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sábado, 2 de julho de 2022

RIA DE AVEIRO vista por Eça de Queirós

… Filho de Aveiro, educado na Costa Nova, quase peixe da ria, eu não preciso que mandem ao meu encontro caleches e barcaças. Eu sei ir por meu próprio pé ao velho e conhecido «palheiro de José Estêvão».

Eça de Queirós, “Carta a Oliveira Martins”, 1884

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… a Costa Nova — e eu considero esse um dos mais deliciosos pontos do globo. É verdade que estávamos lá em grande alegria e no excelente chalé Magalhães.

Eça de Queirós, “Entre os Seus, Cartas Íntimas”, 15 de Julho de 1893

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Apesar de ter retardado ontem o meu jantar até às nove da noite, não pude desbastar a minha montanha de prosa. Levar as provas para os areais da Costa Nova, não é prático — ó homem prático! Há lá decerto a brisa, a vaga, a duna, o infinito e a sardinha — coisas essenciais para a inspiração — mas falta-me essa outra condição suprema: um quarto isolado com uma mesa de pinho.

Carta a Oliveira Martins, 1884

domingo, 16 de agosto de 2020

RETALHOS: Eça de Queiroz


«Jacinto, bondoso, acudiu:
— Não, tudo se arranja, Melchior. Por uma noite!... Até gosto mais de dormir em Tormes, na minha casa da serra! Saímos ao terreiro, retalho de horta fechado por grossas rochas encabeladas de verdura, entestando com os socalcos da serra onde lourejava o centeio. O meu Príncipe bebeu da água nevada e luzidia da fonte, regaladamente, com os beiços na bica; apeteceu a alface rechonchuda e crespa; e atirou pulos aos ramos altos de uma copada cerejeira, toda carregada de cereja. Depois, costeando o velho lagar, a que um bando de pombas branqueava o telhado, deslizámos até ao carreiro, cortado no costado do monte. E andando, pensativamente, o meu Príncipe pasmava para os milheirais, para os vetustos carvalhos plantados por vetustos Jacintos, para os casebres espalhados sobre os cabeços à orla negra dos pinheirais.» 

Eça de Queiroz, 
"Cidade e as Serras”, 
página 141 da edição que possuo

NOTAS:  

1. Com esta nova rubrica, pretendo sugerir leituras de livros que fazem parte da minha biblioteca e que, ao longo da vida, me deixaram marcas indeléveis;
2. Eça de Queiroz faleceu neste dia, 16 de Agosto, do ano  1900, em França. 

sábado, 21 de outubro de 2017

EXPRESSO cativa leitores


Leio o semanário EXPRESSO desde o seu primeiro número. Como eu, muitíssimos outros. Daí o facto de ser considerado, desde o início, um jornal de referência, pela qualidade do seu estatuto, onde pontifica a sua independência face aos poderes constituídos, mas também o nível de muitos jornalistas e colaboradores. Porém, o tempo de vida deste semanário não pode evitar certos cansaços de alguns  leitores, estando eu convencido de que a conquista de  novos públicos se torna difícil, face aos projetos online que nos oferecem a notícia e a reportagem em cima do acontecimento. Aliás, o mesmo faz este semanário.
O EXPRESSO, todavia, tem procurado lutar contra a debandada natural de alguns leitores,  que permanecem fiéis ao peso do papel e aos textos jornalísticos que semana a semana o alimentam, tanto nos cadernos principal e da economia como na revista, com reportagens, curiosidades e entrevistas que marcam a atualidade. E para cativar os leitores usa  a oferta de coleções de obras que os aconselham a reler autores, muitos dos quais correm o risco de ficar injustamente nas gavetas do esquecimento. Diz-se, não sei com que fundamento, que esta oferta é isco para conquistar novos leitores e para manter os mais velhos como eu. Se é, então a oferta resulta. 
No passado fim de semana, o EXPRESSO iniciou a publicação de mais uma coleção — Clássicos de sempre — dedicada a escritores nacionais com lugar cativo nas bibliotecas portuguesas e de um sem-número de compatriotas. São livros que se leem ou relem em poucos dias. Admito que de outra forma eu talvez nem me desse ao trabalho de os procurar nas minhas estantes. E por isso,  de mão beijada, sou desafiado a ler o que vai chegando. Foi assim com “Alves & C.ª” de Eça, que li, pela primeira vez, há quase 60, na Biblioteca Municipal do Porto, nos meus tempos de estudante. Outros se seguirão. 

Fernando Martins

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Política de Interesse



«Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. 
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.»

Eça de Queirós, in Distrito de Évora (1867)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O jovem escritor — Afonso Reis Cabral

Crónica de Maria Donzília Almeida


O dia 11 de setembro, dia de má memória, é duplamente uma data triste que eu recordo. Para além do ato terrorista que derrubou as Twin Towers no World Trade Center em 2001, nos EUA, provocando comoção em todo o mundo, evoca também a partida da nossa mãe, no mesmo dia, em 2008. Éramos todos de idade madura quando isso aconteceu, mas a perda de um ente querido é sempre irreparável.
Não devemos ser prisioneiros do passado, como convém, nomeadamente aos políticos que deixam para trás os erros cometidos, mas devemos sim, seguir em frente, concentrando-nos no presente e nos novos desafios que a vida nos aponta.

Nesta perspetiva, procuro sempre ver o lado positivo das coisas e tive neste dia a concretização do mesmo. A Biblioteca Municipal de Ílhavo comemorou, neste dia 11 de setembro de 2015, o 10.º aniversário da sua existência, com a realização de um Jantar Literário, nas suas instalações.
A minha participação neste jantar, como provavelmente a dos outros participantes, foi, acima de tudo, motivada pela curiosidade e grande desejo de conhecer o escritor que viria abrilhantar o evento.
O jantar decorreu em franca camaradagem, havendo subjacente às conversas, a partilha do gosto pela literatura e pelos livros.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Eça de Queirós terá razão?

Portugal está a atravessar a pior crise



Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: —  mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não —  pelo menos o Estado não tem: —  e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior — e sem cura. 

Eça de Queirós, 
in 'Correspondência (1891)

li no Citador

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Eça de Queirós: Portugal está a atravessar a pior crise


 Eça de Queirós

«Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura.»

Eça de Queirós, in 'Correspondência (1891)'

sábado, 29 de agosto de 2009

Eça de Queirós adorava as férias na praia da Costa Nova


"Eça de Queirós descreveu a Costa Nova, em 1883, como "um dos mais deliciosos pontos do globo". Nas férias costumava frequentar um "excelente chalé", a casa que ainda hoje existe e é conhecida como o palheiro de José Estêvão. Eça elogiava "a brisa, a vaga, a duna, o infinito e a sardinha" da Costa Nova, mas faltava- -lhe uma condição suprema para a inspiração: "um quarto isolado com uma mesa de pinho", como referiu numa carta ao seu amigo Oliveira Martins."

Leia mais no i de hoje

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Recordando Eça de Queirós

Eça agHora Disse João da Ega, Que não era um primo A campanhas alegres dado, Depois que encontrou Carlos, no avistado arrimo Do Turf, num Rossio ultrapassado Pelos anos em que ensonou Num País de lupanares e calotes, E de malandros aos magotes, Num País de corridas falazes E de vestidos sérios de missa, Com jornais bafientos E de artigos rançosos Lidos por uns tantos rapazes De futuros pachorrentos E costumes ociosos: «-Falhámos na vida, menino!» E os tempos verbais trocados Ensinam a História redita, Desde os serões iluminados Pelas lições da monarquia, À juventude nérvea de sabedoria E impaciência liberal, Que corre num vai-vem Num outro aterro irreal Aquém delirante do trem Que nem sempre alcançamos. E assim vai o País de quem promete Lançar carris em largueza Para deixar de vez a charrete E permanecer na certeza Das falas finais que relembramos: «-Ainda o apanhamos!» Hélder Ramos 25.XI.2008
NOTA: A propósito do dia de hoje, aqui segue um poema dedicado a Eça de Queirós, pelo 163º aniversário. É um poema ao estilo parodioso do romancista, inspirado em algumas personagens e obras marcantes do autor.
Hélder Ramos

segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

Eça de Queirós na Costa Nova

Palheiro de José Estêvão



Passei há dias pela Costa Nova e não pude deixar de olhar para o célebre Palheiro de José Estêvão, registando os meus olhos um certo abandono. Parei, fotografei e lembrei-me de que outrora foi palco, com certeza, de debates políticos, tão ao gosto do nosso insigne parlamentar.
Eça de Queirós por ali andou, graças à gentileza e amizade, de Luís de Magalhães, filho do nosso maior parlamentar, que não de José Estêvão. Conversas literárias e sociais, em que terá participado o ilustre escritor Eça de Queirós, autor de tantas obras célebres e ainda hoje tão apreciadas, de que destacamos, Os Maias, A Relíquia, A Cidade e as Serras, Correspondência de Fradique Mendes, O Crime do Padre Amaro e o Primo Basílio, entre outras. 

Da sua passagem pela Costa Nova, fala o escritor em carta a Oliveira Martins (1884), quando diz: «...Filho de Aveiro, educado na Costa Nova, quase peixe da ria, eu não preciso que mandem ao meu encontro caleches e barcaças. Eu sei ir por meu próprio pé ao velho e conhecido 'palheiro' de José Estêvão...» E na mesma carta, acrescenta: «Apesar de ter retardado ontem o meu jantar até às nove da noite, não pude desbastar a minha montanha de prosa. Levar as provas para os areais da Costa Nova, não é prático -— ó homem prático! Há lá decerto a brisa, a vaga, a duna, o infinito e a sardinha — coisas essenciais para a inspiração — mas falta-me essa outra condição suprema: um quarto isolado com uma mesa de pinho.» 

Anos depois, em 15 de Julho de 1893, em "Entre os Seus, Cartas Íntimas", sublinha: «... a Costa Nova —  e eu considero esse um dos mais deliciosos pontos do globo. É verdade que estávamos lá em grande alegria e no excelente chalé Magalhães».

F.M