Mostrar mensagens com a etiqueta Alegria. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Alegria. Mostrar todas as mensagens

domingo, 4 de julho de 2021

A alegria de uma nova liberdade

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

A história do Mundo, das Religiões e da Igreja 
não está fechada. Tudo tem de ser recreado.

1. Hans Küng, ao escolher o desafiante modelo cristão para a sua vida, não deixou de se confrontar com outros modelos: hindu, budista, confucionista, judaico e muçulmano. Não para os desvalorizar, mas para permitir um diálogo lúcido entre todos. Tendo aprendido muito com todos, não quis, no entanto, deixar de manifestar a sua preferência. Para ele, a vida, os ensinamentos e a actividade de Jesus de Nazaré sobressaem, claramente, em comparação com outros fundadores de religiões. 
O melhor é dar a palavra ao ilustre investigador: “Jesus não foi uma pessoa formada na corte, como aparentemente foi Moisés, nem filho de príncipe, como Buda. Mas também não foi um erudito e político, como K'ung Fu-tzu, nem um comerciante rico e cosmopolita, como Maomé. É precisamente pela sua condição social ser tão insignificante que a sua importância douradora parece ainda mais espantosa. Ele não defende a validade incondicional de uma lei escrita que se desenvolve sem cessar (Moisés), nem o retiro monástico em ascético ensimesmamento dentro da comunidade regulamentada de uma ordem (Buda), nem a renovação da moral tradicional e da sociedade estabelecida em consonância com uma lei cósmica universal (k’ung Fu-tzu), nem revolucionárias conquistas violentas em luta contra os infiéis e a fundação de um Estado teocrático (Maomé). 

sexta-feira, 14 de maio de 2021

A Alegria e a Tristeza

Então, uma mulher disse:
-  Fala-nos da alegria e da tristeza. 
E ele respondeu: 
- Vossa alegria é vossa tristeza desmascarada.  E o mesmo poço que dá nascimento a vosso riso foi muitas vezes preenchido com vossas lágrimas. 
- E como poderia não ser assim?  
- Quanto mais profundamente a tristeza cavar suas garras em vosso ser, tanto mais alegria podereis conter.
- Não é a taça em que verteis vosso vinho a mesma que foi queimada no forno do oleiro?  
- E não é a lira que acaricia vossas almas a própria madeira que foi entalhada à faca? 
- Quando estiverdes alegres, olhai no fundo de vosso coração, e achareis que o que vos deu tristeza é aquilo mesmo que vos está dando alegria.  E quando estiverdes tristes, olhai novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo mesmo que constituiu vosso deleite. 
Alguns dentre vós dizeis: 
- A alegria é maior que a tristeza, e outros dizem: 
- Não, a tristeza é maior. 
- Eu, porém, vos digo que elas são inseparáveis.

Khalil Gibran

In  O Profeta

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Jesus convida-nos a viver a sua alegria

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo VI da Páscoa

São João, o discípulo amado que reclinou a cabeça no ombro de Jesus na ceia de despedida, deixa-nos em discursos sucessivos as confidências mais íntimas e profundas do Mestre, antes de ir para o Jardim das Oliveiras e iniciar o processo da paixão. As leituras de hoje convidam-nos a contemplar o amor de Deus manifestado na pessoa, nos gestos e palavras de Jesus e, agora, tornado presente na vida diária pelo amor dos discípulos. Na Igreja comunidade, núcleo da civilização do amor. Vamos acompanhar a narrativa e saborear a sua mensagem.
Em discurso directo, Jesus dá a conhecer as relações que mantém com Deus Pai e as que pretende que os seus discípulos cultivem e pratiquem. Não recorre a metáforas nem a símbolos. Fala de realidades sublimes em linguagem normal. E centra-as no amor em cadeia, que tem a fonte no Pai, toma o rosto humano em si mesmo, estende-se a quem o segue e ama como ele. Este é centro donde provém tudo quanto faz e diz. Este é o centro para onde converge a missão que confia à comunidade dos amigos. Este é o centro que gera a mais eloquente história de amor vivida de tantas maneiras, ao longo dos tempos, por pessoas de todas as idades e categorias sociais. Jo 15, 9-17

domingo, 21 de março de 2021

A alegria não se decreta (2)

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

A prática da fraternidade religiosa deve estar ao serviço da fraternidade universal, em colaboração com todas as pessoas e movimentos, sem descriminações

1. A viagem do Papa ao Iraque já foi muito comentada. Parece-me, no entanto, que não foi destacado o seu contributo para robustecer a alteração profunda que está a acontecer, na história e no relançamento do diálogo inter-religioso, com incidência dirceta nas práticas sociais.
Não basta denunciar a cobertura falsamente religiosa dos discursos do ódio e da violência e proclamar o diálogo como caminho para abordar as dificuldades nas relações entre seres humanos.
No primeiro momento de qualquer diálogo, o mais importante é a escuta do outro na sua irredutível alteridade e nas suas imprevisíveis manifestações. No chamado diálogo inter-religioso, como é praticado nas mesas-redondas dos meios de comunicação e noutros espaços, em geral não se vai muito além de uma escuta inconsequente, pois não parece destinado a alterar o presente e o futuro dos intervenientes. Apresenta-se, por vezes, como uma passagem de modelos religiosos: os representantes de cada religião em foco passam a fazer a apologia da sua própria religião, procurando desfazer as acusações que habitualmente lhe são feitas, fruto de ignorâncias e preconceitos persistentes.
É uma fase necessária, mas muito insuficiente, porque lhe falta a análise crítica da situação actual e as propostas de reforma para o futuro.
O que, no entanto, está a acontecer, ao nível das grandes lideranças religiosas, anuncia o despontar de algo que julgo muito novo.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Ai de mim se não ajudar a nascer a alegria

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

A pronta disponibilidade para o serviço dos outros constitui a verdadeira alegria do Evangelho de Cristo que continua.

1. Cabe à inteligência prática saber adaptar-se. A pandemia mundial parece dizer-nos que, se não soubermos adaptar-nos a viver na cadeia – que as medidas de segurança exigem –, arriscamo-nos a ser suas vítimas e a fazer mais vítimas, correndo o perigo de servirmos a morte até aos próprios amigos e familiares.
Na cadeia, dizia um prisioneiro, importa cultivar a saúde mental, a saúde espiritual e a saúde física. São medidas e artes para conquistar a liberdade no dia-a-dia do cativeiro, para não acabarmos derrotados quando se abrirem as portas da prisão.
Para a saúde espiritual, recorro a uma antífona da Liturgia das Horas, feita de pura serenidade: Salvai-nos, Senhor, quando velamos e guardai-nos quando dormimos, para estarmos vigilantes com Cristo e descansarmos em paz. É seguida de uma oração igualmente bela: Iluminai, Senhor, esta noite, concedei-nos um descanso tranquilo, para que, amanhã, nos levantemos em vosso nome e possamos contemplar alegres e felizes o nascer de um novo dia.
A religião não dispensa o bom senso. Importa resistir à demagogia e ao sadismo de certas vozes, especializadas em semear a confusão, para defender interesses que não coincidem com os da população mais carenciada.

domingo, 13 de dezembro de 2020

TUDO POR CAUSA DA ALEGRIA

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO



1. O que já podemos saber é que nós ignoramos o que é o ser humano. Pelo pouco que conhecemos do nosso passado, pelo turbilhão do presente e pela incerteza acerca do futuro, verificamos que somos um programa tão aberto que nunca poderá oferecer garantias de que dê sempre certo. Quando repetimos que somos essencialmente desejo, também sabemos que há bons e maus desejos.
Através dos nossos labirintos interiores, das contradições sociais e culturais e da anarquia louca dos nossos apetites, de forma consciente ou inconsciente, somos, apesar de tudo, desejo de plenitude. Muitas vezes criminosamente atraiçoado.
É, na segunda parte da Suma de Teologia, que Tomás de Aquino elabora a sua minuciosa ética teológica. É servida pela reelaboração da ética filosófica aristotélica, com banhos de Santo Agostinho e de outros Padres da Igreja. Importa-me realçar, para o objectivo desta crónica, que essa longa construção é precedida de cinco questões dedicadas, exclusivamente, à investigação das exigências e dos obstáculos para aceder à felicidade perfeita [1]. As evangélicas bem-aventuranças anunciam as condições para atingir essa plenitude. Os trabalhos e os gemidos da história humana, para alcançar novos céus e nova terra, são todos por causa da alegria.
S. Paulo sublinhou esta situação de modo dramático: “Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente. Não só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, nós próprios gememos no nosso íntimo, aguardando a adopção filial, a libertação do nosso corpo.” [2] 
Como crescemos no tempo, vivemos no reino da imperfeição, da “alegria breve”, como diz Virgílio Ferreira. No mesmo dia, podemos passar da alegria à tristeza e do medo à esperança [3].

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Georgino Rocha - Enviados em missão: Que alegria!



Jesus prossegue o seu caminho para Jerusalém. Decidido e firme. Cria oportunidades e aproveita ocorrências para lançar os discípulos em experiências de missão. De forma ousada e confiante. Faz-lhes advertências e dá-lhes instruções sobre o modo de agir. Com clareza e determinação. Envia-os a anunciar a paz, sinal de que o reino de Deus está próximo. Sem demora e com leveza. Lc 10, 1-12. 17-20.
Acolhe-os, com solicitude, no regresso, escuta, com minuciosa atenção, a comunicação do que havia sucedido a cada um, rejubila com eles pelas maravilhas ocorridas e encaminha as razões do seu estado de espírito, dizendo: “ alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos Céus”.
O caminhar de Jesus tem estes e outros horizontes. Trata-se de aproveitar a metáfora do percurso terreno, com sábia pedagogia, para clarificar opções e definir critérios, moldar sentimentos, amadurecer atitudes, alargar espaços de liberdade, marcar o ritmo e o rumo da missão a realizar em todos os tempos: Ir às aldeias – agregados do povo simples e solidário, visitar cada casa familiar – espaço da proximidade e do perdão que gera a paz, entrar nas cidades e aceitar a hospitalidade oferecida de quem aí mora – gestos de bom acolhimento, de abertura a novas formas de convivência e de partilha, de entrar em círculos mais estreitos de amizade, de dizer em público a relação nova que está a surgir.
O envio dos discípulos é dirigido a todos. O número 72 comporta este símbolo. Eram os povos conhecidos. Neles, está toda a humanidade. A missão é universal. Realiza-se na reciprocidade de dons: oferecer o que cada um tem de valioso e, simultaneamente, receber a oferta que expressa o ser do outro. Todas as culturas estão dotadas de bens apreciáveis, todas as religiões contém expressões e rituais de grande significado. Também as confissões católicas/Igreja encerram ricas mensagens de humanização da pessoa e das sociedades, criam laços de fraterna convivência entre os seus membros, configuram, de modo sacramental, a pessoa e obra de Jesus Cristo prosseguida pelo seu Espírito na Igreja. Entrar em comunhão com os valores humanos e valorizar a originalidade fiel do Evangelho, eis o desafio da missão católica.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O vinho de Jesus alegra a festa dos convivas. Aprecia!

Georgino Rocha
«Jesus não se impõe, mas também 
não se desinteressa do que é humano»


Jesus está no início da sua vida de missionário itinerante. Após a chamada de alguns discípulos, toma parte na boda de casamento de uns noivos em Caná da Galileia, terra a pouca distância de Nazaré. Está lá, Maria, sua Mãe. Os convivas são numerosos e a festa podia demorar uma semana. Há regras a cumprir. O protocolo era minucioso e os participantes observavam-no rigorosamente. O chefe de mesa supervisionava tudo. Os serventes estavam atentos e disponíveis para que nada falte. O programa decorria com grande normalidade. Mas a surpresa acontece. Há sinais de que algo está a ocorrer. E antes que seja conhecido por todos, Maria dá conta, identifica o que é e vai dizê-lo a Jesus. “Não têm vinho!”. Que maravilha! O cuidado da Mãe de Jesus manifesta-se de modo solícito para que a festa prossiga com o entusiasmo inicial e a boda de casamento proporcione alegria a todos, sobretudo aos noivos e familiares. Com Maria, as crises podem ser previstas, e pode ser removido o que lhes dá origem. Ela encaminha tudo para Jesus. Mesmo que a ocasião pareça inoportuna. 

Endossado o assunto a quem pode ajudar a resolvê-lo, ela dirige-se aos serventes e exorta-os a que façam o que Jesus lhes disser. Que ousadia! Uma mulher tomar a iniciativa em público, em casa alheia, e credenciar um desconhecido. E os serventes, que boa vontade revelam ao aceitarem obedecer-lhe prontamente. “Fazei o que Ele vos disser”. Nem sequer informam o chefe responsável pelo protocolo. Seguem com prontidão a indicação de Jesus, um estranho: “Enchei essas talhas de água”. Assim fazem e ficam a aguardar nova orientação. “Tirai agora e levai ao chefe de mesa”. Sem temer nada, cumprem a ordem recebida. E dão conta da surpresa agradável do chefe ao provar o vinho novo, obtido por intervenção de Jesus e da sua colaboração. Não reclamam “louros”, nem recompensas extra, nem dizem nada. Apenas partilham a alegria renascida nos corações que se espelha no rosto dos convivas. 

domingo, 16 de dezembro de 2018

Tudo por causa da alegria

Bento Domingues

1. Não sei se Bergoglio conhece a literatura portuguesa. Espero que Tolentino Mendonça não deixe de lhe recomendar algumas leituras essenciais antes de voltar a Portugal, pátria dos antepassados do argentino J. L. Borges. O Cardeal G. Ravasi, esse conhece, de certeza, Fernando Pessoa. Não pode ignorar o sonho piedosamente blasfemo de Alberto Caeiro. Este viu Jesus Cristo aproveitar o dia em que Deus estava a dormir, o Espírito Santo andava a voar e a Virgem Maria a fazer meia, para fugir do céu, onde tudo é convencional e aborrecido, e tornar-se outra vez menino, uma criança tão humana que é divina, a Eterna Criança, o Deus que faltava, que sorri e brinca, o Menino Jesus verdadeiro que veio viver para aldeia com o nosso poeta. 
Lembrei-me desse sonho ao ler a mensagem que o Papa Francisco enviou ao referido Cardeal italiano, manifestando o seu agrado por verificar que a eternidade, o outro lado da vida, tivesse sido escolhida para tema da XXIII Sessão das Academias Pontifícias. Confesso que, no primeiro momento, achei algo despropositada aquela mensagem. Terá a recitação dominical do Credo, por milhões de fiéis, perdido a sua esperada eficácia? Será verdade que, nos últimos tempos, a convicção central da fé cristã terá sido negligenciada, tanto na investigação teológica como no anúncio e na formação dos fiéis? [1]. Poderá a teologia universitária e dos seminários, a doutrina dos catecismos, da pastoral e da nova evangelização esquecer-se do Céu? 
A observação do Papa é, no entanto, mais do que um desabafo de circunstância. Ele próprio colocou o dedo na ferida: "ao proclamar, hoje, essa verdade de fé, ela pode parecer quase incompreensível e, às vezes, transmitir uma imagem pouco positiva e 'atraente' da vida eterna. O outro lado da vida pode ser percebido como monótono e repetitivo, chato, triste ou totalmente insignificante e irrelevante para o presente". Esta descrição papal não está longe do sonho de Alberto Caeiro, heterónimo de F. Pessoa. Nem o menino Jesus pode aguentar esse aborrecimento.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

DOMINGO DA ALEGRIA: Ser Honesto. Agir com Rectidão

Georgino Rocha

João Baptista prossegue a missão junto ao rio Jordão. A sua palavra forte e interpelante agita as consciências e “mexe” os corações. A simplicidade da sua vida irradia e atrai. O povo expectante do Messias acolhe o apelo e sente a veemência da exortação que se visualiza na afirmação: “Toda a árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo”. E quer saber que fazer. Por isso, acorre à sua presença e faz-lhes perguntas. Quer ser honesto e agir com rectidão.

Lucas, com grande acerto pedagógico, faz a narração do encontro de modo progressivo para o leitor se deixar envolver e perguntar e “eu que devo fazer?”. João centra as suas respostas na justiça social, na partilha de bens de subsistência, na honestidade e honradez profissional, na lisura de procedimentos e na convivência pacífica. À gente anónima, aconselha a repartir a roupa e a comida com que não tem; aos fiscais cobradores de impostos exorta a não irem além do que está estabelecido; aos soldados vigilantes pela ordem pública a não darem maus tratos a ninguém nem a criarem notícias falsas com difamações injustas.

“João Baptista, lembra a Bíblia Pastoral, convida à mudança radical de vida, porque a nova história vai transformar radicalmente as relações entre os homens. É o tempo do julgamento e de nada vale ter fé teórica, pois o julgamento baseia-se sobre as opções e atitudes concretas que cada um assume”.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Educar o Desejo, Servir com Alegria

Georgino Rocha

A caminhada para Jerusalém está prestes a chegar à cidade. Tem sido uma “caixa de surpresas” que Jesus provoca ou aproveita para mostrar aos acompanhantes, sobretudo aos discípulos, a novidade do Reino de Deus, de que é portador e iniciador. No domingo, vimos o homem desejoso de viver de tal modo na terra que possa garantir a plenitude da vida eterna. E o apelo que Jesus lhe faz a cortar todas as amarras que o retinham no mero cumprimento de mandamentos e a apreciar o tesouro da liberdade. Quer dizer, Jesus quer curar-lhe o desejo, essa energia que nos impulsiona nos sonhos e nas realizações.

Hoje, Marcos (Mc 10, 35-45), em episódio familiar mostra-nos outra face deste desejo de ser alguém, de ocupar um posto notável na futura organização do reino anunciado, de ser conselheiro privilegiado ou mandatado especial, de ver recompensado o abandono de tantos bens apreciados. “Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e disseram-lhe: «Mestre, queremos que nos faças o que Te vamos pedir». E Jesus escuta a sua ousadia confiante: Faz-nos sentar à Tua direita e à Tua esquerda. A intensidade do desejo é manifesta. E a medida para ser satisfeito, igualmente. A mãe vem apoiar a pretensão. Os outros indignam-se pois também se julgam com direitos. Pedro já se havia feito porta-voz desta situação e da fatura que estava em aberto. (Mc 10, 28).

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Anselmo Borges — Francisco sobre: 3. a Igreja e a alegria



Continuo com os diálogos do Papa Francisco e de Dominique Wolton: Politique et société. Quando se fala da Igreja, pensa-se logo na instituição e nos dirigentes: papa, bispos, padres... Ora, acentua Francisco, "a Igreja somos nós todos." "Há os pecados dos dirigentes da Igreja, com falta de inteligência ou que se deixam manipular. Mas a Igreja não são os bispos, os papas e os padres. A Igreja é o povo. O Vaticano II disse: "O povo de Deus, no seu conjunto, não se engana." Se quiser conhecer a Igreja, vá a uma aldeia onde se vive a vida da Igreja. Vá a um hospital onde há tantos cristãos que vêm ajudar, leigos, irmãs... Vá a África, onde se encontram tantos missionários. Não para converter - era noutros tempos que se falava de conversão -, mas para servir."

O que é que mais o toca? "Há tanta santidade. É uma palavra que quero utilizar na Igreja hoje, mas no sentido da santidade quotidiana, nas famílias... Quando falo desta santidade ordinária, que já designei como a "classe média" da santidade..., sabe qual é a imagem que me vem ao espírito? O Angelus, de Millet. A simplicidade desses dois camponeses que rezam. Um povo que reza, um povo que peca e depois se arrepende dos seus pecados. Há uma forma de santidade oculta na Igreja. Há heróis que partem em missão. Alguns sacrificaram a sua vida. É isso que me toca mais na Igreja: a sua santidade fecunda, ordinária. Essa capacidade de tornar-se santo sem se fazer notar."

Por isso, Francisco tem medo da rigidez. "Por detrás de cada rigidez há uma incapacidade de comunicar. Pense nesses padres rígidos que têm medo da comunicação, pense nos políticos rígidos... É uma forma de fundamentalismo. Quando me aparece uma pessoa rígida, e sobretudo um jovem, digo imediatamente a mim próprio que está doente. O perigo é que procuram a segurança... Não sabem, sentem-no. Vão, portanto, procurar estruturas fortes que os defendam na vida." Temos então o tradicionalismo, o medo da novidade, do diálogo. Ignoram que a tradição, para ser viva, tem de estar em movimento. "Como cresce a tradição? Cresce como uma pessoa: pelo diálogo, que é como a amamentação para a criança. O diálogo com o mundo que nos rodeia. Se não se dialoga, não se pode crescer, fica-se fechado, pequeno, um anão. Não posso contentar-me com caminhar com palas, devo olhar e dialogar. Dialogando e escutando outra opinião, posso, como no caso da pena de morte, da tortura, da escravatura, mudar o meu ponto de vista. Sem mudar a doutrina. A doutrina cresceu com a compreensão. Isso é a base da tradição. Ao contrário, a ideologia tradicionalista tem uma fé como isto [faz o gesto das palas]: na missa, a bênção deve dar-se desta maneira, os dedos devem colocar-se deste modo, como se fazia antes... O que o Vaticano II fez com a liturgia foi algo enormíssimo. Porque abriu o culto de Deus ao povo. Agora, o povo participa." Aqui, digo eu: o cardeal Robert Sarah que não pense que vai pôr outra vez a missa em latim, com o padre de costas para o povo...

Neste contexto, põe-se a pergunta: os divorciados recasados podem comungar? "Há o que eu fiz, depois de dois sínodos: a exortação "A Alegria do Amor"... É algo claro e positivo, que alguns com tendências ultratradicionalistas combatem, dizendo que não é a verdadeira doutrina. Quanto às famílias feridas, eu digo lá que há quatro critérios: acolher, acompanhar, discernir as situações e integrar. Abre-se um caminho de comunicação. Perguntam-me: "Mas pode dar-se a comunhão aos divorciados?" Respondo: "Falai com o divorciado, falai com a divorciada, acolhei, acompanhai, integrai, discerni!" Infelizmente, nós os padres estamos habituados a normas congeladas, fixas. E ouve-se dizer: "Não podem receber a comunhão." Que não, não e não. Este tipo de proibições é o que encontramos no drama de Jesus com os fariseus. A mesma coisa!"

Neste enquadramento, porque "a misericórdia é um dos nomes de Deus - se eu não aceito que Deus é misericordioso não sou crente" -, todos os padres, incluindo os lefebvrianos, podem agora absolver o pecado do aborto. "Atenção! Isto não significa banalizar o aborto. O aborto é grave, um pecado grave. É o assassínio de um inocente. Mas se há pecado é necessário facilitar o perdão."

O cristianismo "não é uma ciência, uma moral, uma ideologia, uma ONG: o cristianismo é um encontro com uma pessoa. É a experiência da estupefacção, da maravilha espantosa de ter encontrado Deus, Jesus Cristo, é isso que me deixa estupefacto". Por isso, "não se pode ensinar a moral com preceitos como: "Não podes fazer isto, deves fazer isto, tu deves, tu não deves, tu podes, tu não podes." A moral é uma consequência do encontro com Jesus Cristo, uma consequência da fé, para nós os católicos. E para os outros a moral é uma consequência do encontro com um ideal, ou com Deus, ou consigo mesmo, mas com a melhor parte de si mesmo. A moral é sempre uma consequência". Assim, é inconcebível uma Igreja afastada das pessoas. "A Igreja de Jesus Cristo tem de estar ligada ao povo. O contrário seria fazer como alguns políticos que se interessam pelas pessoas durante as campanhas eleitorais e depois as esquecem. Para mim, a proximidade, mesmo na vida pastoral, é a chave da evangelização... Quando quero transmitir algo a alguém, devo esforçar-me por pensar que estou diante do mistério de uma outra pessoa."

Wolton: "Que palavras do seu pontificado quereria ver retidas?" Francisco: "A palavra que mais utilizo é a "alegria". Uso muitas vezes a "ternura", a "proximidade". Aos padres digo: "Por favor, sede próximos das pessoas." Aos bispos digo: "Não sejais príncipes, senhores, sede próximos das pessoas, dos padres." Também a "oração", rezar no sentido de estar diante de Deus" e fazer silêncio e meditar, no meio de uma sociedade do ruído, do "rapidão".

Anselmo Borges, no Diário de Notícias 


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Da Alegria e da Tristeza



«Alguns de entre vós dizem: “A alegria é maior que a tristeza”, e outros dizem: “Não, a tristeza é maior». Mas eu vos digo que elas são inseparáveis. 
Juntas elas surgem e, quando uma se senta sozinha convosco à mesa, recordai-vos de que a outra está a dormir na vossa cama.»

Khalil Gibran,
in “O Profeta”

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Prefiro a fé, o amor e a alegria

Cuca Roseta 
«Cuca Roseta afirma que a fé na sua vida “é primordial” e tem a “graça de ter muita” e de “não saber viver feliz sem ela”, porque considera que “só” existem duas formas de viver, “com fé ou com medo”.
“O medo pode-se tornar no maior pesadelo de sempre na vida. Prefiro a fé, o amor e a alegria que isso me traz para a vida. Prefiro viver ligada do que desligada do céu”, disse a fadista sobre a fé que dá “um sentido maior” a tudo o que faz e constrói.
Na entrevista ao jornal ‘Notícias de Viana’, enviada à Agência ECCLESIA, Cuca Roseta realça que a fé na sua vida “é primordial” e, nas vésperas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), celebrada no Domingo de Ramos (9 de abril), explica que dá testemunho “sempre” que fala ou canta.»

Ler mais aqui 

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Hoje acordei assim!


Hoje acordei assim! Tranquilo, com Sol a brilhar. Foi, ao abrir a janela, uma lufada de otimismo. Que perdure para todo o mundo. E que o Sol benfazejo nos inspire alegria, otimismo e esperança em dias melhores. Para mim e para todos. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Boas obras dão brilho à vida.Experimenta!

Reflexão de Georgino Rocha


A felicidade das bem-aventuranças marca o estilo de vida dos discípulos. Rostos sorridentes, mesmo quando incompreendidos e perseguidos, corações mansos e humildes, peregrinos construtores da paz, incansáveis lutadores pela justiça, homens e mulheres libertos de todas as amarras para aderirem ao bem maior e fazê-lo em benefício do próximo necessitado, dão testemunho irradiante de Jesus Cristo, o modelo inexcedível de quem vive a novidade do reino de Deus. Testemunho sempre a melhorar, pois, como afirma Rinbeck, escritora norte-americana, “a felicidade não é uma estação de chegada, mas um modo da viajar”.
O sermão da montanha, no Evangelho de Mateus 5, 13-16, prossegue com duas parábolas de sabor popular, ricas de ensinamentos. “Vós sois o sal da terra”, “Vós sois a luz do mundo”, declara Jesus dirigindo-se aos discípulos e atribuindo-lhes a missão que lhes dá uma nova identidade. Ao ouvirem estas palavras, que sentiriam eles, simples pescadores do mar da Galileia, indesejados cobradores de impostos, anónimos recém-escolhidos dentre a multidão? Ao verem-se destacados e incumbidos de tal função, eles que tinham horizontes limitados no espaço e reduzidos no tempo? Ao darem conta que o Mestre fala no presente e não apenas no futuro, sem lhes dar margem para fazerem reconfortantes experiências de missão? De facto, o sentido é muito assertivo: Sois, já, sal e luz, na medida em que a vossa vida estiver marcada pela felicidade que vos anuncio.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Natal 2016: Somos portadores da alegria

Crónica de Maria Donzília Almeida 



Com a entrada de dezembro, começa a sentir-se o ar impregnado do cheirinho a Natal. Os primeiros sinais bem visíveis e apelativos começam nos mass media, com particular incidência na caixinha mágica que entra em casa e nos seduz. Aí, a publicidade de tão insistente começa a impor-se de forma subliminar, chegando a ser agressiva. Os perfumes, por exemplo, que têm um alvo específico, ocupando largo tempo de antena, metem-se pelos olhos dentro a quem quer impressionar pelo olfato. 
Sendo o 67.º Natal que eu vivencio, se Deus quiser e me der saúde, como dizia a minha mãe, é com algum distanciamento que assisto a este materialismo. 
Recordo, com saudade, os natais da minha infância, que tinham a magia e a candura da idade da inocência. Com os parcos recursos das famílias, a mesa de Natal era pobrezinha, mas à volta dela reunia-se a família, que na altura ainda era uma instituição de peso. 
Pai e mãe presidiam à celebração e os filhos, sem as pretensões das crianças de hoje, aguardavam a chegada do Menino Jesus. No imaginário pueril, aquela criaturinha diáfana era o centro das atenções, pois lhes trazia as prendinhas tão ansiosamente esperadas. 
Os pais, que viam no Menino Jesus a personificação do filho de Deus que nascera nas palhinhas, também lhe confiavam a sua saúde, o que lhes permitia serem os intermediários entre Deus e os filhos. O Menino Jesus era uma criação romântica que reluzia e inspirava numa sociedade pouco industrializada, quase rural. 
Hoje, com a laicização da sociedade, esbateu-se essa criação e apareceu a figura bizarra do pai natal, empoleirado nos telhados a fazer uma escalada interminável. 

sábado, 7 de maio de 2016

A Bênção de Jesus, Fonte da Alegria no Amor

Reflexão de Georgino Rocha

Betânia
Jesus leva os discípulos para as proximidades de Betânia, terra de referência para algumas iniciativas da sua missão, ergue as mãos estendidas e abençoa-os. Depois, oculta a sua presença física, indicando outro modo de estar com eles e de os acompanhar na missão de serem suas testemunhas. Promete-lhes o Espírito Santo que, em breve será enviado, promessa cumprida na celebração que a Igreja faz no Pentecostes. Será ele a luz da memória, a força do testemunho no presente e o guia dos caminhos a percorrer rumo ao futuro desejado.
Sem Jesus na liderança visível, os discípulos ficam perante os desafios que surjam no cumprimento fiel do mandato que receberam. Recorrem, por isso, à oração comunitária, promovem assembleias conjuntas, apelam à participação de quem está envolvido, bendizem a Deus pelas maravilhas que vão fazendo em nome de Jesus ressuscitado. Exemplos deste modo de proceder são a escolha de Matias para “ocupar” o lugar de Judas, o traidor, o processo de eleição dos “diáconos” para o serviço das mesas, o “concílio” de Jerusalém para dirimir a questão de saber se para ser cristão é preciso ou não praticar antes os ritos judaicos. E surge a sentença normativa para o agir das comunidades eclesiais: “Decidimos o Espírito Santo e nós…”

domingo, 3 de abril de 2016

Caminhos cristāos para a ressurreição da Europa?

Crónica de Frei Bento Domingues 


«O dia do culto que não seja o da celebração 
da alegria e da liberdade é um insulto a Deus»

1. Alguns amigos insistiram comigo para não voltar à pergunta: “Será possível ressuscitar a Europa?”. Este continente, dentro e fora de portas, antes, durante e depois do regime de Cristandade, viveu quase sempre em guerra e assim continuará. Um interregno de 60 anos de paz foi mais fruto do cansaço do que da virtude. A política, como Aristóteles viu, é o reino do instável para o qual não existe ciência certa, apenas palpites e raciocínios mais ou menos prováveis.
O que eu deveria questionar, segundo dizem, era o estado lamentável em que se encontra a liturgia da Igreja, nomeadamente a da Semana Santa. Não enche as igrejas nem as almas. A pergunta que os padres não deveriam evitar seria esta: porque será que os feriados de cariz religioso e os próprios domingos servem sobretudo para umas miniférias dos laicos e dos católicos não praticantes, cada vez mais numerosos?
Um dia abordarei o que há de interessante e falacioso nesta pergunta. Se os feriados religiosos servem para um merecido “descanso”, já não é mau. A mítica e bela narrativa da Criação coroa de humor um Iavé feliz e fatigado:Deus concluiu no sétimo dia a sua obra e descansou (Gn 1-2).

sábado, 9 de maio de 2015

Que a vossa alegria seja completa

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha

Em discurso directo, Jesus dá a conhecer as relações que mantém com Deus Pai e as que pretende que os seus discípulos cultivem e pratiquem. Jo 15, 9-17. Não recorre a metáforas nem a símbolos. Fala em linguagem normal de realidades sublimes. E centra-as no amor em cadeia, que tem a fonte no Pai, toma o rosto humano em si mesmo, estende-se a quem o segue e ama como ele. Este é centro donde provém tudo quanto faz e diz. Este é o centro para onde converge a missão que confia à comunidade dos amigos. Este é o centro que gera a mais eloquente história de amor vivida de tantas maneiras, ao longo dos tempos, por pessoas de todas as idades e categorias sociais.