Ser órfão!
Não ter na vida aquilo que todos têm!
É como a ave sem ninho...
É qual semente perdida que,
ao voltar do seu eirado,
o lavrador descuidado
deixou tombar no caminho.
Guerra Junqueiro
Estava de saída, num restaurante local, onde paro de vez em quando para satisfazer as necessidades do corpo e ao mesmo tempo apreciar a gastronomia das Gafanhas.
Como é comum, no meu percurso docente, eu ter lecionado a meia Gafanha, inteirava-me da situação escolar do filho dos donos, meu ex-aluno. Qualquer professor gosta de saber a evolução dos seus alunos, quando são lançados no vasto mundo.
Aquele, um native speaker, ia bem no prosseguimento de estudos. Fora uma criança dócil, para quem o cumprimento de regras não constituiu qualquer dificuldade.
Quando me dirigia para a porta, fui intercetada de forma desabrida, por um adolescente, que me pespegou dois beijos na cara e continuou a cirandar ali, à minha volta.
Estava naquele momento a frequentar um curso com a componente prática, numa empresa local – informou ele, com despacho.
A imagem que guardo do T. é a de uma criança que a vida atirou para o mundo, sem um berço para o acolher. Andara ao sabor da maré, que nem sempre fora a seu favor. Denotava um abandono profundo no que toca aos laços afetivos que lhe haveriam de estruturar a personalidade. Essa carência fez dele uma criança instável, irrequieta e com poucas perspetivas de futuro. Causava dó! Qualquer migalha de afeto, que lhe dessem, era para ele sustento. Migalhas é pão…diz o refrão popular.