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domingo, 3 de dezembro de 2023

ADVENTO - 3 DE DEZEMBRO


Numa antecipação marcada pela vivência natalícia de décadas, que sempre vivi no seio da família, é saboroso perspetivar o NATAL de 2023 que agrade a todos os meus familiares e amigos, como sinal da cultura de afetos que podemos e devemos recrear com amor.
Recordo os Natais da casa dos meus pais, com todos os membros da família a partilharem as alegrias próprias da quadra, onde os desejos de uma felicidade abençoada pelo Menino-Deus se pressentia nos olhares e atitudes de todos. Tudo isso será possível se soubermos conjugar e reforçar os laço da ternura que almejamos.
O primeiro domingo do Advento é hoje, 3 de dezembro. É também o início do novo ano litúrgico. Mais ainda: É o ponto de partida para recrearmos um mundo melhor, com a bênção do Menino-Deus que celebraremos de modo especial no próximo 25 de Dezembro.
Bom Natal para todos.

Fernando Martins

domingo, 27 de novembro de 2022

ADVENTO



Nem medo nem recusa perturbaram
A graça que em Ti cumpre a sua obra:
Ofereceste a Deus aquele silêncio,
Onde habita a Palavra.

Em Ti desponta a aurora da justiça,
O mistério do reino que há de vir;
A sombra do Espírito que desce
Teu coração preserva.

Por Ti, Maria, Mãe imaculada,
Ao Céu se eleve o nosso humilde canto:
Louvor e glória a Deus três vezes santo,
Por toda a eternidade.



Liturgia das Horas

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Ajudar o Advento da Alegria

Crónica de Bento Domingues no PÚBLICO

Não podemos baixar os braços. Igrejas que entrem num verdadeiro processo de conversão ajudam o Advento da Alegria. Preparam o Natal.

1. Há exortações e exortações. Algumas parecem tão exageradas que exprimem mais o desejo de quem as faz do que a possibilidade de poderem ser levadas a sério pelos seus destinatários. A Missa deste Domingo começa com um imperativo impossível: alegrai-vos sempre! Parece uma exortação inútil, como se alguém estivesse triste porque queria. Aliás, o mesmo S. Paulo também faz outra exortação ainda mais inútil: alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram[1]. No entanto, a exortação que deu o nome ao 3.º Domingo do Advento, ao alegrai-vos sempre, acrescenta: no Senhor, isto é, no Ressuscitado, alma do Domingo para se tornar alma de toda a semana. É este o próprio fundamento do movimento cristão, com modalidades diferentes, segundo os tempos e lugares.

sábado, 27 de novembro de 2021

O Menino do Presépio já vem a caminho


Nas vésperas deste domingo, o mais próximo do dia 30 de novembro, começa o Advento, tempo forte do Ano Litúrgico, que prepara a festa do nascimento do Verbo de Deus feito homem, Jesus Cristo. O Natal do nosso Salvador merece de todos os cristãos uma preparação especial. Não de forma desligada da comunidade a que cada um pertence, mas assente nela, sem excluir, naturalmente, as reflexões pessoais de acordo com a sensibilidade de cada um.
O Advento é um tempo de construção da paz, da harmonia, da alegria, da partilha e  de oração, rumo à fraternidade universal. O Menino do presépio já vem a caminho. Saibamos acolhê-l'O.

Fernando Martins

NOTA: Durante o Advento publicarei, com frequência, poemas e outros textos alusivos à vinda do Messias. O« meu blogue estará aberto à colaboração de todos os meus amigos e leitores. 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Faça-se em mim segundo a tua palavra

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo IV do Advento do Natal 



O itinerário do Advento do Natal destaca figuras emblemáticas que são testemunhas da fidelidade de Deus à Sua aliança: Isaías, o profeta do exílio, João Baptista, o homem precursor do Messias, José, o escolhido para dar nome legal a Jesus e Maria, a virgem de Nazaré, a agraciada para ser a Mãe. Hoje, concentramo-nos no diálogo da anunciação que realça a disponibilidade de Maria ao dizer: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra”. Lc 1, 26-38. 
A disponibilidade de Maria é total, e incondicional a sua entrega. Após uma saudação que a felicita pela graça alcançada e um diálogo que lhe desvenda a densidade do futuro próximo, o seu “sim” é pleno e definitivo, alegre e confiante. 
A propósito da atitude de Maria, observa o cardeal Tolentino de Mendonça: “Entre aquilo a que somos chamados e o conhecimento das nossas forças há uma separação que nos estremece, uma distância que nos emudece. Sentimos o peso da nossa fragilidade como uma dolorosa incapacidade para responder. Mas aprendemos que a confiança é sempre dar um salto. Ante a promessa do Espírito Santo que virá, Maria confia e pronuncia o seu sim”. 
O episódio tem lugar em Nazaré, aldeia da Galileia com uns cem habitantes. O protagonista é o anjo do Senhor que vem a casa de Joaquim e de Ana. A mensagem expressa-se no convite para ser mãe de Jesus, o Filho do Altíssimo. O ambiente deixa “respirar” simplicidade e o silêncio faz pressentir a sublimidade do acontecimento. O interlocutor é uma jovem virgem em estado singular: já não “pertence” à família por estar “comprometida” com José, nem ao esposo e seus familiares por ainda não terem celebrado publicamente a boda ritual. Tudo ocorre no espaço onde Maria se encontra, na vida fecunda do lar onde se cultivam as mais nobres tradições e forjam os grandes ideais. Deus inclina-se para ela e para todos os que encontra disponíveis. 

domingo, 13 de dezembro de 2020

O MENINO JÁ ESTÁ ENTRE NÓS



O Advento está a caminhar a passos largos para a grande festa dos cristãos que é a celebração do nascimento do Deus-Menino, registado no coração de humildes pastores  há mais de dois mil anos. Tão importante foi esse acontecimento que marcou a nossa era. 
A princípio, terá sido uma criança como outra qualquer, mas quando se fez homem, dele brotou uma mensagem que se tornou revolucionária, essencialmente assente na paz e na fraternidade. O seu legado impulsionou uma nova civilização, a Civilização do Amor, cuja implementação entregou aos seus seguidores. 
Contudo, apesar da beleza e urgência da sua mensagem,  a Civilização do Amor permanece em miragem para imensa gente. Urge reacender,  ano após ano, neste mundo sem fronteiras, a luz da esperança que o Menino-Deus projetou em cada um de nós, a partir da humilde gruta de Belém. 
Bom Natal para todos. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

ALEGRAI-VOS. ELE ESTÁ NO MEIO DE VÓS

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo III do Advento do Natal 



A liturgia da Palavra está repassada de referência à alegria e a quanto a envolve e lhe abre horizontes. Os rostos que a tornam visível são III Isaías, Paulo de Tarso e João Baptista. Vamos deter-nos em alguns traços destes rostos que muito nos consolam e interpelam. 
“Exulto de alegria no Senhor, proclama Isaías no desterro da Babilónia. “Vivei sempre alegres”, escreve Paulo aos cristãos de Tessalónica. “No meio de vós está Alguém que não conheceis”, afirma João Baptista aos sacerdotes e levitas enviados de Jerusalém. 
Que exortação corajosa, a de Isaías, vinda de quem está em situações difíceis e sofridas! Que mudança de perspectivas comporta, relativizando o peso do presente face à esperança do futuro! Que suporte anímico e espiritual manifesta, ao dar as razões em que se apoia e fundamenta! Aconselhar a viver na alegria os abatidos de coração, os esmorecidos de coragem, os desterrados de si mesmos, constitui uma verdadeira provocação e lança um forte desafio. 
Assim era a situação no tempo do 3º. Isaías, profeta do exílio em Babilónia, quando Ciro, rei da Pérsia, conquista a cidade e dá liberdade aos cativos de regressarem às suas terras. Um grupo de judeus aproveita a oportunidade e vem instalar-se em Jerusalém. Mas depara-se com uma surpresa desagradável e frustrante: é acolhido friamente e com alguma hostilidade pelos residentes. Apesar disso, ganha coragem e persiste, lançando as “bases” do culto habitual ao Senhor, seu Deus. Todavia, os agravos acentuam-se, sendo espoliados dos bens que conseguem obter, e ficam sem casa para habitar nem campos para trabalhar. Renasce intensa a desilusão frustrante, a tristeza de morte. E o profeta ergue a voz para proclamar: Exulto de alegria no Senhor. Ele há-de fazer brotar a justiça. 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

PREPARAI A CHEGADA DO MAIS FORTE

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo II do Advento do Natal


Que estranha figura, escolhe Marcos, para abrir o cenário do início à narração do Evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus! Que protagonista desconcertante nos vem fazer apelo tão interpelante e dar notícia tão alegre! Que multidões, dos campos e de cidades, cheias de expectativas, acorrem a ouvir João Baptista e os seus exigentes apelos de conversão! 
Estas exclamações contêm interrogações que encontram resposta na proclamação da mensagem que nos chega dos cristãos de Roma e foi redigida um pouco antes da destruição do Tempo de Jerusalém (ano 70 da nossa era). Mc 1, 1-8. 
“A sua mensagem é um testemunho vivo de um homem que está consciente das prioridades e não dá importância aos aspectos secundários da vida como sejam roupas de marca, comer ou beber. Ser mensageiro que prepara o caminho para o Messias, denuncia o pecado, anuncia o perdão e dispõe o homem a converter-se”. A. G. Dalla Costa, CS, Brasil. 
A figura de João é estranha, desconcertante, irreverente, subversiva. A sua retirada para o deserto assemelha-se à de Elias: contestação dos critérios imperantes nas classes dirigentes, políticas e religiosas, denúncia do sistema social estabelecido, apelo veemente à transformação da estruturação da sociedade e ao estilo de vida sóbria, reduzida ao essencial. O deserto surge como espaço de encontro com Deus, propício para escutar a voz da consciência em suas aspirações fundamentais, distante dos interesses e dos privilégios dos poderosos, liberto de temores e de represálias, das simples aparências. 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

ACAUTELAI-VOS E VIGIAI, DIZ-NOS JESUS

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo I do Advento do Natal


Era costume dos judeus abastados e ricos, quando tinham de se ausentar, confiar os seus bens aos cuidados dos servos, atribuindo-lhes responsabilidades concretas. Deviam desempenhá-las bem, até que os patrões regressassem, não deixando ou enviando qualquer pré-aviso. O proceder dos servos manifestava a qualidade da relação com os seus senhores. 
Jesus conhece bem os usos e costumes dos seus conterrâneos. Recorre frequentemente a eles, dando-lhes novas dimensões, enriquecendo-os com elementos que abrem horizontes mais vastos e interpelantes. Com estes recursos pedagógicos, os discípulos podem captar mais facilmente a mensagem que lhes quer transmitir. Hoje, lança mão da parábola do dono da casa que a confia aos seus empregados e parte de viagem. Deixa duas recomendações: cumprir responsavelmente a tarefa atribuída e estar vigilantes. Ê adianta uma breve explicação: O regresso pode acontecer a qualquer hora. “O que vos digo a vós, digo--o a todos”. Mc 13,33-37. 
“A vigilância, adianta Manicardi, é a fidelidade à terra na plena consciência de estar na presença de Deus. A vigilância nasce de uma unificação da pessoa diante do Senhor, o que a leva a ser lúcida, atenta a si própria e aos outros.” 
A vinda do senhor da casa polariza a atenção comum, dá sentido ao comportamento de cada um, desperta energias que tendem a adormecer, mantém em todos a espera vigilante e activa. É o futuro que introduz, no presente, dinamismos de intervenção, fruto da análise crítica das situações e das atitudes que condicionam a conservação da casa e a realização das tarefas. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Ide contar a João

Reflexão de Georgino Rocha 
para o III Domingo do Advento

«Deus está aí. Discreto, mas solícito. Silencioso, mas interveniente. “Ferido”, mas sanador. Peregrino e companheiro no tempo, mas “dono” da casa de família onde acolhe, em alegre festim, todos os que souberam caminhar com Ele e aceitar o ritmo do seu amor.»

Assim começa a resposta que Jesus dá aos enviados de João. “Ide contar o que vedes e ouvis”. Mt 11, 2-11. João estava na cadeia, onde chegam notícias contrastantes com o que havia anunciado na sua missão profética. E tem dúvidas, como é normal. Quer esclarecer e procurar a verdade. Não deixa que a cadeia lhe aprisione o espírito nem limite a liberdade. Para ele, como para qualquer pessoa, viver na dúvida é uma espécie de prisão que limita a razão e amarra o coração. Não deixa adormecer a pergunta inquietante nem se inibe face ao preconceito que mina a confiança. Fiel a si mesmo, honesto e decidido, quer saber e encarrega os seus discípulos de buscarem a resposta desejada. Que belo exemplo nos dá e apelo nos faz para sermos peregrinos da verdade!
João anuncia o reino prestes a chegar e urge a conversão com palavras duras, metáforas de amedrontar as “raças de víboras”, invectivas fortes aos palradores que “dizem e não fazem”, ameaças terríveis de castigos iminentes, apelos gritantes ao arrependimento e à correspondente mudança de atitudes. O “juízo de Deus” vai iniciar-se. O contraste é claro, como veremos a seguir.
O estilo de Jesus surge como resposta velada à pergunta preocupada de João. Acolhe os cegos e abre-lhes os olhos. Aproxima-se dos coxos e restitui-lhes a liberdade de movimentos. Escuta a súplica dos leprosos e estes ficam limpos da doença que marginaliza e rói a dignidade humana. Toca os ouvidos dos surdos e estes abrem-se à realidade nova da escuta que relaciona e insere no vasto horizonte comunicacional. Visita as famílias com defuntos, reza por eles e ordena-lhes que regressem à vida terrena, ao convívio dos seus. Que desafio nos lança o estilo de Jesus!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

NATAL feliz para todos



NATAL

Lá na gruta de Belém
onde nasceu o Redentor
houve falta de agasalho
que sobrou em Paz e Amor
Apoio humano e divino
prendas singulares do mundo
foram presença marcante
nesse Presépio fecundo
cuja pobreza na grandeza
e desamparo era bondade
e que simplesmente deu
rumo à Humanidade.
Que nesta época de Natal
de já rara fraternidade
que ao menos, depois da festa,
Possa celebrar-se a Amizade.

M. Cerveira Pinto


NOTA: Este poema, de um colega e amigo que muito estimo, publiquei-o há dez anos no meu blogue. Republico-o  com votos de Santo Natal para a sua família e para os meus muitos amigos. A ilustração representa a sensibilidade da Lita. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A minha alma engrandece o Senhor


E Maria disse:
«A minha alma engrandece o Senhor,
e alegrou-se o meu espírito em Deus, meu Salvador,
porque mirou a humildade da escrava.
Eis que a partir de agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada,
porque em mim fez coisas grandes o Poderoso.
E santo é o nome d'Ele,
e a misericórdia d'Ele <é concedida> de geração em geração àqueles que o temem.
E demonstrou força no seu braço
e dispersou os orgulhosos no pensamento dos seus corações.
Derrubou os dinastas dos seus tronos
e elevou os humildes;
os esfomeados encheu de coisas boas
e os ricos mandou embora sem nada.
Acolheu a Israel, seu escravo,
recordado de misericórdia,
tal como falou aos nossos pais,
a Abraão e à semente dele para sempre.»


Lucas 1:46-55

Da tradução de Frederico Lourenço

domingo, 1 de dezembro de 2019

Para haver Natal este natal

As mãos preocupadas
com embrulhos
esquecem outros gestos de amor




Para haver Natal este natal

Para haver Natal este natal
talvez seja preciso reaprendermos
coisas tão simples!
Que as mãos preocupadas
com embrulhos
esquecem outros gestos de amor.
Que os votos rotineiros que trocamos
calam conversas que nos fariam melhor.
Que os símbolos apenas se amontoam
e soltam uma música triste
quando já não dizem
aquela verdade profunda.

Para haver Natal este natal
talvez seja preciso recordar
que as vidas começam e recomeçam
e tudo isso é nascimento (logo, Natal!).
Que as esperanças ganham sentido
quando se tornam caminhos e passos.
Que para lá das janelas cerradas
há estrelas que luzem
e há a imensidão do céu.

Talvez nos bastem coisas afinal
tão simples:
o alento dos reencontros
autênticos,
a oração como confiança
soletrada,
a certeza de que Jesus nasce
em cada ano,
para que o nosso natal alguma vez, esta vez,
seja Natal.

P. José Tolentino Mendonça

(Pe. Tolentino é agora cardeal)

sábado, 30 de novembro de 2019

Sociedade fraterna a caminho


A partir de amanhã, 1 de dezembro, este meu blogue franqueia portas para acolher a colaboração de quem estiver aberto à partilha de temas de Advento e Natal. Prosa, poesia, fotografias, provérbios ou mensagens terão espaço livre. Textos curtos que traduzam otimismo e certezas de uma sociedade fraterna já a caminho. Tudo Pela Positiva. 

Fernando Martins

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Georgino Rocha - Acolher com amor o Senhor que vem

Advento - Domingo I

«O amor ao Senhor Jesus impele-nos para o serviço gratuito dos nossos irmãos em humanidade e na fé. E será a realização do Advento do Senhor que vem!»

Chega o Advento que nos vai levar à celebração do Natal de Jesus. Nos seus quatro domingos, faz-nos contemplar as promessas de Deus ao seu povo narradas pelo Evangelho de Mateus. Estas promessas estão centradas na vinda do Messias que é anunciado por profetas, sábios e reis e realizam-se em Jesus de Nazaré. O Ano litúrgico faz-nos celebrar a maravilha do acontecimento da salvação e aguardar a vinda gloriosa de Cristo Senhor com alegria e esperança.
Jesus, segundo a leitura de hoje, dirige uma exortação veemente aos discípulos e, por eles, a todos os cristãos, ao longo da história: Estai preparados. Vigiai. “Não sabeis em que dia virá o vosso Senhor”. Trata-se de uma vigilância activa para acolher Quem vai chegar, de estar desperto e preparado, de ver os sinais que indiciam a sua proximidade, de entender o que acontece e de não se deixar enganar pelas aparências. De contrário, a sonolência, o ram-ram das rotinas, a obsessão das preocupações e tantos outros estados de espírito provocam a inadvertência ou semeiam a confusão e o distanciamento. De contrário, os prazeres da vida, de que fala a 2ª leitura, a correria do trabalho e do lazer, a desatenção e a indiferença isolam e amortecem os sentidos face ao que está prestes a acontecer. Assim, as pessoas serão apanhadas pela surpresa que pode ser fatal. Mt 24, 37-44.

domingo, 9 de dezembro de 2018

Desistir da paz?

Bento Domingues

1. A exuberância poética do profeta Isaías distribuída pelas celebrações diárias do Advento exibe uma tal confiança no futuro que mais parece um delírio do desejo que gosta de se iludir, do que uma esperança razoável. Logo no 3.º dia, e nunca se cansará, garante que os povos vão dispensar os exércitos e as suas manobras. Os instrumentos de guerra vão ser reciclados e confiados aos ministérios da agricultura: converterão as espadas em relhas de arado e as lanças em foices [1]. O Deus dos exércitos vai para o desemprego.
Tempos virão em que nem sequer será preciso pensar na reciclagem do exército. A justiça estará ao serviço dos infelizes do povo. Aos violentos e aos ímpios a própria palavra de Deus os modificará. A justiça e a lealdade serão a lei.
Até toda a natureza que se modificará. O lobo viverá com o cordeiro e a pantera dormirá com o cabrito; o bezerro e o leãozinho andarão juntos e um menino os poderá conduzir. A vitela e a ursa pastarão juntamente, as suas crias dormirão lado a lado; o leão comerá feno como o boi. A criança de leite brincará junto ao ninho da cobra e o menino meterá a mão na toca da víbora.
Não mais praticarão o mal nem a destruição em todo o meu santo monte: o conhecimento do Senhor encherá o país, como as águas o leito do mar. Nesse dia, a raiz de Jessé surgira como a bandeira dos povos; as nações virão procurá-la e a sua morada será gloriosa [2].
O profeta quer que Deus seja o Senhor do universo e prepare para todos os povos um banquete de manjares suculentos, um banquete de vinhos deliciosos: comida de boa gordura, vinhos puríssimos. Destruirá a morte para sempre. Enxugará as lágrimas de todas as faces. Alegremo-nos e rejubilemos porque nos salvou [3].

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

João, a Voz da Palavra do Senhor. Aprecia!

Georgino Rocha

João surge na vida pública como um profeta itinerante nas margens do rio Jordão, após uma experiência significativa no deserto. Aqui recebe a palavra de Deus que lhe é dirigida. Aqui faz o contraste da vida sóbria e austera com a da Jerusalém, onde o pai Zacarias oficiava no Templo, e a da aldeia onde nascera, a poucos quilómetros da cidade. Aqui encontra o silêncio indispensável ao coração para amadurecer os apelos que ia sentindo e as convicções que ia gerando. Aqui toma a decisão de dar voz à experiência feita e parte em missão.

Lucas faz o relato do sucedido, situando o episódio num contexto político e religioso de grande envergadura. Indica assim o alcance histórico da novidade que desponta. Refere nomes e datas, menciona o imperador de Roma, o governador da Judeia, e outras figuras gradas nas regiões próximas, bem como na área religiosa. (Lc 3-1-6). As credenciais do registo ficam apresentadas, a solicitar a abertura à verdade que se anuncia. E o protagonista sente-se mandatado para realizar a missão recebida. “Foi dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele percorria toda a região do Jordão” refere o evangelista narrador.

“As pessoas mais pobres e marginalizadas nas nossas sociedades trazem-nos verdadeiras mensagens de esperança”, afirma o arcebispo de Manila, nas Filipinas. “É nos lugares pequenos e imundos que nascem os nossos reis, não em palácios”. Esta forte imagem foi apresentada pelo cardeal Luis Antonio Tagle, presidente da Cáritas Internacional em mensagem recente sobre a preparação do Natal cristão. A verdade da afirmação contrasta fortemente com o que vemos e, se calhar, alimentamos.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O AVISO DE JESUS: Tende cuidado e vigiai

Georgino Rocha

Jesus quer ajudar os discípulos a cultivarem uma atitude responsável na vida. Nem fugas para a frente ou para trás, nem insensibilidade e indiferença alienante no presente. Atitude responsável que se manifesta em advertir no que acontece e dar conta do seu sentido, do rumo dos dinamismos que contêm, da sua repercussão no bem de todos/as, na dignidade de cada um/a, na harmonia e no equilíbrio da biodiversidade. Atitude responsável porque o gérmen do futuro definitivo já está plantado na humanidade e vai crescendo em critérios de vida e atitudes de bondade de tantas pessoas que mostram que outro mundo é possível e necessário. Este gérmen a desenvolver-se no tempo atingirá a plenitude na eternidade, graças à intervenção transformadora de Deus na pessoa do seu Filho, o Senhor Jesus.

Lucas, o evangelista narrador que nos vai acompanhar ao longo do ano litúrgico que se inicia, coloca o episódio de hoje na parte final do discurso público de Jesus, antes de se retirar para o Jardim das Oliveiras, local onde tem lugar a sua prisão. (Lc 21, 25-28, 34-36). Discurso cheio de densidade humana, de avisos premonitórios de um futuro iminente e sua repercussão no presente. Discurso que faz uma leitura da história e do final feliz do mundo, apesar dos acontecimentos brutais que semeiam tribulações sem conta nem medida. E Jesus anuncia com certeza firme: “A vossa libertação está próxima”. E diz porquê: “Hão-de ver o Filho do homem vir numa nuvem com grande poder e glória”. O Filho do homem é Ele, Deus humanado, a Quem o Pai confia a abertura do livro da vida e a leitura das intenções das pessoas e o alcance dos acontecimentos.

domingo, 17 de dezembro de 2017

Bento Domingues — Jesus nasceu para descrucificar



“Jesus Cristo, com as palavras que lhe são atribuídas nos quatro evangelhos, é a figura que mais me interessa. Continuo a achar que, independentemente de ele ter dito aquelas palavras ou não, elas são as coisas mais extraordinárias que foram ditas à face da terra. Por exemplo, quando leio para mim o Novo Testamento estou num mundo maravilhoso que é só meu e me preenche muito, animicamente, espiritualmente. Apesar de ser um linguista crítico-histórico, não sou um ateu a traduzir a Bíblia. Serei sempre, até ao último segundo da minha vida, um apaixonado por esse judeu chamado Jesus de Nazaré.”

Frederico Lourenço


1. Estamos na quadra litúrgica do Advento, mas tudo parece encenado e polarizado apenas pela memória do nascimento de Jesus, alimentando um terno imaginário da infância, com alguma e passageira solidariedade, própria da estação, sem, no entanto, tocar nos alicerces da sociedade. É como se nada estivesse para acontecer.
Os textos das celebrações do Advento vão, pelo contrário, noutra direcção: é hoje que podemos acolher a graça da nossa transformação interior que nos associe, de forma activa, às mais diversas iniciativas sociais, culturais e políticas da construção de uma cultura da justiça e da paz, a nível local e global. O Espírito do Natal é Aquele que suscitou o canto subversivo de Maria de Nazaré.
As preocupações com as indispensáveis reformas das “cozinhas eclesiásticas” da Igreja, se não estiverem centradas no estilo da prática histórica de Jesus Cristo e nas urgências dos mais carenciados das nossas sociedades, acabam por nos fazer esquecer que somos nós, a Igreja, que precisamos de reforma permanente. 
Frederico Lourenço — a grande figura portuguesa da cultura bíblica fora das sacristias — recorda-nos que os Evangelhos têm, ainda hoje, em 2017, o potencial para mudar o mundo para radicalmente melhor. Sublinha comovido: “Jesus Cristo, com as palavras que lhe são atribuídas nos quatro evangelhos, é a figura que mais me interessa. Continuo a achar que, independentemente de ele ter dito aquelas palavras ou não, elas são as coisas mais extraordinárias que foram ditas à face da terra. Por exemplo, quando leio para mim o Novo Testamento estou num mundo maravilhoso que é só meu e me preenche muito, animicamente, espiritualmente. Apesar de ser um linguista crítico-histórico, não sou um ateu a traduzir a Bíblia. Serei sempre, até ao último segundo da minha vida, um apaixonado por esse judeu chamado Jesus de Nazaré.” [1]
Muitos anos antes, numa entrevista de 1978, Eduardo Lourenço mostrou a verdade da nossa condição, na própria referência cristã: “Cristo é o momento (sem limite de tempo) em que a humanidade tomou forma humana. [...] Foi crucificado, não por querer ser deus, mas por ensinar o que era ser homem. Dois mil anos passaram sem que esquecêssemos nem aprendêssemos a lição.” [2]
Num belo livro, traduzido por José Sousa Monteiro, deparo com a confissão do marxista Milan Machovec: “O coração duma freira desconhecida que se dedica a uma criança incurável, só poderia ser substituída por uma teoria da história, por um estúpido e um idiota [...]. Pessoalmente, não me traria grande desgosto o facto de a religião acabar. Mas se tivesse de viver num mundo no qual Jesus fosse inteiramente esquecido, então preferia não continuar a viver” [3].
Como escreveu o dominicano E. Schillebeeckx, para Jesus, a história dos seres humanos é a narrativa de Deus acolhido ou recusado [4].

2. Para o imaginário do Evangelho de S. Lucas, a festa do nascimento de Jesus aconteceu num curral iluminado pela luz do céu, acompanhada pela música dos anjos e rodeado de pastores e estrangeiros. Tudo aconteceu à margem do Templo de Jerusalém e dos palácios imperiais. Aliás, Jesus com o comércio do Templo teve uma relação muito agreste e só conheceu os palácios quando estava a ser julgado e condenado à pena capital. A sua coroa foi de espinhos e o seu trono foi uma cruz.
Esta apresentação testemunha um profundo contraste, mas pode cair na perversão do próprio Evangelho de Cristo, sugerindo que Jesus veio sacrificar-se e semear mais sacrifícios no mundo. Porque será mantida a cruz como símbolo cristão, quando o que Jesus procurava era, precisamente, descrucificar?
A minha hipótese de interpretação é outra, bastante simples, mas que importa explicar. A cruz, a sentença de morte mais bárbara e cruel, fazia parte do mundo que Jesus queria mudar. Então, por que continua a funcionar como um símbolo cristão, quando ela é anti-humana, anticristã?
Ao contrário do que se repete há séculos, Jesus Cristo não desejou nem santificou a cruz. Alterou-lhe, porém, a significação de forma radical. Foi-lhe imposta, num julgamento iníquo, por ele recusar trair o seu projecto. Tornou-se, deste modo, o símbolo da fidelidade inquebrantável, o signo da extrema generosidade. A presença de sinais da cruz, desde o baptismo até à morte, diz que é preciso dizer não à crucifixão da vida e dizer sim à generosidade libertadora, no dia-a-dia.
Tudo isto vem confirmado no trecho do Evangelho escolhido para a celebração da Eucaristia, do passado dia 6: estava Jesus sentado junto ao mar da Galileia e uma grande multidão veio ter com ele e lançou-lhe, aos pés, coxos, aleijados, cegos, mudos e muitos outros [5].
Se o mestre fosse um pregador de sacrifícios dizia-lhes: estais mal? Ainda bem. Assim podeis santificar-vos e, um dia, sereis muito felizes no céu.

3. Jesus não acreditava nessa mística. Curou-os e organizou, com pouca coisa, um grande banquete popular. A multidão ficou admirada ao ver os mudos a falar, os aleijados a ficar sãos, os coxos a andar, os cegos a ver e todos a comer até sobrar.
Poder-se-á dizer: porque não deixou a fórmula? Seria uma alternativa muito barata dos serviços de saúde, públicos e privados. Mas ele não veio para nos substituir.
Já na apresentação do seu programa, em Nazaré, ficou claro que o mundo tinha de começar mesmo a mudar. Deus não podia ser o da ira de Iavé, mas o da pura graça do amor. Diz a narrativa evangélica que, nesse momento, os seus conterrâneos o julgaram um subversivo e, por isso, quiseram acabar logo com ele [6].
Os seus comportamentos eram, de facto, estranhos: andava em más companhias, com quem comia e bebia, a ponto de lhe chamarem “comilão e beberrão”; aceitou o convívio de mulheres que não eram todas exemplos de virtude; violava, sistematicamente, o Sábado — o dia mais sagrado da sua religião — com curas que bem podia fazer noutros dias [7].
Não deixou fórmulas ou receitas que pudessem ser transformadas em rituais. A sua prática é um desafio à imaginação de todos os homens e mulheres, de todos os tempos, a usarem os seus talentos, as suas capacidades, não para cavar distância entre ricos e pobres, mas para as eliminar, pois não suporta ver uns à porta e outros à mesa, uns em banquetes requintados e outros na miséria [8].

Frei Bento Domingues no PÚBLICO


[1] Frederico Lourenço, Entrevista, in Ler, Outubro 2017, n.º 147
[2] Eduardo Lourenço, in Opção, n.º 97, pp. 2-8, Março 1978
[3] Cf. VV. AA., Os marxistas e Jesus, Iniciativas Editoriais, Lisboa 1976, pp. 88 e 98
[4] Edward Schillebeeckx, L’histoire des hommes, récit de Dieu, Cerf, Paris 1992
[5] Mt 15, 29-37
[6] Lc 4, 16-30
[7] Lc 7; 8; 13, 10-17
[8] Lc 16, 19-31

sábado, 9 de dezembro de 2017

Georgino Rocha - Escutai a voz do Profeta



ENDIREITAI OS CAMINHOS DO SENHOR

João Baptista surge com todo o seu vigor no início do Evangelho de Marcos que, no 2º domingo do Advento, a liturgia da Igreja nos apresenta. (Mc 1, 1-8). Surge como o profeta que realiza o anúncio vaticinado por Isaías, durante o cativeiro do povo judeu na Babilónia. Surge como garantia de que os relatos sobre a vida de Jesus estão na sequência dos factos narrados nos textos sagrados, já conhecidos. Surge para lançar o brado definitivo: “Endireitai os caminhos do Senhor, Ele está no meio de nós”.

Marcos chama o leitor a iniciar o percurso da descoberta de Jesus Cristo, ouvindo o apelo de João Baptista, acolhendo as vozes dos acompanhantes que testemunham os factos por Ele realizados na itinerância da missão, e abrindo o coração para saborear a confissão pública do Centurião: “Realmente, este é o Filho de Deus!”.

A liturgia da Igreja organiza as celebrações de modo sábio e pedagógico. Em cada domingo apresenta um episódio emblemático que visualiza a vida de Jesus, configura o seu modo de proceder e desvenda a sua realidade profunda: Ser Filho de Deus. E o leitor é interpelado, convidado a parar, meditar, reconsiderar e a professar a sua fé, se chegar a esta feliz conclusão. Como o Centurião romano.

“Endireitai os caminhos do Senhor”. É nos caminhos da vida que se encontra Jesus Cristo. A vida, no seu dramatismo provocante, está recheada de surpresas que despertam a sonolência que, frequentemente, nos assalta. E a ensurdecedora publicidade comercial consumista avoluma. E Marcos convida-nos a irmos aos começos, a verificarmos as raízes que nos garantem a liberdade em segurança, a escutarmos as boas notícias da verdade que Jesus nos comunica.

O que será preciso pôr direito na vida de cada um de nós, nas famílias, nas instâncias sociais e políticas da sociedade, no sistema educativo como serviço público de qualidade, pertença a quem pertencer? Que será preciso endireitar na Igreja e suas comunidades e movimentos para que nas pessoas e na sua instituição brilhe mais intensamente a transparência do Evangelho de Jesus?

Os caminhos têm de ser visíveis e transitáveis, planos e assinalados. Por isso, exemplifica Isaías na 1ª leitura: Que o retorcido seja posto direito, o vale seja elevado, o monte abatido, as veredas escarpadas sejam aplanadas. E da morfologia do terreno, somos convidados a examinar a integralidade da vida humana, sobretudo a consciência iluminada pela razão e pela fé cristã. A mudança há-de ser verificada pelo arauto chamado a proclamar a feliz notícia: O Senhor vem na sua glória com o prémio da vitória. O relato de Marcos confirma esta visão profética com os factos narrados no seu Evangelho que abrem caminho à missão da Igreja, de cada um de nós.

Aplanai, facilitai, favorecei o caminho da vida aos que estão abatidos e perplexos, são rebaixados na “cotação” social e organizativa, e têm de esconder a vergonha que os assalta pela desconsideração sentida a partir da cultura do êxito a baixo preço e de consumo no instante.

“Perante a realidade concreta que vivemos, neste mundo que se apresenta fragmentado, violento, injusto e estilhaçado… a Palavra de Deus faz-nos o convite a esperar em Deus que nos ama e nos promete uma realidade reconciliada, transformada pela justiça, uma realidade como a que canta o Salmo 84: de paz, de misericórdia e fidelidade. Uma esperança ancorada em Deus e vivida no coração da realidade”, afirma Mariña Rios Alvarez, mulher teóloga. (Homilética 2017/6, p. 745).

É uma esperança que nos faz ver com profundidade a vida, as pessoas, os conjuntos sociais e religiosos, a cultura de “espuma da onda” que deslumbra mas desumaniza e aliena, o Evangelho cheio de energia transformadora da instituição eclesial chamada a agilizar o serviço de animação missionária.

É uma esperança que nos impele a consolar os tristes e amargurados – e são tantos! – a acompanhar as dores sofridas pelas vítimas de si mesmas e das circunstâncias envolventes, a ajudar a abrir horizontes de liberdade a quem não consegue erguer o olhar e ver uma nesga de luz que possa augurar um futuro feliz.

“Endireitai os caminhos do Senhor”, exorta o profeta, pois eles são os nossos caminhos. É no caminho, e não na acomodação, que se dá o encontro. E a nossa vida irradiará a misericórdia do Senhor e todos juntos contemplaremos “a justiça (que) caminhará à sua frente e a paz (que) seguirá os seus passos”. (Salmo 84, proclamado na liturgia de hoje). Que mensagem entusiasmante! Experimenta.

Georgino Rocha