sexta-feira, 30 de junho de 2017

Anselmo Borges — A cultura da moleza e do achismo


1. Só alguns exemplos, aparentemente banais. Onde eu vivo, há uma rua com uma placa bem visível a ordenar que é proibido estacionar. Pois não, senhor, essa rua está, noite e dia, com carros estacionados em fila. Acontece-me frequentemente ver por ali agentes da polícia e dá-me vontade de parar para lhes dizer que, uma vez que não fazem nada, era preferível mandar retirar a proibição, pois, na situação com a qual pactuam, dá para pensar: se aqui, na presença da polícia, se pode transgredir, porque é que não se pode transgredir sempre?
Vivo perto de um excelente passadiço junto ao mar. Que delícia andar por ali e à noite contemplar o céu estrelado ("Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre novas e crescentes, quanto mais frequentemente e com maior persistência delas se ocupa a reflexão: o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim", texto do filósofo Immanuel Kant, na sua pedra tumular, em Königsberg). Nesse passadiço, há placas, bem visíveis e espalhadas por muitos sítios, a dizer que são proibidas as bicicletas e a presença de animais. Pois não, senhor, lá andam as bicicletas e cães com fartura (estes estão sujeitos às necessidades das leis da natureza e fazem, com alegria dos donos, abundante cocó; julgam que alguém limpa?; puro engano!). E já ninguém se atreve a chamar a atenção ou a avisar, porque considera inútil e também para não correr o risco de vitupérios, que poderão ir além dos meramente verbais.
É assim. Os portugueses, mal pressentem que o perigo do castigo abranda, entram no laxismo e põem-se a transgredir. É a cultura da moleza. Este tipo de cultura anda ligado à irresponsabilidade. E é assim que acontecem tragédias como esta, indizível, porque não há palavras, que nos aconteceu em Pedrógão Grande e não só. Há alguém que assuma alguma responsabilidade? Está no Evangelho uma palavra que bem se aplica a toda esta nossa situação: "Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é infiel no pouco também é infiel no muito." Aí está a razão por que o Papa Francisco acaba de denunciar esta "sociedade líquida e volátil", pedindo que os filhos sejam educados "na austeridade". E o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, fez bem ao exigir, face à tragédia, que "é tempo de apurar tudo sem limites nem medos". Porque isto não vai lá só com afectos, pois somos seres rácio-emocionais, de afectos e razões. E que se tire todas as consequências. Mas alguém acredita, lá bem no fundo, que isso vai mesmo acontecer, com todas as consequências?

2. A questão é que a cultura da moleza anda em conexão com a cultura do achismo. Houve um tempo em que as pessoas eram recatadas nos seus juízos e receosas quanto ao valor das suas opiniões. Por isso, com facilidade reconheciam não terem capacidade para se pronunciar sobre temas que não dominavam. Esse tempo passou. Agora, do alto do atrevimento da sua ignorância, praticamente toda a gente acha que... tem direito a opinar sobre tudo, sem fundamentos nem razões. "Eu acho que...", e praticamente toda a gente, sobre qualquer assunto, acha que... É o achismo. Naqueles fóruns da rádio, seja qual for o tema, há sempre alguém que acha que... Ponham inclusivamente como tema, por exemplo, a questão da mecânica quântica. Julgam que haverá falta de achistas, ficando o programa no silêncio? A situação agravou-se com as novas tecnologias, nomeadamente, com a internet, pois qualquer um poderá fazer o seu comentário, publicitando a sua ignorância supina, para não falar na estupidez e má-criação. Mas, nisto, confesso o meu desconhecimento, não frequento esses territórios, dado que, felizmente, não sou dado à coprofilia.
Os perigos do achismo são terríveis. Porquê? Já não se procura a verdade e o ambiente criado é de confusão, de lamaçal. Tudo se equivale. Tudo vale. Ora, quando vale tudo, nada vale, e o perigo é o abismo. Já Hegel se queixava dizendo que de noite todas as vacas são pardas. No primeiro livro da Bíblia, o Génesis, está escrito que no princípio, quando Deus criou, separou a luz das trevas, fez o firmamento e separou as águas que estavam sob o firmamento das que estavam por cima do firmamento, chamou terra à parte sólida e mar ao conjunto das águas, etc., e viu que era bom. A unidade no diferente. Para lá da indistinção e da confusão. No meio da indistinção e da confusão, é a noite e a desorientação, sem horizonte de transcendência. Porque não se pensa.

3. Estava eu neste meu pessimismo triste quando apareceu o bálsamo de uma entrevista iluminante do querido amigo Eduardo Lourenço, no Expresso. "Não sei fazer outra coisa a não ser pensar." É um homem crente? "Esta é uma questão que, uma vez posta, não pode ter uma resposta. Porque é "a" questão. Não concebo uma explicação do mundo que dispense a referência a uma acção transcendente. Nós figuramos como sendo de um ente que criou o mundo, e isso pode ser uma coisa infantilizante. Mas faz parte das nossas referências na tradição ocidental." Concebe então um mundo criado? "Só mesmo um Deus poderia explicar o que aconteceu. Que palavra foi pronunciada. Essa é a questão para a qual não tenho resposta e em que a educação que tive mais pesa. Porém, sei muito menos hoje do que quando esse ensino era para mim claro como a verdade e absolutamente essencial como referência. Não há questão mais importante do que esta: ter uma resposta para o enigma do que existe e que essa resposta contenha ou não todo o sentido que podemos dar à vida e a nós mesmos. (...) Porque a única coisa que nos distingue é sermos conscientes. Não só morremos como temos consciência disso." Gostava de pensar em si como alguém que faz pensar? "Gostava de fazer pensar era a mim mesmo. Bem preciso, nesta fase da vida em que estou. Não sei fazer outra coisa a não ser pensar."

Anselmo Borges, no DN

Georgino Rocha — Ser ou não ser por Jesus


O discurso missionário de Jesus, apresentado por Mateus, atinge o seu ponto culminante com o desafio à liberdade dos discípulos a fim de se decidirem por Ele ou não, de serem ou não dignos d'Ele, de consagrarem a vida à Sua causa. (Mt 10, 37-42). O eco do desafio lançado, de forma tão desconcertante, faz estremecer certamente o coração dos apóstolos, pois o contraste é radical entre os pontos de referência aduzidos: o amor aos pais e aos filhos, a cruz e suas circunstâncias, o perder ou ganhar a própria vida. Jesus toca as fibras mais sensíveis do ser humano e quer uma atitude definitiva. Da parte de quem livremente deseja ser discípulo missionário, cristão autêntico e não apenas de nome, por ter sido baptizado ou fazer algumas práticas religiosas. “Nem os laços familiares, nem as ameaças à própria vida, nada pode impedir o discípulo de testemunhar a justiça do Reino”, escreve Frei Raimundo de Oliveira, em comentário a esta passagem do Evangelho.

A liberdade surge em todo o seu esplendor na atitude de quem se decide por seguir Jesus, ainda que venha a correr riscos, como bem ilustra a narrativa dos Evangelhos e a história da Igreja. A comunidade eclesial constitui o seu rosto irradiante e atraente. E a família cristã a sua realização doméstica, uma vez que assenta no amor conjugal heterossexual que os esposos livremente assumem e cultivam. E o cristão fiel a testemunha nas suas atitudes e intervenções de cidadania responsável. Quanto caminho andado no rumo indicado por Jesus! E quanto não falta ainda percorrer! “É melhor, dizem os antigos, um coxo andar devagar, mas pelo caminho certo do que um corredor olímpico por atalhos desviados. O coxo sempre avança em direcção à meta; o atleta quanto mais corre, mais se afasta”. Sábia sentença que nos estimula a avançar no apreço pela liberdade iluminada pelo Evangelho.

O amor aos pais e aos filhos não é negado, apenas re-situado. Supõe uma escala de prioridades. Fazer e viver de acordo com esta escala é exigente, mas dignificante. Amar Jesus para poder definir bem as prioridades, pois com ele se aprende a amar incondicionalmente, a viver um amor de doação total e definitiva. Até dar a vida pelo outro. Que bom seria que as nossas relações familiares estivessem sempre impregnadas deste amor.

Jesus conhece bem a Lei e os Profetas onde se repete o mandamento de honrar pai e mãe ( Éx 20, 12; Lev 19, 3; Deut 5, 16). A este mandamento está ligada uma promessa de longa vida; e também uma ameaça de condenação a quem amaldiçoar o pai ou a mãe ( Éx 21, 17; Lev 20, 9; Deut 27, 10). O livro do Eclesiástico convida a cuidar dos pais na sua velhice com desvelo admirável (Ecleo 3, 1-16). Todavia, quer que os discípulos dotem este amor com uma nova dimensão: a do amor incondicional semelhante ao seu. Nas alegrias e tristezas; nos momentos de provação e nas horas de felicidade. E em caso de oposição inconciliável, façam uma opção responsável, livre. Fruto da avaliação do que está em causa. 

Para isso, Jesus adianta a sua mais-valia com muita clareza: Atrai, mas sem forçar. Acompanha com delicadeza; nada do que é nosso Lhe é estranho. "Cuida de nós, vela por nós, protege, ampara, envia ajuda e socorro através da Igreja e dos outros. O modo de nos ajudar, de vir até nós nem sempre é aquele que desejávamos. Mas Ele com o seu Coração amigo e atento, sabe bem o que faz e como faz. É Amigo exigente – o amor quando é sincero é exigente; neste sentido Jesus não é um “amigo fácil”; segui-Lo é aprender a saber perder para ganhar, saber morrer para viver.” (Padre Joaquim Batalha aos paroquianos da Lourinhã).

A opção por Jesus vai acompanhada de uma promessa: a do acolhimento hospitaleiro, a da preferência pelos pequeninos, a da sintonia com Deus Pai que não regateia o seu amor misericordioso a ninguém. Acolhimento tão necessário, hoje. Preferência tão apelativa, nas circunstâncias actuais. Sintonia ritmada, sempre. Ser por Jesus faz-nos mais humanos. Experimenta!

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Um olhar sobre o passado

Tenho andado a consultar jornais antigos, onde depositei, como se fossem bancos, centenas de textos. Confesso que até fico espantado com a diversidade de trabalhos jornalísticos que produzi, paralelamente às minhas ocupações profissionais, oficiais e particulares, tão absorventes. Escrevi sobre tudo e sobre todos. Uns textos estão assinados e outros não. Mas todos identifico, sem me enganar, como filhos diletos que todos são. Disso, naturalmente, darei conta daqui a uns tempos, quando estiver mais folgado.
Estas deambulações pela minha vida jornalística trazem-me à memória recordações preciosas e evocações saudosos. Tanta gente que conheci ao longo da minha vida e que já nos deixou. Tanta gente generosa com quem convivi. Tantos eventos que divulguei e tantas histórias que contei.
Até um dia destes.

FM

Publiquei aqui

NOTA: Quando reli este texto, editado já lá vão uns sete anos, admiti a hipótese de dar conta do muito que escrevi «daqui a uns tempos», quando estivesse «mais folgado». Afinal, promessa nunca cumprida, tão-só por não estar «mais folgado». E nestas circunstâncias como poderia assumir esse desafio? Acresce a ideia de que, afinal, a tarefa seria ingrata. Como poderia eu cortar o joio sem ferir o trigo? 

FM

Uma flor solta parece viva, mas está morta


«Uma flor solta parece viva, mas está morta. Uma folha viva, oculta na copa, pode parecer morta, mas está viva e dela poderá desabrochar ainda muita vida. O importante não é o movimento, nem a aparência... Às vezes, o que está oculto e quieto é mais fecundo do que aquilo que se mexe muito, parece ter muita vitalidade, mas não é mais do que uma folha morta levada pelo vento...»

José Luís Nunes Martins, na RR

Georgino Rocha: Igreja Caridade — Um olhar a partir de dentro


«A caridade política merece destaque especial pela sua relação directa com o bem comum e a qualidade ética da convivência dos cidadãos. Ninguém pode dispensar-se, como pessoa ou associação, ninguém pode alhear-se da grande política. O magistério social da Igreja, passada a fase restauracionista, não cessa de salientar a excelência desta política e de assinalar a urgência da civilização do amor, alternativa daquela que nos envolve até à medula – a do consumo sem medida, apenas limitado pelas cautelas de prevenção de grandes males»

A Igreja é caridade por participação. Só Deus é caridade e vive esta realidade do seu ser na unidade das relações entre as três pessoas divinas. São relações pautadas pelo amor de doação incondicional, autêntica fonte de vida a transbordar e a comunicar-se. Jesus, o Deus humanado, desvenda “a ponta do véu” e abre o acesso a esta fonte insondável. E deixa a Igreja como sinal e instrumento (sacramento) que vive e transmite o que Ele mesmo testemunha: Deus é amor de misericórdia compassiva que intervém na história humana de muitos modos e em todas as épocas. Vive e realiza connosco. É a caridade em dinamismo de salvação libertadora.
A Igreja caridade tem aqui a sua matriz e o seu rosto. Ouso fazer-me peregrino no seu interior e realçar alguns marcos irradiantes que assinalam o seu caminho actual “entre as tribulações do mundo e as consolações de Deus” (Santo Agostinho). Outros se poderiam facilmente apontar.
Antes de mais, surgem as formas de relacionamento entre as pessoas, em todos os âmbitos da organização eclesial, de modo a que a sua instituição faça brilhar o amor com Deus nos ama. Incluem-se nesta dimensão, pelo seu especial significado, aqueles e aquelas que desempenham uma “função” especial no povo de Deus: bispos, padres, diáconos, religiosos/as e leigos/as, designadamente os que realizam o “ministério conjugal”. É um conjunto que faz brilhar a mesma caridade à maneira de poliedro, como gosta de dizer o Papa Francisco. “Vede como eles se amam” diziam admirados os que viam o estilo de vida dos cristãos nas primeiras comunidades.
A realidade actual, iluminada por este foco de luz, evidencia o caminho andado e, ainda mais, o que falta percorrer. É “tarefa” mobilizadora de quem sente a urgência de fazer brilhar a luz acesa para que todos vejam as boas obras e dêem glória ao Pai do Céu. É proposta e apelo que, após o Vaticano II, se faz mais interpelante e o Papa Francisco impulsiona pelo estilo de vida, pelas atitudes, pelo magistério e pelas reformas implementadas. E com ele tantos outros, felizmente!
A caridade eclesial vai configurando a sua originalidade conforme as situações e o desempenho dos discípulos missionários: a social para os que assumem a cidadania responsável e estão chamados a intervir de forma positiva para a humanização da sociedade e suas múltiplas associações e instituições. É propósito deste tipo de caridade ajudar a abrir horizontes a todas as realidades temporais: cultura, política, economia, entre outras. O bem comum e a comunhão no bem e na beleza constituem o pólo de atracção desta mobilização geral.

A caridade política merece destaque especial pela sua relação directa com o bem comum e a qualidade ética da convivência dos cidadãos. Ninguém pode dispensar-se, como pessoa ou associação, ninguém pode alhear-se da grande política. O magistério social da Igreja, passada a fase restauracionista, não cessa de salientar a excelência desta política e de assinalar a urgência da civilização do amor, alternativa daquela que nos envolve até à medula – a do consumo sem medida, apenas limitado pelas cautelas de prevenção de grandes males. E, a céu descoberto, fica a legião dos esfomeados, desnutridos, descartados. Sem a educação política para o bem comum, prevalece sempre a visão partidária, ideológica, sectária.

A caridade pastoral é aquela que dá ânimo profético ao testemunho do povo de Deus e às suas múltiplas esperanças, canseiras e lutas. Recebe um impulso muito grande do estilo de vida dos seus “pastores” ou de quem recebe a missão de o servir em nome de Jesus e por delegação da Igreja, na pessoa do Bispo diocesano. São notas típicas desta caridade: o amor solícito e misericordioso, a disponibilidade apostólica, a promoção de iniciativas que ajudem a descobrir o que de melhor existe em cada pessoa e a que ela mesma queira oferecer como dom aos outros, à comunidade. Até lá, prevalece o cultivo provisório do assistencialismo.

A caridade de Cristo lança em nós impulsos de conversão pessoal, de reforma da Igreja, de humanização da sociedade e de cuidado por toda a criação e suas criaturas; impulsos do Espírito que renova a face da terra.

Regata dos Moliceiros na Ria de Aveiro


No sábado, dia 1 de julho, a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, mantendo a tradição, promove a edição de 2017 da Grande Regata dos Moliceiros da Ria de Aveiro.
A partida da etapa competitiva será às 13h do Porto de Abrigo da Torreira, rumo ao Canal das Pirâmides, em Aveiro, com chegada prevista por volta das 14h30.
No dia seguinte, 2 de julho, domingo, no Cais da Fonte Nova, no centro da cidade de Aveiro, haverá o Concurso de  de Painéis, pelas  11h; entrega de prémios da regata e do concurso de painéis, às 12h30; seguindo-se o regresso das embarcações, pelas 14h.
A iniciativa conta com a parceria da Câmara Municipal da Murtosa, a organização do Rancho Folclórico “Os Camponeses da Beira-Ria” e a colaboração do Sporting Club de Aveiro.

Festa da Vista Alegre com programa variado


«É uma festa religiosa diferente do habitual na medida em que inclui uma panóplia de atividades associadas à comunidade operária residente e às suas vivências culturais e lúdicas, visitas ao bairro e aos seus equipamentos, jogos tradicionais e ainda a “venda de oportunidades”, que muita gente atrai a esta festa, a par das celebrações religiosas, que incluem a missa campal, a procissão, e os concertos musicais», lê-se no site da CMI.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Passeio rápido pelos canais


Esta foto não é recente. Pelas bandeirinhas, estaríamos em dia de festa. Há uns tempos também fiz a experiência. A viagem foi rápida e monótona. Não havia cicerone que  explicasse fosse o que fosse. Fiquei com a impressão de que o que era preciso era chegar depressa ao fim da viagem. Não sei se agora será diferente, mas se não é algo está mal. Os de Aveiro e região já sabem umas coisas sobre a Ria e Aveiro. Os que vêm de longe talvez fiquem um pouco desiludidos. Sendo assim, tenho pena que não se aproveito este filão turístico que é a nossa Ria.  

Daqui a uns anos, os drones vão às compras

A notícia que li hoje no DN não me surpreendeu. A evolução tecnológica, que emerge dia a dia a uma velocidade louca, não deixa de nos espantar. Usar um drone com a mesma facilidade com que usamos um telemóvel abre-nos a expetativas inimagináveis. Estou em casa e se me apetecer adquirir um qualquer produto com urgência, pode tornar-se prático com os tais drones. Envia-se um ao supermercado e pronto. Telefona-se ou envia-se um SMS e a empresa resolve o assunto em três tempos. É isto? Parece que sim.

Júlio Cirino: Ilha Terceira — Monte Brasil





O Monte Brasil é outro lugar histórico da Ilha Terceira. Por lá encontramos a ermida de Santo António, vários miradouros de onde se vislumbram paisagens deslumbrantes, a cratera de um vulcão, trilhos bem arranjados para as pessoas passearem, um pequeno jardim zoológico com aves multicores e alguns animais, o Pico das Cruzinhas e veados que, habituados às pessoas, nos saem ao caminho corricando com graça. Porém, o monumento mais importante do Monte Brasil é a Fortaleza de São João Batista, mandada edificar por Filipe II, de Espanha, em 1567. Servia para defender a cidade e o porto de Angra dos assaltos dos piratas que por aqui apareciam para pilhar.
Mais tarde, já no século XIX, Gungunhana veio deportado para esta Fortaleza. Ganhando a confiança das autoridades militares, e também da população, com o decorrer do tempo as medidas de segurança foram-se amenizando até Gungunhana poder passear livremente no Monte Brasil e depois na cidade. 
Em 1899, Gungunhana seria baptizado e crismado na Sé de Angra, apadrinhado pela alta sociedade angrense.

Angra do Heroísmo, 25 de Junho de 2017

Júlio Cirino


Fotos:

- Vista aérea de Angra, tendo por pano de fundo o Monte Brasil onde se vislumbram as casernas e a Igreja de S. João Baptista.

- Igreja de S. João Baptista, implantada no Regimento de Guarnição n.º1 dos Açores.

- Pico das Cruzinhas.

- Casa onde Gungunhana viveu.



terça-feira, 27 de junho de 2017

Álvaro Teixeira Lopes — Ensinar piano com criatividade e rigor


«Formou várias gerações de músicos e grande parte dos professores de piano do país. Por isso, é muito provável que as obras, os aplausos ou os prémios conquistados pelos intérpretes nacionais tenham sementes cultivadas por Álvaro Teixeira Lopes. Professor de Piano e Música de Câmara no Departamento de Comunicação e Arte (DeCA) da Universidade de Aveiro (UA), quando se emociona ao ouvir a música dos alunos sabe exatamente que está a cumprir a missão de fazer crescer asas em cada um deles.»

Li e ouvi aqui


segunda-feira, 26 de junho de 2017

Espaço do Cidadão na Gafanha da Nazaré todas as segundas-feiras


O segundo Espaço do Cidadão do município de Ílhavo abriu portas hoje, 26 de junho, na Gafanha da Nazaré, disponibilizando à população mais de 70 serviços. Fernando Caçoilo, presidente da CMI, considerou esta iniciativa da autarquia de «importância vital para a comunidade da Gafanha da Nazaré», tendo  resultado do acordo estabelecido entre a autarquia ilhavense e a AMA (Agência para a Modernização Administrativa). Não está previsto instalar qualquer outro na área concelhia.
O autarca adiantou que a abertura deste balcão foi fruto da avaliação feita a partir do sucesso alcançado pelo Espaço do Cidadão na sede do concelho, que conseguiu atender, durante o primeiro ano de serviço, em 2016, mas de mil utentes. 
A partir desta data, aquele espaço vai funcionar na sede da Junta de Freguesia por «razões óbvias», ligadas à sua localização, inicialmente apenas às segundas-feiras, ficando garantido que, «se o balcão tiver sucesso», o tempo de atendimento terá de ser alargado, prometeu Fernando Caçoilo. 
Entre as dezenas de serviços, destacamos a revalidação da Carta de Condução, 2.ª via e substituição, a alteração de morada no Cartão de Cidadão, Cartão Europeu de Seguro de Doença, ADSE, do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), da CGA (Caixa Geral de Aposentações), do IMT (Instituto de Mobilidade e de Transportes) e da AMA (Agência para a Modernização Administrativa).
O Espaço do Cidadão vai funcionar às segundas-feiras, das 9  às 16 horas, com interrupção para almoço.
O presidente da Junta de Freguesia, Carlos Rocha, mostrou a sua satisfação pela abertura deste serviço público destinado às populações, tendo frisado o bom entendimento existente entre a Junta e a CMI, sempre aberta ao acolhimento de «propostas importantes para a nossa freguesia». Ainda formulou votos no sentido de que «este espaço possa começar, a partir de agora, a «ser utilizado pelo maior número possível de pessoas». O alargamento do número de dias de atendimento dependerá do sucesso do balcão ora inaugurado. 

Parque Infante D. Pedro: 26 de junho de 1927


“Foram inauguradas as obras da construção do Parque do Infante D. Pedro, levadas a efeito pela Câmara Municipal de Aveiro, da presidência do Dr. Lourenço Simões Peixinho (O Democrata, 2-7-1927) – J.”

Calendário Histórico de Aveiro”, 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

Nota: Enquanto as atuais gerações deambulam, em horas de folga das suas escolas e universidade de Aveiro pelo Fórum, grandes superfícies, cafés e bares, a minha geração passeava pelo Parque Infante D. Pedro, com o seu lago, arvoredo e jardim superior. Não havia trânsito que incomodasse e por ali se circulava à vontade. Na altura da Feira de Março, era ela com os seus desafios que concentrava todas as atenções da juventude escolar. 
Guardo mais recordações do parque, onde de vez em quando até remávamos em barquinhos fáceis de governar. Um dia, medi mal a distância quando quis pôr pé em terra, e molhei-me um pouco. Tempo quente secou-me as calças e os sapatos, num já. A minha saudosa mãe nem deu por ela. 
Há dias visitei-o.  Acho que passei por todos os recantos para matar saudades. Vi pouca gente, é certo, mas eu, nesse dia, fiz a desejada viagem no tempo para recordar amigos de há uns sessenta e tal anos.                                  

domingo, 25 de junho de 2017

Ampliação do molhe norte — 25 de junho de 1981


“Na sede da Junta Autónoma do Porto de Aveiro, foi assinado o contrato das obras do porto de Aveiro – 1.ª fase – em que se incluiu o prolongamento do molhe norte, a construção de um novo cais comercial e a regularização hidráulica do canal de navegação (Correio do Vouga, 3-7-1981) – J.”

"Calendário Histórico de Aveiro” 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

NOTA: Depois da abertura da Barra, em 3 de abril de 1808, sempre houve necessidade de a melhorar para facilitar, com segurança máxima, a entrada e saída de navios, sobretudo de grande porte. O assoreamento tornou-se uma constante e as correntes marítimas atacavam, em especial nas marés vivas do inverno, as praias do Farol e as demais que se prolongam a caminho da Vagueira, para as proteger. Em 1981 iniciou-se o prolongamento do molhe norte, 1.ª fase, lado de S. Jacinto. Depois prosseguiu.. 

Maria Teresa Horta — Ninguém me castra a poesia


 Ninguém me castra a poesia
se debruça e me põe vendas
censura aquilo que escrevo
nem me assombra os poemas

Ninguém me paga os versos
nem amordaça as palavras
na invenção de voar
por entre o sonho e as letras

Ninguém me cala na sombra
deitando fogo aos meus livros
me ameaça no medo
ou me destrói e algema

Ninguém me aquieta a escrita
na criação de si mesma
nem assassina a musa
que dentro de mim se inventa

Maria Teresa Horta,
“Resistência”,
in “Poesis”, D. Quixote, 2017

Por sugestão do Caderno Economia do EXPRESSO

Bento Domingues — Francolino Gonçalves, Um investigador original

Frei Francolino Gonçalves
1. Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925) diz que, no período medieval, “a literatura portuguesa, em matéria de traduções bíblicas, é de uma pobreza desesperada”. Esta afirmação tem sido repetida, mas nunca desmentida. A primeira tradução da Bíblia, a partir de hebraico e do grego, foi realizada por João Ferreira d’Almeida, que tinha passado, aos 14 anos, do catolicismo ao protestantismo (Igreja Reformada Holandesa). A sua tradução foi publicada e corrigida entre os séculos XVII e XVIII.
José Nunes Carreira sintetizou a história da Exegese Bíblica em Portugal [1] nos seus momentos altos e baixos. Frei Francolino Gonçalves foi um dos seus momentos mais importantes. Fez parte dos grandes investigadores da famosa Escola Bíblica de Jerusalém (EBJ), a responsável, desde os finais do séc. XIX, pelo estudo científico da Bíblia, no campo católico. Para dar a conhecer as dificuldades desse grande salto, aconselhou que fosse editada, em Portugal, uma obra incontornável do seu fundador, Marie-Joseph Lagrange, O.P. [2]
Frei Francolino morreu, em Jerusalém, no dia 15 de Junho. Nasceu em Curujas, Macedo de Cavaleiros, a 28 de Março de 1943. Professou na Ordem Dominicana em 1960.
Nunca procurou fazer carreira. Seguiu o caminho de preparação para ser uma testemunha lúcida do Evangelho. Depois dos estudos curriculares, em filosofia e teologia, em Portugal e no Canadá, foi enviado para a EBJ. Aí e durante 43 anos, trabalhou como investigador e professor. Considerou-se, até ao fim, como um estudante. Foi solicitado para fazer cursos e conferências em Paris, Berlim, Salamanca, Roma, Portugal, Tóquio, Quebec, Cusco, Lima, Santiago do Chile, México, mas as suas responsabilidades de investigador, de preparação de novos investigadores e de publicações científicas estiveram sempre ligadas à EBJ. Era a sua casa, de vida e trabalho, num contexto de atentados permanentes contra os direitos humanos.
Reconhecido nos meios da investigação bíblica como uma das suas grandes figuras, de alcance internacional. Ao ser convidado para Membro da Comissão Bíblica Pontifícia, e reconduzido pelo Papa Francisco, alguns meios de comunicação católica portuguesa acordaram para uma realidade que ignoravam.
Em Portugal, foi premiado, em 2011, pela Academia Pedro Hispano, é membro da Academia Portuguesa de História, do conselho científico de CADMO, da Revista Lusófona Ciências das Religiões, do ISTA e da Associação Bíblica Portuguesa.
Quem desejar conhecer a sua bibliografia pode recorrer ao site Bibliothèque St Étienne de Jérusalem – École Biblique et Archéologique Française [3]. Em Portugal foi, sobretudo, nos Cadernos ISTA que publicou alguns dos seus estudos mais significativos [4].
Espero que, em breve, sejam publicados em livros. Todas as vezes que tentei que isso acontecesse, dizia-me sempre que gostaria ainda de rever o conjunto, como obra unificada. A sua insatisfação nada pôde contra a morte.
2. Frei José Nunes, O.P., na celebração da Eucaristia de evocação de Frei Francolino, referiu-se a um dos seus estudos decisivos e inovadores sobre as representações de Deus nas duas religiões iaveístas do Antigo Testamento (AT) [5], isto é, a existência de dois iaveísmos diferentes. Esse estudo é muito extenso e muito analítico. A eleição de Israel, a sua libertação do Egipto e a aliança que Iavé fez com ele são os artigos fundamentais da fé iaveísta.
Esta era a opinião comum que fazia das relações entre Iavé e Israel a matriz do iaveísmo. Tornou-se, para vários autores, uma posição insustentável. Era contestada a opinião corrente liderada por uma grande figura da exegese, von Rad. A própria constituição dogmática Dei Verbum, do Vaticano II, deve muito à teologia desse teólogo luterano. Mas, na sequência de outros investigadores, Frei Francolino mostrou, pelo contrário, que o AT contém duas representações diferentes de Iavé. Segundo uma, ele é o Deus criador que abençoa todos os seres vivos; segundo a outra, ele é o Deus que está ligado a Israel, o seu povo, a quem protege e salva.
Segundo o Fr. Francolino, os exegetas não prestaram a atenção que mereciam estas vozes discordantes. A esmagadora maioria parece nem as ter ouvido. Por isso, ficaram sem eco, não tendo chegado ao conhecimento dos teólogos, dos pastores nem, por maioria de razão, do público cristão. “As minhas pesquisas, nesta matéria, confirmaram, essencialmente, os resultados dos estudos que referi e, além disso, levaram-me a propor uma hipótese de interpretação do conjunto dos fenómenos religiosos do AT, que é nova. A meu ver, o AT documenta a existência de dois sistemas iaveístas diferentes: um fundamenta-se no mito da criação e o outro, na história da relação de Iavé com Israel. Simplificando, poderia chamar-se iaveísmo cósmico ao primeiro e iaveísmo histórico ao segundo. Contrariamente à opinião comum, a fé na criação não é um elemento recente, mas constitui a vaga de fundo do universo religioso do AT.”

3. Qual é a importância da descoberta de dois iaveísmos? Julgo-a de grande alcance para todos os leitores do AT e considero-a uma das raízes do universalismo cristão. É a diferença entre um Deus universalista, Deus de todos os seres humanos e da criação, casa comum de todos, e a representação de um Deus nacionalista que confunde o Mundo com os interesses de um povo, capaz não só de o defender, mas de se tornar inimigo dos outros povos, podendo até mandá-los exterminar.
É esta distinção que nos pode ajudar a compreender o sentido e o absurdo da violência de muitas páginas da biblioteca do povo de Israel. Colocou-se na boca de Deus os interesses de um povo contra os outros povos. Não pode ter sido o Deus do Universo a escrever essas blasfémias.
Quando tropeçamos nessas passagens, devemos perguntar: que causas e interesses defendem?

Frei Bento Domingues, O. P.
no PÚBLICO deste domingo

NOTA: Poderá encontrar mais referências a Frei Fracolino e à sua obra no Google

[1] Exegese Bíblica, Dicionário de História Religiosa de Portugal, C-I, Círculo de Leitores, 2000, pp 221-229
[2] Recordações pessoais. O Padre Lagrange ao serviço da Bíblia, Biblioteca Dominicana, Tenacitas, 2017
[3] http://biblio.ebaf.info/cgi-bin/koha/opac-search.pl?q=au:Gon%C3%A7alves%20Francolino%20J
[4] http://www.ista.pt/1/upload/ista_25_2012.pdf, pp 92-136; Artigos Fr. Francolino, p117
[5] Iavé, Deus de justiça e de bênção, Deus de amor e salvação, ISTA, n.º 22, 2009, pp 107-152, ver, sobretudo, pp 114-115

sábado, 24 de junho de 2017

A UA explica... como podem as florestas resistir aos incêndios?


A história repete-se todos os anos. Sobem as temperaturas e o tema dos incêndios regressa às capas dos jornais e às aberturas dos noticiários. Desaparece o verde que dá colorido às nossas paisagens e as cinzas tomam conta das nossas matas. A pergunta fica a pairar no ar. Pode a nossa floresta resistir a tantos incêndios? Pode. Como? O professor Jan Jacob Keizer, no Departamento de Ambiente e Ordenamento, avança com algumas pistas para podermos contornar este flagelo.


Deixa-me dar-te o verão


O verão é feito de coisas
que não precisam de nome
um passeio de automóvel pela costa
o tempo incalculável de uma presença
o sofrimento que nos faz contar
um por um os peixes do tanque
e abandoná-los depressa
às suas voltas escuras.

José Tolentino Mendonça
In "A Noite Abre Meus Olhos"

Pergunta Henrique Raposo: Como é que Deus permite isto?


«Como é que se articula a evidente imperfeição da cidade dos homens com a ideia de um Deus misericordioso? Ou seja, como é que Deus permite desgraças como a de Pedrógão Grande? Se Deus nos ama, porque é que permite que uma família de quatro morra sufocada e queimada num Renault ou num Opel numa estrada à vinda da praia? Como é que Deus permite uma aflição assim? Como é que Deus permite que um pai veja o seu bebé morrer queimado? Como é que Deus permite que o corpo de um bebé se funda com o alcatrão? Como? É o drama de Job e Eclesiastes, dois dos grandes romances da Bíblia.»

Para ler tudo aqui 

sexta-feira, 23 de junho de 2017

ANTÓNIO CAPÃO — PROMOTOR DA CULTURA POPULAR

Texto de Cardoso Ferreira 

«António Capão foi, desde muito novo, um defensor da preservação e valorização da cultura popular, dedicando muito do seu saber e tempo a essa tarefa, o que fez dele um profundo conhecedor das tradições, dos usos e costumes e da etnografia da região, tanto da Bairrada como também de Aveiro.Dos utensílios agrícolas e de uso rural, até aos moinhos, passando pelos teares e pelos jogos infantojuvenis de outros tempos, tudo isso foi pesquisado e registado por António Capão em textos que publicou em livros e na imprensa.»

FRANCISCO NÃO TEM RAZÃO? (2)

Crónica de Anselmo Borges no DN


1.Não é exactamente o mesmo o mundo visto do lado dos vencedores e o mundo visto do lado dos vencidos. Afinal, a história que conhecemos e lemos é em princípio a história dos vencedores, até porque são os vencedores, sabem escrever e puseram por escrito os seus feitos e glórias; os vencidos são os vencidos, desapareceram e, mesmo que quisessem narrar o seu lado da história, não sabiam ou não podiam escrever. Não é exactamente o mesmo o mundo visto a partir do centro do poder e o mundo que se vê a partir das periferias. Não é exactamente o mesmo o mundo visto lá do alto da janela mais famosa do mundo, que é a janela do Palácio Apostólico no Vaticano donde os Papas dão a bênção urbi et orbi, e o mundo que se vê a partir de um apartamento modesto da Casa de Santa Marta. Não é exactamente o mesmo o mundo que se vê a partir do Deus omnipotente, significando omnipotência Poder enquanto dominação e não Força infinita de criar, e o mundo que se vê quando se vê a partir do Deus cujo nome é Amor, Misericórdia.
Não tem razão o Papa Francisco quando, sem excluir ninguém, vê o mundo a partir do Deus-Misericórdia, a partir de Santa Marta, a partir das periferias, a partir dos vencidos, que são isso mesmo, os vencidos, os colonizados, os derrotados, os pobres, os excluídos, os explorados, as mulheres, as crianças, os doentes? Para ser completa e toda, é preciso que a história também seja lida e escrita a partir do seu reverso, isto é, do lado dos vencidos. Porque todos têm de ascender ao palco da história, com a sua igual dignidade de homens e mulheres livres, todos filhos de Deus.
Não tem razão Francisco quando, na exortação "A alegria do amor", partindo dos dois Sínodos sobre a família e no quadro da atenção à voz da consciência e de um discernimento sério, abre a porta à comunhão dos recasados? Aliás, já em 1972, o antecessor Bento XVI, ainda professor, tinha escrito um ensaio académico manifestando abertura à admissão à eucaristia dos divorciados recasados, no caso de a nova união ser sólida, haver obrigações morais para com os filhos, não subsistindo obrigações do mesmo tipo em relação ao primeiro casamento, "quando, portanto, por razões de natureza moral é inadmissível renunciar ao segundo casamento". É evidente que não vale tudo. Mas os católicos também não podem continuar a ser infantilizados nas suas decisões morais, no quadro de uma obediência cega à autoridade que por todos decide. Sobre a dignidade da consciência moral, Joseph Ratzinger também escreveu: "Desde Newman e Kierkegaard, a consciência está no centro da antropologia cristã com renovada insistência. Nos escritos de Newman, a consciência representa a interna complementaridade e limite do princípio Igreja: por cima do Papa, como expressão da pretensão vinculativa da autoridade eclesiástica, está a consciência própria de cada um, que deve ser obedecida antes de qualquer outra coisa, inclusivamente, se for necessário, contra a exigência da autoridade eclesiástica." É o cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago, que tem razão quando, recentemente, referiu a "Amoris laetitia" como convite a passar de "uma espiritualidade adolescente a uma espiritualidade adulta", espiritualidade que "responsabiliza o indivíduo, em vez de ser uma autoridade externa a dizer às pessoas o que têm que fazer, como se fossem crianças".
Não tem razão o Papa Francisco ao manifestar, na atenção à pastoral da família e apelando à dignidade, nova compreensão e respeito para com os homossexuais, os casamentos civis, as uniões de facto? Não tem razão Francisco quando, fazendo a síntese de franciscano e jesuíta, prepara, com a simplicidade da pomba e a prudência da serpente, como manda o Evangelho, a Igreja para o século XXI: uma Igreja pobre para os pobres, que combate a favor da justiça e da paz num mundo globalizado, desclericalizada, sinodal, onde leigos e, nomeadamente, as mulheres têm o seu lugar, uma Igreja que não tem medo da razão crítica, sem triunfalismos nem intolerância, respeitadora da consciência, ecuménica, dialogante, audaz, com novos ministérios, ao serviço do Evangelho e das pessoas, que antepõe à doutrina rígida e imobilizada? Há quem objecte que lentamente se conclui que tudo é permitido. Mais uma vez, a grande questão do Papa Francisco e para o Papa Francisco são os mediadores: bispos e padres que esclarecem ou não os fiéis e ajudam ou não na formação da consciência esclarecida e adulta.
Não tem razão o Papa Francisco quando quer a laicidade do Estado, mas condena o laicismo e o secularismo, que "fecham as portas à transcendência" e pretendem retirar a religião do espaço público? Não tem razão quando se levanta cedo, para poder rezar e ouvir o silêncio, "escutar o silêncio e sentir e ouvir o sussurro desse fio de silêncio sonoro no qual Deus nos fala"?

2. O problema fundamental da Igreja é que na sua essência ela é a assembleia de assembleias de homens e mulheres que se entregam confiadamente ao Deus de Jesus, esperando dele salvação e sentido último para a vida e para quem Jesus Cristo é determinante na sua vida e também na morte, mas, de facto, na sua maior parte, os católicos dizem-se não praticantes. Esquece-se a fé e a conversão e põe-se o centro na instituição como organização de poder, de que tantos tanto se servem.
Assim, sendo a instituição um serviço da fé e da prática da vida autenticamente cristã, o que se impõe é a conversão. Esquece-se frequentemente que a Igreja é de voluntários e para voluntários, isto é, só está nela quem quer, embora, por outro lado, quem está tem direito à participação activa na sua vida, porque, como o Papa Francisco tantas vezes repete, a Igreja somos nós todos. Sem esta conversão, pessoal e institucional, para onde caminha a Igreja?


DECRETO REAL DA CRIAÇÃO DA FREGUESIA


“Tendo subido à Minha Real Presença a representação em que muitos habitantes do logar da Gafanha, freguesia d’O Salvador, de Ilhavo, no concelho d’esta denominação, distrito administrativo de Aveiro, e diocese de Coimbra, pedem a creação de uma freguesia no referido logar da Gafanha, tendo ali a sua séde; Considerando que se mostra do processo ser a providencia reclamada de grande conveniencia para o bem espiritual dos requerentes, sem prejuizo para a conservação d’aquella freguesia; Considerando que no dito logar da Gafanha, segundo as informações havidas, ha pessoal suffeciente para o exercicio dos cargos parochiaes; Considerando que é justo arbitrar a congrua do parocho da nova freguesia em cem mil reis, de derrama annualmente; Considerando que na circunscripção parochial deve attender-se a commodidade dos povos; Conformando-me com os pareceres das superiores auctoridades, ecclesiastica e administrativa, e com a consulta do Supremo Tribunal Administrativo; e Usando da auctorização concedida na lei de quatro de Junho de mil oitocentos cinquenta e nove, e no artigo terceiro, paragrapho quatro, numero terceiro do Codigo Administrativo: Hei por bem Determinar que pelos meios competentes se proceda à creação de uma nova parochia com a séde no logar da Gafanha, que será desanexada da referida freguesia d’O Salvador de Ilhavo. O Presidente do Conselho de Ministros, Ministro e Secretario d’Estado dos Negocios Ecclesiasticos e de Justiça o tenha assim entendido e faça executar.
Paço em vinte e tres de Junho de mil novecentos e dez (assignado) Rei

- Francisco António da Veiga Beirão
- Está conforme o original
- Secretaria d’Estado dos Negocios Ecclesiasticos e de Justiça em 30 de Junho de 1910.”

TENDE CONFIANÇA. NÃO TEMAIS

Reflexão de Georgino Rocha


A missão confiada por Jesus aos discípulos comporta muitos riscos. E os ouvintes não demoram a reagir. Surge toda a espécie de atitudes: abandono, descrédito, difamação, perseguição, morte. Mateus que narra o discurso missionário deixa perceber o ambiente em que viviam as comunidades cristãs hostilizadas pelos judeus. E a previsão anunciada é já comprovada pelos factos. O texto será possivelmente dos anos 70. E mantém toda a actualidade. Não faltam situações a testemunhá-lo.
“Não tenhais medo dos homens”, repete a narrativa hoje proclamada na liturgia. E aduz várias razões, das quais se salientam as seguintes: toda a verdade virá a ser conhecida e nada ficará oculto; os segredos de todas as espécies serão desvendados em público; a temível morte do corpo não é o pior, mas a perdição definitiva da vida plena a que estamos chamados; a certeza confiante e serena de que Deus é Pai solícito que sempre vela por nós, a afirmação clara de Jesus que garante estar sempre com aqueles que envia em missão e lhe são fiéis. Razões a lembrar, sobretudo em tempos de acontecimentos que provocam medos tremendos. Como o nosso.
Em 2009, o Papa Bento XVI visita Angola e tem um encontro com jovens no estádio dos Coqueiros, em Luanda, e diz-lhes: “Coragem! Ousai decisões definitivas, porque na verdade são as únicas que não destroem a liberdade, mas lhe criam a justa direção, possibilitando seguir em frente e alcançar algo de grande na vida. Sem dúvida, a vida só pode valer se viverem com a coragem da aventura, a confiança de que o Senhor nunca vos deixará sozinhos”. “Juventude angolana, liberta de dentro de ti o Espírito Santo. Confiai nele como Jesus, arriscai este salto no definitivo. Assim, serão criados, entre vocês, ilhas, oásis e grandes superfícies de cultura cristã onde se tornará visível aquela cidade santa que desce do céu”, acrescentou. Agora, na celebração do Congresso Eucarístico celebrado na Festa do Corpo de Deus em Huambo (ex-Nova Lisboa) foram proclamados apelos igualmente significativos.
“A mensagem que desperta a esperança dos pobres e descartados é revolucionária para a ordem social e religiosa do judaísmo… A ordem da religião judaica baseava-se na desigualdade: uma minoria dominava a maioria inculta e amedrontada”, afirma San Román, padre jesuíta. E continua: “A mensagem de Jesus desestabiliza a falsa paz. Proclama que não há razão para ter medo à liberdade”. Os seres humanos são donos da sua vida e, juntos, devemos construir uma sociedade mais livre, mais harmoniosa, mais cuidadora da natureza, como pede o Papa Francisco na encíclica Louvado sejas (Laudato Si).
Jesus convida-nos a não ter medo, a colocar a nossa confiança em Deus Pai que deseja o melhor para todos/as. Não ter medo de nós mesmos, nem das ocorrências, nem dos outros, nem de presumíveis forças nefastas ou de surpresas malévolas. O medo paralisa e impede a construção de um futuro apetecível, assente na esperança que dá consistência a toda a realidade vindoura. A ameaça que pende sobre a nossa condição humana, frágil e limitada, faz-nos sentir o peso do temor. É natural. A educação para o equilíbrio emocional e a prática de uma espiritualidade positiva ajudam a minorar as repercussões que as emoções nos criam e as imagens que nos chegam provocam.
“O que pode fazer um padre numa tragédia como a de Pedrogão” é o título de uma reportagem da Renascença na segunda–feira, dia 19. A radio entrevista o bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes que faz eco de conversas com padres da região atingida e de desabafos das populações que visita. Pelo seu realismo e vivacidade, transcrevem-se apenas breves parágrafos.
Muitos dos que sobreviveram, de uma ou de outra forma, aos fogos que estão a destruir parte da zona Centro do país usam expressões de religiosidade popular para manifestar o que lhes vai na alma. Numa tragédia como esta, a espiritualidade é também uma dimensão importante da vida das populações. Mas o que podem fazer os padres numa altura tão difícil, em que muitos também perdem a fé?
O bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, ajuda a Renascença a encontrar algumas respostas. “Há um campo muito grande para a Igreja, que é o de acompanhar. A Igreja não precisa de vir com muitos discursos nem com muitas palavras nem raciocínios nem explicar tudo. Precisa de estar presente, acompanhar e rezar com as pessoas. Precisa de as ajudar a despertar a dimensão espiritual e despertar fé”, salienta. Esta é uma região em que as pessoas “têm um sentido da fé muito humilde por um lado, mas muito apurado por outro.” Não tenhais medo. Eu estou convosco. Confiai e trabalhai. O Pai do Céu cuida de nós, repete a fé cristã

quinta-feira, 22 de junho de 2017

UM DIA DIFERENTE...…

Crónica de viagens de Maria Donzília Almeida

“A maravilha em preservar sempre viva criança interior é que podemos abandonar, sempre que necessário, o cárcere da vida adulta!” 

Valeria Nunes de Almeida e Almeida

Daqui houve nome Portugal

Porta Estandarte

Palácio Duque de Bragança

Casa Brasonada

Anjo

Centro Histórico

Varandas Floridas

O pau
Este ano, o Dia Mundial da Criança teve um sabor diferente. Sobretudo para um grupo de meninos já crescidinhos, a que eu, carinhosamente, chamo JovenSeniores. E, já que há uma segunda infância, regressámos à nossa meninice. Neste dia, por todo o lado se organizam visitas de estudo, que antigamente se chamavam passeios da escola. A componente pedagógica sempre presente. Assim, é frequente ver-se por esse país fora, bandos de “passarinhos”, de chapeuzinhos todos iguais, sob a supervisão dos educadores. Vão inculcando, empiricamente, as regras da cidadania, numa educação cívica, que deve começar no berço. Lá diz o povo “De pequenino, se torce o pepino!”
Com a irreverência própria das crianças, lá foi o grupinho aos cuidados do prof. João, com destino a Guimarães. Mas, as traquinices desta gente de vários palmos e meio, depressa se manifestaram. Têm muita vivacidade, estas “crianças”!
A 1.ª travessura aconteceu em Campanhã, onde nos esperava um minigrupo, que fora de carro, com uma placa feita de um tosco ramo de árvore, onde se lia: Bem-vinda a US da Gafanha da Nazaré. A placa, tal como usam os guias turísticos, passou de mão em mão, até que foi entregue, por unanimidade, ao menino mais traquina e espigadote. Era o porta-estandarte à altura! Desta forma, ninguém se perderia do grupo e o mestre podia seguir tranquilo, sem receio de alguma ovelha tresmalhada.
E de mochila às costas, lá seguiu o grupo para mergulhar na história, na arquitetura e na descoberta da urbe.
Guimarães, uma antiga cidade romana, foi escolhida por D. Afonso Henriques como capital do Reino de Portugal após a sua vitória, na Batalha de São Mamede em 1128.
Começámos pelo Castelo. Guardo, na memória de uma remota visita, a chave enorme com que o porteiro nos abriu a porta. Hoje, há portaria eletrónica. As “crianças” empoleiravam-se, nas escadas de granito, carcomidas pelo tempo. “Cuidado, não se debrucem nas ameias”, ouvia-se a voz do “Menino do Pau.” “Há zonas perigosas!”
No século X, a Condessa Mumadona Dias manda construir, na sua herdade de Vimaranes, um Mosteiro que sofria constantes ataques por parte dos mouros e
normandos. Houve a necessidade de construir uma fortaleza para defesa dos monges e da comunidade cristã, que vivia em redor. Surge assim o primitivo Castelo de Guimarães. No século XII, com a formação do Condado Portucalense, vêm viver para Guimarães o Conde D. Henrique e Dª Teresa que mandam realizar grandes obras de ampliação. Diz a tradição que teria sido, no castelo, que os condes fixaram residência e aí terá nascido D. Afonso Henriques. Perdida a sua função defensiva, o Castelo entra num processo de abandono e degradação progressiva até ao século XX.
Seguiu-se a visita ao Palácio Ducal, construído no século XV pelo primeiro Duque de Bragança. Acabou por cair em ruínas, tendo sido restaurado durante a ditadura de Salazar. O museu abriga belas peças de mobiliário renascentista, soberbas tapeçarias flamengas e tapetes persas. Hoje é usado como residência oficial do Presidente da República.
Percorrendo o centro histórico, entre outros monumentos, visitámos a igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Oliveira, fundada por D. Afonso Henriques. Foi restaurada no reinado de D. João I para comemorar a sua vitória, na Batalha de Aljubarrota, em 1385. Famosa pela torre em estilo manuelino, a igreja é também conhecida por uma curiosa lenda segundo a qual teria sido plantada, à sua frente, uma oliveira para fornecer de azeite as lâmpadas de altar.
Guimarães, “o berço da nacionalidade” é uma cidade rica em património que merece uma visita mais dilatada. Mas há “criancinhas” que se cansam com as longas caminhadas e não fosse o “Menino do pau”, alguma se teria desorientado.
Ao fim da tarde, todos regressámos de comboio, exaustos mas com mais conhecimento e cultura na sua bagagem.

22.06.2017

FOGOS FLORESTAIS — ESTARÁ TUDO DITO?


Nestes últimos dias, já vi, li e ouvi tanto sobre a causa dos fogos florestais que até fiquei baralhado. As contradições são tão evidentes que nem ouso tomar posição sobre o assunto. Sou leigo na matéria e daí não sairei, mas gostaria de saber mais sobre o tema. Continuarei, no entanto, a procurar o esclarecimento, porque os fogos florestais, que são uma constante entre nós, precisam mesmo de ser erradicados das nossas matas. 
Neste ínterim, li um texto interessante, que aqui partilho. Foi escrito por Henrique P. Santos,  que, ao que suponho, percebe disto. Pode ser lido aqui

GAFANHA DA NAZARÉ VAI TER ESPAÇO DO CIDADÃO


A Câmara Municipal de Ílhavo vai disponibilizar à população da Gafanha da Nazaré um novo espaço de atendimento, o Espaço do Cidadão, reforçando desta forma a Rede Municipal de Atendimento Digital Assistido no Município de Ílhavo, que passará a contar com dois espaços: o EdC de Ílhavo e o EdC da Gafanha da Nazaré. Esta novo espaço vai funcionar na Junta de Freguesia, abrindo portas na próxima segunda-feira, 26 de junho.
São mais de setenta serviços que o munícipe encontra num só espaço, podendo, por exemplo, solicitar a revalidação da Carta de Condução, 2.ª via e substituição, entregar despesas da ADSE, efetuar a alteração de morada no Cartão de Cidadão, solicitar o Cartão Europeu de Seguro de Doença, fazer o pedido de chave móvel digital, entre outros.
Neste espaço são, assim, disponibilizados serviços da ADSE, do SEF - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, da CGA - Caixa Geral de Aposentações, do IMT e da AMA.
Com abertura marcada para as 11h00 da próxima segunda-feira, o Espaço do Cidadão vai funcionar às segundas-feiras, das 09h00 às 16h00, com interrupção para almoço.

Fonte: CMI

quarta-feira, 21 de junho de 2017

DIA MUNDIAL DO YOGA

Crónica de Maria Donzília Almeida 

                                        

"O fraco nunca perdoa. 
O perdão é a característica do forte" 

Mahatma Gandhi 


Quando viaja pelo oriente, qualquer ocidental se deixa, facilmente, impregnar pelo misticismo da civilização hindu. Um país mágico onde se sente a presença de mestres espirituais como Mahatma Gandhi e Krishnamurti, onde a atmosfera rescende a especiarias, onde a vista se deslumbra com o colorido dos saris, onde o culto religioso abrange formas tão diversificadas, como o hinduísmo, budismo e islamismo, deixa a sua marca no visitante mais distraído. 
A minha atração pela prática do yoga surgiu na idade imortalizada por Balzac, em “A Mulher de Trinta Anos”, mas foi na idade madura, de passagem pela Índia, que a sedução foi total. 
A palavra yoga deriva do sânscrito e é um conceito que se refere às tradicionais disciplinas físicas e mentais originárias da Índia. A palavra está associada às práticas meditativas tanto do budismo como do hinduísmo. Neste, o conceito refere-se a uma das seis escolas (āstika) ortodoxas da filosofia hindu e à sua meta rumo ao que esta escola determina como suas práticas. Fora da Índia, o termo yoga costuma ser associado tipicamente ao hata-ioga e suas asanas (posturas) ou como uma forma de exercício. 
O yoga é uma filosofia de vida ancestral que remonta a cerca de cinco mil anos e é considerada, hoje, também, como uma ciência e  como uma medicina alternativa e de prevenção. 
Na sociedade ocidental, o yoga tem, fundamentalmente, a finalidade de revitalizar o corpo físico, melhorar a concentração e  apaziguar a mente atribulada, através da redução dos níveis de stress. 
Trata-se de uma prática dinâmica, profunda, agradável e desafiante que une o nosso corpo físico, os sentidos, a consciência e a mente num único ser, levando cada um de nós a um crescente bem estar, auto conhecimento e felicidade. 
As aulas de yoga são baseadas na permanência em posturas (asanas), conciliadas com técnicas respiratórias (pranayamas), com técnicas de relaxamento (Yoganidrá), de limpeza e purificação (krias), de canalização de energia (bandhas) e de vocalizações (mantras) que ajudam no processo de concentração e descongestionamento energético do corpo e da mente. Todas estas práticas específicas do yoga conjugadas, durante as aulas, proporcionam um desbloqueio energético dos músculos e da coluna vertebral. Há um processo de flexibilização, de força e de compressão das nossas glândulas endócrinas, do nosso sistema nervoso central e dos nossos órgãos internos. Tudo isto influencia positivamente o funcionamento dos nossos sistemas fisiológicos (respiratório, circulatório, digestivo, nervoso, endócrino, reprodutor, muscular e esquelético). 
Numa sessão de prática, é possível sentir benefícios no bem estar geral. Após um mês já podemos sentir a veracidade desde grande empreendimento e, com três meses, os benefícios gerais começam a manifestar-se de maneira muito intensa e clara. Mas é depois de um ano que obteremos as conquistas mais duradouras! 
Os frutos desta prática milenar não se limitam apenas ao corpo, ao emocional e à mente, mas também de um modo muito acentuado nas realizações pessoais e profissionais. A tão necessária prosperidade recebe um forte aliado, assim como a harmonia e a satisfação existencial. 
Na minha opinião, além da prevenção na saúde, estes últimos pontos são os que mais satisfação me trazem bem como a milhares de vidas em todo o planeta. Fazer chegar o yoga aos alunos da melhor maneira possível é, acima de tudo, estudar todos os métodos, respeitá-los e ensiná-los, de forma humilde, com devoção à prática, com discernimento e amor. Compreender o que é mais importante para cada aluno a cada instante, é a meu ver o que um professor de yoga procura trabalhar. 
Fazendo um paralelismo, consideramos um bom médico aquele que para além de saber ouvir e observar o doente, se esforça por continuar a aprender, a atualizar-se e a respeitar terapêuticas alternativas, utilizando a experiência e o conhecimento do mundo inteiro em benefício da prevenção e da cura das maleitas da humanidade. 
É isso que espero, na minha prática semanal, desta terapia e desta filosofia de vida e recomendo vivamente, a quem quiser atingir aquele estado, de bem-estar, harmonia…o Nirvana para os orientais. 

O DRAMA CONTINUA NO CENTRO DO PAÍS


O drama continua no centro do país. Todos os anos é isto… Mas desta feito o drama é muito maior. Dezenas de vidas foram ceifadas sem dó nem piedade pelo inferno de fogo. 
É muito triste, mas não se vislumbra solução. Tenho para mim, e digo-o com muita mágoa, que depois dos funerais e do rescaldo a vida volta à normalidade. Diz-se que vão ser apuradas as causas, elaborados relatórios, feitos estudos e projetado  o tão propagado planeamento florestal. Pode ser, mas fico com o meu ceticismo, em relação à questão dos incêndios numa das maiores manchas verdes da Europa. 
Para meditarmos em tudo isto, sugiro a leitura de algumas crónicas editadas aqui.

ILHA TERCEIRA — FORTE DE S. SEBASTIÃO

Crónica de Júlio Cirino

Forte de S. Sebastião
Pousada no interior do Forte

Vacas no local onde se desenrolou a Batalha da Salga, tendo por pano de fundo os ilhéus das cabras 
O Forte de S. Sebastião está localizado no Porto de Pipas e começou a ser construído em meados do Séc. XVI. Dada a sua posição estratégica, foi cobiçado por corsários de várias nacionalidades: franceses, ingleses, argelinos e espanhóis. Por exemplo, em 1581, os terceirenses, ao serviço de D. António Prior do Crato, resistiram galhardamente às investidas da armada de Filipe II, na qual a metralha do Forte de S. Sebastião teve importância preponderante para a debandada da esquadra espanhola na Batalha da Salga. Na famosa carta de 1582, Ciprião de Figueiredo, corregedor dos Açores, mostra bem o pensar dessa gente: “antes morrer livres que em paz sujeitos”. Porém, em 1583, os espanhóis voltaram a investir, desta vez sob o comando de D. Álvaro de Bazan. Após uma luta ardorosa e sangrenta, conseguiram apossar-se da última parcela de território português. 
Mas não foi fácil! Apesar de os invasores já pisarem solo terceirense, numa tentativa extrema de se defenderem, as nossas tropas soltaram perto de 2.000 cabeças de gado o que complicou bastante a investida do inimigo. Foi uma carnificina para os homens, de ambos os lados, e para o gado! 
Em 1943, em plena II Guerra Mundial, as dependências do forte foram cedidas às tropas britânicas. Debaixo do túnel de acesso ao forte, existe uma placa com a seguinte inscrição:

 “Lápide comemorativa da chegada das Forças Britânicas em 8 de Outubro de 1943 de conformidade com as cláusulas de acordo Luso-Britânico, de Agosto de 1943, com o consentimento do Comandante Militar da Terceira brigadeiro João Tamágnini de Sousa Barbosa e o Comandante da Força, Vice-Marechal do Ar Geoffrey Bromet, onde estabeleceram o seu primeiro Quartel-General.” 

Em 2006, o forte foi requalificado em “Pousada Histórica”. Esta pousada está pintada de cor ocre, com as portas e janelas ornamentadas por aduelas brancas. No pátio existe uma pequena piscina, mesmo ao lado da pousada, e um vistoso restaurante no extremo oposto. 

Angra do Heroísmo, 7 de Julho de 2017