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quarta-feira, 7 de março de 2018

DIVORCIADOS RECASADOS E A ALEGRIA DO AMOR

Georgino Rocha




ITINERÁRIO DE ACOMPANHAMENTO -1


Introdução – Este itinerário surge como uma proposta de acção pastoral na urgente missão de acolher, acompanhar, discernir e integrar quem está em segunda união matrimonial ou seja os católicos divorciados e recasados civilmente. Demarcam-se alguns passos que ficam como referência comum de um processo em que cada pessoa envolvida é chamada a fazer o seu percurso singular.
Supõe uma atitude prévia, a de assumir este serviço como missão e este percurso como itinerário de re-iniciação cristã ou de inspiração catecumenal, agora de revisitação do matrimónio realizado. Acertar a possibilidade de um trabalho em conjunto com casais que tenham experiência, sensibilidade e formação cristã. Pode ser útil “A Alegria do Amor (AL), cap. VI, sobretudo nº 217 e seguintes.

1. Identificar quem está na situação de católico divorciado recasado civilmente e manifesta alguma predisposição para conversar sobre o que levou a essa opção.
Os meios a usar podem ser conhecimento pessoal, pedidos de serviços à paróquia, informações de colaboradores paroquiais. (AL 230).

2. Fazer o convite pessoal, indicando a disponibilidade do pároco/padre para acolher e ter um primeiro encontro. Prestar as informações correspondentes às perguntas que surjam.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Georgino Rocha - Discernir o que é melhor



Opção de divorciados recasados 

A experiência menos feliz do primeiro casamento exige certamente a quem opta por um segundo uma séria ponderação e uma grande maleabilidade para suavizar surpresas e ter garantias de acertar. Exigência prévia no início, mas também em toda a caminhada conjugal. Exigência mobilizadora de energias e capacidades que serão compensadas pela felicidade alcançada no futuro. Exigência que pode levar o novo casal a procurar ajuda junto de quem vive a mesma experiência ou de quem mantém com alegria serena e confiante a primeira opção matrimonial.
Tenho vindo a ler relatos vários e a acompanhar iniciativas diversas, a ler artigos de revista e livros que procuram abrir horizontes a este vasto campo onde o sonho se confronta com os limites da realidade e o desejo de acertar com as hipóteses de insucesso. E o casal em segundas núpcias sente-se inseguro, pressionado pela força da nova opção, “assaltado” pela memória do fracasso ocorrido, vigiado por um olhar estranho e acusatório, sobretudo de certos cristãos.
Partilho esta urgência pastoral numa reunião de preparação do encontro de casais do movimento das Equipas de Nossa Senhora. E surgem opiniões que alargam o horizonte da conversa. O amor conjugal está exposto a provocações frequentes e graves – diz um. E concretiza: A facilidade de contactos na rede virtual, a onda erotizada da opinião publicitada, o assédio em ambientes de trabalho, a fragilidade de convicções em relação ao amor e de certezas sobre a sua durabilidade. Adianta outro: A família tende a desestruturar-se, casais são impelidos a viver separados por longos períodos por afazeres profissionais, filhos são estimulados por surpreendentes solicitações e entregues à voracidade das paixões sem esteios de referência ética. E em jeito de quem prevê caminho a seguir, afirma: Temos de assumir começar por casa e procurar que o nosso testemunho seja irradiante e a nossa palavra respeitosa e convincente.
Faço minhas as observações apresentadas e sublinho a importância do testemunho e da palavra. Oxalá irradiem de tal modo que despertem nos jovens e nos divorciados recasados a estima pelo matrimónio sacramental e a vontade positiva de dar passos na escolha do que é melhor como exortava S. Paulo os cristãos de Filipos, exortação surgida num contexto determinado, mas agora muito actual e prática para iluminar as fases da ajuda pastoral a divorciados recasados. (Fl 1, 3-11).
“A Alegria do Amor”, do Papa Francisco, está ainda “em fase de assimilação” em Portugal, mas motiva já uma nova dinâmica pastoral perante os desafios das famílias, afirma D. Joaquim Mendes, presidente da Comissão Episcopal para o Laicado e a Família, no encontro dedicado à “Família e transformação social”; encontro realizado em Fátima a 21 de Setembro de 2017. Faz assim uma avaliação da atenção que os cristãos e seus responsáveis, tanto em dioceses como em paróquias e movimentos, têm dado a tão importante exortação apostólica.
Escolher o que é melhor é propósito de quem assume com honradez e valentia a vida e seus desafios; aspira sempre ao ideal e valoriza o passo possível; confiado nas razões fundadas na natureza e no esforço pessoal e, neste caso, conjugal, na possível ajuda dos familiares e amigos, na graça de Deus que não falha. Valorizar o passo possível desinstala, faz apreciar o bem alcançado, desejar prosseguir (as margens do possível frequentemente podem alargar-se) e fazer a experiência de que Deus está na caminhada em busca do melhor para a situação concreta, celebrar esta presença que abençoa e impulsiona a avançar. Escolher o melhor é sabedoria que o discernimento quer proporcionar. Como é urgente treinar esta arte quer a nível pessoal e familiar, quer a nível institucional e comunitário.
D. Manuel Clemente, no final da Assembleia do Episcopado a 16 de Novembro, propôs uma atitude fundamental a desenvolver: a de “acolhimento”, de “acompanhamento” e “discernimento” dos divorciados recasados, assinalando que “em grandíssimo número de casos” o matrimónio foi nulo. E sublinha que a possibilidade de readmissão destes católicos aos sacramentos, implica um itinerário "muito longo" e não é uma decisão “rápida, imediata, simples”. Trata-se de uma coisa séria”.
Os desafios da família constituem uma excelente oportunidade para relançar uma nova dinâmica pastoral. Demos as mãos. Há tanta iniciativa solta. Sejamos realistas. Há tanta reflexão genérica, fria e distante. Ousemos mais e melhor. Há capacidades adormecidas que esperam ser despertas.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Divorciados recasados pedem à Igreja a bênção de Deus




“Não deixa de ser estranho que a Igreja no seu Ritual de Bênçãos contemple tanta diversidade de pessoas, de animais e de coisas e mostre relutância em atender o pedido de divorciados recasados que as desejam para a sua nova situação”, diz-me um amigo de velha data familiarizado com esta temática. Estou de acordo com ele, embora para suavizar a intensidade da queixa lhe lembre que é para evitar confusões com os ritos do matrimónio sacramental. Ele prossegue: “Por medo a confusões e ao risco, a história dá-nos lições de profecia, vendo a realidade cultural a avançar e certas instâncias da Igreja a ficarem paradas no tempo ou mesmo a entrar em conflito com as novas realidades”. E o Papa Francisco a proclamar que prefere uma Igreja acidentada, hospital de campanha…

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Divorciados recasados fazem caminho


Constitui uma fonte preciosa o legado de D. António Francisco dos Santos em vários âmbitos do agir pastoral da Igreja. No caso presente da relação a promover com os divorciados recasados. Em entrevista de 2015 para a revista “Vida Nueva” afirma: “Diante da Igreja e na Igreja todas as pessoas têm nome, rosto, alma e coração. Muitas vezes, um coração partido, a sofrer, dorido, por muitas desventuras! Mas a Igreja tem de saber acolher e fazer um caminho em comum nesse sentido” E mais adianta, como informa António Marujo: “Temos também de saber reflectir com eles, não apenas acolher. Importa saber ouvir e decidir com os casais divorciados recasados os caminhos de cada um no empenhamento concreto na vida da Igreja. Mesmo com aqueles que estejam em situações de ruptura ou de não aceitação das orientações da Igreja, sabemos que nunca podem ser marginalizados e que podem sempre encontrar a Igreja aberta.”

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Georgino Rocha — Divorciados recasados






A IGREJA EM MOVIMENTO DE AJUDA

“Vamos levar connosco a «Alegria do Amor» para, em férias, revisitarmos toda a exortação do Papa Francisco que, durante o ano, andámos a ler com um grupo de casais amigos”. E adiantam que “não se pode deixar passar, sem especial cuidado, mensagem tão importante.” Agradecia-lhes a informação, felicitei-os pela decisão tomada e anunciei-lhes que também eu a estava a reler e a tomar notas que, de vez em quando, dava a conhecer. Algumas dessas notas versam sobre os divorciados recasados que, sendo cristãos praticantes, querem viver a comunhão possível na Igreja.
“Não é a «Amoris laetitia» que põe a família em crise. É a crise da família que põe a Igreja em movimento.” Esta afirmação pertence ao cardeal José Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. E constitui uma chave de leitura que ajuda a ver com atenção o que vem a público sobre a recepção da “Alegria do Amor”, sobre a relação entre a família e a Igreja, sobre a clara opção estratégica pastoral do Papa Francisco para a tão desejada saída missionária, a conversão, a compreensão da Igreja a partir “de baixo” onde o Espírito Santo lança continuamente as sementes do Reino de Deus. De facto, a alegria da família é o júbilo da Igreja. E a inversa também se pode afirmar. A reciprocidade é clara e interpelante. Por isso, a resposta à vocação da família é única e insubstituível, tanto para a Igreja como para a sociedade (AL 88).
As pessoas existem dentro de restrições, observa o cardeal Schonborn ao falar nas sessões preparatórias do Encontro Mundial das Famílias a realizar na Irlanda em 2018. E lembra que o Papa Francisco “frequentemente volta ao que disse na “A Alegria do Evangelho” em que um pequeno passo em direção ao bem feito sob circunstâncias difíceis pode ser mais valioso do que uma vida moral sólida sob circunstâncias confortáveis”.
Define assim os três pólos a ter em conta na atenção às famílias: A beleza do amor conjugal heterossexual, vivido em situações concretas e os passos a dar numa caminhada a realizar em casal. De permeio, como elemento aglutinador, está o discernimento espiritual e o acompanhamento pessoal e conjugal ou familiar. E a convicção forte de que um pequeno passo na direcção certa tem um valor enorme, pois condensa a realização possível do ideal apontado doutrinalmente.
“A Igreja deve estar de pé e em caminho, escutando as preocupações da gente e sempre na alegria”, exorta o Papa Francisco numa das suas homilias na Casa Santa Marta. E indica o exemplo do diácono Filipe (Act Ap 8) salientando os passos a dar: Prepara-te e vai; aproxima-te desse carro e acompanha-o; ouve as inquietações das pessoas; anuncia a Boa Nova desejada; vive a alegria de ser cristão. Passos que podem servir de referência para um agir pastoral solícito respeitoso.
A situação do novo casal, depois da experiência dolorosa do fracasso matrimonial, será semelhante, em metáfora, à de um precioso vaso de porcelana, cheio de fissuras cobertas pela finura do artista que sabe juntar em harmonia os pedaços partidos, aplicar-lhes a cola adequada e recobri-los com a tinta correspondente, fazendo brilhar o oiro sobre um atraente azul-escuro. Apreciar e valorar esta nova situação constitui um sólido ponto de partida para o desejado processo de integração eclesial.
Seguem-se outros passos como a revisitação da experiência anterior, a verificação das relações com as pessoas envolvidas, designadamente os filhos (se os há), o ex-cônjuge e os pais, a consistência da nova situação e propósito de caminhar gradualmente no rumo certo.
“A casa se desmoronará um dia se não se vigiar o vigamento.” Esta advertência é feita pelo Padre Henri Caffarel aos casais das Equipas de Nossa Senhor, em 1945 e destaca a necessidade do «dever de sentar» ou seja de namorar a relação e a vida, de dialogar com simplicidade e franqueza.
O casal em nova situação é sempre o protagonista da caminhada a que se propõe. Ajudado, sem dúvida, mas nunca substituído na sua consciência. Por amigos experientes e aceites. Pelo padre acompanhante por missão ou por escolha. Por grupos que se organizem nesse sentido. As possibilidades são muitas quando a criatividade faz brilhar a caridade que nos impulsiona.
E surgem iniciativas e projectos que testemunham a coragem de quem avança e sonha com uma Igreja em movimento. A título de referência, mencionam-se alguns, apenas: O recente encontro do Papa Francisco com mulheres divorciadas pertencentes ao grupo Santa Teresa, na diocese de Toledo; o serviço de Reliance organizado pela diocese de Lille e implementado pelas Equipas de Nossa Senhora; a integração de iniciativas várias em planos de pastoral a nível diocesano, como Santarém, e em catequeses familiares em paróquias; a divulgação de critérios de orientação pastoral elaborados por Bispos, como os da região pastoral de Buenos Aires que inspiram muitos outros, designadamente o documento dos Bispos do Centro de Portugal; os grupos de informação e sensibilização sobre a problemática que comporta a situação canónica dos cristãos divorciados recasados na Igreja.
“Não se deve deixar de acompanhar e educar a comunidade para que cresça no espírito de compreensão e de acolhimento… A comunidade é instrumento da «misericórdia que é imerecida, incondicional e gratuita» refere o mencionado documento dos nossos Bispos, apoiando-se na “Alegria do Amor”.

sábado, 5 de setembro de 2015

Dezassete cardeais na oposição

Crónica de Anselmo Borges 
no DN


Anselmo Borges

1. Claro que é muito antiga, mas a questão da comunhão para os divorciados que voltaram a casar-se tornou-se agora acesa, por causa da nova atitude que o Papa Francisco quer para esta situação. Já em Julho de 2013, quando regressava das Jornadas Mundiais da Juventude no Rio de Janeiro, disse no avião, em conversa com os jornalistas, que era necessário rever "o problema da comunhão para as pessoas que voltaram a casar-se", e pensava na misericórdia: "Se o Senhor não se cansa de perdoar, nós não temos outra escolha."

Rapidamente se ergueram as vozes de figuras altamente situadas, opondo-se à abertura. A oposição tem sido liderada por cinco cardeais: "Não é coerente com a vontade de Deus" (Gerhard L. Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé), vai "contra a vontade do Senhor" (Carlo Caffarra), é ilícita, porque põe em causa "a lei divina" da "indissolubilidade do casamento" (Velasio De Paolis), é "insustentável" (Walter Brandmüller), o recurso à misericórdia sem verdade atenta contra a fé (Raymond Leo Burke). É sobretudo Burke que está à frente da chamada "Filial súplica a Sua Santidade para o futuro da família", que já tem meio milhão de assinaturas, também de bispos e cardeais, na qual se pede ao "Papa Francisco que reafirme categoricamente o ensinamento da Igreja de que os católicos divorciados e que voltam a casar-se civilmente não podem receber a Sagrada Comunhão e que as uniões homossexuais são contrárias à lei divina e à lei natural". São agora 17 os cardeais que se opõem à abertura da comunhão aos recasados, com a publicação de dois livros, em várias línguas, para pressionar o Sínodo de Outubro: "Onze cardeais falam sobre o casamento e a família" e "África, nova pátria de Cristo. Contributos de pastores africanos para o Sínodo".

sábado, 1 de março de 2014

Eles já não são os mesmos

Crónica de Anselmo Borges 



1. A exposição do cardeal-teólogo Walter Kasper na semana passada aos cardeais, reunidos em Roma para darem início à reflexão sobre a família no mundo actual e a pastoral familiar, foi publicamente aplaudida pelo Papa Francisco.

A intervenção não veio a público. Mas o cardeal já tinha expressado claramente o seu pensamento, concretamente sobre a admissão à comunhão dos divorciados que voltam a casar. Já em Dezembro tinha dito ao semanário Die Zeit que os divorciados recasados "terão em breve acesso novamente aos sacramentos". E, na véspera do debate no consistório dos cardeais, afirmou, aliás na linha de Francisco, que repete constantemente "Deus não se cansa de perdoar": "Todo o pecado pode ser perdoado. Também o divórcio. Esse é o ponto de partida. Alguém pode cair num buraco negro de que Deus o pode tirar." E insistiu: "O Papa convida-nos a ir às periferias, aos subúrbios da existência humana, para sermos como o bom samaritano que ajuda e não como o sacerdote e o levita do Evangelho que têm respostas preparadas para tudo. A Igreja deve ser o hospital de campanha que cura todas as feridas." A doutrina "não é uma lagoa estancada. É uma viagem, um ponto de partida, não de chegada, e a tarefa da Igreja é ir ao encontro das pessoas". Não se pode "defraudar as expectativas, especialmente no referente à família".

Está, pois, aberto o caminho para a admissão à comunhão dos divorciados que se voltam a casar. A resposta definitiva virá dentro de dois anos, no Sínodo de 2015.