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sábado, 16 de outubro de 2021

Crentes e ateus: a fé e a razão

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

A fé não é, ao contrário do que frequentemente se pensa, ópio e consolação, mas luta e combate no meio das trevas e da dor


1 "Ele [Deus] permitiu que trevas densíssimas se abatessem sobre a minha alma e que o pensamento do Céu, que desde o tempo da minha meninice era para mim tão felicitante, se tornasse um objecto de luta e de tormentos. A duração desta provação não se limitou a alguns dias ou semanas. Há já meses que sofro e ainda aguardo pela hora da minha libertação. Quereria poder exprimir o que sinto, mas é impossível. É necessário ter passado pelo túnel escuro, para captar a sua escuridão...
"Para tranquilizar o meu coração, pois está cansado por causa das trevas que o envolvem, tento fortalecê-lo com o pensamento de uma vida futura e eterna. Mas então a minha tortura duplica-se. É como se as trevas assumissem a voz dos incrédulos, escarnecessem de mim e me dissessem: 'Tu sonhas com a luz..., tu crês poder fugir à treva em que desfaleces! Avança! Avança! Alegra-te com a morte, que não te dará o que esperas, mas uma noite ainda mais profunda: a noite do nada!'"

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

É importante dar "cátedra" aos não crentes

 D. António Marcelino - A cátedra dos não crentes e o átrio dos gentios

D. António Marcelino

«Era importante dar “cátedra” aos não crentes, ou seja, proporcionar-lhes espaço e tempo próprio para se exprimirem livremente e ouvirem quem bebesse do Evangelho, mais do que de regras e proibições canónicas. “Cátedra dos Não Crentes”, assim se chamou esta audaciosa iniciativa, à qual o Cardeal Martini, ele próprio, não se furtou a dar a cara no diálogo longo com Umberto Eco. Ficou a coragem em livro, também publicado em português, com o título expressivo “Em que crê quem não crê”. Pela Cátedra de Milão, uma iniciativa regular e cíclica, passaram filósofos e pensadores, ateus e agnósticos, indiferentes satisfeitos e gente ansiosa de verdade.»

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Nota: Não estranhem por apresentar hoje, neste meu blogue aberto ao mundo, um texto com foto de D. António Marcelino, que foi Bispo de Aveiro e que me marcou profundamente. É que tenho por hábito reler textos dele e doutros que nas minhas buscas sobressaem, levando-me a relê-los com prazer, muitos dos quais mantêm uma atualidade indiscutível.

F. M. 

sábado, 20 de abril de 2019

Anselmo Borges: Entre a Sexta-Feira Santa e a Páscoa: Sábado

Anselmo Borges

Crentes ou não crentes — quem o disse foi George Steiner — é em Sábado que vivemos. Que é que isto quer dizer? Todos, de um modo ou outro, em nós mesmos e no mundo, constatamos e vivemos a Sexta-Feira Santa do sofrimento, do horror, da violência, do silêncio e da noite, e todos, de um modo ou outro, de forma mais explícita ou menos explícita, mais consciente ou menos, é pelo Domingo, o Domingo da Páscoa, que suspiramos e esperamos, a Páscoa da salvação.

O que nestes dias os cristãos celebram é este Sábado, que pertence ao núcleo da existência cristã, como disse São Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã também a vossa fé. Se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”. Evidentemente, a ressurreição implica por si mesma uma meditação sobre a morte e o sentido último da existência. Uma meditação sobre o Sábado, no qual vivemos.

1. Na história gigantesca do universo, com 13.700 milhões de anos, o sinal distintivo de que há Homem, não já simplesmente algo, mas alguém, são os rituais funerários. A partir daí, já não estamos em presença de um animal qualquer, mas do ser humano, que sabe que sabe, que tem consciência de si, consciência de que é mortal, e que, nem que seja de modo confuso, espera para lá da morte. A consciência da morte e a esperança constituem, portanto, na História do mundo, uma novidade essencial e radical.
Perante a morte e a mortalidade, surge a interrogação fundamental, que está na base das artes, das filosofias, das religiões: o que é o Homem? Sabemos que somos mortais, mas ninguém sabe o que é morrer, ninguém sabe o que é estar morto, nem sequer para o próprio morto. Face à morte, a linguagem falha. Assim, dizemos, perante o cadáver do pai ou da mãe, de um amigo: ele/ela está aqui morto/morta. Ora, o que falta é precisamente o pai, a mãe, o amigo, pois o que ali está não passa de restos mortais e lixo biológico. Ou dizemos que os levamos à sua última morada. Ora, quem se atreveria a enterrar ou a cremar o pai, a mãe, um amigo? Também dizemos que os vamos visitar ao cemitério. Ora, nos cemitérios, com excepção dos vivos que lá vão, não há ninguém. O Evangelho é cru: nos cemitérios, só há ossos e podridão. Então, o que há realmente nos cemitérios, para serem considerados lugares sagrados, de tal modo que a violação de uma sepultura constitui, em todas as culturas, uma profanação e um crime nefando? O que há nos cemitérios não é senão essa pergunta radical: O que e o Homem?, o que é ser Homem?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

"Não acredito em Cristo, mas acredito nos cristãos"

Ricardo Araújo Pereira no encontro
3 Milhões de Nós



«O humorista falou sobre viver a espiritualidade sem fé, partindo da sua experiência de, não sendo crente, ter frequentado escolas católicas. Destacou o impacto que para ele teve o “padre Joaquim”, um professor de Português do colégio dos padres franciscanos. Recentemente falecido, a sua recordação emocionou o fundador dos Gato Fedorento. Ricardo Araújo Pereira acrescentou que, enquanto ateu, está sempre a pensar no fim da vida e na sua finalidade ou propósito. Mas que, apesar disso, se considerava semelhante a quem tem fé: todos estão “à procura: não acredito em Cristo, mas acredito nos cristãos”.»

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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Crentes e ateus críticos

Crónica de Anselmo Borges no DN

Anselmo Borges


No presente estado do conhecimento e do saber científico, impõe-se, contra o dogmatismo, uma atitude crítica, tanto por parte dos crentes como dos ateus. Refiro-me aos crentes e aos ateus que sabem o que isso quer dizer. Esta foi a mensagem fundamental deixada pelo jesuíta Javier Monserrat, neurólogo e filósofo, das universidades Autónoma e Comillas, de Madrid, nos debates que organizei no Porto, em Coimbra e em Lisboa, por ocasião da publicação do livro que coordenei: Deus ainda Tem Futuro? Deixo aí o essencial das suas exposições.
1. A revelação de Deus em Jesus e a revelação de Deus na criação vêm do mesmo Deus. Ele também se revelou no livro da natureza. Ora, como fez Deus a natureza? O único modo de sabê-lo é pela ciência e pela filosofia, e o que Deus disse em Jesus deve estar em harmonia com o que disse na criação.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Deus, questão para crentes e não crentes


José Tolentino Mendonça



Aquela palavra de São João, “a Deus nunca ninguém O viu” (1 Jo 4,12), trazemo-la como uma ferida. Nenhum de nós viu a Deus. E contudo a Sua presença, o Seu Amor, dá sentido às nossas vidas. Este paradoxo, que constitui ao mesmo tempo uma fonte de esperança, não deixa de ser um espinho. A maior parte do tempo, experimentamos apenas o desencontro de Deus, o Seu extenso silêncio. Buscamos a Deus sem O ver, acreditamos Nele sem O experimentar, escutamos a Sua voz sem verdadeiramente O ouvir.

sábado, 12 de outubro de 2013

Deus ainda tem futuro?

Perguntar: "Deus ainda tem futuro?" não é contraditório? (Para os crentes terá até sabor a blasfémia). De facto, se Deus não existir, a pergunta não tem sentido. Mas também não tem sentido se Deus existir, pois faz parte do conceito de Deus ser Presença eternamente presente. A pergunta supõe, pois, um acrescento implícito: Deus ainda tem futuro na e para a Humanidade?

Com razão, perguntava Karl Rahner, talvez o maior teólogo católico do século XX: O que aconteceria, se a simples palavra "Deus" deixasse de existir? E respondia: "A morte absoluta da palavra "Deus", uma morte que eliminasse até o seu passado, seria o sinal, já não ouvido por ninguém, de que o Homem morreu."

Václav Havel, o grande dramaturgo e político, pouco tempo antes de morrer, surpreendeu muitos ao declarar que "estamos a viver na primeira civilização global" e "também vivemos na primeira civilização ateia, numa civilização que perdeu a ligação com o infinito e a eternidade", temendo, também por isso, que "caminhe para a catástrofe".