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domingo, 20 de setembro de 2009

O FIO DO TEMPO: A luta de António Feio


António Feio

LUTA CONTRA "O BICHO"



1. É de conhecimento geral que o reconhecido actor António Feio trava uma luta hercúlea contra o que ele chama «o bicho» para o qual ainda a cura não é garantida, referindo-se deste modo ao cancro. Há dias apreciámos uma entrevista que ele deu, já depois do falecimento de sua irmã (10 de Setembro) do mesmo cancro do pâncreas. Das suas palavras, no silêncio comunicativo destas horas, ressalta uma confiança e uma não desistência que são valores essenciais em luta dura semelhante a tantas pessoas anónimas. Comunicação aberta mesmo quando A.Feio diz: «A minha irmã morreu hoje. Não há palavras.»

2. António Feio nasceu em Lourenço Marques (1954), vindo aos sete anos para Portugal e revelando-se cedo um actor humorista agora como que em diálogo com este labirinto em que garante que vai «dar luta até ao fim». A 1 de Agosto, tendo em conta os cuidados de saúde, António Feio e José Pedro Gomes despediram-se de uma linha de programa apreciada já com 12 anos, A Verdadeira Treta. O palco de António Feio é agora outro, mas a mesma fragilidade e força do actor em cena é também neste momento a capacidade de reciclar a força interior para superar a batalha e abrir-se a dimensões superiores à própria razão artística.

3. As horas das fronteiras da vida são essas que revelam a verdadeira essência do espírito humano. No fundo, não há nenhum verdadeiro poeta (da poética como busca itinerante) que não queira viver para sempre, dando tudo na vida com a sua linguagem possível por essa realização plena. O mesmo se poderá dizer do actor, esse que quando sobre ao palco sente sempre aquele arrepio de insegurança que depois o impele a avançar, arriscar e a conseguir transcender-se. Descortinando as ideias profundas de sentido de vida por trás das palavras que se dizem, a confiança e a esperança reditas são essa abertura desejada ao infinito que se revela como fé no tempo presente. Mesmo quando se diz: «se me vencer, pelo menos que se saiba que eu dei luta».

Alexandre Cruz