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domingo, 8 de dezembro de 2019

Francisco no Japão: é “imoral” o uso e a posse de armas nucleares

Crónica de Anselmo Borges 

Francisco realizou o seu sonho de jovem: ser missionário no Japão. Foi de lá que, na semana passada, enviou para o mundo mensagens essenciais para o futuro da Humanidade. 


1. Entre essas mensagens, clamou por uma “ecologia integral”, atendendo, portanto, também à ecologia humana, que exige solidariedade; deixou claro que é necessário combater “o fosso crescente entre ricos e pobres”; “a dignidade humana deve estar no centro de toda a actividade social, económica e política, sendo necessário fomentar a solidariedade inter-geracional”; “sabemos que, em última análise, a civilização de cada nação e povo não se mede pelo seu poder económico mas pela atenção que dedica aos necessitados bem como pela capacidade de tornar-se fecundos e promotores da vida”; clamou contra “o eu isolado”, contra o bullying e os excessos do consumismo compulsivo, pedindo concretamente aos bispos que ajudem os jovens contra o bullying e os suicídios, já que em cada ano no Japão 30.000 pessoas, na sua maioria jovens, acabam com a vida; advertiu contra o carreirismo, a competição excessiva na busca do lucro e da eficiência, o êxito a qualquer preço: “a liberdade pode ver-se asfixiada e debilitada quando ficamos encerrados no círculo vicioso da ansiedade e da competitividade ou quando concentramos toda a nossa atenção e as melhores energias na procura sufocante e frenética de produtividade e consumismo como único critério para medir e validar as nossas opções e definir quem somos e quanto valemos”; apelou ao sentido do maravilhamento e da admiração frente “à imagem das cerejeiras em flor”; embora a Igreja Católica seja minoritária (menos de 0,5% da população, sendo a maioria dessa minoria constituída por trabalhadores estrangeiros), “isso não deve tirar força ao vosso compromisso com uma evangelização cuja palavra mais forte e clara é a de um testemunho humilde, quotidiano e de diálogo com outras tradições religiosas”; “o anúncio do Evangelho da Vida impele-nos e exige, como comunidade, que nos convertamos num hospital de campanha, preparado para curar feridas e oferecer sempre um caminho de reconciliação e perdão”; na Universidade Sophia de Tóquio, dos jesuítas, renovou as suas críticas ao “paradigma tecnocrático” ao mesmo tempo que pediu que “os grandes avanços tecnológicos de hoje possam colocar-se ao serviço de uma educação mais humana, justa e ecologicamente responsável.” 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Silêncio

Crónica de Anselmo Borges 

S. Francisco Xavier



Em 1549, São Francisco Xavier esteve no Japão e 60 anos depois já havia 300 mil católicos. Em 1614, começou uma perseguição brutal, para que renegassem a fé. Eram submetidos a dois suplícios: o da fossa e o da cruz. No primeiro, os condenados, envoltos em panos e amarrados fortemente por cordas e com um pequeno corte por detrás da orelha, donde saíam gotas de sangue, eram suspensos pelos pés, com a cabeça para baixo e para dentro de uma cloaca, podendo ficar assim dez dias até morrerem. A outra tortura: amarrados numa cruz erguida frente ao mar, ficavam abandonados às ondas, que iam e vinham esmagadoramente contra eles, no frio e na fome, dia e noite, até à morte.
Em 1966, o escritor católico Shusaku Endo, que foi proposto para Prémio Nobel da Literatura, escreveu um romance com o título Silêncio, agora em filme com o mesmo nome, de Martin Scorcese. Têm um fundo histórico. O padre jesuíta Cristóvão Ferreira apostatou, não resistindo à tortura da fossa, o que causou enorme comoção na Europa. Em plena perseguição, dois jovens jesuítas, Rodrigues e Garpe, oferecem-se para partir: move-os fundamentalmente saberem o que se passou na verdade com Ferreira, que tinha sido seu formador no seminário e que tanto admiravam.
O livro e o filme são obras cimeiras, de rara intensidade dramática e comoção, mas não admira que hoje não se perceba essa intensidade, porque, numa sociedade do bem-estar material e numa cultura do provisório e da pós-verdade, não há abertura para as decisivas questões metafísico-religiosas. Ficam aí quatro notas sobre o que penso serem os seus temas essenciais.