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sábado, 7 de agosto de 2021

O Cristo pensador

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias 


Karl Rahner, talvez o maior teólogo católico do século XX, deixou escapar um dia, numa aula, uma daquelas observações que nunca mais se esquecem: na Igreja católica, é obrigatório confessar os pecados graves e mortais, mas ele não estava a ver que algum bispo ou padre ou superior religioso, ministro ou professor católico se tenha alguma vez confessado do pecado grave e, frequentemente, mortal, da ignorância culpada, da incompetência fatal, da inteligência irresponsavelmente menorizada.
Em geral, nas igrejas, faz-se pouco apelo à razão, à reflexão crítica, à pergunta. Como se a fé não tivesse de conviver com a inteligência, com a dúvida e com a pergunta. Os cristãos - mas isso acontece em todas as religiões - parece que ficam tolhidos na sua capacidade de perguntar. No entanto, Jesus morreu a rezar esta pergunta infinita que atravessa os séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?", e o filósofo Martin Heidegger, um dos maiores do século XX, escreveu que "a pergunta é a piedade do pensamento".
Na catequese e nas pregações da Igreja, parte-se, desgraçadamente, de um Cristo definido dogmaticamente e concebido à maneira de um robô, que chegou a este mundo já pré-programado e que não fez senão cumprir esse programa. Por isso, não precisou de pensar, não teve hesitações, não passou por tentações, não teve de decidir ele mesmo o que devia fazer para realizar a vontade de Deus, a quem chamava com ternura Abbá, querido Papá.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Papa questiona a cultura do provisório


"A vocação laical é, sobretudo, a caridade na família, a caridade social e a caridade política: é um compromisso concreto a partir da fé para a construção de uma sociedade nova, é viver no meio do mundo e da sociedade para evangelizar as suas diversas instâncias, para fazer crescer a paz, a convivência, a justiça, os direitos humanos, a misericórdia e, assim, estender o Reino de Deus no mundo"

Papa Francisco 

Exortação apostólica pós-sinodal ‘Cristo Vive

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

"Não acredito em Cristo, mas acredito nos cristãos"

Ricardo Araújo Pereira no encontro
3 Milhões de Nós



«O humorista falou sobre viver a espiritualidade sem fé, partindo da sua experiência de, não sendo crente, ter frequentado escolas católicas. Destacou o impacto que para ele teve o “padre Joaquim”, um professor de Português do colégio dos padres franciscanos. Recentemente falecido, a sua recordação emocionou o fundador dos Gato Fedorento. Ricardo Araújo Pereira acrescentou que, enquanto ateu, está sempre a pensar no fim da vida e na sua finalidade ou propósito. Mas que, apesar disso, se considerava semelhante a quem tem fé: todos estão “à procura: não acredito em Cristo, mas acredito nos cristãos”.»

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domingo, 17 de junho de 2018

Cristo não desempregou os santos (1)

Frei Bento Domingues

1. Não tenho muito apego às definições de religião. Uso essa palavra para significar, na tradição latina, a redobrada atenção às diversas dimensões do devir misterioso do ser humano que escapam à linguagem unívoca da ciência e da técnica. Exprime-se melhor na linguagem metafórica. Como escreveu Ésquilo, em Agamémnon, "Sufocando no galinheiro da razão, dediquei-me a defender a causa dos sonhos".
Na história das religiões existe de tudo, do melhor e do pior. A religião dos místicos, mesmo quando louca, é a suprema sabedoria. O místico não é capaz de parar, de fixar um limite, de se tornar idolátrico, pois, como diz o muçulmano, E. Hallaj, do século X: "Vi o meu Senhor com o olhar do coração,/ e disse-lhe: 'Quem és tu?' Ele disse-me: 'Tu!'/ Mas para Ti, o 'onde' já não tem lugar,/ o 'onde' não existe quando se trata de Ti!." A religião de Jesus não cabe em nenhuma classificação conhecida.
No domingo passado, S. Marcos apresentava Jesus como o doido da família e possesso de Belzebu. Neste, Jesus surge, na versão do mesmo evangelista [1], como um pregador surrealista. Jesus queria ser entendido ou não? A sua palavra era só para agitar o vento? Pela referência que faz ao profeta Isaías [2], até parece que só queria baralhar os seus ouvintes: vendo, vejam e não percebam; ouvindo, ouçam e não entendam para que não se convertam e não sejam perdoados.

sábado, 31 de março de 2018

A NOSSA RESSURREIÇÃO NA MORTE

Uma reflexão de Leonardo Boff


«O fato maior para o cristianismo não é a cruz de Cristo mas sua ressurreição. Sem a ressurreição Cristo teria ficado no passado, no panteão dos mártires abnegados, sacrificados por uma grande causa, um sonho de um Reino de justiça,de amor incondicional e de total entrega a Deus. Mas nunca reuniria pessoas para celebrarem sua presença viva entre nós. A ressurreição significa exatamente essa presença inefável de toda a realidade de Jesus,chamado por São Paulo como o “novissimo Adão”, com um corpo transfigurado, corpo-espiritual, dentro da história humana.»

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domingo, 7 de junho de 2015

ESPÍRITO CRIADOR

Crónica de Frei Bento Domingues 

Frei Bento Domingues


1. Há pessoas que fazem profissão de optimismo. Olham sempre, ou fingem olhar, para o “lado positivo” de tudo e, perante qualquer desgraça, repetem: ainda podia ter sido muito pior! São capazes de recuar até à pedra lascada para mostrar que agora estamos no melhor dos mundos. Se alguém, mais sensível à questão social, por exemplo, observa que 20% da população detém 80% dos recursos mundiais, a resposta já está pronta: as desigualdades são a principal fonte de progresso para todos.
Quem não quer ser acusado de negativista refugia-se no prestigiado casamento do pessimismo da inteligência com o optimismo da vontade. Por não apreciar esses tranquilizantes, o filósofo espanhol, Xavier Zubiri, apressa-se a declarar que durante toda a sua vida só conheceu a emoção do puroproblematismo.
Um dos alimentos principais da filosofia são as interrogações. Mas a problematização contínua é o luxo de quem não tem que decidir. As decisões não podem esperar ver todas as dúvidas resolvidas. A concepção aristotélica da prudência – virtude da decisão bem ponderada – recomenda-se tanto aos “tontos com iniciativa”, como aos eternos hesitantes.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Se Cristo voltasse...

«Estou convencido de que se Cristo voltasse, abençoaria a vida de muitos daqueles que nunca ouviram falar o seu nome, mas que com a sua vida foram exemplos vivos das virtudes praticadas por ele»

Mohandas Karamchand Gandhi,
detto il Mahatma (1869 - 1948)


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domingo, 29 de dezembro de 2013

O espírito livre vivifica

Um Cristo formatado?
Frei Bento Domingues


1. “Esta é a definição da lei: algo que pode ser transgredido”. Assim falava, no seu gosto pelos paradoxos, o grande escritor católico, Gilbert K.Chesterton (1874-1936). Partindo da convicção de que a Deus nada é impossível, as comunidades cristãs, sobretudo as do primeiro século, elaboraram narrativas sobre o percurso de Jesus Cristo - desde a anunciação à ressurreição – que parecem contrariar, sem necessidade, as mais respeitáveis e inocentes leis da natureza. 

A este respeito, importa não esquecer que a linguagem mítica e simbólica da liturgia do Natal não pretende dar aulas de biologia e astronomia, mas subverter as leis de um mundo dominado pela injustiça. Quando os Evangelhos são interpretados em registo literal, em vez de provocarem a inteligência, a imaginação e os afectos, paralisam-nos e tornam-se charadas absurdas, até naquilo que têm de mais belo e subversivo. A letra mata. O espírito livre vivifica. 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

No centro da vida da Igreja, sempre Cristo, a Palavra


Por António Marcelino



«Foi longo o tempo em que o contacto com a Palavra de Deus, por parte do povo cristão, foi escasso. A Igreja de Roma temia adulterações na Bíblia e dificultava as traduções. Praticamente só tinha acesso à Bíblia o clero, mesmo assim o mais erudito, porque escasseavam as traduções, e a leitura, em grego ou latim, não era fácil. O Concílio encontrou o terreno preparado, porque o movimento bíblico, de cariz renovador, foi ajudando a descobrir o valor da Sagrada Escritura. Pode dizer-se que o passo definitivo que levou a Bíblia ao Povo parte da constituição conciliar.»
Em novembro de 1965 foi publicada a constituição conciliar sobre a Divina Revelação, com o título “Dei Verbum” ou a “Palavra de Deus”. Não foi um documento pacífico e exigiu, logo no início, uma decisão do Papa João XXIII, sem a qual seria difícil avançar. Roma tinha preparado um esquema a seu gosto e fez tudo para o impor. Outros bispos, atentos ao que se passava na Igreja e no mundo, derrubaram os sonhos romanos, para tornar possíveis horizontes novos e urgentes na Igreja. E João XXIII decidiu. O texto dos romanos foi retirado. O documento conciliar demorou a ter a sua redação final. O esquema retirado entrara na aula conciliar logo no primeiro mês.