Igreja seria construída de forma linear, sem altos nem baixos, serena como uma pedra. O zero seria o seu único número.
Não foi assim que aconteceu. Jesus abriu uma nova Era de criatividade. Não fechou a história dos povos e das culturas. As parábolas são contra a clausura do sentido dos gestos e das palavras. Todas, porém, encerram inesgotáveis possibilidades de construir a vida humana, individual e social, no horizonte da busca da felicidade, encontrando-a não só na alegria que se recebe, mas, sobretudo, na que se dá. Os Actos dos Apóstolos atribuíram a Jesus uma expressão incrível: há mais alegria em dar do que em receber. Nos Evangelhos já existia uma lei paradoxal: quem ganha (à custa dos outros), perde e quem perde para que os outros possam viver, ganha.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Sentidos abertos e atentos à realidade comunicam melhor

Georgino Rocha

Jesus vem para o mar da Galileia, depois de andar por terras de pagãos desconsiderados pelos judeus. Já não é a primeira vez. Quer afirmar por atitudes e palavras que a novidade de Deus é para todos, a salvação é universal. Afirmação que contraria directamente as convicções mais arreigadas dos fiéis observantes da lei judaica. E ergue-se logo a questão, tantas vezes repetida ao longo da missão pública de Jesus: De que lado está a verdade? Quem interpreta com mais fidelidade a tradição das origens e quer reajustar as práticas actuais àquele sentido criacional?

No caminho, apresentam-lhe um surdo-mudo e fazem-lhe o pedido de impôr as mãos sobre ele. São gente anónima, que faz sua a situação precária deste homem. São gente que, mesmo ali, se vê privada da presença de Jesus que se retira com ele para um local próximo, mas afastado. São gente que, paciente e confiante, aguarda o resultado deste encontro tu-a-tu, de diálogo pessoal e da possível acção curativa. É gente que, no regresso de ambos e perante o sucedido, reconhece o alcance do gesto de Jesus, exlamando “cheios de assombro: Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e os mudos falem”. Quer dizer: vêem o alcance do benefício alcançado por uma pessoa particular e abrem-lhe o horizonte universal.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Bento Domingues — Natal: biologia ou cristologia?


«Jesus Cristo realiza, corrige e supera as esperanças não só de Israel, mas de toda a humanidade. O movimento cristão é um movimento de saída universalista. Está na sua lógica derrubar os muros criados entre povos e religiões. Jesus Cristo é, na sua própria pessoa, a reconciliação»

1. A Eucarística do passado Domingo começou com um manifesto poético e musical centrado na alegria do Evangelho. Esta flor da fé cristã é, muitas vezes, sufocada por regras, preceitos, proibições e rezas que a cobrem de tristeza. Quando um membro da assembleia celebrante lembrou que o Papa Francisco fazia anos, o canto e as palmas festejaram nele a esperança de um mundo outro e de uma Igreja outra, interpelada a destruir todos os muros.
Estaremos hoje a celebrar os anos do menino Jesus? Não são as incertezas históricas acerca do dia, do ano e do lugar de nascimento que impedem essa festa. O Natal é a evangelização inculturada de uma festa cósmica e política do império romano [1]. Não se manifesta como a primeira preocupação dos escritos cristãos.
S. Paulo não mostrou particular interesse pelo itinerário terrestre de Jesus de Nazaré. Era, como toda a gente, nascido de uma mulher. Neste caso sob a Lei judaica que ele julgava ultrapassada. Nada indica que o tivesse conhecido pessoalmente. A sua experiência é de ter sido sacudido até às raízes por Jesus ressuscitado. Viver com Ele era o que lhe interessava e convencer as outras pessoas de que a morte tinha sido vencida. Esta não era a última palavra sobre a existência humana [2]. A ressurreição realizava o eterno encontro com Jesus na glória do Deus vivo. Para S. Paulo, o mundo estava a chegar ao fim. Habitar com Ele para sempre era o seu grande desejo. A sua tarefa evangelizadora destinava-se a mostrar a todos que a última estação da viagem da vida não era a morte. Essa era só a penúltima. Insiste, na primeira Carta aos Tessalonicenses, o primeiro escrito do Novo Testamento (NT), que nem os que morreram há muito tempo nem os que morrem agora estão perdidos. O Senhor virá ao encontro de todos. Sente a urgência em dizer isto por causa da alegria que descobriu nessa esperança [3]. Em questão de prazos, S. Paulo tinha-se enganado. Na Segunda Carta tem de corrigir a sua precipitação, pois o resultado foi catastrófico: alguns dentre vós levam vida à toa, muito atarefados a não fazer nada. A ordem que vos deixei foi esta: quem não quer trabalhar que não coma [4] e acabam as vãs especulações.
S. Pedro, na Segunda Carta, resolve a questão do tempo de forma muito mais aleatória: um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia [5].

2. Como o fim nunca mais vinha, as comunidades cristãs não podiam viver só da pregação de que o crucificado era, agora, o ressuscitado para sempre [6]. Não tinham conhecido Jesus de Nazaré nem acompanhado o seu percurso. Era preciso quem contasse o que se tinha passado para quando já não houvesse ninguém para dizer: eu vi, eu sei como foi. Sem isso, como interpretar o sentido da revolução do Nazareno para os novos tempos?
Assim nasceram, no seio das comunidades cristãs, diversas pela geografia e pela cultura, diferentes narrativas. S. Lucas explica essa situação de forma muito clara: “Visto que muitos já tentaram compor uma narração dos factos que se cumpriram entre nós — conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e servidores da Palavra —, a mim também me pareceu conveniente, após acurada investigação de tudo, desde o princípio, escrever-te, de modo ordenado, ilustre Teófilo, para que verifiques a solidez dos ensinamentos que recebeste” [7].
Nasciam, assim, as Cristologias Narrativas. A primeira, a de S. Marcos, começa por apresentar Jesus a pregar o Evangelho de Deus. O tempo está pronto e o Reino de Deus está próximo. Mudai de mentalidade e acreditai no Evangelho.
Marcos começa pelo fundamental. Mas a curiosidade não está satisfeita. Este Jesus nasceu adulto? Mateus e Lucas escreveram aquilo a que se chama, impropriamente e de modo diverso, os Evangelhos da Infância. Apresentam a alegria do nascimento de Jesus e de João Baptista. Aí, começam as confusões.
Ao não se ter em conta que são admiráveis narrativas teológicas, desliza-se para uma biologia de conveniência que acaba por ocultar o essencial. Continua-se a discutir a forma como Jesus foi concebido e como nasceu. Não faltaram as declarações mais absurdas: Nossa Senhora, virgem antes, durante e depois do parto. Jesus passou por Maria como o sol pela vidraça.
Ao evitar a reflexão, sobre os textos, sobre o seu tecido simbólico e sobre os seus jogos de linguagem, recorre-se a algo muito certo — a Deus nada é impossível —, mas resvala-se para concepções pseudomilagrosas que deixam mal o Espírito Santo, Maria de Nazaré, Jesus e S. José. Perdeu-se a beleza e a verdade dessas espantosas narrativas. Quando se procede assim, pode-se perguntar: então por que é que não se ficou apenas com o Evangelho de S. Marcos?

3. Os textos do NT interpretam o sentido cristão do Antigo: Jesus Cristo realiza, corrige e supera as esperanças não só de Israel, mas de toda a humanidade. O movimento cristão é um movimento de saída universalista. Está na sua lógica derrubar os muros criados entre povos e religiões. Jesus Cristo é, na sua própria pessoa, a reconciliação. Como dirão os textos: Ele é a nossa paz [8]. Estas declarações interpretam o sentido da prática histórica de Jesus de Nazaré. Isto que se nota nas narrativas da sua vida adulta não é fruto do acaso. É fruto de um desígnio de Deus. O seu agir espantoso não era uma sucessão de milagres. Era Deus no tecido de uma vida humana, igual a nós excepto na maldade. Nasce humano e foi crescendo em idade, sabedoria e graça, perante o espanto de Maria [9]. O Emmanuel não é só Deus connosco, é um de nós.
Não nasce só de Israel e para Israel. Nasce de toda a humanidade e para toda a humanidade, como mostra a genealogia de Lucas: filho de Adão, filho de Deus [10].
As narrativas do NT nasceram para continuar a prática de Jesus na vida das pessoas e das comunidades. Isso aconteceu há dois mil anos. Às vezes caímos na tentação de pensar que basta uma nova linguagem da Fé para os dias de hoje. É um pensamento justo e curto. São indispensáveis narrativas que contem as histórias de vida do encontro do Evangelho da Alegria com as situações actuais da nossa humanidade. Se não exprimirem esse encontro real, só podem produzir reportagens de literatura barata.
O Papa Francisco sabe que a Igreja não tem de resolver os problemas de há dois mil anos. O que o preocupa é o casamento vital da Igreja com as situações que precisam de um hospital de campanha. O importante não são as festas do Natal, mas a transformação da vida numa festa para todos. Como ele diz: “A luz de Natal és tu quando com uma vida de bondade, paciência, alegria e generosidade consegues ser luz a iluminar o caminho dos outros.”

Boas Festas!

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

[1] José Manuel Bernal, Para Viver o Ano Litúrgico, Gráfica de Coimbra, 2001
[2] Cf. 1Cor 15
[3] 1Ts 4, 13-18
[4] 2Ts 2 – 3
[5] 2Pd 3, 8-14
[6] 1Cor
[7] Lc 1, 1-4
[8] Ef 2, 14 ss
[9] Lc 2, 41-52
[10] Lc 3, 23-38; comparar com Mt 1, 1-17

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Georgino Rocha — Ser ou não ser por Jesus


O discurso missionário de Jesus, apresentado por Mateus, atinge o seu ponto culminante com o desafio à liberdade dos discípulos a fim de se decidirem por Ele ou não, de serem ou não dignos d'Ele, de consagrarem a vida à Sua causa. (Mt 10, 37-42). O eco do desafio lançado, de forma tão desconcertante, faz estremecer certamente o coração dos apóstolos, pois o contraste é radical entre os pontos de referência aduzidos: o amor aos pais e aos filhos, a cruz e suas circunstâncias, o perder ou ganhar a própria vida. Jesus toca as fibras mais sensíveis do ser humano e quer uma atitude definitiva. Da parte de quem livremente deseja ser discípulo missionário, cristão autêntico e não apenas de nome, por ter sido baptizado ou fazer algumas práticas religiosas. “Nem os laços familiares, nem as ameaças à própria vida, nada pode impedir o discípulo de testemunhar a justiça do Reino”, escreve Frei Raimundo de Oliveira, em comentário a esta passagem do Evangelho.

A liberdade surge em todo o seu esplendor na atitude de quem se decide por seguir Jesus, ainda que venha a correr riscos, como bem ilustra a narrativa dos Evangelhos e a história da Igreja. A comunidade eclesial constitui o seu rosto irradiante e atraente. E a família cristã a sua realização doméstica, uma vez que assenta no amor conjugal heterossexual que os esposos livremente assumem e cultivam. E o cristão fiel a testemunha nas suas atitudes e intervenções de cidadania responsável. Quanto caminho andado no rumo indicado por Jesus! E quanto não falta ainda percorrer! “É melhor, dizem os antigos, um coxo andar devagar, mas pelo caminho certo do que um corredor olímpico por atalhos desviados. O coxo sempre avança em direcção à meta; o atleta quanto mais corre, mais se afasta”. Sábia sentença que nos estimula a avançar no apreço pela liberdade iluminada pelo Evangelho.

O amor aos pais e aos filhos não é negado, apenas re-situado. Supõe uma escala de prioridades. Fazer e viver de acordo com esta escala é exigente, mas dignificante. Amar Jesus para poder definir bem as prioridades, pois com ele se aprende a amar incondicionalmente, a viver um amor de doação total e definitiva. Até dar a vida pelo outro. Que bom seria que as nossas relações familiares estivessem sempre impregnadas deste amor.

Jesus conhece bem a Lei e os Profetas onde se repete o mandamento de honrar pai e mãe ( Éx 20, 12; Lev 19, 3; Deut 5, 16). A este mandamento está ligada uma promessa de longa vida; e também uma ameaça de condenação a quem amaldiçoar o pai ou a mãe ( Éx 21, 17; Lev 20, 9; Deut 27, 10). O livro do Eclesiástico convida a cuidar dos pais na sua velhice com desvelo admirável (Ecleo 3, 1-16). Todavia, quer que os discípulos dotem este amor com uma nova dimensão: a do amor incondicional semelhante ao seu. Nas alegrias e tristezas; nos momentos de provação e nas horas de felicidade. E em caso de oposição inconciliável, façam uma opção responsável, livre. Fruto da avaliação do que está em causa. 

Para isso, Jesus adianta a sua mais-valia com muita clareza: Atrai, mas sem forçar. Acompanha com delicadeza; nada do que é nosso Lhe é estranho. "Cuida de nós, vela por nós, protege, ampara, envia ajuda e socorro através da Igreja e dos outros. O modo de nos ajudar, de vir até nós nem sempre é aquele que desejávamos. Mas Ele com o seu Coração amigo e atento, sabe bem o que faz e como faz. É Amigo exigente – o amor quando é sincero é exigente; neste sentido Jesus não é um “amigo fácil”; segui-Lo é aprender a saber perder para ganhar, saber morrer para viver.” (Padre Joaquim Batalha aos paroquianos da Lourinhã).

A opção por Jesus vai acompanhada de uma promessa: a do acolhimento hospitaleiro, a da preferência pelos pequeninos, a da sintonia com Deus Pai que não regateia o seu amor misericordioso a ninguém. Acolhimento tão necessário, hoje. Preferência tão apelativa, nas circunstâncias actuais. Sintonia ritmada, sempre. Ser por Jesus faz-nos mais humanos. Experimenta!

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Escutar Jesus que me chama pelo nome

Reflexão de Georgino Rocha


A cura do cego de nascença provoca uma subida de tensão entre os fariseus e Jesus. A oposição é clara. O povo inclina-se para dar razão ao proceder de Jesus e distanciar-se dos mestres da Lei. A polémica sobe de tom e a linguagem também. O confronto avizinha-se e estala na Festa das Tendas. Jesus pronuncia o seu último discurso em público, o discurso do Bom Pastor, que João, o narrador do episódio, recompõe e relata de modo admirável. Discurso em que Jesus recorre a metáforas de sabor bíblico e reafirma a sua identidade. “Eu sou a porta”; “Eu sou o bom pastor”. Afirmações repetidas duas vezes. Em contraposição, os outros ficam excluídos e desautorizados. Que sentimentos terão assaltado o coração dos ouvintes e, sobretudo, o dos fariseus!

A narrativa destaca a diferença de atitudes entre os protagonistas da parábola. Jesus, o bom pastor, que conhece e chama pelo nome cada ovelha do rebanho; que entra no redil e faz sair as que são suas, as conduz nos caminhos da liberdade e da esperança aos campos de pastos verdejantes; que vela por cada uma e está pronto a ir em busca de alguma que se tenha tresmalhado; que enfrenta as adversidades e defende, especialmente as mais débeis, na sua integridade; que vive com elas uma relação intensa de doação plena pois quer que tenham vida em abundância. Jo 10, 1-10. O Papa Francisco comenta com rara sabedoria esta parábola, realçando a saída missionária da Igreja para ser uma espécie de hospital de campanha num mundo destroçado por tantas guerras.

A propósito da celebração do 54º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que hoje ocorre, afirma o Santo Padre: “Gostaria de me deter na dimensão missionária da vocação cristã. Quem se deixou atrair pela voz de Deus e começou a seguir Jesus, rapidamente descobre dentro de si mesmo o desejo irreprimível de levar a Boa Nova aos irmãos, através da evangelização e do serviço na caridade. Todos os cristãos são constituídos missionários do Evangelho. Com efeito, o discípulo não recebe o dom do amor de Deus para sua consolação privada; não é chamado a ocupar-se de si mesmo nem a cuidar dos interesses duma empresa; simplesmente é tocado e transformado pela alegria de se sentir amado por Deus e não pode guardar esta experiência apenas para si mesmo: «a alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária». EG 21.

Quem não alimenta estas atitudes – os fariseus e outros grupos – é ladrão e salteador, aproveita-se do rebenho para se apascentar, abandona-o em caso de perigo, deixando-o exposto à ferocidade dos atacantes que destroçam, afugentam e matam. Os visados, ao serem tratados como bandidos, devem ter sentido uma reacção de furor que vai germinando no seu coração. A sequência dos factos mostra que a decisão de eliminarem o Bom Pastor está a consolidar-se.

Escutar a voz de Deus que chama. É preciso seguir a Cristo, o Bom Pastor e acompanhá-lo na sua paixão pelo bem da humanidade. “Tenho ainda outras ovelhas”; “Tenho de as conduzir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor”. Grande certeza de Jesus que é desejo e oração. E, desde então, uma bela história de amor se vai escrevendo com nomes conhecidos e outros nem tanto, na simplicidade da vida diária e em momentos de excepcional importância. Homens e mulheres, santos e pecadores perdoados. Padres e freiras, pais de família e filhos abençoados.

Hoje, ocorre a celebração do dia da Mãe. Que feliz coincidência com a festa do Bom Pastor. “O primeiro amor” que toda a pessoa experimenta é o dos pais, mas é “sobretudo no sorriso materno” que a criança encontra a primeira e feliz mensagem de acolhimento, a “afirmação de que existir é um bem”, a confiança tranquila e serena numa “verdadeira relação de amor” que sustenta, que dá “sentido à existência e forma, humana e espiritualmente”, afirma a Comissão Episcopal Portuguesa do Laicado e da Família. E prossegue: “É nosso desejo destacar o valor fundamental das mães na família, na sociedade e na Igreja, e lembrar que o seu estatuto e missão bem merecem a melhor atenção a nível político, legislativo, laboral e social, para que se sintam mais apoiadas e dignificadas na sua tarefa insubstituível de humanização da sociedade”.

Uma sociedade sem as mães “seria uma sociedade desumana” porque as mães testemunham sempre, “mesmo nos piores momentos, a ternura, a dedicação, a força moral”. Na escola do Bom Pastor, aprende-se o amor de doação incondicional para que a vida seja feliz e abundante para todos.

sexta-feira, 31 de março de 2017

Carta Aberta a Lázaro de Betânia, Amigo de Jesus

Reflexão de Georgino Rocha


Senhor Lázaro

Desculpe a minha ousadia, mas tenho necessidade de expressar os meus sentimentos a propósito do seu reviver após a morte. O Evangelho de João faz um belo relato, mas não regista nenhuma palavra sua. Indica apenas atitudes. Reina um silêncio que parece ser a linguagem única que emerge da gruta onde esteve sepultado. Ou, então, um convite a que não se perca o fundamental: Jesus de Nazaré, seu especial Amigo, tem poder sobre a morte e antecipa um sinal da ressurreição que irá viver, após a morte por crucifixão no Calvário.
Expresso a minha necessidade como padre católico. Vivo em Portugal, um cantinho da Europa junto ao Atlântico. Estudo as Escrituras há muitos anos e encontro sempre dimensões novas nos textos sagrados. O que se refere à sua família desperta-me especial interesse. Aprecio o ambiente de Betânia e admiro a mensagem que brilha na relação fraterna com as suas irmãs, especialmente quando cai doente. Quantos cuidados não teriam consigo e que solicitude em avisar o Amigo comum. Bem sei que o autor do relato, na altura em que o escreve, tem em conta o que aconteceu para destacar e sublinhar algumas características da comunidade cristã e do estilo de vida dos seus membros.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Eu fui, lavei-me e comecei a ver

Reflexão de Georgino Rocha


«Acreditar em Jesus 
é acreditar no ser humano, 
como ele sempre faz. 
Em todas as circunstâncias.» 


A clareza da afirmação deixa perceber a grandeza do acontecido. A simplicidade da resposta reenvia o sentido da pergunta. A brevidade da frase indicia o início de um longo processo. A cura do cego operada por Jesus de Nazaré manifesta as maravilhas de Deus e gera um dinamismo interpelante em círculos humanos progressivamente alargados. Surge um novo modo de ver que marca a caminhada na fé de quem faz o itinerário de iniciação ao baptismo, à vida cristã. (Jo 9, 1-41).
Jesus anda em missão. Encontra um cego de nascença. Os discípulos que o acompanhavam ficam inquietos e querem saber o por quê da situação. Pensam que, de acordo com a moral judaica, a doença é fruto do pecado, que tem de haver alguém responsável e era preciso repor a justiça ferida. Não descortinam outros horizontes nem alvitram novas hipóteses.
Jesus tem outro olhar. Em vez do por quê, responde com o para quê. Não está voltado para o passado, mas aberto ao futuro. E por isso desliga do pecado o sucedido e de quem o possa ter cometido, e desvenda o sentido real do que está em causa: ser oportunidade para se manifestarem as obras de Deus. E exorta os discípulos a estarem atentos ao que acontece, a discernirem na sua complexidade o sentido que veiculam, a captarem a mensagem que transmitem, a saberem adoptar a atitude ética coerente, a sonharem outras ousadias.

domingo, 19 de março de 2017

Não rezem como os gentios

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO




Seria grossa asneira supor que Deus é o substituto da investigação científica, da organização do Estado, do bom funcionamento do ensino, do serviço nacional de saúde, de hospitais de qualidade, do funcionamento da Justiça, da solidariedade, etc.

1. Dizem-me que, hoje, no campo religioso, a espiritualidade é a sua expressão mais chique e o esoterismo, a mais democrática pela numerosa oferta de expedientes, sem os aborrecidos mandamentos das religiões.
Há espiritualidades para tudo e mais alguma coisa. Cada uma das ordens e congregações religiosas reclamam-se de uma espiritualidade original, marca da sua identidade. Os diferentes movimentos do laicado católico alargaram esse pluralismo ao apresentar e justificar os seus caminhos e mediações pretensamente inconfundíveis.
Redescobriu-se, no diálogo inter-religioso, que o divino Espírito não é propriedade privada de ninguém. Existem movimentos agnósticos e ateus que se reclamam de uma profunda sabedoria espiritual. Mas ficava sempre alguma coisa de fora. A chamada espiritualidade holística é tão abrangente que nela há lugar para tudo.
O todo é inabarcável e, como diz o Novo Testamento, o Espírito sopra quando e onde quer, sem pedir licença a ninguém, resistindo a ser domesticado. As classificações humanas dos carismas não podem impedir, no seu catálogo, a espiritualidade dos insatisfeitos.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

SENHOR, AUMENTA A NOSSA FÉ

Reflexão de Georgino Rocha



Os discípulos sentem necessidade de crescer na fé, prosseguindo o seguimento de Jesus, iniciado há tempos. E fazem-Lhe este pedido: “Senhor, aumenta a nossa fé”.  Pedido simples e claro, cheio de um enorme simbolismo. Sem medo a críticas, mostram que o coração humano vive inquieto enquanto não encontra razões firmes e atraentes para a sua capacidade de amar; querem dar um passo em frente e “agarrar-se” de vez à opção tomada de serem livres para ir em missão e servir o Reino; procuram intensificar a sintonia dos seus desejos com a novidade que o Mestre transmite e realiza.

Que belo exemplo para quem aspira a ser verdadeiramente humano: abertura de horizontes, vencendo o casulo míope do “já basta” e do “estou satisfeito”; valorização do que se é na perspectiva do que se quer ser; aceitação e reconhecimento da nossa vocação ao crescimento integral, à contemplação do rosto de Deus, à comunhão que a fé provoca e alimenta, ao amor de quem Deus ama: as criaturas e a criação, sobretudo a mais depredada na sua beleza e harmonia. Que oportuno testemunho para um mundo que parece insensível e indiferente a estes valores, que dá sinais claros de passar bem sem Deus e silencia a sua voz, especialmente nos gemidos e nos gritos das vítimas humanas.

sábado, 3 de setembro de 2016

Teresa de Calcutá: Livre para seguir Jesus

Reflexão de Georgino Rocha


As multidões porfiam em acompanhar Jesus. Certamente por diversas razões: ver o que fazia, curiosidade, pedir algum favor, pressentir que era chegada a hora de Deus libertar o seu povo, querer ouvir os seus ensinamentos, satisfazer os anseios do coração, seguir os seus passos. Uma diversidade que precisava de ser clarificada. Nem tudo serve para sintonizar com o projecto, a mensagem de salvação. E Jesus propõe-se fazê-lo. Não quer ninguém iludido, nem alimentar falsas esperanças. Define regras, estabelece critérios e condições. E respeitador da liberdade humana, como mais ninguém, adianta: “Quem quiser ser meu discípulo…”. Que maravilha: ser discípulo em liberdade. Que clareza de opção: priorizar o amor e, a partir dele, dar o justo valor a outros bens indispensáveis à vida. Que beleza de horizonte a abrir sentido às “coisas” de cada dia: deixar-se atrair pelo verdadeiro bem que brilha na doação incondicional de Jesus, na sua morte e ressurreição em Jerusalém. Na sua cruz florida!
Lucas, o evangelista narrador, indica três critérios de discernimento ou exigências básicas para seguir Jesus, para ser discípulo-cristão: os afectos do coração, o amor à vida, o apreço pelos bens materiais. E todos ao serviço do projecto de salvação que Jesus realiza em benefício da humanidade inteira. Não se pode ser cristão “a meias”. Há que optar, o que exige preferência por um bem e renúncia a outros. E Jesus é o Bem Maior.