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domingo, 27 de setembro de 2020

Deus onde está?

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO


Cristo não sacralizou a pobreza. Ao centrar o seu olhar e os seus cuidados 
nos marginalizados, abriu o caminho aos seus discípulos:
 fazei tudo para eliminar as periferias.

1. De Fátima a Meca ou a Jerusalém, o desconsolo é evidente em quem deseja e não consegue participar nas grandes celebrações da fé a que se estava habituado. As assembleias reduzidas, com observância rigorosa do novo ritual que impõe distâncias, uso obrigatório de máscara e um ritmo marcado de purificações das mãos, acentuam um clima de desconfiança mútua num cenário de catacumba.
Não é por causa de qualquer medida contra a liberdade religiosa, mas para defesa das ameaças de um vírus que não pergunta aos seus hóspedes se são crentes, agnósticos ou ateus.
A ciência tem-se mostrado muito lenta, como é normal, a encontrar remédios para o vencer e não surgem milagres disponíveis para a substituir. A oração intensa – nas suas inumeráveis formas – pode ajudar-nos a criar em nós um espírito de resistência e de esperança. Precisamos de abrir os olhos para todas as possibilidades de trabalhar por um mundo, onde a busca da justiça, banhada de sabedoria política dos cidadãos, se torne o nosso pão de cada dia. 

domingo, 28 de julho de 2019

Anselmo Borges - Marta e Maria, Eco e Narciso

Aldeia de Betânia - Jerusalém 

1. É um passo extraordinário do Evangelho segundo São Lucas.
Numa aldeia a caminho de Jerusalém, Betânia, Marta, a dona da casa, convidou Jesus, e, claro, querendo receber bem, como é próprio de uma dona de casa que convida um hóspede ilustre, afadigava-se a trabalhar. Entretanto, a sua irmã, Maria, sentada aos pés de Jesus, na posição própria do discípulo que escuta um rabi, um mestre, pôs-se a ouvir a palavra d'Ele. O trabalho era tanto que Marta veio ao encontro de Jesus e, compreensivelmente, quase em termos de repreensão, atirou-lhe: "Senhor, não te importas que a minha irmã me tenha deixado sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me." Jesus respondeu: "Marta, Marta, andas inquieta e agitada com muita coisa, quando uma só é necessária! Na verdade, Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada."

2. Ao longo dos tempos, sobre este texto sucederam-se os comentários. Que Marta representa a acção e Maria a contemplação. Mestre Eckardt, paradoxalmente, chamou a atenção para o facto de a verdadeira mística ser, afinal, Marta, no contexto do que se chamou "a mística de olhos abertos", dirigida à acção a favor dos outros. A contemplação sem acção, sem compaixão, pode não passar de pura ilusão. De qualquer modo, é essencial sublinhar o que raramente ou mesmo nunca se diz: Jesus está a afirmar que as mulheres também podem e devem ser discípulas. Não é por acaso que Maria está precisamente na posição do discípulo: aos pés de Jesus, escutando a sua palavra. Contradizendo o que estava determinado, Jesus teve discípulos e discípulas; as mulheres não podem estar confinadas ao serviço da casa.

3. Numa leitura abrangente e essencial, o que o texto propugna é uma Igreja das duas irmãs e a vida de todos, de cada um e de cada uma, tem de ser a sínteses das duas irmãs. Também na política.

Concretizando.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Georgino Rocha - Receber Jesus em sua casa

"Portas abertas para acolher quem chega e para sair
à procura dos náufragos de todas as esperanças"

Jesus continua a sua caminhada para Jerusalém e aproveita para fazer os seus ensinamentos, ora por gestos e palavras, ora por atitudes e parábolas. Acompanha-o o grupo dos discípulos. Avança por cidades e aldeias. Escolhe o ritmo da viagem. Atende a quem o procura e lhe manifesta um desejo. Toma, também, a iniciativa de ir ao encontro de quem quer. Para visitar amigos e fazer confidências. Para descansar e revigorar forças. Seja qual for a razão, Jesus faz, de cada passo, uma ocasião para dar a conhecer algum detalhe da sua mensagem.
Lucas – o evangelista médico que narra a visita de Jesus a Marta e a Maria – coloca este episódio após a parábola do bom samaritano e antes da oração do “Pai Nosso”. Lc 10, 38-42. Parece atribuir-lhe uma força emblemática: a situação marginalizada da mulher entre os judeus e a igualdade radical de todos os humanos, a urgência de caminhar para uma sociedade inclusiva que seja espelho do “nosso Pai”, da comum humanidade de todos. E define a correspondente regra de ouro: abrir a porta e saber acolher; escutar e entrar em sintonia, facilitar. Esta regra mantém um valor acrescido na cultura hegemónica de exclusão e abandono, de preconceitos e muros erguidos, que nos envolve. O Papa Francisco, por gestos e palavras não cessa de chamar a atenção para este drama da humanidade, que tem o rosto dos refugiados abandonados, dos migrantes rejeitados, de multidões esfomeadas, de cadáveres a boiar com o ritmo das onda, enquanto não são recolhidos por algum “salva-vidas” de solidariedade.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Georgino Rocha: De Jerusalém para o mundo


JESUS APRESENTA-SE MONTADO NUM JUMENTO



Jesus sabe que a sua vida corre perigo e pressente que os últimos dias estão a chegar. A paixão por dar a conhecer a novidade do Reino de Deus, de que é portador/realizador, leva-o a ser criativo, a inventar maneiras, ainda que apoiando-se em citações e reminiscências dos profetas. A paixão por despertar a consciência ensonada dos responsáveis políticos e religiosos impele-o a empreender novas ousadias, a enfrentar armadilhas fatais. A paixão por desvendar ao povo humilde a verdade do que está a acontecer leva-o a apresentar-se montado num jumento na cidade de Jerusalém. Esta realidade constitui o pórtico da Semana Santa que, hoje, se entreabre com a bênção e procissão dos Ramos e a proclamação da narração da Paixão segundo Lucas (Lc 22, 14 - 21, 56).
Jesus está nas imediações do monte das Oliveiras, na aldeia de Betfagé, vindo de Betânia, terra do amigo Lázaro e sua família. Sonha com uma nova oportunidade e quer criar um facto histórico de grande alcance simbólico. Chama dois discípulos e diz-lhes: “Ide à povoação que está em frente e, logo à entrada, vereis um jumentinho preso…Soltai-o e trazei-o” (Lc 19, 30). Eles assim fizeram.
E o sonho converte-se em realidade. Entregam o animal a Jesus, preparam a montada, estendendo pelo dorso capas de protecção. Jesus sobe e começa a procissão rumo a Jerusalém, cidade do Templo que está ao alcance da vista. Os acompanhantes e outros peregrinos vão-se incorporando e o barulho aumenta. Capas estendidas, ramos de verdura agitados, gritos de hossana e outras aclamações são sinais da sua alegria e do seu entusiasmo. Cena, agora, evocada nas famílias e comunidades cristãs, a testemunhar a robustez da convicção religiosa e da fé católica numa sociedade que se afirma laicizada e, em que grupos aguerridos, teimam em impor a sua ideologia intolerante.

domingo, 25 de março de 2018

JERUSALÉM, SÍMBOLO DA GUERRA OU DA PAZ?

Frei Bento Domingues 

Bento Domingues

1. Nunca fui a Jerusalém. Um grande amigo que lá viveu 45 anos e lá morreu, Frei Francolino Gonçalves, nunca tentou convencer-me de que essa seria a peregrinação indispensável. Se não pudesse dispor pelo menos de um mês para observar e estudar as suas loucuras e contradições, era melhor não pôr lá os pés. Lamentava que as "peregrinações paroquiais" se esquecessem de visitar e apoiar as comunidades cristãs vivas, de língua árabe, e se fixassem apenas em pedras e lugares sagrados da memória, resgatados pela arqueologia.
Li narrativas, reportagens e obras sobre a chamada Terra Santa e os seus lugares de importância diferente para judeus, cristãos e muçulmanos.
Sei que o conhecimento directo da geografia dos acontecimentos bíblicos, históricos ou lendários, pode ajudar a imaginação de um leitor da Bíblia. Não consigo, porém, entrar na ideologia dos lugares sagrados ou santos. Esta facilmente resvala para a idolatria e para a magia. Um bom negócio, em todo o mundo, contra o qual o próprio Jesus se insurgiu. Sagradas são as pessoas de todos os povos e culturas. Nem acho graça nenhuma que um povo, seja ele qual for, se possa chamar povo de Deus, como um privilégio. Os outros povos de quem são?
Jesus teve um encontro inesperado com uma Samaritana. Um encontro fantástico. Entre outras questões, ela procurou tirar a limpo a dos lugares sagrados: os nossos pais adoraram neste Monte (Garizim), mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar. Jesus, depois de muitas considerações, concluiu: Vem a hora — e é agora — em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade [1]. Deus não está preso a nenhum lugar.

sexta-feira, 23 de março de 2018

JESUS APRESENTA-SE MONTADO NUM JUMENTO

Georgino Rocha


De Jerusalém para o mundo


Jesus sabe que a sua vida corre perigo e pressente que os últimos dias estão a chegar. A paixão por dar a conhecer a novidade do Reino de Deus, de que é portador/realizador, leva-o a ser criativo, a inventar maneiras, ainda que apoiando-se em citações e reminiscências dos profetas. A paixão por despertar a consciência ensonada dos responsáveis políticos e religiosos impele-o a empreender novas ousadias, a enfrentar armadilhas fatais. A paixão por desvendar ao povo humilde a verdade do que está a acontecer leva-o a apresentar-se montado num jumento na cidade de Jerusalém. Esta realidade constitui o pórtico da Semana Santa que, hoje, se entreabre com a bênção e procissão dos Ramos e a proclamação da narração da Paixão segundo Marcos (Mc 14, 1-15, 47).
Jesus está nas imediações do monte das Oliveiras, na aldeia de Betfagé, vindo de Betânia, terra do amigo Lázaro e sua família. Sonha com uma nova oportunidade e quer criar um facto histórico de grande alcance simbólico. Chama dois discípulos e diz-lhes: “Ide à povoação que está em frente e, logo à entrada, vereis um jumentinho preso…Soltai-o e trazei-o” (Mc 11, 1-11). Eles assim fizeram.
E o sonho converte-se em realidade. Entregam o animal a Jesus, preparam a montada, estendendo pelo dorso capas de protecção. Jesus sobe e começa a procissão rumo a Jerusalém, cidade do Templo que está ao alcance da vista. Os acompanhantes e outros peregrinos vão-se incorporando e o barulho aumenta. Capas estendidas, ramos de verdura agitados, gritos de hossana e outras aclamações são sinais da sua alegria e do seu entusiasmo. Cena, agora, evocada nas famílias e comunidades cristãs, a testemunhar a robustez da convicção religiosa e da fé católica numa sociedade que se afirma laicizada e, em que grupos aguerridos, teimam em impor a sua ideologia intolerante.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Jerusalém: com um "estatuto especial"?

Anselmo Borges 

Anselmo Borges

1 Jerusalém é uma cidade mítica no imaginário de milhões e milhões de pessoas, concretamente crentes das três religiões monoteístas.
O significado da cidade para os judeus está bem expresso no Salmo 137, versículos 5-6: "Se me esquecer de ti, Jerusalém, fique ressequida a minha mão direita! Pegue-se-me a língua ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti, se não fizer de Jerusalém a minha suprema alegria!" Os cristãos sabem que foi em Jerusalém que Jesus enfrentou a religião oficial, exploradora do povo, ali foi condenado à morte e crucificado, ali fizeram os primeiros discípulos a experiência avassaladora de que a morte não teve nem tem a última palavra, pois Jesus está vivo para sempre em Deus. Para os muçulmanos, Jerusalém, onde se encontra a mesquita Al-Aqsa, é o terceiro lugar sagrado, depois de Meca e Medina.
Mas Jerusalém foi e é também lugar de confrontos constantes, de invasões permanentes ao longo da história, de contínua conflitualidade e, actualmente, um dos focos mais explosivos, com perigos e ameaças para a paz. A recente decisão do presidente Trump de passar para lá a Embaixada dos Estados Unidos, reconhecendo Jerusalém como capital de Israel, só contribuiu para incendiar os ânimos e agudizar as tensões.

2 Neste contexto, no passado dia 17, teve lugar no Cairo, por iniciativa das autoridades da universidade e mesquita Al-Azhar, uma conferência internacional sobre a Cidade Santa, Jerusalém, também com a presença, entre outras personalidades, do patriarca copta ortodoxo Teodoro II, o patriarca maronita Béchara Boutros Raï e o catholicos arménio Aram.