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domingo, 4 de dezembro de 2022

Já se fala do Menino



Em que se fala do Menino Jesus

Fiz a maldade e olhei Jesus.
Ele baixou os olhos e corou,
e toda a gente julgou
que quem fez a maldade foi Jesus.

E todos lhe perdoaram...

- Obrigado, Menino! Mas agora
tira os olhos do baile e vem brincar,
que eu prometo, pra não Te ver corar,
já não fazer das minhas.
Anda jogar, ao pé das flores, no chão,
comigo, às cinco pedrinhas...!
anda jogar, pra não esqueceres
o preço do meu perdão…

Sebastião da Gama

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Toma a tua cruz e segue Jesus

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XII do Tempo Comum

Seguir Jesus é ter capacidade de escutar o que se diz e pensa a respeito da missão realizada, acolher as respostas diferenciadas, reencaminhar as imagens desfocadas para o autêntico sentido da mensagem transmitida.

“Sabes qual é a maior mentira do mundo?” – pergunta uma jovem, em tom jocoso, ao falar das redes sociais e de algumas páginas da web, e continua: “marcar no quadradinho «aceito as condições e os termos de uso» que normalmente aparecem como requisito para quem queira inscrever-se nas referidas redes e foros de opinião. Coloca a marca sem haver lido essas condições por estarem em letra muito pequena, miudinha, e serem extensas. Mas as pessoas dão-lhes pouca importância porque o que lhes interessa é entrar na rede e formar parte da grande família de cibernautas”.
Esta historieta pode ajudar-nos a captar o centro da mensagem deste domingo. Jesus, após um tempo de missão e em clima de oração, faz um levantamento do que se pensa a seu respeito: primeiro, os comentários que chegam aos discípulos e, depois, a atitude pessoal de cada um deles. Pedro acerta em cheio, identificando-o como o Messias de Deus. Segue-se uma lista de recomendações e de condições que correspondem ao desejo de seguir Jesus. Esta série termina: “quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz e siga-me”. Lc 9, 18-24.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

JESUS MORRE NA CRUZ PARA NOSSA REDENÇÃO

Foto gentilmente cedida por Carlos Duarte

Chegada a hora sexta [12h], sobreveio uma escuridão sobre toda a terra até à hora nona. E à hora nona [15h], Jesus gritou com voz grande: Elôí, Elôí, lemá sabachtáni? O que significa, traduzido: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»
O centurião que ouviu o brado de Jesus e o viu morrer, disse: “Realmente este homem era o Filho de Deus!”

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A maravilha de crescer em humanidade

Reflexão de Georgino Rocha
para a Missa da Aurora

 
NATAL DE ONTEM, NATAL DE HOJE

O nascimento de Jesus suscita um dinamismo extraordinário que Lucas narra de forma sóbria e discreta. Maria e José aconchegam o Menino e vêem realizadas as promessas feitas há meses pelo enviado de Deus. Contemplam-no, mais com o coração do que com os olhos, e deixam que seja o silêncio a falar. Acolhem quem O visita e ouvem quanto se diz a respeito do recém-nascido. Lc 2, 1-20.
Os pastores acorrem apressados e expectantes. Querem confirmar o que lhes havia sido anunciado. Os magos, despertos e orientados na sua curiosidade, põem-se a caminho e, errantes, vagueiam até chegar ao local do encontro. Herodes e os seus conselheiros reúnem de emergência e, temendo o pior, armam ciladas a quem os consulta e procuram eliminar a presumida ameaça ao poder. O Céu une-se à terra em admirável exultação festiva e maravilhosa coincidência.

sábado, 18 de dezembro de 2021

O Natal é Deus connosco

 

Se tens tristeza, alegra-te!
O Natal é alegria.
Se tens inimigos, reconcilia-te!
O Natal é paz.
Se tens amigos, busca-os!
O Natal é encontro.
Se tens pobres ao teu lado, ajuda-os!
O Natal é dádiva.
Se tens soberba, sepulta-a!
O Natal é humildade.
Se tens pecados, converte-te!
O Natal é vida nova.
Se tens trevas, acende a tua lâmpada!
O Natal é luz.
Se vives na mentira, reflete!
O Natal é verdade.
Se tens ódio, esquece-o!
O Natal é amor.
Se tens fé, partilha-a!
O Natal é Deus connosco.

Nota: De apontamentos pessoais guardados, mas cuja autoria não consigo recordar. Se alguém souber, agradeço informação.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Os convidados por Jesus aceitam e ficam com Ele. E Tu?

Reflexão de Georgino Rocha 
para este fim de semana 


"Move-nos o exemplo de tantos sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos que se dedicam a anunciar e servir com grande fidelidade, muitas vezes arriscando a vida e, sem dúvida, à custa da sua comodidade. O seu testemunho lembra-nos que a Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora”

Papa Francisco

Após o seu baptismo, Jesus como Filho bem-amado do Pai começa a missão que a liturgia nos faz contemplar domingo após domingo, missão que revela o processo humano de Jesus na vida adulta. Marcos no seu evangelho narra cenas vivas do itinerário concreto que Jesus percorre e dá a conhecer como “caminho, verdade e vida”. Da nossa própria vida quando afirmamos: “sou cristão”. Este itinerário começa com o encontro dos primeiros discípulos com Ele, encontro que lhes muda o rumo da vida. Jo 1, 35-42.
João, o evangelista, narra este encontro feito de palavras e de movimentos, de perguntas e convites, de olhares: olhar de João Baptista sobre Jesus; de Jesus sobre os discípulos e sobre Pedro. E sobre cada um de nós. “Seria bom fazer memória dos olhares que nos têm ajudado a crescer como irmãos e irmãs. Peçamos ao Senhor que venha converter o nosso olhar e as nossas palavras, a fim de termos por nossa vez palavras e olhares, portadores de vida para os outros”. Vers dimanche, Rede mundial de oração em união com o Papa. 
“Vinde ver”, responde Jesus à pergunta dos discípulos: “Mestre, onde moras?” Esta resposta é, no mínimo, surpreendente e profundamente apelativa. Os discípulos, pescadores de profissão e habituados a arriscar, vão, vêem e ficam. E em consequência, desencadeiam um notável dinamismo vocacional. 
A resposta de Jesus, embora situada no tempo, é dirigida a todos os que buscam sinceramente alguém que a sua consciência pede, ainda que de formas diversificadas. De facto, que procuramos na vida? Tem sentido o que fazemos? Se reservássemos uns instantes para “balanço”, que saldo positivo verificaríamos? Estamos a atender o que é prioritário e se enriquece à medida que a vida desliza ao longo dos anos? 

domingo, 9 de junho de 2019

Anselmo Borges - O Filho de Maria

Anselmo Borges

1. Um dia, num debate, perguntei ao eurodeputado Paulo Rangel sobre a crítica e até hostilidade à Igreja Católica, também no meio político, a nível europeu. Ele respondeu que essa crítica existe e que a hostilidade se estende também à Igreja ortodoxa, menos às Igrejas protestantes. Mas sublinhou: “Nunca ouvi alguém dizer mal de Jesus”. 
Jesus é uma das figuras “decisivas, determinantes”, da História, como sublinhou o grande filósofo Karl Jaspers. Penso mesmo que é, quando se pensa fundo, a figura mais revolucionária. A partir da revelação de que Deus é Amor e de que todos os seres humanos valem para Deus, a ponto de o critério último que decide da salvação definitiva ser determinado pelo que se faz pelos outros nas necessidades mais imediatas, porque é a Deus, mesmo sem o saber, que se faz — “destes-me de comer, de beber, vestistes-me, foste ver-me ao hospital e à cadeia... —, independentemente do sexo, género, religião, cor, etnia, opção filosófica ou política, foi germinando a ideia da igual dignidade de todos. 
Os grandes pensadores tiveram consciência disso. O próprio conceito de pessoa apareceu no contexto dos debates teológicos à volta da compreensão da pessoa de Jesus. Hegel reflectiu bem que a consciência da liberdade, da igualdade e da dignidade veio ao mundo pelo cristianismo. Ouvi o filósofo ateu Ernst Bloch declarar: “Nenhum ser humano pode ser tratado como gado, e isso sabemo-lo pelo cristianismo”. Também escreveu: Jesus agiu como um homem “pura e simplesmente bom, algo que ainda não tinha acontecido”. Jürgen Habermas, o filósofo vivo mais influente, reflectiu que a democracia, que se expressa em eleições livres com igual valor dos votos — “um homem, um voto” —, é a transposição para a política da ideia cristã de que cada homem e cada mulher são filhos de Deus. A liberdade, a igualdade, a fraternidade assentam no Evangelho. Aliás, a consciência dos direitos humanos e a sua proclamação deram-se em contexto judaico-cristão. Onde é que nasceu a Declaração dos Direitos Humanos? Foi na China? Foi na Arábia? Mesmo se, desgraçadamente, foi e vai sendo preciso impô-la também à própria Igreja enquanto instituição... Mahatma Gandhi deixou estas palavras: Jesus “foi um dos maiores mestres da Humanidade.” “Não sei de ninguém que tenha feito mais pela Humanidade do que Jesus. De facto, nada há de mau no cristianismo.” Mas acrescentou: “O problema está em vós, os cristãos, pois não viveis em conformidade com o que ensinais.” E tem razão. 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Georgino Rocha: Deixando tudo, seguiram Jesus

Georgino Rocha
"Por Aquele que se mostrara de modo tão assombroso, estão dispostos a deixar barcos e redes, horas felizes de convívio e pescaria, de brisa e maresia. Começam a sonhar com outros mares e a afeiçoar-se a ser pescadores de homens, como o Mestre lhes anuncia"


Jesus está na margem do lago de Tiberíades. Numerosa multidão o acompanha e aperta para ouvir os seus ensinamentos. Vinha das populações vizinhas e também da Judeia onde ele havia pregado. Move-a a novidade da mensagem e o estilo de vida de Jesus, que atraía e irradiava. Move-a o sentido de confiança crescente que se irá confirmar com o episódio da pesca abundante. Move-a a ânsia profunda de ouvir a palavra de Jesus, mesmo depois de o ver afastar-se na barca de Pedro. Lucas, o autor da narração, faz um relato simbólico, que dá rosto ao agir histórico de Jesus na sua relação com os discípulos; portanto connosco. Vamos deter-nos em alguns passos. (Lc 5, 1-11).
“Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago”. Quer dizer o seu olhar desloca-se, deixa a multidão e procura um meio de ajuda. Precisa de outro espaço. Quer libertar-se do aperto em que se encontrava, procurar distância para se fazer ouvir, até porque as águas transmitem mais facilmente os sons e as palavras, iniciar um processo de envolvimento pessoal de Simão, Tiago e João, pescadores chegados da faina malograda.
Também, hoje, quantas barcas paradas nas margens da vida após noites de labuta intensa e sem resultado. Quantos sonhos desfeitos em corações jovens que alimentavam novas ousadias! Quantas amarras à liberdade a quem sente os impulsos do amor e deseja a verdade! São milhões os que, após um desaire, ficam nas margens da vida, sem terem quem se lembre deles e lhes dê a mão, pedindo um serviço. Ex-presos, drogados, sem tecto, indocumentados e tantos outros aí estão a dar rosto a esta tremenda realidade.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O vinho de Jesus alegra a festa dos convivas. Aprecia!

Georgino Rocha
«Jesus não se impõe, mas também 
não se desinteressa do que é humano»


Jesus está no início da sua vida de missionário itinerante. Após a chamada de alguns discípulos, toma parte na boda de casamento de uns noivos em Caná da Galileia, terra a pouca distância de Nazaré. Está lá, Maria, sua Mãe. Os convivas são numerosos e a festa podia demorar uma semana. Há regras a cumprir. O protocolo era minucioso e os participantes observavam-no rigorosamente. O chefe de mesa supervisionava tudo. Os serventes estavam atentos e disponíveis para que nada falte. O programa decorria com grande normalidade. Mas a surpresa acontece. Há sinais de que algo está a ocorrer. E antes que seja conhecido por todos, Maria dá conta, identifica o que é e vai dizê-lo a Jesus. “Não têm vinho!”. Que maravilha! O cuidado da Mãe de Jesus manifesta-se de modo solícito para que a festa prossiga com o entusiasmo inicial e a boda de casamento proporcione alegria a todos, sobretudo aos noivos e familiares. Com Maria, as crises podem ser previstas, e pode ser removido o que lhes dá origem. Ela encaminha tudo para Jesus. Mesmo que a ocasião pareça inoportuna. 

Endossado o assunto a quem pode ajudar a resolvê-lo, ela dirige-se aos serventes e exorta-os a que façam o que Jesus lhes disser. Que ousadia! Uma mulher tomar a iniciativa em público, em casa alheia, e credenciar um desconhecido. E os serventes, que boa vontade revelam ao aceitarem obedecer-lhe prontamente. “Fazei o que Ele vos disser”. Nem sequer informam o chefe responsável pelo protocolo. Seguem com prontidão a indicação de Jesus, um estranho: “Enchei essas talhas de água”. Assim fazem e ficam a aguardar nova orientação. “Tirai agora e levai ao chefe de mesa”. Sem temer nada, cumprem a ordem recebida. E dão conta da surpresa agradável do chefe ao provar o vinho novo, obtido por intervenção de Jesus e da sua colaboração. Não reclamam “louros”, nem recompensas extra, nem dizem nada. Apenas partilham a alegria renascida nos corações que se espelha no rosto dos convivas. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Festa de Cristo Rei: Seguir Jesus, o Senhor da Verdade

Georgino Rocha


"A Igreja quer estar liberta para servir a verdade. Em todas as situações. É missão que diz respeito a cada um/a. Conforme o espaço onde habita e o ambiente onde trabalha. A começar pela proximidade na família e alargando-se a outras lonjuras, pois o mundo é a nossa casa e a natureza nossa mãe."


Jesus, preso e amarrado, é levado a Pilatos por uma delegação das autoridades judaicas. Era de manhã e estava próxima a páscoa. O episódio abre a narração que São João faz do desfecho do processo de condenação à morte. Jesus é entregue como malfeitor e vai passar a ser um criminoso político. A sequência da acusação torna-se esclarecedora de tantas situações em que a verdade é sacrificada porque o interesse, a conveniência e o preconceito falam mais alto. Vamos deter-nos nos diálogos de Pilatos com Jesus e procurar penetrar nos sentimentos de cada um. Vamos ver pontos concretos que, à maneira de projectores, iluminam a consciência de quem quer agir livremente e tem regras para cumprir. Vamos acolher a novidade que Jesus nos transmite com a sua atitude, seu silêncio e sua palavra. (Jo 18, 33b-37).

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Permanecei em mim e dareis muito fruto

Georgino Rocha



Jesus vive momentos decisivos da sua missão pública e de grande tensão interior. A hora da despedida aproxima-se. Os discípulos dão sinais de ainda não haverem entendido os seus gestos mais expressivos como o lava-pés, e as palavras mais claras como a parábola do Bom Pastor. Filipe faz-se porta-voz deste estado de ânimo e diz-lhe: “Senhor, mostra-nos o Pai”. Judas, não o Iscariotes, interroga-o sobre o seu modo de proceder. Pedro promete segui-lo ainda que tenha de morrer, e recebe a resposta aviso: “Antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes”. O desnorte parecia claro. A lentidão aliava-se à confusão. E o tempo corre, aproxima-se do fim.
João, o discípulo amado e narrador do ocorrido, apresenta estes e outros sinais no chamado “Livro da Glorificação: O dinamismo da fé e o Amor”. Aqui se encontram a parábola do Bom Pastor e a alegoria da videira, além de discursos vários em que Jesus reafirma a mensagem já várias vezes apresentada. Hoje, a liturgia faz-nos contemplar a originalidade da comunhão de Jesus com Deus Pai e a novidade da relação com os discípulos. E como rostos humanos desta realidade, traz-nos Paulo, o convertido, e a audácia do início da sua missão apostólica; e João no apelo solícito a que amemos com obras e verdade. Rostos humanos que se prolongam em tantos cristãos que o são nos locais de lazer e trabalho, nas horas de aflição e de perturbação.

sexta-feira, 9 de março de 2018

NICODEMOS VAI AO ENCONTRO DE JESUS. E NÓS?

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha

"Nicodemos, figura histórica, é símbolo do homem de todos os tempos, sobretudo do nosso, de quem se aventura na noite do mercado de opiniões e dúvidas e quer encontrar resposta para o sentido da vida, seus valores e sua escala de prioridades, dos/as que não abdicam do direito de fazer perguntas sobre o rumo dos acontecimentos e o cuidado da criação."


Nicodemos surge como interlocutor de Jesus. Certamente fica incomodado com o episódio do Templo. Por ser testemunha ou por ditos que lhe chegam. Incómodo que acentua a perplexidade em que vivia e o leva a ir de noite à sua procura. Incómodo que transparece na conversa que João narra e, hoje, a liturgia nos apresenta como parte do diálogo sobre o “nascer de novo” proposto por Jesus. “Como é possível nascer de novo?”, pergunta, sem rodeios, tendo no horizonte da sua dúvida o parto natural e a idade da vida. (Jo 3, 14-21). Apesar de ser mestre em Israel, de usufruir de um estatuto social elevado e de viver como crente piedoso, Nicodemos não vislumbra a nova dimensão que Jesus insinua. Mas cultivará uma relação de proximidade e de intervenção, de simpatia e de risco, como os relatos evangélicos referem repetidas vezes.

domingo, 17 de dezembro de 2017

Papa celebra o seu 81.º aniversário



O Papa Francisco completou hoje, 17 de dezembro, a bonita idade de 81 anos. Nesta hora, não posso deixar de admirar a sua paixão pela Trindade Divina, sendo responsável máximo pela Igreja que ama como provavelmente mais ninguém. 
Diariamente, sem cansaço nem tibiezas, sem medos nem hesitações, acorda o mundo para os frutos dos nossos comodismos e indiferenças, bem patentes nas injustiças dilacerantes que assolam milhões de seres humanos em todos os quadrantes da Terra. Sente-se envergonhado pelo mal que fazemos e pelo bem que não fazemos, pelos nossos orgulhos e preconceitos, mas também pelos nossos olhares de soslaio para quem tem fome e sede de justiça, pelas guerras que alimentamos e pela paz que nos recusamos a construir.
O Papa Francisco, que veio do outro lado do mundo para acordar uma Igreja adormecida, uma Igreja do luxo e de vaidades, não se cansa de bradar para que os católicos e demais homens de boa vontade saiam em força para as periferias, onde importa, quanto antes, levar Cristo aos deserdados, aos famintos de verdades salvíficas e do pão reconfortante, deixando os adros das igrejas à espera dos peregrinos que se perderam nos caminhos da vida por falta da Luz que ilumina valores de paz, alegria e fraternidade. O Papa quer uma Igreja pobre de bens e rica de amor para os feridos pela sociedade do descartável. Uma Igreja sem pompa imperial, mas aberta à partilha. 
Que Deus Todo Poderoso abençoe o Papa Francisco, são os meus votos.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Georgino Rocha — AMAR: Critério único da vida



Jesus manifesta uma paz de espírito admirável, transmite uma liberdade interior brilhante, reage serenamente à provocação dos fariseus em busca de uma prova acusatória. O episódio narrado por Mateus ocorre nas imediações do Templo. A provocação surge na forma de pergunta sobre o maior mandamento. Pergunta fundamental não apenas para os Judeus, mas para nós, os seres humanos, chamados a realizar a nossa vocação ao amor. Mt 22, 34-40.

O amor é a energia vital que nos humaniza e enobrece, tem a sua fonte em Deus e manifesta-se em opções e critérios, atitudes e gestos concretos. É dinamismo de relação que revigora o laço solidário que nos une e recheia a consideração que nos dispensamos. É alimento de esperança no futuro e força de envolvimento no presente. Sem ele, a pessoa enclausura-se no egoísmo e a sociedade empobrece no tecido por onde flui a seiva do desenvolvimento integral. Sem ele, o coração faz-se insensível e a vontade indiferente, a inteligência rígida e o desejo fantasioso, as leis espartilhos e os mandamentos imposições insuportáveis. A vida entrincheira-se no reduto autorreferencial e perde horizontes de sentido, cultivando apenas o jardim da zona de conforto individualista.

Os fariseus dirigem-se a Jesus e querem saber qual é o maior mandamento, pois tinham 248 preceitos e 365 proibições, ou seja 613, tal era o seu empenho em prever todas eventualidades na vida e assim cumprir a vontade divina. Preocupação legítima para um regime de religião controlada, de sistema vigiado, de segregação de “puros e impuros”. Mateus, porém, adverte que a pergunta entranhava certa malícia, pois era para apanhar Jesus em algo acusatório. A resposta surge diáfana e serena como se nada de especial estivesse a acontecer: Amar a Deus e ao próximo como a ti mesmo. E para não haver dúvidas, acrescenta: Nestes dois mandamentos se encerra a Lei inteira e os profetas, ou seja toda a revelação conhecida da vontade de Deus. Resposta sublime. Deixa desarmados os inquisidores. Terão ficado satisfeitos ou amargurados, esclarecidos ou intrigados? Tudo é possível. Mas não desarmam e as próximas cenas apontam para a retaliação, a prisão e a condenação.

Jesus põe a claro que há um só amor que se manifesta em intensidades diferentes. Concretamente, a resposta indica três: Amar a Deus com doação total, pois Ele toma a iniciativa de vir ao nosso encontro, amar os outros sem reservas, tendo como referência o bem que cada um deseja para si. Ou dito de outro modo: Aprecia o teu bem com o critério de Deus, respeita e solidariza-te com o próximo com a medida que usas para ti mesmo, reconhece que o amor te faz entrar e viver no circuito de amor próprio de Deus, comunhão das três pessoas divinas.

O amor abre-nos a Deus de quem procedemos e com quem nos relaciona, faz-nos ver os outros humanos como irmãos empenhados no mesmo bem, e impele-nos a apreciar as criaturas e a criação, o ambiente e a natureza como herança a valorizar e a transmitir às próximas gerações. Por isso, o amor abrange a pessoa toda e deve ser cuidadosamente apreciado como valor maior e educado como dimensão superior da nossa comum humanidade. Outras dimensões que certa imprensa “cor-de-rosa” difunde e de que se alimenta serão sempre pirilampos de luz intermitente a brilhar na noite escura do gosto instantâneo, do prazer descartável, do biblô de satisfação imediata.

O amor de Deus é derramado em nossos corações e quer irrigar as veias da humanidade e fazer surgir a correspondente civilização, espelho da nossa dignidade. A construção do sociedade passa por aqui. Só o amor edifica, garante São Paulo ( 1Co 13, 4-7) . Escala de valores, opções de vida, critérios de acção, atitudes, sentimentos e palavras hão-de ser reflexo acessível nos ambientes da família e da convivência social, do lazer e da profissão. Hão-de ser veiculados pela educação e pela comunicação, pela relação de proximidade benevolente e pela atenção solícita a tudo o que diz respeito ao que acontece a todos, sobretudo aos mais pobres, como recomenda o livro do Êxodo na 1ª leitura deste domingo.

Inicia-se, hoje, a semana dedicada à educação cristã. Os nossos Bispos enviam-nos uma mensagem com o título expressivo: «A Alegria do Encontro com Jesus Cristo». É dela que retiramos alguns parágrafos que nos fazem sentir o realismo do amor, sentido único da vida.

A alegria do encontro é, antes de mais, a alegria de nos sentirmos amados, de modo pleno e incondicional. Mesmo no pecado? Então ainda mais!... já que a carência é maior... É também a alegria pelo “novo horizonte” e o “rumo novo” que esse amor dá à nossa vida… É, enfim, a alegria de vermos a nossa vida a prolongar-se nas vidas daqueles a quem a damos: os pais nas dos filhos; os catequistas nas dos catequizandos; os professores nas dos alunos; todo o educador nas dos educandos (cf. CEP “Catequese: A alegria do encontro com Jesus Cristo”, IV). Uma alegria que cresce, quando também eles se dão – a partir do encontro com Cristo, mediado por cada um de nós, que então pode, por isso, dizer: É Cristo que vive em mim (Gl 2, 20)… Acolhamos, por tudo isso, o convite do Papa Francisco a “todo o cristão, em qualquer lugar que se encontre, a renovar (…) o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o procurar no dia-a-dia sem cessar” (A Alegria do Evangelho, n. 3).

Georgino Rocha

domingo, 22 de outubro de 2017

Bento Domingues — Deus, nosso rival?



1. As narrativas dos Evangelhos já têm mais de dois mil anos, mas foram escritas para desassossegar as Igrejas de todos os tempos. Contam que Jesus de Nazaré não conseguia passar ao lado das vítimas de doenças físicas ou psíquicas, fruto de muitas outras misérias. Convivia e comia com as pessoas que a hipocrisia religiosa e moral classificava como pecadoras, sabendo que se expunha a ser considerado como uma delas. Por causa da sua teimosia em trabalhar na libertação das pessoas, mesmo no dia mais sagrado da sua religião, o sábado, era tido como um agente clandestino de Satanás. Mas, para ele, esse dia só podia ser reservado para Deus se fosse a festa da vida liberta.
Os evangelistas puseram na boca deste Nazareno um apelo comovente: vinde a mim todos os que andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Os Actos dos Apóstolos resumiram todo o seu itinerário numa frase: passou a vida fazendo o bem.
Não suportava, porém, os espiões da sua ortodoxia religiosa ou política. Não tinha paciência para as astúcias dos príncipes dos sacerdotes, dos escribas e fariseus. Àqueles que o interrogavam de má-fé — só para ver se o apanhavam em falta — mandava-os bugiar. Jesus, mesmo em pleno tribunal, não reagiu como um vencido ou um cobarde. Passou ao ataque. A imagem que melhor o pode sugerir é a de um profeta bíblico, figura da lucidez perante as contradições da actualidade. Profeta e mais do que profeta, irmão universal.
No texto do Evangelho da Missa de hoje, ao desmascarar os fariseus que o queriam meter num beco sem saída, cunhou um aforismo que tem percorrido os séculos e desautorizado os que não se cansam de manipular a religião para fins políticos e a política para fins religiosos.
A questão dos impostos é sempre muito sensível, sobretudo em situações de luta anticolonial. Naquele caso, era especialmente grave. Jesus tinha de tomar posição e mostrar se estava com ou contra a dominação romana, se era um verdadeiro israelita ou um traidor. Resposta de Jesus: fostes vós que criastes esta situação política estampada na moeda que usais. Portanto: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”
Os aforismos não são demonstrações, mas podem traduzir e suscitar atitudes exemplares. As actuais e violentas manifestações de fundamentalismo religioso e político já deviam estar ultrapassadas pela resposta de Jesus. Não estão. A chamada “morte de Deus e do homem” — nem deísmo nem humanismo — conduziu ao puro niilismo. Quando vale tudo, nada vale a pena. De facto, estamos, de novo, na pior forma da perversão religiosa: matar em nome de Deus!

2. Sem tentar refazer essa história de rivalidades loucas, não posso esquecer o conhecido mito grego de Prometeu ou o drama da relação entre religião e cultura. Os deuses escondem aos seres humanos o segredo da vida feliz. Aquilo de que os seres humanos precisam para fazer a sua vida, por sua conta e risco, o fogo (isto é, as ciências e as técnicas), tem de ser arrancado aos deuses contra a sua vontade, como o fez Prometeu. Deuses e homens são rivais. A felicidade dos deuses é a desgraça dos humanos e a felicidade dos seres humanos é uma usurpação aos deuses. São irremediáveis concorrentes.
Essa mentalidade penetrou em certas formas de pensamento e comportamento no mundo cristão de diversas épocas, embora de forma indevida, perversa. Desenvolveu-se no âmbito de uma pseudo-espiritualidade de “desprezo do mundo”. Esta é uma expressão carregada de ambiguidades. O dito popular “Tudo o que sabe bem é pecado ou faz mal” teve e tem um sucesso anticristão. Por detrás dessa atitude está uma concepção do chamado “pecado original”, deveras muito original: sem saber como, nascemos não apenas com uma herança genética, sã ou doente, mas também com uma história de pecado em que fomos concebidos. Temos contas a ajustar com Deus, reparar o mal que lhe fizemos, antes mesmo de ter feito ou pensado seja o que for!
Mesmo quando somos conscientes do mal que fazemos, S. Tomás de Aquino lembrou que Deus não é ofendido por nós, a não ser na medida em que agimos contra o nosso próprio bem ou o dos nossos irmãos, filhos de Deus [1]. Nem Deus procura a sua glória por causa dele, mas por nós e para nós. Não é um carente afectivo [2]. A glória de Deus é a alegria dos seres humanos. Deus não é, não pode nem quer ser tudo. O mundo não é divino. Deus afirma-se fazendo ser o que Ele não é. Gera a diferença radical. A transcendente acção divina não entra em concorrência com a evolução cósmica ou com a liberdade humana.
A teologia negativa de Tomás de Aquino é anti-idolátrica, mas não é niilista. O prazer de Deus criador, o Poeta, não é a negação dos prazeres humanos.
Dizia o teólogo evocado que o prazer é o resultado do agir perfeito. O prazer dos sentidos testemunha a sua boa saúde e a sua integração harmoniosa no bem total da pessoa, guiada pela razão e pelos afectos. A construção humana é um processo de conjugação de relações interiores, consigo mesmo, com os outros e com o mundo. O mal surge quando, de modo responsável, nos privamos dessa virtuosa conjugação de relações limpas. Os apetites desgarrados introduzem uma desordem que nos destrói.

3. Durante vários anos ensinei a cadeira de Teologia das Realidades Terrestres. A sua temática tinha-se afirmado nos anos 40-50 do século passado e marcou a constituição conciliar, “a Igreja no mundo contemporâneo” (Gaudium et Spes). A questão que a desafiava era existencial: qual é a significação das actividades nas quais os seres humanos passam a maior parte do seu tempo — na família, na escola, na profissão, nos lazeres — para o acolhimento e realização do Reino de Deus, alegria do mundo? É uma descoberta nunca acabada.
Era e continua a ser importante acabar com a ideia de que um católico praticante é, apenas, o das práticas religiosas, prescritas ou devocionais. Quando os inconformados com as situações degradantes da sociedade se decidem a trabalhar na construção de um mundo mais humano é que se tornam, como diz S. Paulo (Rm 12), verdadeiramente praticantes do culto que agrada a Deus. Mesmo sem assinatura religiosa.
Neste momento, o culto que Deus nos pede, em Portugal, é a mobilização da Igreja e da sociedade pela nossa casa comum ameaçada, ano após ano, pela incúria de todos.

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

[1] Contra Gentiles, III, c. 122
[2] Summa Theologiae, II-II, q. 132, a

sexta-feira, 23 de junho de 2017

TENDE CONFIANÇA. NÃO TEMAIS

Reflexão de Georgino Rocha


A missão confiada por Jesus aos discípulos comporta muitos riscos. E os ouvintes não demoram a reagir. Surge toda a espécie de atitudes: abandono, descrédito, difamação, perseguição, morte. Mateus que narra o discurso missionário deixa perceber o ambiente em que viviam as comunidades cristãs hostilizadas pelos judeus. E a previsão anunciada é já comprovada pelos factos. O texto será possivelmente dos anos 70. E mantém toda a actualidade. Não faltam situações a testemunhá-lo.
“Não tenhais medo dos homens”, repete a narrativa hoje proclamada na liturgia. E aduz várias razões, das quais se salientam as seguintes: toda a verdade virá a ser conhecida e nada ficará oculto; os segredos de todas as espécies serão desvendados em público; a temível morte do corpo não é o pior, mas a perdição definitiva da vida plena a que estamos chamados; a certeza confiante e serena de que Deus é Pai solícito que sempre vela por nós, a afirmação clara de Jesus que garante estar sempre com aqueles que envia em missão e lhe são fiéis. Razões a lembrar, sobretudo em tempos de acontecimentos que provocam medos tremendos. Como o nosso.
Em 2009, o Papa Bento XVI visita Angola e tem um encontro com jovens no estádio dos Coqueiros, em Luanda, e diz-lhes: “Coragem! Ousai decisões definitivas, porque na verdade são as únicas que não destroem a liberdade, mas lhe criam a justa direção, possibilitando seguir em frente e alcançar algo de grande na vida. Sem dúvida, a vida só pode valer se viverem com a coragem da aventura, a confiança de que o Senhor nunca vos deixará sozinhos”. “Juventude angolana, liberta de dentro de ti o Espírito Santo. Confiai nele como Jesus, arriscai este salto no definitivo. Assim, serão criados, entre vocês, ilhas, oásis e grandes superfícies de cultura cristã onde se tornará visível aquela cidade santa que desce do céu”, acrescentou. Agora, na celebração do Congresso Eucarístico celebrado na Festa do Corpo de Deus em Huambo (ex-Nova Lisboa) foram proclamados apelos igualmente significativos.
“A mensagem que desperta a esperança dos pobres e descartados é revolucionária para a ordem social e religiosa do judaísmo… A ordem da religião judaica baseava-se na desigualdade: uma minoria dominava a maioria inculta e amedrontada”, afirma San Román, padre jesuíta. E continua: “A mensagem de Jesus desestabiliza a falsa paz. Proclama que não há razão para ter medo à liberdade”. Os seres humanos são donos da sua vida e, juntos, devemos construir uma sociedade mais livre, mais harmoniosa, mais cuidadora da natureza, como pede o Papa Francisco na encíclica Louvado sejas (Laudato Si).
Jesus convida-nos a não ter medo, a colocar a nossa confiança em Deus Pai que deseja o melhor para todos/as. Não ter medo de nós mesmos, nem das ocorrências, nem dos outros, nem de presumíveis forças nefastas ou de surpresas malévolas. O medo paralisa e impede a construção de um futuro apetecível, assente na esperança que dá consistência a toda a realidade vindoura. A ameaça que pende sobre a nossa condição humana, frágil e limitada, faz-nos sentir o peso do temor. É natural. A educação para o equilíbrio emocional e a prática de uma espiritualidade positiva ajudam a minorar as repercussões que as emoções nos criam e as imagens que nos chegam provocam.
“O que pode fazer um padre numa tragédia como a de Pedrogão” é o título de uma reportagem da Renascença na segunda–feira, dia 19. A radio entrevista o bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes que faz eco de conversas com padres da região atingida e de desabafos das populações que visita. Pelo seu realismo e vivacidade, transcrevem-se apenas breves parágrafos.
Muitos dos que sobreviveram, de uma ou de outra forma, aos fogos que estão a destruir parte da zona Centro do país usam expressões de religiosidade popular para manifestar o que lhes vai na alma. Numa tragédia como esta, a espiritualidade é também uma dimensão importante da vida das populações. Mas o que podem fazer os padres numa altura tão difícil, em que muitos também perdem a fé?
O bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, ajuda a Renascença a encontrar algumas respostas. “Há um campo muito grande para a Igreja, que é o de acompanhar. A Igreja não precisa de vir com muitos discursos nem com muitas palavras nem raciocínios nem explicar tudo. Precisa de estar presente, acompanhar e rezar com as pessoas. Precisa de as ajudar a despertar a dimensão espiritual e despertar fé”, salienta. Esta é uma região em que as pessoas “têm um sentido da fé muito humilde por um lado, mas muito apurado por outro.” Não tenhais medo. Eu estou convosco. Confiai e trabalhai. O Pai do Céu cuida de nós, repete a fé cristã

domingo, 14 de maio de 2017

Fátima: que futuro?

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


O futuro de Fátima depende do seu empenhamento em desencadear uma verdadeira mobilização geral contra esta indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar.

1. Nestas crónicas, recusei-me sempre a responder à pergunta: que vem o Papa fazer a Fátima? Que vinha canonizar os “beatos” Jacinta e Francisco estava assente. Para isso não precisava desta custosa deslocação. A declaração de reconhecimento da santidade destes pastorinhos podia ser feita em Roma. Por isso, julguei que era melhor esperar para ver. O Papa veio mas, antes, tinha realizado outra peregrinação bem mais arriscada e de alcance imediato: o encontro com cristãos e muçulmanos no Egipto.
Mário Bergoglio, antes de vir a Fátima, tinha publicado uma carta apostólica que transfere as competências sobre os Santuários para o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Vislumbrava nesse documento, inspirador e normativo, que viria realizar o que mais tem faltado em Fátima: tornar-se um centro propulsor de saída para o mundo e não apenas de um altar de incenso.
Como já referi, irritavam-me, entretanto, as notícias colhidas ou veiculadas pelo Santuário sobre os cuidados com a figura do Papa, a sua indumentária para celebrar, o cálice de ouro, a pala para o resguardar do sol e outras futilidades do género. Pareciam manifestar o propósito de neutralizar, na Cova da Iria, o que Bergoglio trouxe de novo à orientação da Igreja católica: uma Igreja de saída para todas as periferias, com gosto da alegria do Evangelho, de uma evangelização nova, libertadora, descrucificante.
Um grande desejo pode tornar-se numa grande decepção: ver o Papa chegar a Fátima e nem ele cumprir o que propôs para os santuários, seria o enterro da sua própria Carta Pastoral.
Entretanto, foi divulgada a oração que iria fazer no dia 12 de Maio, na Capelinha das Aparições. É uma celebração transfiguradora da Salve Rainha tão antiga e que, de repente, ficou uma nova respiração do céu e da terra. As invocações gastas encontraram a linguagem poética da fé incarnada na alegria do Evangelho. Atrevo-me a destacar: Ó doce virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima! Faz-nos seguir o exemplo dos Bem-aventurados Francisco e Jacinta e de todos os que se entregam à mensagem do Evangelho. Percorreremos, assim, todas as rotas, seremos peregrinos de todos os caminhos, derrubaremos todos os muros e venceremos todas as fronteiras, saindo em direcção a todas as periferias, revelando, aí, a justiça e a paz de Deus. Seremos, na alegria do Evangelho, a Igreja vestida de branco, da alvura branqueada no sangue do Cordeiro derramado ainda em todas as guerras que destroem o mundo em que vivemos. E assim seremos, como Tu, imagem da coluna luminosa que alumia os caminhos do mundo, a todos mostrando que Deus existe, que Deus está, que Deus habita no meio do seu povo, ontem, hoje e por toda a eternidade.
O horizonte do primeiro documento, verdadeiramente programático do Papa Francisco, (A Alegria do Evangelho), passou para a sua Salve Rainha, a oração feita missão para todas as periferias. Tinha de dizer: esta peregrinação é essencial. Como poderia Bergoglio esquecer o seu passado de transformação da religiosidade popular – puramente regional – perante um santuário que reúne multidões de muitos países?

2. O Papa veio, rezou na capela de Nossa Senhora do Ar. Repetirá, durante a sua peregrinação, que se reza em Fátima como em qualquer lugar. Seguiu para a Cova da Iria. A quem desejasse acompanhar a deslocação e a sua chegada ao santuário, os quatro canais de televisão exibiam uma verborreia contínua e irritante que não deixava espaço mental para mais nada. Não se prepararam para saber dosear o tempo da informação e do comentário com o silêncio indispensável. O silêncio imposto para a oração do Papa, na capelinha, mostrou que tudo podia ser diferente.
Um momento chave de todas as peregrinações de Fátima é o mar de luz expresso na procissão das velas. Desta vez, havia uma mensagem especial. O Papa enfrentou a sua tarefa de transformar as atitudes dos peregrinos: Peregrinos com Maria… Qual Maria? Uma «Mestra de vida espiritual», a primeira que seguiu Cristo pelo caminho «estreito» da cruz dando-nos o exemplo, ou então uma Senhora «inatingível» e, consequentemente, inimitável? A «Bendita por ter acreditado (b)» sempre e em todas as circunstâncias nas palavras divinas, ou então uma «Santinha» a quem se recorre para obter favores a baixo preço? A Virgem Maria do Evangelho venerada pela Igreja orante, ou uma esboçada por sensibilidades subjectivas que A vêem segurando o braço justiceiro de Deus pronto a castigar: uma Maria melhor do que Cristo, visto como Juiz impiedoso; mais misericordiosa que o Cordeiro imolado por nós?
Grande injustiça fazemos a Deus e à sua graça, quando se afirma em primeiro lugar que os pecados são punidos pelo seu julgamento, sem antepor – como mostra o Evangelho – que são perdoados pela sua misericórdia! (…) «Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho. Nela vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentirem importantes (…). Esta dinâmica de justiça e de ternura, de contemplação e de caminho ao encontro dos outros é aquilo que faz d’Ela um modelo eclesial para a evangelização» (b). Possamos, com Maria, ser sinal e sacramento da misericórdia de Deus que perdoa sempre, perdoa tudo.

3. Deus criou-nos como uma esperança para os outros, uma esperança real e realizável segundo o estado de vida de cada um, disse o Papa na homilia de Sábado.
Temos Mãe na Mãe de Jesus. Não veio aqui, para que A víssemos. Para isso teremos a eternidade inteira. Dos seus braços virá a esperança e a paz que necessitamos e as suplico para todos os meus irmãos no Baptismo e em humanidade, de modo especial, para os doentes e pessoas com deficiência, os presos e desempregados, os pobres e abandonados.
O futuro de Fátima depende do seu empenhamento em desencadear uma verdadeira mobilização geral contra esta indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. A vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida. Sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor.
Bem-haja, Papa Francisco!

(a) cf. Lc 1, 42.45
(b) Exort. ap. Evangelii gaudium, 288

Nota: Este texto é quase todo composto com extractos das intervenções do Papa. A selecção e organização são minhas.

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Nota: Foto do Sapo 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Quem era a serpente do Paraíso? (2)

Crónica de Anselmo Borges 


Na continuação do livro de Ariel Álvarez, 
com a pergunta acima e mais 19 sobre a Bíblia

1. "Porque é que Noé amaldiçoou o filho que o viu nu?" Uma cena estranha: Noé, que aparece na Bíblia a cultivar a vinha, "a mais preciosa e nobre de todas as plantas da Bíblia", adormeceu por causa de uma bebedeira e acaba por amaldiçoar o filho Cam, que entrou na tenda e o viu nu. O que se passou realmente? Neste caso, não se trata de homossexualidade.
Este relato tem sobretudo uma finalidade política, passando-se o mesmo com a narrativa das duas filhas de Lot, que, para não ficarem sem filhos, embebedaram o pai para terem relações com ele. Cam é o pai de Canaã e Noé não amaldiçoa Cam, mas o seu neto Canaã, porque será um filho gerado num incesto: o texto diz que Cam viu a nudez do pai, o que significa que dormiu com a esposa do pai, ou seja, com a sua própria mãe. Quem é maldito é Canaã. O texto amaldiçoa os cananeus escravizados e quer explicar as relações tensas entre Israel e os moabitas e os amonitas, também filhos de um incesto.
Havia três irmãos: Sem, Cam e Jafet. Um terminou escravo e os outros dois, livres. E "é a primeira vez que a Bíblia fala de escravidão, a instituição mais horrenda que o ser humano inventou, na qual alguém é um morto em vida, não pode decidir por si mesmo, nem fazer aquilo de que gosta, nem ir aonde quer, nem ter amigos nem ser feliz". A Bíblia falará muitas vezes do tornar-se escravo pelo pecado.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Dar testemunho em nome de Jesus

Reflexão de Georgino Rocha 

Jesus aproveita um comentário que ouve na esplanada do Templo, em Jerusalém, para abrir a “ponta do véu” sobre as realidades últimas, o sentido da história, o alcance das transformações em curso, os germes do mundo novo a surgir. E sobretudo sobre a atitude dos discípulos face a esses sinais dos tempos, que suscitam perplexidade e exigem atenção e discernimento. Recorre a uma linguagem profética típica de quem fala para iniciados a fim de lhes revelar verdades consoladoras e de os exortar a não perderem a oportunidade de marcar a diferença em relação a quem vive “distraído”.
Exemplo desta atitude é dado pelo Cardeal Parolin, após a eleição do novo presidente dos Estados Unidos da América, ao expressar o voto de que de que Deus o ilumine e o ampare no serviço à pátria e ao bem-estar e à paz no mundo. “Acredito que hoje exista a necessidade de todos trabalharem para mudar a situação mundial, que é uma situação de grave dilaceração, de grave conflito”.
E o secretário de Estado do Vaticano, já havia dito: “Creio que, antes de tudo, tomamos conhecimento com respeito da vontade expressa pelo povo estadunidense neste exercício de democracia que, soube, foi caracterizado também por uma grande afluência às urnas”. Exemplo que revela a sabedoria e a prudência, fruto de contínuo discernimento.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

OBRIGADO JESUS, ÉS O MEU SALVADOR

Reflexão de Georgino Rocha

Jesus encontra-se com leprosos numa aldeia situada entre a Samaria e a Galileia, no caminho para Jerusalém. Pode parecer um encontro fortuito, mas não é pois os protagonistas mutuamente se desejavam: Os leprosos, por necessidade; Jesus por imperativos da sua missão, de que faz parte integrante a atenção sanadora aos excluídos da sociedade e amaldiçoados da religião judaica. Lucas concentra a narração na atitude do samaritano leproso que é curado em contraste com os outros nove. Evita pormenores ou derivas que distraiam o discípulo leitor. E fá-lo com grande acerto descritivo.