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sexta-feira, 26 de maio de 2017

FRANCISCO EM FÁTIMA (1)

Crónica de Anselmo Borges no DN

1 - Para mim, foi sempre claro que Francisco viria a Fátima no centenário das chamadas aparições. E veio. Viria, porque é profundamente mariano. Referindo-se a Maria, diz: "É a minha Mamã." E assim foi que, lá do alto do altar de Fátima, ele clamou, emocionado, para a multidão: "Temos Mãe, temos Mãe."
Veio. E quem o acompanhou pôde, mais uma vez, constatar que há nele um dinamismo sereno e contagiante de humanidade que a todos abraça, que quereria envolver todos num abraço forte e sentido de bênção, com beijos. Todos, mas de modo especial e único aqueles que ninguém abraça nem beija nem acaricia e dar-lhes confiança e esperança, a partir do Deus cujo nome é Misericórdia e que pode ajudar a converter os que têm o poder de ajudar na transformação do mundo a caminho de uma humanidade mais justa, fraterna, livre e a viver em paz.
Claro que Francisco tem de seguir protocolos, incluindo os de Estado, mas vê-se bem que esse não é o seu elemento. Onde está à vontade e é ele, é quando vai ao encontro das crianças, dos doentes, dos idosos, dos incapacitados, dos desempregados, dos presos... Então, o que se vê é o Evangelho, notícia boa e felicitante, a passar pelo mundo.
Ah! E aqueles oito minutos mágicos, de pé e em silêncio, perante a imagem da Senhora! Uma multidão de mais de meio milhão de pessoas em silêncio, com Francisco a presidir no silêncio e ouvindo o que só no silêncio se consegue ouvir e falar, lá na raiz de nós e de tudo. O que é que ele terá dito a ele mesmo, a Deus e à Senhora? O que é que cada um ouviu e disse a si mesmo, a Deus e à Senhora? "Deixai-me com as coisas/ Fundadas no Silêncio", pediu Sofia de Mello Breyner Andresen.

2 - O ser humano é rácio-emocional. Por isso, também na fé e na sua celebração, há uma dimensão de emoção. Mas a razão não pode ficar esquecida, obliterada. E há a bondade, mas acompanhada pela inteligência. E Francisco emocionou-se e apelou à bondade. Mas não postergou a razão e deixou uma mensagem de correcção teológica para Fátima. Aliás, ele tinha acabado de celebrar em Roma uma missa com a Caritas Internacional e lembrado as "intoleráveis injustiças" que os cristãos perseguidos vivem: "Façamos que todos tenham de comer e recordemos aos poderosos que Deus os chamará a julgamento", e tinha pedido a investigadores reunidos no Vaticano que "é preciso aceitar as novidades da ciência com total humildade".

Em Fátima, disse: "Olhando para Maria, voltamos a acreditar na "força revolucionária da ternura e do carinho". Nela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentirem importantes." O Céu desencadeia em Fátima "uma verdadeira mobilização geral contra a indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. Não queiramos ser uma esperança abortada!" Pediu pela Igreja, "que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor". Rezou a Maria pela humanidade inteira, pedindo a paz: "Olha as dores da família humana que geme e chora neste vale de lágrimas. Une a todos numa única família humana. Seremos peregrinos de todos os caminhos, derrubaremos todos os muros e superaremos todas as fronteiras, indo a todas as periferias, para nelas revelar a justiça e a paz de Deus." Queridos irmãos: "Rezamos a Deus com a esperança de que nos escutem os homens; e dirigimo-nos aos homens com a certeza de que nos vale Deus."

Não falou em aparições. "A Virgem Mãe não veio aqui para que A víssemos; para isso teremos a eternidade inteira, naturalmente se formos para o Céu. No dizer de Lúcia, os três privilegiados ficavam dentro da Luz de Deus que irradiava de Nossa Senhora. Fátima é sobretudo este manto de Luz que nos cobre, aqui como em qualquer outro lugar da Terra quando nos refugiamos sob a protecção da Virgem Mãe para Lhe pedir: "Mostrai-nos Jesus."" Para correcção teológica, numa Fátima dolorista e das promessas, onde Maria se anteporia ao seu Filho e hereticamente seguraria o braço justiceiro e implacável de Deus, ficou: "Sinto que Jesus vos confiou a mim e a todos abraço e confio a Jesus, "principalmente os que mais precisarem", como Nossa Senhora nos ensinou a rezar.

Sobre cada um dos deserdados e infelizes a quem roubaram o presente, dos excluídos e abandonados a quem negam o futuro, dos órfãos e injustiçados a quem não se permite ter um passado desça a bênção de Deus encarnado em Jesus Cristo. Esta bênção cumpriu-se cabalmente na Virgem Maria, pois nenhuma outra criatura viu brilhar sobre si a face de Deus como ela, que deu um rosto humano ao Filho do eterno Pai. Peregrinos com Maria... Mas que Maria? Uma mestra da vida espiritual, a primeira que seguiu a Cristo pelo "caminho estreito" da cruz dando-nos o exemplo, ou uma Senhora "inatingível" e, consequentemente, inimitável? A "bendita por ter acreditado" sempre e em todas as circunstâncias nas palavras divinas, ou uma "santinha" a quem se recorre para obter favores a baixo preço? A Virgem Maria do Evangelho venerada pela Igreja orante, ou uma Maria esboçada por sensibilidades subjectivas que a vêem segurando o braço justiceiro de Deus pronto a castigar: uma Maria melhor do que Cristo, visto como juiz implacável, mais misericordiosa do que o Cordeiro que se imolou por nós? Grande injustiça fazemos a Deus e à sua graça, quando se afirma em primeiro lugar que os pecados são punidos pelo seu julgamento, sem antepor - como mostra o Evangelho - que são perdoados pela sua misericórdia. Devemos antepor a misericórdia ao julgamento. Naturalmente, a misericórdia de Deus não nega a justiça. Em todo o caso, o julgamento de Deus será sempre feito à luz da sua misericórdia."

Assim, "possamos, com Maria, ser sinal e sacramento da misericórdia de Deus".

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O tempo do essencial

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias de sábado





1 Já Santo Agostinho se queixava: "Se ninguém me perguntar o que é o tempo, eu sei o que é, mas, se me perguntarem e eu quiser explicar, já não sei.” O tempo é um enigma. Se soubéssemos o que é, talvez tivéssemos resposta para a pergunta pelo que somos. Mas realmente, o passado já não é, o futuro ainda não é. E o presente? Quando queremos captá-lo, verdadeiramente ainda não é ou já não é, porque o presente passa, não dura. No entanto, é no presente que vivemos e somos. Só? Não. Porque somos a partir do que fomos, do passado, e na expectativa do futuro, de projectos. Há por vezes a ideia de que o tempo é uma espécie de corredor que se vai percorrendo. Mas não. O tempo é o modo como o ser finito, concretamente o ser humano, se vai realizando.
Qual é então a dimensão mais importante do tempo? Diríamos que é o passado, pois ninguém no-lo pode tirar: ninguém pode anular o ter sido. Dir-se-á que é o futuro, porque ainda não somos o que havemos de ser e é animados pela esperança que vivemos. Mas, afinal, é sempre no presente que vamos sendo. Temos, porém, dificuldade em viver no presente, como já Pascal se lamentava: "Nunca nos agarramos ao tempo presente", preocupados com o futuro ou dispersos com lembranças do passado; embora só o presente nos pertença verdadeiramente, "andamos erráticos por tempos que não são os nossos", passando o tempo na dispersão, o famoso divertissement pascaliano.

sábado, 13 de dezembro de 2014

A dignidade de ser ateu

Crónica de Anselmo Borges no DN 

«A liberdade religiosa é um direito humano fundamental. Poder--se-ia mesmo dizer que é o direito mais fundamental, na base de todos os outros direitos, na medida em que, estando referido ao infinito - liberdade de acreditar em Deus ou não, seguir esta religião ou aquela ou nenhuma, mudar de religião -, mostra a transcendente dignidade humana no confronto com o infinito.
Nem sempre houve esta compreensão, também entre os cristãos e nomeadamente na Igreja Católica. Quando se olha para a história, encontramos, neste domínio, um estendal de miséria e vergonha. Houve guerras religiosas, Inquisição, assassínios, prisões, conversões sob ameaça de morte, tudo por causa de interesses de domínio: religioso, político, económico, geoestratégico.»

Li aqui

Nota: Pode ler a crónica na íntegra na próxima segunda-feira neste meu espaço,

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Reformados, eméritos, etc

Crónica de Anselmo Borges 
no DN de sábado

Em tempos de crise, 
os governos, para a austeridade, 
têm sempre facilmente à mão os reformados, 
com este ou aquele nome

Há muito que me pergunto porque é que uns são reformados, outros jubilados, outros eméritos, outros pensionistas ou aposentados. Pus-me no encalço das palavras, à procura do seu sentido originário. O que aí fica é o resultado, confesso que um pouco apressado, desse exercício.

1. Claro que reformado vem de reforma. A reforma que, em certos contextos, aparece mais imediatamente é a Reforma protestante. Aqui, porém, ela tem que ver com a situação de ir para a reforma e receber uma reforma, que é, em princípio, um quantitativo em dinheiro. Reformado é, pois, o que passou à reforma, por ter atingido uma certa idade e trabalhado um certo número de anos, com os respectivos descontos, ou porque ficou pura e simplesmente incapacitado para o trabalho. De modo estranho, reforma vem do latim reformare, com o significado de voltar à primeira forma, restabelecer, alterar, e reformado é o que torna à sua primeira forma, mas também o desfigurado, modificado.

sábado, 8 de novembro de 2014

HAWKING E FRANCISCO

Da crónica de Anselmo Borges
no DN de hoje



Afinal, Deus continua a ser notícia. O que é facto é que os media mundiais não deixaram de fazer ampla referência às declarações recentes do famoso físico Hawking e do Papa Francisco sobre a fé em Deus.
1. Que disse o cientista inglês Stephen Hawking? "Antes de termos entendido a ciência, o lógico era crer que Deus criou o universo, mas agora a ciência oferece uma explicação mais convincente. Não há Deus. Sou ateu. A religião crê nos milagres, mas estes não são compatíveis com a ciência."
(...)

Nota: Leitura no DN só para assinantes. Provavelmente, talvez na segunda-feira, no meu blogue.