sábado, 1 de julho de 2017

Maria Donzília Almida — Solidariedade

M.ª Donzília Almeida

“Não temos, nas nossas mãos, as soluções para todos os problemas do mundo, 
mas diante de todos os problemas do mundo, temos as nossas mãos.” 

Friedrich Schiller

Canal de S. Roque

Nas grandes cidades, como nas pequenas urbes, estacionar começa a ser tão difícil como encontrar agulha em palheiro. Os lugares onde antigamente se podia fazê-lo, e eram muitos, foram invadidos por parquímetros, onde é obrigatório o condutor deixar a moeda. 
Um incentivo ao uso de transportes alternativos, como os transportes públicos, as bicicletas? As bugas, em Aveiro, postas à disposição dos utentes, são já uma medida a apoiar. Será, também, uma forma de combater o sedentarismo, já que há pessoas que não se deslocam 100 metros a pé. Por ter nascido, na planura das Gafanhas, sou uma adepta fervorosa da bicicleta. 
Como meio de transporte, esta tem-se tornado popular, em várias cidades europeias, como noutros pontos do globo. É muito comum ver-se os executivos das empresas, pedalarem, de fato e gravata, para o local de trabalho. Eu própria usei a bike, na minha deslocação para a escola, ou ia a pé. Morava a dois quilómetros de distância... Ainda pensei usar a trotinete que me tinham oferecido pelos anos, mas… onde levava a pasta e o PC? Não passou de uma ideia peregrina. 
A bike tem superado o uso de automóveis em vários países desenvolvidos, como a Holanda, onde existe em grande número. E, com o tempo, outros lugares estão a seguir esse exemplo saudável, ecológico e económico. Melhora-se a qualidade de vida, o ambiente e as condições de mobilidade urbana. Em Amsterdão, quase toda a população adotou este meio de transporte, pois há muitas ciclovias para os ciclistas. 
Há outras cidades nas quais a implementação da bike, é bem visível. Copenhague, na Dinamarca, foi escolhida como a primeira cidade do mundo a incentivar o uso da Bike City. Atualmente, tem mais de 200 quilómetros de ciclovias, com novas auto-estradas de bicicleta, em desenvolvimento, para chegar aos arredores. A cidade tem uma das mais baixas taxas de parque automóvel da Europa. 
Em Paris, quando os níveis de poluição atmosférica subiram muito, a cidade proibiu o uso de carros, por uns tempos. A poluição diminuiu, drasticamente, e desta forma, a cidade pretende desencorajar o uso de automóveis nos próximos anos. No centro da cidade, não poderão utilizá-los ao fim de semana o que será alargado no futuro. Em Berlim, na Alemanha, vai crescendo o número de ciclistas. São investidos milhões para melhorar a segurança nas ciclovias e construção de novas vias. Recentemente, foi criado um serviço gratuito, de aluguer de bicicletas, com o objetivo de estimular o seu uso e facilitar a vida de moradores e turistas que desejam conhecer a região. A Angela Merkl deve rejubilar, por ser para o mundo, o exemplo de um país superdesenvolvido e preocupado com o ambiente, em oposição ao polémico Donald Trump. 
Em Tóquio, no Japão, o uso de bicicletas é tão frequente, que algumas empresas criaram estacionamentos subterrâneos. São realizados, diariamente, passeios culturais pelas principais atrações desta metrópole. 
Porque a distância, até Aveiro, é de cerca de oito km, apesar de eu ser muito sensível a questões ambientais, não me desloquei de bike. Lá tive que me socorrer do automóvel para chegar ao me destino. 
Foi, precisamente, quando procurava lugar para estacionar, que algo de insólito ocorreu. O Canal de S. Roque é um dos poucos lugares, na cidade, onde o estacionamento é gratuito, mas estava à pinha. Depois de muito procurar qualquer buraquinho remanescente, dei sinal para estacionar, quando um carro se interpôs e ocupou o lugar. Buzinei, reclamando o lugar que me tinha saído na lotaria. Ato contínuo, um jovem todo sorridente, de óculos espelhados, retrocedeu, libertando o lugar que era exíguo e pedindo-me desculpa. Comecei a ficar (bem) impressionada! Nos dias de hoje? Assiste-se a cada picardia entre condutores! 
Tive alguma dificuldade em alinhar o veículo, deixando espaço para os carros adjacentes poderem fazer as suas manobras. O jovem que observava a minha imperícia, ofereceu-se, prontamente, para me estacionar o carro. A princípio, mostrei alguma relutância e receio, em lhe pôr a chave na mão. Um sentimento de insegurança perpassou na minha mente, considerando o que os telejornais vão apresentando, diariamente. Só desgraças, burlas, violência, pedofilia e outras coisas quejandas. Resolvi arriscar e confiar, dando-lhe o benefício da dúvida. Em boa hora o fiz, pois em três tempos, o carro estava devidamente estacionado. Não fui lesada…mas não estava lá a TVI (!) para testemunhar o “incidente” e alimentar o espírito altruísta das pessoas. O sentido mórbido é a especialidade desse canal de televisão. 
Sensibilizada, por este ato de genuína solidariedade, agradeci efusivamente ao jovem, e pensei com os meus botões: Afinal, dizem tão mal da juventude de hoje, eu tive a clara demonstração do contrário! Bem haja a juventude hodierna! 
Bem lá no fundo do meu ser, uma ponta de narcisismo veio à tona. “A quem é boa pessoa, até o vento lhe apanha a lenha!” 

Mª Donzília Almeida 

29.06.2017 


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